O
sistema imunitário está ligado à hipertensão arterial, revela uma
linha de investigação recente que já resultou num ensaio
experimental contra a hipertensão em ratinhos e que poderá vir a
ser aplicado em humanos.
Nicolau
Ferreira
23
de Novembro de 2016, 8:32
Apesar
de ser muito falada, há muitos mistérios sobre a hipertensão
arterial, um deles é a sua relação com o sistema imunitário. Uma
equipa de cientistas em Itália tem estado a abordar esta nova linha
de investigação e está a desenvolver uma terapia que poderá vir a
ser aplicada aos hipertensos crónicos que não respondem aos
medicamentos. O tratamento passa por matar um nervo do baço,
impedindo que um grupo de células do sistema imunitário invada as
paredes dos vasos sanguíneos e dê mais força à doença.
A
técnica é experimental e foi aplicada só a ratinhos hipertensos,
mas teve resultados positivos. O estudo sobre este trabalho foi
publicado na revista Nature
Communications.
O
aumento da pressão arterial está ligado ao aumento do batimento do
coração. Episodicamente, não há mal no aumento do ritmo cardíaco.
A reacção fisiológica a uma situação de perigo passa pela
injecção de adrenalina na circulação que faz o coração bater
mais rápido, levando o sangue aos músculos e dando capacidade de
resposta ao perigo.
O
problema é quando a pressão arterial se mantém alta no tempo. As
causas podem ser muitas, desde genéticas até ambientais. Do ponto
de vista vascular, os vasos sanguíneos periféricos estreitam-se, o
coração bate com mais força para garantir que o sangue continua a
chegar a todos os tecidos e a hipertensão instala-se. Ao fim de
muitos anos, surgem problemas sérios, como o acidente vascular
cerebral.
Felizmente
há medicamentos que actuam em diferentes órgãos e permitem
diminuir a pressão arterial. Ainda assim, entre cinco a 10% dos
hipertensos crónicos não reagem a estes medicamentos. Além disso,
os mecanismos fisiológicos que se encadeiam desde a resposta a um
factor de risco da hipertensão, como o excesso de sal no sangue, até
à condição de saúde se manifestar são desconhecidos.
O
trabalho publicado na Nature
Communications e
que foi coordenado por Giuseppe Lembo, do Instituto Neurológico
Mediterrânico (Neuromed), em Pozzilli, Itália, poderá vir a
destrinçar alguns dos mistérios desta doença. “Neste artigo,
estivemos interessados em olhar para o sistema imunitário como causa
da hipertensão”, disse ao PÚBLICO Daniela Carnevale, uma das
autoras.
Mais
precisamente, os cientistas estudaram a ligação entre a
hipertensão, o sistema imunitário e o sistema nervoso simpático,
que pertence ao sistema nervoso autónomo (não é controlado
conscientemente). O sistema nervoso simpático é importante na
manutenção da homeostase e actua nos órgãos do corpo em resposta
aos stresses. Segundo a cientista, há muito que se sabe que a
activação exagerada do sistema nervoso simpático tem um efeito na
hipertensão, tanto a nível do coração como dos rins – outro
órgão importante na equação da doença. Mas a ligação ao
sistema imunitário é a novidade.
“Quando
há uma situação de hipertensão, há substâncias que são
detectadas pelo cérebro e este activa o sistema nervoso simpático”,
explica Daniela Carnevale. “Este tipo de activação no cérebro
provoca uma descarga no baço.”
O
baço é um órgão importante para filtrar o sangue, retirando os
glóbulos vermelhos velhos da corrente sanguínea. Além disso,
acumula linfócitos T (uma das várias classes de células do sistema
imunitário), que entram em acção quando um novo organismo
patogénico é detectado no sangue.
Estudos
recentes mostraram que estes linfócitos T têm um papel importante
na hipertensão arterial, explica um comunicado do Neuromed. Estas
células são activadas e migram para as paredes dos vasos sanguíneos
dos órgãos afectados pela hipertensão, não só reforçando a
doença mas também causando danos aos órgãos, como os rins. Não
se compreende ainda o que os linfócitos T provocam no sistema
vascular daqueles órgãos, e a equipa italiana quer estudar este
fenómeno no futuro. Mas a pergunta por trás deste trabalho era, em
primeiro lugar, compreender que estímulo é que os activava.
Há uma nova história para contar sobre a hipertensão