quinta-feira, 11 de maio de 2017

Colheita de Sangue Dia 13 de Maio entre as 9 horas e as 13 horas no Posto Fixo da ADASCA em Aveiro



Para o mês de Maio vão decorrer colheitas de sangue nos dias 17 e 31 entre as 15 horas e as 19:30 horas, dias 13 e 27 entre as 9 horas e as 13 horas, todas no Posto Fixo da ADASCA.

Os interessados em aderir à dádiva devem fazer-se acompanhar do Cartão de Cidadão para facilitar a inscrição ou do Cartão de Nacional de Dador de sangue.

Após tomar o almoço convém ter em conta o período de tempo para digestão, nunca inferior a 2:30 Horas. Na região de Aveiro só não adere à dádiva de sangue quem não pode ou não quer...

Solidários, seremos união. Separados seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos.” Bezerra de Menezes.

Joaquim Carlos

Presidente da Direcção da ADASCA


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Dádiva de sangue

1 - Aos dadores de sangue é concedida autorização para se ausentarem das suas actividades, a fim de dar sangue, por solicitação do Instituto Português do Sangue, dos centros regionais e dos serviços de transfusão de sangue ou por iniciativa própria, salvo quando haja motivos urgentes e inadiáveis de serviço que naquele momento desaconselhem o seu afastamento do local de trabalho.

2 - No caso previsto no número anterior, se não se comprovar a apresentação do trabalhador no local da colheita de sangue, a falta ao trabalho é considerada, nos termos gerais da lei, como injustificada, sem prejuízo do procedimento disciplinar a que haja lugar.

3 - As ausências ao trabalho a que se refere o n.º 1 deste artigo não determinam a perda de quaisquer direitos ou regalias e, designadamente, não são descontadas nas licenças.

*Lei 85/89 de 2 de Agosto Instituto Português do Sangue, poucas alterações foram introduzidas.

TRUMP NÃO. VAMOS AO “MATA LEÃO” E LESÕES CEREBRAIS QUE PODE CAUSAR & OUTRAS



Trump. Trump e mais Trump. Que fartum de que padecemos por via dos ditos e feitos da avantesma que é presidente do império em queda. Não, hoje não vamos por aí.

“Mata Leão” não é o tema de abertura deste Expresso Curto mas Henrique Monteiro, que hoje serve a cafeína, vai lá – ao triste assunto do triste agente de autoridade que é da GNR. A ação do agente foi feia de mais para ser classificada de merecedora de um louvor, como explicita o sindicato da corporação que só por si tem tristes histórias do passado, incluindo assassinatos (Catarina Eufémia, p.ex.) e isso são nódoas que nem o melhor detergente anula. São outros tempos, sabemos. A GNR está hoje de cara mais lavada, até merece ser louvada em muitas ações de proteção e bem-estar das comunidades que serve, sem dúvida, mas os seus agentes têm de usar métodos compatíveis com os padrões de um país que se quer regido por ações inteligentes e de respeito pelos cidadãos, mesmo agindo contra os prevaricadores. A prática do “Mata Leão” não deve ser usada por aqueles a quem pagamos para nos protegerem, muito menos quando os prevaricadores não agem de forma violenta, como foi o caso no Montijo. Além disso, sabem por acaso que o “Mata Leão” pode causar lesões cerebrais graves? Como é que tal ação de controle daquela situação de alegada prevaricação está prevista nos procedimentos das forças de segurança?

Imagine-se que a ação do agente, praticando o “Mata Leão”, traria sequelas graves a nível de lesões cerebrais do “criminoso verbal”. E por isso, a quem não agiu violentamente mas sim verbalmente, é legitimo causar um mal maior para o calar, para o controlar? Se o agente da GNR considerou que a falta cometida pelo individuo carecia de controle e até de eventual procedimento criminal o que tinha de fazer era algemá-lo e detê-lo. Como não estava de serviço, provavelmente, não possuía algemas consigo. Pois então só tinha de solicitar a presença de agentes de serviço que tivessem as condições adequadas para imobilizar, deter e levar o indivíduo. Simples, em vez de optar por assumir a tarefa de ser o tampão às palavras e ação vídeo do prevaricador. A liberdade de expressão existe, está consagrada constitucionalmente, assim como as consequências criminais do que é dito., se for caso disso. Ninguém tem autoridade para calar à força, violentamente, os cidadãos. O que existe é eventual desrespeito pela autoridade ou outros e isso tem procedimentos legais que conduzem à punição adequada. A democracia é isso, o respeito pelos princípios constitucionais, pela lei, é isso. Nenhum agente tem direito a usar de violência física para quem não usa tal violência mas somente e eventualmente a verbal, como é o caso no que se vê.

Quanto ao sindicato e a opinião de louvar o agente pelo que fez… Provavelmente até é um bom homem e um bom agente, mas na situação a que assistimos cometeu uma grande argolada, grande e feia, e, sobretudo, perigosa. Louvem-no pelo que fez de bem, não por este triste caso e triste procedimento do uso do “Mata Leão”.

Saberão os que usam aquele método que em Inglaterra o “Mata Leão foi muito usado na brincadeira por alunos em escolas porque – ao que é dito – viram usar esse método? Sabiam que depois da tal “brincadeira da miudagem”, por indução, se registaram problemas cerebrais graves em alguns jovens? Esperemos que a ação do agente e respetiva publicidade não traga problemas maiores para a juventude portuguesa.

Toda a situação está subordinada a inquéritos no caso do Montijo, pretende-se que seja justa e punitiva para os intervenientes que não estiveram bem e violaram a lei, mas também princípios básicos dos direitos legais dos cidadãos (pelo visto). E acabe-se com o “Mata Leão”, não se brinque com o fogo por dá cá aquela palha. Saiba mais, se continuar a ler.

CT ! PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

Henrique Monteiro | Expresso

Quando passou o susto de Marine Le Pen, renasce o susto de Trump.

O modo como despediu o diretor do FBI é mais do que suspeito… é qualquer coisa que faz lembrar o passado. Chamam-lhe a matança de terça, porque foi há dois dias que o assunto veio a público. E porquê?

O The New York Times afirma não ter dúvidas de que James Comey, o diretor do FBI despedido por Trump, tinha pedido há dias mais verba e mais meios para investigar as eventuais conexões do presidente com a Rússia. O Governo de Trump já desmentiu, mas o jornal mantém a história e mostra a curta carta de adeus de Comey ao pessoal do FBI..

Antes de Trump só Richard Nixon se atreveu a demitir um diretor do FBI que investigava o Presidente. Foi durante o caso Watergate, numa sequência que ficou conhecida como o massacre de sábado à noite. Como se sabe, Nixon acabou mal, obrigado a demitir-se. A CNN compara os casos.e Beverly Gage, no NYT deixa a interrogação: será que esta ação inédita do Presidente vai criar outra 'garganta funda' (como ficou conhecido o informador secreto do escândalo Watergate)?

Entretanto, o senado notificou Michael Flynn, o conselheiro de Segurança de Trump, obrigado a demitir-se em fevereiro por não ter revelado em toda a extensão a natureza das suas relações com a embaixada russa. O comité que superintende os serviços secretos exige legalmente que todos os documentos relacionados com os contactos com Moscovo sejam mostrados, como já havia pedido a bem, e sem sucesso, em abril passado.
A Rússia, também acusada de interferir nas eleições francesas, a favor de Le Pen, já veio dizer que se trata de um assunto interno americano.

Pois.

OUTRAS NOTÍCIAS


O caso do homem detido na Repartição de Finanças do Montijo, que depois de imobilizado ficou momentaneamente sem sentidos, devido a um golpe de um agente da Guarda Nacional Republicana à paisana, tem muito que se lhe diga. Foi uma ação proporcional, ou não? Que cada um avalie, mas há regulamentos explícitos e, aparentemente, o cidadão (brasileiro) a ter agredido alguém só o fez verbalmente, o que não daria direito ao uso da força. Porém, contra ele, tem o facto de ter sido avisado durante 15 minutos, pelo próprio agente, fora das instalações, de que não poderia proceder do modo que estava a fazer. Felizmente há inquéritos, juízes e organismos especializados para dirimir estes casos. A nós cabe dar as informações e não julgar. O sindicato da GNR quer um louvor para o agente, mas o cidadão apresentou queixa do GNR, depois de ter ido a tribunal que lhe fixou termo de identidade e residência. O Ministério Público dispõe-se a investigar tudo.

Já o Papa Francisco, considerando-se um pecador entre os pecadores, gravou uma mensagem para os portugueses. Simpaticamente, como se pode ver seguindo o link, diz, em português com sotaque argentino, que não pode ir a todo o lado, mas que conta connosco. É já amanhã que chega à base de Monte Real e parte daí, de helicóptero para o Santuário de Fátima. Desde ontem as fronteiras estão fechadas, mas no último balanço feito pelas autoridades, ontem ao fim da tarde. de 11500 pessoas inspeccionadas só 10 foram impedidas de entrar, devido a a falta de identificação.

O nível de emprego subiu e há mais cerca de 140 mil trabalhadores. Quase todos contabilizados pelas entradas para o quadro e pelo boom do turismo. Porém, de acordo com o DN de hoje os salários só cresceram 1,6%

A greve dos médicos, que se prolonga por hoje, teve uma adesão de 90%, dizem as organizações que representam os clínicos. E sim, estão dispostos a voltar à negociação amanhã, apesar de sublinharem a “incompetência do Governo” – mas não é amanhã que há tolerância de ponto? Eis algo a seguir com atenção.

A líder do CDS, Assunção Cristas (que é também candidata à Câmara da capital), quer 20 novas estações de metro em Lisboa. Disse-o ontem num debate parlamentar em que o primeiro-ministro se mostrou tão otimista como seria de prever.

Facto inédito foi uma avaria no abastecimento de combustível dos aviões ter provocado um enorme caos no aeroporto de Lisboa. Durante a noite o assunto foi resolvido e realizaram-se voos para recuperar os atrasos

E o Porto, para não se ficar a rir, teve uma avaria generalizada nos semáforos que provocou o caos no trânsito.

Em França vão existir novos movimentos. Benoît Hamon vai fazer um dentro do PS, espécie de ala esquerda, uma vez que as suas propostas foram parar ao lixo; entretanto, um grupo de dirigentes socialistas escreveu no diário Le Monde um manifesto intitulado Dès Demain (A partir de amanhã), de cunho europeísta enquanto Manuel Valls, o ex-primeiro-ministro socialista derrotado nas primárias que se ofereceu despudoradamente a Macron, pode ser expulso; Mélenchon candidata-se contra o PS e tem problemas com o PCF, e Macron organiza o seu République En Marche. Sim as eleições do mês que vem prometem muito.

No Brasil, Lula da Silva começou a ser ouvido pelo juiz Sérgio Moro a propósito do Lavajato. Este último é, segundo as sondagens, o único homem que naquele enorme país é capaz de bater o ex-Presidente em eleições..A cidade de Curitiba, onde decorreu a audiência foi alvo de diversas manifestações.

A Apple bateu mais um recorde. Tornou-se a empresa cotada em bolsa mais valiosa de sempre. Se continuar a este ritmo chega bilião de dólares de valor no final deste ano (são 918 mil milhões de euros, aproximadamente cinco vezes o valor do PIB português).

Depois da Juventus foi a vez do Real Madrid, ou melhor o Real de Zidane e Benzema se lermos na imprensa francesa. Apesar de ter perdido 2-1 com o Atlético madrileno, vulgo colchoneros, o Real de Ronaldo (versão portuguesa) vai encontrar 'A velha senhora'. Isto em português diz-se que Juventus e Real Madrid jogam a final da Liga dos Campeões. É dia 3 de junho, em Cardiff, País de Gales. A quinta final da Liga para Ronaldo; a 15ª para o Real.

E um caso tremendo faz manchete em desportivos e tem destaque em jornais como o Correio da Manhã ou o Jornal de Notícias: os diretores de comunicação do Sporting e do Porto encontraram-se em segredo.

FRASES

“Perdi o meu bebé, ela afogou-se, mas Deus não me permitiu morrer… Quero dizer aos meus compatriotas… para não virem, não é fácil chegar aqui… O mar não é amigo, muitas coisas acontecem”, sobrevivente de um naufrágio, segunda-feira, no Mediterrâneo que pediu à Reuters para ser identificada pelas iniciais S.J. Em dois barcos morreram nesse dia 245 pessoas, das 1300 que já faleceram este ano, segundo o ACNUR

“Despedi-o porque não estava a fazer um bom trabalho”, Donald Trump sobre a demissão do diretor do FBI James Comey

“Isto é um grotesco abuso de poder” Jeffrey Toobin, principal comentador de casos legais da CNN

“Os problemas económicos da França são três: baixo emprego, baixo crescimento e uma enorme escalada da despesa pública”, Martin Wolf, editorialista do Financial Times, ainda sobre os desafios de Macron

"Se eu tiver que mentir para vocês, prefiro que um ônibus me atropele em qualquer esquina", Lula da Silva, depois de ter sido ouvido pelo juiz Sérgio Moro, no caso Lavajato

O QUE EU ANDO A LER

Não entendam isto como clubite, obrigação, graxa ou promoção. Mas ando a ler um livro de um colega da Impresa, cara conhecida da SIC – Rodrigo Guedes de Carvalho. Posso dizer que, em minha opinião, entre aqueles que podemos considerar vedetas de televisão que escrevem romances ele me parece o mais sólido, o que melhor escreve. Acresce que é bastante culto e não sei se isso o prejudica. Sei, também, que é difícil para muitos acreditar que se pode ter mais de um talento na vida e, assim sendo, quem apresenta o ‘Jornal da Noite’ não pode ser um escritor ‘sério’. Terminadas estas advertências vamos ao quinto romance, saído 10 anos depois do quarto (‘Canário’), que talvez tenha sido o melhor de todos (ainda não cheguei ao fim destas 468 páginas com entrelinha e corpo de letra generosos). Este, ‘Pianista de Hotel’ (profissão pela qual eu poderia ter optado, juro) chamou-me pelo título, embora o título possa ser enganador para quem pensa encontrar aqui a vida (triste) de alguém que toca para quem o não ouve. Aliás o livro começa por falar num instrumento estranho – a melódica – que é um teclado de sopro, mas enfim, passemos à frente. O que interessa – ou o que me interessa – é o poder redentor da música. Um dia, António Mega Ferreira, após uma doença que quase o levou, disse que tinha sido a música a salvá-lo. Jamais me esqueci dessa frase. E não sei se Rodrigo a ouviu. Apenas sei que a aplicou na sua escrita. Resta dizer que o livro foi editado D. Quixote, que é da Leya e que, para já vale a pena. Não cuido que me desiluda nas páginas que me restam.

E pronto, aqui fica o Expresso Curto de hoje. Já sabem que logo às 18 horas terão o Expresso Diário e amanhã, à mesma hora, de novo o Curto, servido por Ricardo Costa. Ao longo do dia www.expresso.pt dá-lhe todos os pormenores à medida que caminhamos para um fim de semana alucinante. Fátima (e o Papa Francisco); Futebol e… bem é o Salvador Sobral na final do Festival da Canção. Há de tudo – e esperamos não falhar nada.

Bom dia!

O "GÉNIO" BALEIA NAZI JÁ ESTÁ ENTRE GRADES | A HUMANIDADE AGRADECE


Afinal a baleia não é azul mas sim negra como o nazismo hitleriano. Que era um jogo mas não é. Antes será produto de uma mente desprezível que não respeita a humanidade e o direito à vida. Que este autor da Baleia Nazi é cidadão russo. Felizmente que também por lá existe legislação para o guardar entre grades. Quantos jovens ou não jovens já foram induzidos para o suicídio por influência do alegado jogo? Quantos se suicidaram por via da mente perversa deste aprendiz sofisticado dos métodos que causariam inveja a Hitler e seus correlegionários assassinos? 

Que já está incriminado e enjaulado. Fiquemos à espera que as sanções devidas recaiam com toda a magnanimidade sobre este criminoso online e que este crime contra a humanidade seja assim mesmo declarado porque enquanto somente embrião já produziu sevícias e mortes que bastem para se perceber que as intenções são muito mais amplas do que aquilo que antes se previa. Um individuo com esta mente carece de tratamento mas também de isolamento enquanto representar um perigo para a humanidade. Humanidade que agradece a sua reclusão.

Afinal a baleia não era azul mas sim negra e nazi.

CT | PG

Jovem por trás do jogo 'Baleia Azul' quis "limpar a sociedade"

“Há as pessoas e há o desperdício biológico”, justifica inventor do jogo da morte.

O jovem de 21 anos detido por suspeitas de ser o responsável pelo jogo ‘Baleia Azul’ confessou os crimes que lhe são imputados e justificou a invenção dizendo que está a tentar “limpar a sociedade”.

“Há as pessoas e há o desperdício biológico, aqueles que não representam qualquer valor para a sociedade, que causam ou causarão somente dano à sociedade. Eu estava a limpar a nossa sociedade de tais pessoas”, afirmou Philipp Budeikin, detido no seguimento da morte de vários adolescentes e preso numa cadeia de São Petersburgo, na Rússia.

“O mundo vai entender. Eles [os jogadores] estavam a morrer felizes. Eu estava a dar-lhes o que eles não tinham na vida real: carinho, compreensão e conexão”, justificou ainda o jovem de 21 anos que as autoridades acusam de ter incitado pelo menos 16 adolescentes à morte, de acordo com o jornal britânico Metro.

Notícias ao Minuto

Portugal | MINISTÉRIO PÚBLICO ABRIU INQUÉRITO A ACONTECIMENTOS NAS FINANÇAS DO MONTIJO


O MP está a investigar os acontecimentos na repartição de Finanças do Montijo, que levaram um militar da GNR à civil a deter um homem naquela repartição pública.

"Confirma-se a existência de um inquérito relacionado com os acontecimentos ocorridos nos serviços de Finanças do Montijo. Este inquérito abrange toda a factualidade relacionada com a matéria", informou a PGR, em resposta à agência Lusa.

Também hoje, a ministra da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito às circunstâncias que levaram o militar da GNR à civil a deter um homem na repartição de finanças no Montijo.

"A ministra da Administração Interna determinou na terça-feira à IGAI a realização de um inquérito para o apuramento de eventuais responsabilidades", disse à Lusa fonte oficial do gabinete do ministério de Constança Urbano de Sousa.

O caso foi tornado público pelo próprio envolvido, que fez um vídeo para as redes sociais a informar que estava na Repartição de Finanças para resolver questões relacionadas com o IRS.

No vídeo é possível ver um elemento da GNR, que estava à civil, a imobilizar o indivíduo pelo pescoço.

Na terça-feira, a GNR anunciou também a abertura de um inquérito para "averiguar as circunstâncias da detenção do cidadão para apuramento de eventuais responsabilidades", tendo em conta as imagens difundidas.

Em comunicado, a Guarda Nacional Republicana confirmou a detenção de um cidadão que se encontrava com "uma atitude imprópria e ofensiva" para com os funcionários de uma Repartição de Finanças no Montijo.

Lusa | TSF


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Portugal | “AQUILO PARA MIM NÃO É NOSSA SENHORA, É UM PEDAÇO DE BARRO!”


Em vésperas do centenário, nem todo o mundo católico está a caminho de Fátima. Dois padres, um frade e um bispo explicam porquê. E criticam (uns mais do que outros) o fenómeno.

Em Novembro de 2005, o Congresso Internacional para a Nova Evangelização juntou em Lisboa mais de um milhar de católicos para discutir novas formas de aproximar Igreja e pessoas nas grandes cidades. Ao longo de uma semana, houve debates, concertos, tempos de oração, exposições e uma procissão, como tinha acontecido aliás em Viena e em Paris nos anos anteriores, e viria nos seguintes a acontecer em Bruxelas e em Budapeste — fruto da organização conjunta dos cardeais patriarcas de cada uma das cidades.

Problema, recorda D. Januário Torgal Ferreira: “Aquilo não teve grande calor”. Solução, conta também o agora bispo emérito das Forças Armadas: “O D. José Policarpo trouxe de Fátima a imagem de Nossa Senhora e foi uma apoteose!”

O episódio serve para ilustrar o que D. Januário Torgal Ferreira, 79 anos, considera um dos maiores “escândalos” decorrentes do fenómeno Fátima: “Não quero exagerar e dizer que é idolatria, mas o facto de a fé das pessoas em Nossa Senhora se prender tanto com uma imagem, que até vai pelo mundo, em digressão, obriga-me a perguntar: será que não educámos mal o povo? Escandaliza-me que as pessoas só rezem àquela imagem, que se despeçam dela a chorar, na Procissão do Adeus. Eu nunca me despeço de Nossa Senhora, porque ela está sempre comigo. Aquilo para mim não é nada, é um pedaço de barro!”

Cem anos depois das chamadas aparições de Fátima, nem todo o mundo católico concorda com a forma como a fé se construiu em torno dos três videntes sub-10 a quem, em 1917, Nossa Senhora terá aparecido em cima de uma carrasqueira com mensagens de paz, sacrifício e oração. Mais: há até quem continue a garantir que tudo não passou de um embuste — e não tenha sido excomungado por isso. Falámos com quatro críticos do fenómeno: dois padres, um frade e um bispo.

“Em Fátima até bisbilhotice celestial houve”

Natural de uma aldeia perto de Terras de Bouro, não estranhou o movimento quando, em 1953, aos 19, se mudou para a escola apostólica dos Dominicanos de Aldeia Nova, a cerca de 20 km de Fátima. Para além de ainda não ser a loucura de gente que é hoje, “já estava habituado ao problema dos santuários, as pessoas já iam muito a São Bento da Porta Aberta”, conta ao Observador Frei Bento Domingues.

Quando estudava, ia a Fátima em grupo e chegou a dormir ao relento, em vários 12 de maio, porque não havia alojamento barato –“Era prática comum aos pobres”. Hoje, aos 82 anos, não vai lá e, sem se comprometer com opiniões do género “apareceu ou não apareceu”, sustenta que, como fenómeno religioso, o português nem sequer é muito diferente dos outros que já existiam: “Como em Compostela, por exemplo, a lenda é que Santiago veio num barco de pedra, é absolutamente inverosímil. Mas se não for também não serve, é necessário saltar para fora do normal”.

“Fátima é ambígua, não sou dos encarniçados, que dizem Fátima nunca mais, nem dos que dizem que é Fátima que nos salva. Não acredito em Fátima, acredito em Deus, em Jesus Cristo e na mãe de Jesus. Naqueles fenómenos estou sem saber. Aquilo não faz parte do credo católico. Mas acredito muito em muitas pessoas cuja vida foi transformada por Fátima, há uma experiência física, espiritual e psicológica, não acho que as pessoas estejam a aldrabar”, diz.

Aquilo de que os crentes precisam, a seu ver, é de uma melhor orientação por parte dos padres na interpretação da mensagem de Fátima. “Para lá do plano metafísico, a religião também existe para o alívio das pessoas. Muitos psicólogos estão de acordo em dizer que a religião pode ser benéfica. O que falta a Fátima é uma dimensão social, de transformação da vida das pessoas. Estou muito triste por, em vez de fazer isso, o Clero andar a discutir o que o Papa vai vestir e por que cálices vai beber. Querem educar o papa Francisco na alienação em Fátima”, acusa.

Na génese, o fenómeno das aparições na Cova da Iria é de religiosidade popular, assinala Frei Bento Domingues: “Em Fátima até bisbilhotice celestial houve, algumas pessoas perguntavam à Lúcia se a Senhora lhes tinha falado de pessoas da aldeia, que já tinham morrido, e ela respondia: ‘Esta já está no Céu, aquela no Purgatório, e a outra vai ficar até ao fim do mundo’. Depois houve a manipulação do Clero, que quis inscrever o fenómeno daquelas crianças na Igreja portuguesa, que era perseguida. A Lúcia, nas suas memórias e cartas, andou sempre a reconfigurar tudo. E também confessou que os padres a ajudaram muito”.

Apesar de encontrar na autonomia religiosa que o fenómeno inventou um ponto positivo (“Cada um tem a sua Fátima, os seus problemas, os seus sonhos, acho graça a isso”), o frade dominicano não pode deixar de apontar para os dois elefantes no centro do santuário. O facto de, ao longo do último século, Fátima ter sido consolidada através de dois pilares pouco recomendáveis (ou católicos).

A saber: turismo — “É evidente que quem tomou conta dos santuários foi o turismo religioso. Fátima agora tem uma posição fantástica no país, é muito fácil ir até lá, e tem um conjunto hoteleiro invejável. A partir da primavera, para muitas pessoas, o fim de semana é ir a Fátima” –, e sacrifício, como forma de evitar construções mentais de inferno e purgatório — “Fátima é composta de imagens do catolicismo popular, aquilo que as crianças fizeram foi a objetivação do que tinham em casa: a confissão, a reza do terço, a ida à missa, a leitura da Missão Abreviada, a que na minha terra até se chamava A Vinagreira, porque eram tudo coisas de assustar, com inferno e purgatório e limbo, que entretanto o papa Bento XVI fechou”.

Irremediavelmente perdida a primeira guerra (o turismo não vai abrandar), Frei Bento Domingues diz que há sinais recentes de que a segunda pode ainda ser ganha: “No mês passado, o papa Francisco fez uma carta apostólica para colocar os santuários, até agora nas mãos dos padres, sob a alçada do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. O Clero não deve servir-se de Fátima para assustar ou prender as pessoas. Fátima tem muitas virtualidades, mas é preciso não seguir aquilo à letra. Pode ser benéfica ou maléfica. O gosto de sofrer é uma doença, quem gostar de o fazer que vá ao psiquiatra! Há uma ideia, que já vem da Idade Média, de Santo Anselmo, de que Deus foi ofendido e nós estamos em dívida para com Ele e temos de o reparar. E sofrer, sofrer, sofrer. Isto parece-me de um ridículo atroz. Vejam só, um Deus que faz sofrer em vez de dar alegria! É uma deturpação”.

“Os senhores bispos não deviam fazer apelos para as pessoas irem a Fátima. Muita gente vai ficar na autoestrada”

“É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima.” Foi com estas palavras, que repete ipsis verbis ao Observador, que a “bronca” rebentou. Desde a entrevista que deu ao Expresso, em abril, Anselmo Borges não tem tido mãos a medir: “Já está em inglês, em espanhol, em francês, até os alemães de uma rádio me querem entrevistar”.

O pior, garante o padre da Sociedade Missionária Portuguesa, é que a afirmação-bomba, proferida no contexto de uma explicação sobre as diferenças entre aparições e visões foi mal interpretada:”As pessoas pensaram que sou contra Fátima. Não sou, fui ordenado lá pelo cardeal Cerejeira e quando lá vou rezo na capela das Aparições. Agora, não vou lá no 13 de maio, não gosto de confusões. E até penso que os senhores bispos não deviam fazer apelos para as pessoas irem a Fátima. Muita gente vai ficar na autoestrada e vai ser uma imensa frustração”.

A distinção não é nova, foi explicada em 2000 por Joseph Ratzinger, então cardeal e perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé, mas o padre português, 72 anos, repete: “Uma aparição é uma manifestação física, é uma presença física que é vista por outras pessoas. É evidente que Nossa Senhora não apareceu em Fátima, Maria não tem corpo físico. Em Fátima o que houve foi uma visão, uma experiência interior religiosa — autêntica, não digo que foi um delírio nem uma alucinação. Agora, é uma experiência religiosa de crianças e à maneira de crianças. Que tem de ser vista no contexto da época”.

Apesar de não colocar em questão a legitimidade das “visões”, Anselmo Borges garante que não é obrigatório acreditar em Fátima para ser católico. Primeiro, porque Fátima não é um dogma da Igreja, depois, porque a própria mensagem resultante das visões não é das mais… cristãs. “Há experiências religiosas melhores e menos boas. Que mãe é que mostrava o inferno a crianças de 10 anos?! Acredito que há ali um núcleo de experiência religiosa. Com aspetos bons — elas viram a luz — e aspetos maus — o terror que pregam.”

Mesmo adaptando as visões de Lúcia, Jacinta e Francisco à realidade sociopolítica de 1917, o padre, que acaba de publicar “Francisco: Desafios à Igreja e ao Mundo”, livro onde endereça uma série de críticas ao interior da Igreja, a partir das posições do atual Papa, é reticente relativamente à cultura de castigo e sacrifício que emana de Fátima. E também não se coíbe de fazer menção aos “arranjos e rearranjos” que a narrativa do milagre sofreu com o tempo e pela mão de Lúcia-adulta: “Lentamente apareceu a Segunda Guerra Mundial, depois o comunismo. Não percebo por exemplo porque é que em Fátima nunca houve também a condenação do nazismo“.

“A Primeira Guerra Mundial estava em curso, as crianças ouviam dizer que os soldados iam para a guerra, havia perseguição da Igreja por parte da Primeira República, e os pregadores aterrorizavam os fiéis com histórias de um Deus castigador, que devia ser compensado com penitências. Admiro a generosidade das crianças, que faziam sacrifícios pela conversão dos pecadores, mas o sacrifício pelo sacrifício não vale nada. Deus não quer que as pessoas vão a Fátima e andem ali a arrastar-se, não é isso que o Evangelho diz“, defende.

Pegando em “metanoia”, a palavra grega que dá origem ao conceito de penitência, traduz à letra e explica: “Fazer penitência é mudar de vida e de mentalidade, não é fazer sacrifícios físicos. O que é mais fácil? Andar de joelhos ou mudar de vida? Ser justo, estar interessado nos mais desgraçados — isso exige sacrifício. É isso que o Evangelho diz! E é esse o grande problema do papa Francisco: ele já se converteu ao Evangelho, agora é preciso que todos os padres e bispos se convertam também”.

Exatamente pelo mesmo motivo de fundo, Anselmo Borges não é a favor da canonização de Jacinta e Francisco, o ponto alto da celebração do centenário. Mas também não se manifesta ativamente contra: “Agora vão canonizar os dois miúdos… todas as crianças são santas, porque são inocentes. Se for uma oportunidade para que se tome consciência disto, de que todas as crianças são santas e devem ser tratadas assim, então sou a favor. Se servir para acabar com o tráfico, a exploração sexual, a violência física e psicológica e a fome, que todos os dias mata no mundo mais de 10 mil crianças, sou a favor. Esse é que seria o verdadeiro milagre”.

“A Senhora de Fátima é um mito, uma criação, não tem nada a ver com a mãe de Jesus, que é Maria”

Nasceu em 1937, duas décadas depois dos acontecimentos registados na Cova da Iria e outras tantas antes da expansão do santuário, hoje visitado por seis milhões de pessoas todos os anos. Garante que, na dúzia de anos que passou no seminário no Porto, em regime de internato, como na altura tinha de ser, nem por uma só vez ouviu falar em Nossa Senhora de Fátima.

“E os últimos quatro anos foram só Teologia! Nunca nos falaram, nem a mim nem aos meus condiscípulos, em Fátima. Nem nas aulas, nem nas missas, nem nas devoções mais particulares. Entrei em 1950, fui ordenado em 1962”, conta Mário de Oliveira, 80 anos, dois livros anti-Fátima no currículo, padre sem paróquia desde 1975.

Diz que foi em 1967, em plena guerra colonial na Guiné-Bissau, para onde foi enviado como capelão militar assim que fez 30 anos — “Cada batalhão levava um padre católico, no ano em que completássemos os 30 éramos chamados e tínhamos de ir, sob pena de sermos considerados refratários” — que conheceu os primeiros devotos de Fátima. Liderava espiritualmente um grupo bem heterogéneo: metade eram alentejanos, “que não queriam saber de missas para nada”, os restantes eram minhotos, ultra devotos que passavam a vida a fazer e a cumprir promessas e iam para as matas combater de terço ao pescoço. “Isso fez-me muita confusão, falavam de Fátima, atribuíam-lhe os tais milagres e as vitórias que tinham na guerra, pediam-me que lhes rezasse missas, para não morrerem em combate. Nunca o fiz: um padre é de toda a gente, eu era deles como era dos que eles combatiam, nunca podia rezar pela vida de uns se em causa estava a dos outros“.

Quando voltou a Portugal, quatro meses depois (“Quando perceberam que tinham ali um padre que defendia o direito dos povos à liberdade e à independência dos povos, despacharam-me”), percebeu rapidamente que o culto que tinha descoberto na colónia estava ainda mais vivo na metrópole. Primeiro na paróquia de Paredes de Viadores, no Marco de Canaveses, depois na de Macieira da Lixa, em Felgueiras, levou um banho de Fátima.

“Faziam os cantares de maio, as novenas, o rosário. Durante todo o mês, ao fim dos trabalhos nos campos, vinham rezar o terço à Igreja, cantar os cânticos e fazer uma meditaçãozinha — e os padres tinham de presidir a isso. Percebi que aquelas pessoas nunca tinham ouvido falar em Maria, mãe de Jesus, só em Nossa Senhora de Fátima! Como não pude impedir essa devoção, em vez de ter ali as pessoas a dizer 50 ave marias, resolvi fazer diferente: rezava só um mistério, 10 ave marias, e todos os dias escrevia uma meditação. Foi em 1970. Na meditação de 12 para 13 de maio falei abertamente naquilo que se fazia lá e nas promessas, nos rastejares, nos pagamentos: ‘Vedes algum bispo lá de joelhos? A dar os anéis ou a puxar da bolsa? Então porque ides para lá vocês?!‘”

Os sermões, em que também criticava recorrentemente a guerra colonial, valeram-lhe a presença de agentes da polícia política entre os fiéis e dois bilhetes de ida para Caxias — esteve detido pela PIDE, ao todo, durante 19 meses. Quando tudo acabou, padre sem paróquia, decidiu tornar-se jornalista e mergulhar ainda mais a fundo nas questões da fé (e do resto) em Fátima. Autor de dois livros: “Fátima Nunca Mais” (1999) e “Fátima S.A.” (2015), Mário de Oliveira mantém: “A Senhora de Fátima é um mito, uma criação, não tem nada a ver com a mãe de Jesus, que é Maria. Não há nenhum teólogo católico de renome internacional que aceite as chamadas aparições, sejam as de Fátima, de Lurdes ou de Guadalupe. Dizem que não é uma expressão de fé mas de medo“.

Mais do que apontar o dedo aos devotos ou aos videntes de Fátima, o padre acusa a Igreja Católica de alimentar a devoção, sem a enquadrar: “As pessoas estão em sofrimento e aquilo é um ópiozinho. Sentem-se melhor enquanto lá estão, embora depois tenham de lá ir outra vez, tomar outra dose. São devoções de religiosidade popular do mais primitivo que há, precisam de ser evangelizadas. É criminoso da parte dos bispos — e do Papa, então, nem se fala! — que alimentem esta anestesia em vez de ajudarem as pessoas a resolver os seus problemas”.

Já sobre os acontecimentos de 1917, Mário de Oliveira, cujo segundo livro é baseado na análise da Documentação Crítica de Fátima, entretanto recentemente disponibilizada, não tem dúvidas: “Aquilo foi uma encenação, um teatrinho formado pelo clero de Ourém, com guião escrito pelo cónego Formigão, que andou um mês e meio em Lourdes a estudar como se faziam milagres e depois arranjou três atores, três crianças tenrinhas da mesma família que andavam naqueles ambientes de pregação de terror que havia na paróquia de Fátima naquela altura. O clima, o ambiente, era tudo horrível. Os pregadores diziam que os pecadores iam todos para o inferno se não se arrependessem dos pecados — e depois diziam que era mais fácil encontrar um corvo branco do que um pecador ser salvo! Acredito que as crianças, neste ambiente e com a preocupação grande que tinham em agradar ao adulto, tenham acreditado. Coitada da Jacintita, que foi a mais impressionável dos três e não comia nem bebia pela conversão dos pecadores”.

Apesar de garantir que sem o cónego Manuel Nunes Formigão Fátima nunca teria existido, Mário de Oliveira enquadra o que aconteceu depois num plano muito maior, de reação de uma Igreja acossada e “a perder clientela”, contra a Primeira República que a perseguia: “Se não é dogma, se não é uma verdade fundamental para se ser padre, se não faz parte da fé, por que motivo se lhe dá tanta importância? O tempo veio a revelar que aquilo é a galinha dos ovos de ouro, no sentido não só do dinheiro mas também das multidões que ali se reúnem gratuitamente, da Igreja Católica e do Vaticano.”

Profundamente crítico do fenómeno, levanta dúvidas sobre a veracidade de alguns documentos incluídos no processo do santuário, questiona acontecimentos — passados e atuais. Como o 13 de agosto, por exemplo: “Nesse mês o governador de Ourém fez um teste e levou as crianças para a sua casa no dia 13. Na Cova de Iria não houve nada, queriam matar o padre e tudo, que as deixou ir, mas se não havia atores, como é que podia haver teatro? A ‘aparição’ teve de ser adiada para 19, quando elas voltaram, porque a senhora não se deu ao trabalho de ir ter com elas a Ourém. Curioso também é a Igreja, como agosto é o mês de os emigrantes andarem por aqui e pode lá cair muito dinheirinho em Fátima, ter posto a Peregrinação dos Emigrantes a 13. Que é um dia em que não houve nada”.

“Há pessoas que têm 40 vestidos ou blasers e nem um dão aos pobres — mas vão a Fátima”

Sem querer entrar em discussões sobre as diferenças significantes de “aparições” ou “visões”, nos planos religioso ou filosófico, mas entrando — e citando Sartre, Camus e Kant no processo –, D. Januário Torgal Ferreira encerra o assunto com vários “não sei”. Não sabe se aquilo que aconteceu em Fátima em 1917 foi uma ou outra. Ou sequer aquilo que aconteceu: “Não sei se acredito. Não tenho nada de me confessar publicamente. Uma coisa é Nossa Senhora narrada por Lúcia. Sigo mais a narrativa de São Lucas. Sei o que ela fez em Caná, quando o filho se perdeu, o que sofreu com saudades quando o filho andava a pregar, como subiu com ele o calvário”.

O que atormenta o bispo emérito das Forças Armadas no que respeita a Fátima são outras coisas. Nomeadamente o facto de o fenómeno, assumidamente popular, nunca ter sido arrancado à incultura em que surgiu e devidamente enquadrado na doutrina da Igreja Católica: “Muita gente diz, quando volta de Fátima, que lá foi ver a santinha. Como?! Qual santinha?! Aquilo é Nossa Senhora, está acima de todos os santos, é a mãe da Igreja! Isto não devia ser composto? Há muitas pessoas que até dizem que Nossa Senhora de Fátima é melhor do que a do Evangelho! Saberão que só há uma?!”

Outro aspeto de que é crítico: a troca de favores que, a arrepio da verdadeira mensagem do fenómeno, que deveria ser de amor e mudança, o povo estabeleceu com e em Fátima. “A minha maior angústia é que as pessoas reduziram Fátima a um pedido salvacionista, mas não modificam a sua própria vida em Fátima. Os adúlteros vão amantizados para Fátima e voltam de Fátima amantizados. Os que defendem o capitalismo selvagem fazem o mesmo. Há pessoas que têm 40 vestidos ou blasers e nem um dão aos pobres — mas vão a Fátima. A mensagem de Fátima veio do Evangelho e devia fazer com que as pessoas mudassem de facto o próprio coração”, lamenta.

Faz o mesmo relativamente à cultura de sacrifício que decorre de toda a interpretação popular do fenómeno: “Respeito as pessoas que vão a Fátima de joelhos em sangue, mas o Deus em que eu acredito não quer o sangue de ninguém, basta-lhe a única cruz que o filho trouxe às costas“.

Tânia Pereirinha | Observador

Macroscópio – Faz sentido discutir o sentido de Fátima? Sim, faz

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
Amanhã chegará a Portugal o Papa Francisco que presidirá à peregrinação que marca o centenário da primeira das aparições, a 13 de Maio de 1917. Uma boa ocasião para regressar a uma reflexão sobre o sentido de Fátima e sobre o seu significado para os portugueses. É certo que nos últimos dias se trocaram mais argumentos sobre a pertinência da tolerância de ponto que António Costa concedeu aos funcionários públicos, mas não é por aí que irá este Macroscópio. Vamos apenas procurar guiá-lo através de alguns textos que podem ajudar a compreender melhor Fátima e as controvérsias quase tão antigas como a primeira das aparições.
 
A abrir gostaria de chamar a atenção para um dos textos que ajudaram a divulgar as aparições e mais terão contribuído para a credibilização do milagre de Fátima: a reportagem do enviado do jornal “O Século”, Avelino de Almeida, que a 13 de Outubro de 1917, foi uma das testemunhas do chamado “milagre do Sol”. A reportagem – Coisas espantosas! Como o sol bailou ao meio dia em Fátima – está reproduzida em vários sites (como este) e seria depois complementada com um testemunho porventura mais pessoal publicado duas semanas depois na Ilustração Portuguesa em conjunto com a reportagem fotográfica de Judah Ruah (de quem são a maioria das fotografias conhecidas desse da multidão que nesse dia se reuniu na Cova de Iria, nomeadamente a que abre esta newsletter). É desse segundo texto aquela que é, porventura, a passagem mais conhecida do seu testemunho: “E, quando já não imaginava que via alguma coisa mais impressionante do que essa rumorosa mas pacífica multidão animada pela mesma obsessiva ideia e movida pelo mesmo poderoso anseio, que vi eu ainda de verdadeiramente estranho na charneca de Fátima? A chuva, à hora prenunciada, deixar de cair; a densa massa de nuvens romper-se e o astro-rei – disco de prata fosca – em pleno zénite, aparecer e começar dançando n’um bailado violento e convulso, que grande número de pessoas imaginava ser uma dança serpentina, tão belas e rutilantes cores revestiu sucessivamente a superfície solar… / Milagre, como gritava o povo; fenómeno natural, como dizem sábios? Não curo agora de sabê-lo, mas apenas de te afirmar o que vi… o resto é com a Ciência e com a Igreja…

 
(Quanto aos testemunhos do que se passou nesse dia de Outubro o Observador recolheu alguns deles, assim como reuniu as imagens mais significativas, numa fotogaleria especial, em grande formato: 13 testemunhos sobre o "milagre do Sol".)
 
Feita esta rápida incursão ao passado, vejamos o que dizem hoje os historiadores, sendo que estes discutem sobretudo como Fátima se transformou no fenómeno que hoje é, mais do que debatem a autenticidade do que se passou. Ora uma dessas interpretações clássicas é a de Vasco Pulido Valente, que no seu livro A República Velha, dedica um subcapítulo a Fátima. No Observador reproduzimo-lo com o título Fátima, a política e a República. Pequena passagem, relativa à atitude que a Igreja portuguesa foi tendo ao longo dos anos: “Ao começo, a hierarquia manteve uma distância prudente, como se costuma dizer. O que significa que, ajudando e permitindo, só se comprometeu quando a reputação de Fátima estava estabelecida e o seu valor como símbolo político confirmado.”
 
Mas neste ano de 2017 tem sido abundante a publicação de livros, tendo a Rita Cipriano selecionado alguns em O que ler durante a visita do Papa Francisco. Estão lá onze referências sobre Fátima mais três relativas ao Papa Francisco, todas apresentadas de forma muito breve.

Uma análise mais longa da bibliografia recente, comparando-a com as obras clássicas e com a monumental Documentação crítica de Fátima (cinco volumes organizados pela Igreja Católica, mais um volume com uma selecção dos principais documentos relativos ao período 1917-1930 e que está disponível em PDF) é a do longo ensaio de António Araújo no Público, Fátima, cem anos depois, publicado no passado mês de Fevereiro. Na sua síntese, depois de grandes controvérsias, hoje “prevalece uma abordagem mais serena e desapaixonada, da História à Teologia”.
 
Prova de que há sempre descobertas a fazer foi a revelação, ainda em Março, de que um anúncio no Diário de Notícias previa Fátima dois meses antes. É uma história curiosa, contada por João Céu e Silva, sobre uma pequena inserção publicitária, a 10 de Março de 1917, onde se escrevia: “135917. Não esqueças o dia feliz em que findará o nosso martírio. A guerra que nos fazem terminará." Estranho, mas interessante e sem aparente explicação.
 
Mas passemos agora à conversa – julgo ser este o termo mais adequado – que se tem desenvolvido entre vários padres e teólogos sobre o sentido e o significado de Fátima e a interpretação a dar ao que foi relatado pelos pastorinhos. Duas entrevistas de D. Carlos Azevedo – uma ao Expresso, outra ao Público – chamaram a atenção pelos seus títulos. “Nossa Senhora não aprendeu português para falar com Lúcia”, no Expresso. “Maria não vem do céu por aí abaixo”, no Público. Eis uma passagem com o essencial da sua posição, retirada desta última referência: “Chegou o momento para falarmos com linguagem exacta. Joseph Ratzinger no ano 2000, quando fez o comentário teológico à última parte do segredo de Fátima, usou sempre a palavra visões e esse é o rigor teológico. O grande teólogo Karl Rahner também escreveu um livro sobre visões e profecias, usando a palavra visões. Esse é o termo exacto.”
 
Esta leitura remate precisamente para um texto de Joseph Ratzinger escrito antes de ser eleito papa e tomar o nome Bento XVI, um texto teológico de grande densidade que foi escrito pelo então responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé a propósito da revelação, por João Paulo II, do famoso “terceiro segredo”. Esse texto, intitulado simplesmente A Mensagem de Fátimaestá disponível em português no site do Vaticano.
 
(Sobre as circunstâncias da revelação desse “terceiro segredo” vale a pena ler a entrevista que Aura Miguel, da Rádio Renascença, fez ao Cardeal Angelo Sodano, o homem que, no ano 2000, por decisão do Papa, levantou o véu do “terceiro segredo” de no final da missa de 13 de Maio, em Fátima, quando se soube que a visão era sobre as lutas contra os cristãos e contra o “homem vestido de branco”. A sua interpretação é que dar a decisão de João Paulo II o fazer foi por querer "relançar uma mensagem de esperança”).
 
A interpretação desse texto e a discussão sobre se estamos perante “visões” ou “aparições” já suscitou dois textos com interpretações diferentes no Observador: o padre Gonçalo Portocarrero de Almada interrogou-se sobre o tema em Fátima (1): Aparições ou visões?, tendo defendido que “Na Cova da Iria os pastorinhos tiveram visões e não aparições, mas o valor não é menor porque, como notou Bento XVI, visões têm uma força de presença tal que equivalem à manifestação externa sensível”; já o cónego José Manuel dos Santos Ferreira, num texto com um título quase igual, Fátima: visões ou aparições?, seguiu uma linha porventura mais tradicionalista: “Também os fenómenos físicos que acompanharam os acontecimentos de Fátima e foram observados por numerosas testemunhas, não podem ser frutos de uma visão imaginativa. O seu número é impressionante. Esses fenómenos exteriores manifestam sem qualquer dúvida possível a presença efetiva de uma pessoa celeste.
 
Ao mesmo tempo também há os que, dentro da Igreja Católica, contestem Fátima e o seu significado, nalguns casos de forma muito desabrida, noutras de forma mais moderada. Tânia Pereirinha do Observador falou com alguns deles em “Aquilo para mim não é Nossa Senhora, é um pedaço de barro!”. Dois padres – Anselmo Borges e Mário de Oliveira –, um frade – Frei Bento Domingues – e um bispo – D. Januário Torgal Ferreira – expuseram os seus argumentos. E se a contestação de Mário de Oliveira tem muitas décadas, a reflexão de Anselmo Borges, bem mais moderada, ficou também exposta em dois artigos no Diário de Notícias: O que eu penso sobre Fátima (1) e O que eu penso sobre Fátima (2). Nesses textos, para além de regressar ao tema das visões ou aparições, este padre considera que o núcleo da mensagem de Fátima é, “Em primeiro lugar, a oração. É uma grande mensagem? É. Para crentes e não crentes. Quem não precisa de rezar?” Já à outra mensagem, "Fazei sacrifício e penitência", considera que deve ser dado um enquadramento mais cuidadoso: “O sacrifício pelo sacrifício não vale nada, mas, por outro lado, sem sacrifício, nada de grande, de verdadeiramente valioso, se realiza”.
 
Ainda no domínio da teologia, uma referência para o texto de Paulo Mendes Pinto, especialista em Ciência das Religiões, na Visão: De “aparição” a “visão”: Ratzinger e a redefinição de Fátima como objecto de teologia. Eis o seu ponto de vista: “Ao definir Fátima como uma “visão”, subalterniza teologicamente o que possa ter acontecido, tornando-o “particular”, mas abre ao infinito todas as possibilidades de interpretação, dando guarida às formas mais pessoais de viver a fé. Isto é, ao libertar Fátima do peso excessivo de toda e qualquer narrativa, colocando sempre acima a Revelação bíblica, o futuro Papa dava a Fátima a possibilidade de fugir ao tempo, ao contexto e de continuadamente se poder recriar na maleabilidade e na subjectividade de cada crente no seu momento e no seu contexto específico.” 
 

Mas de todos os textos que tenho vindo a referir, talvez o mais notável, na minha perspectiva, seja o que resultou da conversa muito franca e aberta de João Francisco Gomes, do Observador, com o bispo de Leiria/Fátima, D. António Marto: “Representava melhor o diabo do que o anjo, ironia do destino”. Nela o teólogo que confessa ter sido céptico de Fátima explica como foi evoluindo na sua posição. Primeiro: “Quando acabei o curso, era um racionalista, éramos muito racionalistas. Tudo tinha de passar pelo filtro da razão, portanto tudo o que fosse de um ponto de vista mais do aspeto emocional, sentimental, era desvalorizado. Às vezes olhávamos até com desdém, com desprezo, para as expressões de piedade popular.” E depois: “Punha em causa algumas expressões da fé (risos). Sobretudo a piedade popular, mas isso era típico de uma espécie de cultura de elites, que olha com desprezo para o que é do povo, para o que é popular. A partir daí, mudou a minha maneira de ver e de avaliar esse aspeto da piedade popular. Claro que a piedade popular também precisa de ser purificada com os critérios do Evangelho, mas tem valores profundos, que não podemos desprezar sem mais.”
 
Ao mesmo tempo, a estreia do mais recente do mais recente filme de João Canijo, Fátima –, um filme que acompanha um grupo de mulheres que peregrina desde Vinhais, que Eurico de Barros, no Observador, considerou que irá “ocupar um lugar especial, pelo método de elaboração e pelo ponto de vista, pela ponta inédita em que pega e pela qualidade dramática, pelo peso de verismo e pela isenção de “parti pris” e de julgamento, na filmografia nacional dedicada ao fenómeno fatimista” – suscitou também algum debate – este entre não crentes. O tiro de partida foi dado por Daniel Oliveira, no Expresso, numa coluna a que chamou Fátima, reflectiu sobre como “é difícil compreender este nosso povo sem compreender o culto mariano, a função libertadora do sacrifício e a experiência coletiva da fé.” Viu mais, pois em Fátima sinais de um “espírito comunitário” que aprecia. Fernanda Câncio veio contrariá-lo no Diário de Notícias, em Do ut des, ou Fátima, altar do egoísmo, onde defende a tese completamente oposta, a de ali só existe um “individualismo egomaníaco”.
 
Partindo deste filme, da entrevista de D. António Marto e também do que se diz nestes textos, eu próprio escrevi no Observador um texto assumidamente pessoal: Fátima, ou a confissão de humildade de um não-crente. Eis a forma como termino: “Não posso, nem devo, deixar de me emocionar quando olho para os peregrinos que se dirigem a Fátima animados por algo que é muito mais do que pedir uma graça, cumprir uma promessa ou simplesmente ajoelhar-se, acender uma vela e rezar. Tal como não posso deixar de pensar naquilo que não alcançamos, recordando de novo Bento XVI nessa mesma aula: “o perigo do mundo ocidental é que o homem, obcecado pela grandeza do seu saber e do seu poder, esqueça o problema da verdade”. Humanamente e simplesmente.”

 
A fechar, até porque este Macroscópio já vai longo, mais uma inevitável referência ao último Conversas à Quinta, Fátima, da I República à tradição do culto mariano. Como saberão eu seu o primeiro fã deste programa, não por ser o moderador, mas pela imensa qualidade dos dois "conversadores", Jaime Gama e Jaime Nogueira Pinto. Desta vez arrisco dizer que a conversa foi ainda foi melhor do que o habitual. Superlativa, quer pela forma como Jaime Gama enquadrou Fátima na religiosidade popular e na tradição portuguesa, quer pelo que Jaime Nogueira Pinto recordou do Portugal (e do Mundo) de 1917. Não percam (também em podcast).
 
E agora sim é tudo. Amanhã regresso para vos falar do Papa Francisco e do que ele representa. Tenham boas leituras e bom descanso. 

 
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