A cada ano que
passa eu mais me apaixono pela jardinagem e pelas estações do ano. Longe de me
considerar um exemplo de jardineiro ou metereologista, sou um observador e
sempre tiro lições de vida nas minhas três horas semanais em meu contato com o
sol, com a chuva, com a grama, com as flores, borboletas, passarinhos e, às
vezes, cobras. Estou fazendo analogias com a Psicologia Positiva, mas como
atrelar um jardim com esta nova ciência? Como atrelar um jardim com conceitos
de nossa vida? Vamos ver o que tenho aprendido.
Vamos começar
pelas quatro estações. Escrevi há anos que é fácil ser feliz na primavera. A
arte da vida estar em ser feliz em todas as estações, incluindo aí, óbvio, o
inverno. Do ponto de vista racional, esperar que o nossa vida seja feita
somente de flores é ser, no mínimo, inocente. Claudemir, existe um segredo,
então, para ser feliz, por exemplo, no inverno de nossas vidas? Pode até
parecer difícil encontrar a resposta, mas no fundo, no fundo, é uma questão até
simples de ser respondida. Primeiro, precisamos aceitar que o inverno faz
parte. Aceitação não é acomodação. A aceitação, na verdade, tira o seu foco do
“inverno” e te move para encontrar a “primavera”. Depois, precisamos encontrar
significado nos nossos pensamentos sobre o que vemos, sobre o que vivemos. Aí
está meio caminho para chegar à tão sonhada primavera.
Encontrar
significado é, por exemplo, conseguir entender que o inverno é momento de
preparação para a próxima fase. Sabemos que as árvores ficam secas nesta estação
do ano, mas muita gente se esquece que suas raízes se fortalecem ao se
aprofundar terra adentro em busca de nutrientes, em busca de água. Na nossa
vida pessoal, não é tão diferente e a analogia pode ser a mesma. Quando estamos
tristes, sofrendo muito, estamos na verdade buscando respostas
(significado=nutriente) para o que passamos. Durante o congresso mundial de
Psicologia Positiva, mês passado, em Los Angeles, li duas frases que me
chamaram muito a atenção. A primeira é de John W. Gardner (1912-2002) que diz
que “estamos continuamente tendo grandes oportunidades brilhantemente
disfarçadas de problemas insolúveis”. Pois bem, quando estamos no nosso
inverno, não conseguimos enxergar as oportunidades porque elas estão
brilhantemente disfarçadas. A segunda frase é de John Dewey (1933): “Nós
aprendemos mais das reflexões de nossas experiências do que das próprias
experiências.” Gosto muito desta frase porque ela nos remete ao nosso inverno,
onde devemos refletir sobre o que estamos vivendo e tirar aprendizados para
podermos evoluir.
Mas voltemos um
pouco mais ao jardim. Ano passado, havia uma planta que não floria e eu não
entendia os motivos. Tentava diferentes fertilizantes, água e nada. Você já
percebeu que quando temos um “problema” sempre tentamos as coisas mais difíceis
e as coisas mais simples são deixadas de lado? Percebi que tudo o que a planta
queria era espaço livre ao lado de sua raiz. Limpei tudo, tirei todas as ervas
daninhas que estavam ao redor do tronco. Em uma semana, as flores voltaram. Este
exemplo eu uso para dizer que somos como plantas. Quando não temos o nosso
espaço para respirarmos, morremos. Todos nós precisamos desta liberdade, deste
espaço só nosso. Assim como as ervas daninhas sugam os nutrientes que deveriam
ir para a planta, na nossa vida temos, às vezes, pessoas, situações sugando
nossos nutrientes, invadindo nosso espaço. Em resumo, precisamos termos nosso
espaço, nosso tempo para podermos “florir”.
Ainda sobre o
sofrimento, assim como o urso hiberna por uma questão alimentar, nós também
precisamos hibernar por uma questão psicológica, precisamos nos isolar um pouco
dependendo da situação. Desde que seja momentos de reflexão, faz parte do
processo para sairmos de nosso inverno astral. Por isto, às vezes, é um erro
quando queremos tirar um amigo ou uma amiga para ir uma festa quando aquela
pessoa está “hibernando”. Òbvio, se esta pessoa estiver nesta situação por um
tempo mais longo que o comum, então, estamos falando de uma problema mais
sério, que precisa de atenção médica e psicológica, pois pode ser uma depressão
profunda.
Outro tema da
Psicologia Positiva e dos jardins é a resiliência. Você não fica fascinado
quando ver um pequena planta surgindo, “literalmente”, do meio de cimento? Na
natureza, encontramos muitos exemplos de resiliência, de como podemos superar
obstáculos. Eu adoro os rios que, quando encontram obstáculos, simplesmente
contornam e seguem seu rumo. Nunca vi um rio discutindo porque as pedras
apareceram em sua frente. Isto me faz lembrar o fascinante poema de Fernando
Pessoa que diz que construirá seu castelo com as pedras encontradas pelo
caminho. Em outro artigo, eu nem chamo isto de resiliência, mas sim de
transcendência.
Outra lição que
tirei dos jardins tem a ver com a palavra siesta. Sempre ouvi esta frase como
uma forma depreciativa em relação, principalmente, aos homens do campo,
passando uma ideia que eles eram preguiçosos. Como descansar durante o horário
de trabalho? Como tirar uma soneca logo após o almoço? A história não é bem
assim. O homem do campo acorda muito cedo porque sabe que é mais produtivo até
o sol se tornar insuportável. Neste momento, ele precisa descansar e, por isto,
a siesta. Óbvio que esta adaptação para as cidades não funciona tão bem, já que
se supõe que se trabalha em locais com ar condicionado, etc. No caso do meu
jardim, aprendi que cortar a grama no final da tarde é melhor porque não temos
a relva sobre a grama, o que facilita o trabalho do equipamento usado. Com a
grama molhada, é praticamente impossível cortá-la. No seu trabalho, você sabe
exatamente qual é o seu horário mais produtivo? No seu trabalho, você sabe
quando usar suas potencialidades, sua energia física e mental? O homem do
campo, sabiamente, usa sua mente para descansar o corpo.
Uma outra
analogia entre um jardim e a Psicologia é que somos chamados a atenção quando
nossa grama, quando nosso jardim, não está sendo bem cuidado. Mas nunca
recebemos nenhuma carta falando que nosso jardim está extraordinariamente
lindo. Ou seja, podemos cuidar do jardim por 10 anos de forma impecável e
nenhuma carta de reconhecimento é enviada. Quando viajamos e deixamos a grama
por duas semanas sem cortar, a carta é enviada. A Psicologia Positiva tem muito
a nos ensinar. Precisamos, sim, receber mais cartas de reconhecimento enquanto as
coisas estão indo tão bem. Quando será que vamos aprender que, no geral, o ser
humano tem muito mais qualidades que fraquezas, mas enquanto continuarmos
chamando a atenção para o negativo, mais nos distanciamos de um mundo ideal.
No próximo mês,
termino este artigo onde falarei mais sobre a arte de apreciar também o inverno
em nossas vidas e quais foram minhas grandes lições cuidando do meu jardim e
como as aplico em minha vida pessoal e profissional. Também falarei sobre a
arte de empreender (plantar) em tempos difíceis.
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Claudemir
Oliveira é presidente e fundador do Seeds of Dreams Institute, com o objetivo
de desenvolver pessoas e corporações com Psicologia Positiva, tema de seu
mestrado e doutorado, nos EUA, cujo foco é na potencialidade humana.
Tem mais de 20
anos de experiência em marketing, vendas e treinamento, em empresas como
American Airlines, United Airlines e The Walt Disney Company, onde abriu, no
Brasil (1995), a divisão Walt Disney Parks and Resorts. Em 2000, foi
transferido para os Estados Unidos, onde, por dez anos, liderou estratégias de
treinamento global para os parques Walt Disney World Resort (Flórida),
Disneyland Resort (Califórnia), Disneyland Resort Paris (França), além do
Disney Cruise Line (cruzeiros) e mais de 30,000 quartos de hotéis da empresa.
Tem muito
orgulho de ter sido professor da Disney University, além de professor convidado
do Disney Institute. Já treinou mais de 200.000 pessoas da América Latina,
Europa e Ásia. Nada do escrito aqui é autorizado ou endossado por essas
admiráveis empresas ou universidades. Textos são baseados em experiências
pessoais através de viagens, leituras e entrevistas, além de material
amplamente encontrado na internet, artigos, vídeos e livros, portanto, de
domínio público.
No Brasil, Claudemir
é Jornalista pela Escola de Comunicação Social Cásper Líbero, tem duas
pós-graduações (Comunicação em Marketing e Comunicação Empresarial) pela Escola
Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), onde foi professor no curso de
pós-graduação em Marketing.
Claudemir é
membro vitalício da Harvard Medical School PostGraduate Association e membro da
International Positive Psychology Association (IPPA).
É autor do
premiado filme “Once Not Far From Home”, com Erik Per Sullivan (Malcon in The
Middle, Infidelidade) e Skye McCole Bartusiak (Patriota, Refém do Silêncio) e
autor de artigos publicados no Brasil, Espanha e Estados Unidos.
Vive em Orlando,
Flórida, desde 2000.