O eurodeputado socialista Francisco
Assis considerou hoje que o PS diverge do Bloco e do PCP em todas as questões
essenciais, e avisou que o Governo está suportado numa aliança contranatura e
vive em liberdade muito condicionada.
Palavras proferidas por Francisco Assis
perante o 21º Congresso Nacional do PS, numa intervenção que foi num curto
momento alvo de alguns assobios, mas que foi escutada quase sempre em silêncio
e que mereceu no final palmas do secretário-geral, António Costa.
"Temos um Governo em situação de
liberdade muito condicionada", declarou Francisco Assis, defendendo que o
PS continua a divergir do Bloco de Esquerda e do PCP, partidos que suportam o
executivo no parlamento, "em todas as questões essenciais".
Perante os congressistas, o cabeça de
lista do PS nas eleições europeias de 2014 afirmou que iria usar da palavra por
"indeclinável dever de lealdade", não se refugiando assim no silêncio
"cínico" perante uma solução de Governo da qual discorda.
"Sei bem que esta minha posição me
condena no presente a um elevado grau de isolamento no seio do partido,
realidade que experimento todos os dias. Não digo que seja uma circunstância fácil
ou agradável para quem confundiu nos últimos 30 anos a sua vida pessoal com a
partidária. A solidão política reveste-se sempre de alguma dose de
crueldade", disse.
Após esta nota introdutória de ordem
pessoal, Assis declarou que a sua posição radica numa convicção profunda de que
"em tudo o que é essencial o PS diverge em quase tudo do Bloco de Esquerda
e do PCP".
"Estamos perante uma aliança
parlamentar contranatura celebrada por um PS momentaneamente enfraquecido na
sequência de um resultado eleitoral imprevisto e uma extrema-esquerda
fortalecida pelas circunstâncias. A solução política adotada permitiu ao PS
chegar ao poder, mas permitiu sobretudo ao PCP e Bloco de Esquerda
condicionarem decisivamente as condições de exercício desse mesmo poder", sustentou.
De acordo com Francisco Assis, havendo
diferenças em aspetos decisivos "e até inultrapassáveis, temos um Governo
em situação de liberdade muito condicionada, permanentemente vigiado por quem
pensa e age de forma radicalmente diferente".
Na sua intervenção, o eurodeputado
socialista advertiu para o contágio "do vírus ideológico populista
antieuropeu" e criticou nessa matéria "a retórica" das forças da
extrema-esquerda.
"É importante que o PS não se deixe
colonizar por essa retórica e também se disponha a combatê-la com a mesma
veemência com que sempre fez ao longo da história democrática. Se não o
fizermos estaremos a colocar em causa um dos aspetos essenciais da nossa
identidade doutrinária", advertiu.
No Congresso do PS, Francisco Assis fez
mesmo questão de reforçar esse aviso contra o radicalismo antieuropeu: "O
PS sempre se demarcou da tentação soberanista da direita e da pulsão extremista
da esquerda radical, que sempre abominou o projeto europeu".
"Não podemos ter outra atitude se
não combater o neopopulsimo. Apesar de alguma preocupação com algum lento
resvalar no interior do PS para um tipo de discurso que considero inaceitável,
apesar de tudo estou convencido que nos momentos decisivos saberemos estar à
altura das nossas responsabilidades históricas", disse.
Numa nova nota pessoal, Francisco Assis
frisou que não estava à espera de ouvir palmas em relação ao teor do seu
discurso.
"Mas vinha com a esperança legítima
de ser ouvido - e fui-o com atenção e com respeito, como é próprio do PS, onde
nunca uma divergência se transformou em dissidência e onde a liberdade nunca se
deixou subjugar por qualquer forma de dogmatismo", acrescentou, numa
alusão indireta a episódios ocorridos na vida interna do PCP e do Bloco de
Esquerda.
Fonte e Foto: Lusa
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