A saída da União Europeia enfureceu os
jovens britânicos, que afirmam que as portas do continente se fecharam para
eles devido ao que consideram um capricho de alguns velhos nostálgicos.
No referendo de quinta-feira, 48,1% dos
britânicos votaram pela permanência da União Europeia. Entre os eleitores de 18
a 24 anos, porém, essa taxa foi de 73%, enquanto entre os maiores de 65 anos,
apenas 40% votaram para que o Reino Unido continuasse no bloco, segundo o
investigador de opinião pública Michael Ashcroft.
No entanto, segundo a rede de televisão
britânica BBC, há indícios de que os jovens foram votar em menor proporção que
as pessoas mais velhas, já que houve menos participação nas zonas do país com
mais jovens. "A geração mais jovem perdeu o direito de viver e trabalhar
em outros 27 países. Nunca conheceremos a dimensão total das oportunidades
perdidas, as amizades, os casamentos e as experiências negadas", afirmou o
jovem britânico Nicholas ao jornal Financial Times, num comentário amplamente
difundido nas redes sociais. "Os nossos pais, tios e avós tiraram-nos a
liberdade de movimento", acrescentou Nicholas, "com um golpe a uma
geração que já estava afogada nas dívidas dos seus antecessores".
'Reino Unido cavou a própria sepultura'
O mal-estar dos jovens, que não
conheceram o Reino Unido fora da União Europeia, já vinha a crescer há algum
tempo. Os pensionistas ficaram à margem dos cortes realizados pelo governo
conservador, enquanto os mais jovens viram a educação universitária passar a
ser paga, os centros de lazer fechados e as ajudas sociais para obter a sua
independência eliminados - medida que entrará em vigor em 2017.
Boris Johnson, líder da campanha pelo
Brexit, tentou tranquilizar as novas gerações no seu primeiro pronunciamento
após a vitória, afirmando que a saída da União Europeia "não significa
destruir pontes nem é isolacionismo". Mas para Nina Biddle, estudante de
21 anos da Universidade de Sheffield que acaba de passar um ano no estrangeiro
graças a um programa que não existiria sem a União Europeia, "o Reino
Unido cavou a sua própria sepultura, culturalmente falando". O ano na ilha
francesa da Reunião "permitiu-me aprender outra língua, ampliou os meus
horizontes e enriqueceu a minha vida, de um modo que o Reino Unido não poderia
oferecer-me", disse Biddle à AFP. "Somos nós que vamos viver mais
anos com uma Europa menos unida", lamentou.
Nos anos 70, 'havia de tudo'
A pequena empresária Debra McDermott
disse à AFP que os mais velhos votaram pela saída do bloco porque "nos
anos 1970, quando éramos crianças, estava tudo muito bem". "Havia
escolas, hospitais, havia de tudo. Toda a gente pagava os seus impostos e tudo
funcionava melhor. Desde então, o país desceu ladeira abaixo", afirmou
McDermott, que não quis revelar a idade.
Duas histórias muito comentadas durante
a campanha mostram o contraste na maneira como os idosos decidiram o voto.
Antes de morrer, Leonard Moore, um veterano da II Guerra Mundial, pediu à
família que enviasse por correio o seu voto a favor da saída. O sobrinho disse
ao jornal Daily Mail que Moore "lutou pela sua pátria até ao fim". Em
outro extremo, Peter Dowey, de 73 anos, ofereceu o voto ao seu neto de 17,
Freddie Wells, que escolheu a permanência na União Europeia. "Já vivi 70%
da minha vida, e ele 20% da dele, se considerarmos que viverá 100 anos. E na
verdade, essa decisão vai afetá-lo muito mais que a mim. Tem o futuro pela
frente e, portanto, aconteça o que acontecer, será a geração dele que terá que
viver com os estragos, ou, espero, com a prosperidade" do país, contou
Dowey à rádio BBC.
Fonte e Foto: sapo
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J. Carlos