terça-feira, 24 de novembro de 2015

FOI GUERRA JUNQUEIRO QUE O DISSE EM 1896:


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;

Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;

Um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.


Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Comentário: palavras sábias, duma inteligência impressionante, incomodativa. Desde então o que mudou no triste povo português? Nada. Continua resignado, adora ser espezinhado, bajulador, denunciador do próximo porque pensa de forma diferente, alheio aos problemas que diz respeito a todos.
Fica bem ao povo português o chapéu dos velhos do Restelo. Homens de personalidades "gigantes" sempre sentiram na pele a ingratidão, indiferença do povo onde nasceram, cresceram, estudaram, morrendo entregues a si próprios, muitos nem sequer na hora da despedida deste mísero mundo se sentiram amparados. Triste povo, povo infeliz, assim vais continuar.

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