Johnny Ribeiro. Qualquer alma que reside ou se interesse pelas terras mirenses conhece esta pessoa. Intervencionista, daqueles que nunca se calam... ou melhor, daqueles que pouco gostam de aparecer, mas - nem por isso - se deixam esquecer!
Seus vídeos são famosos. Seus posts são diretos, mesmo que as palavras sejam escolhidas a dedo com um toque irónico que acaba por deixar muito boa gente a pensar...
O Jornal Mira Online entrevistou este jovem que, até pelas respostas dadas, não deixou de ser aquele que é sempre: bem disposto, porém com um olhar tímido... cidadão na verdadeira acepção da palavra, mas sem ser pretensioso... Igual a si próprio, não deixa créditos por mãos alheias: joga ao ataque na sociedade, na vida política local embora seja um defensor num campo de futebol, que utiliza para contribuir com a sua qualidade de vida.
Eis, Jhonny Ribeiro, uma verdadeira estrela do Concelho de Mira e arredores...
Em rápidas pinceladas, pode dizer aos leitores do Jornal Mira Online "quem é Jhonny Ribeiro?
Sou um tipo que já trabalhou em diversas áreas: serralharia e construção civil (nas férias de Verão), call center, agente imobiliário, transporte de mercadorias na Europa Central, detecção e prevenção de incêndios florestais, empregado de mesa enquanto concluí toda a licenciatura de Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Mas não era um café de pasmaceira, era um café onde à noite não é exequível andar a despejar as garrafas no vidrão uma a uma. Aquilo era de Segunda a Sábado (e às vezes ao Domingo) das 19h às 3h e ao outro dia tinha que ir às aulas de manhã. Já estive na área de Educação e Formação de Adultos (onde um utente me chamou uma vez Dr. Jhonny, aquilo soou-me pretensiosamente parolo e pedi para apenas me tratar por Jhonny). Daqui a 2 anos estarei na Ordem dos Enfermeiros a ajudar na luta duma classe que tem sido historicamente injustiçada. Nasci na Venezuela, antes do Hugo Chaves tomar o poder (daí o nome esquisito) e vim num Fevereiro gelado de 1989 para a segunda classe (a meio do ano), onde a ajuda da minha mãe foi fundamental para concluir esse ano com sucesso (diferença de línguas)… Curiosamente fui colocado no primeiro ano da catequese com miúdos mais novos que eu. Dei voltas e voltas para tentar ir para a turma da minha idade… Mas o Seixo tem estas limitações mentais. De referir que em nenhuns dos ofícios fui dispensado ou despedido, e aprendi muito em todos eles.
Pratico futebol 11 no Seixo não porque goste, porque gostar de bola não é intelectualmente chique, mas sim porque tenho consciência que contribui para a minha qualidade vida. Ah, e viver um balneário de amigos da terra é algo que é difícil de descrever, nem eu o poderia fazer, porque o que se passa num balneário, fica no balneário. Gosto de ver o Benfica com os amigos de infância, de cinema, de cozinhar, de estar actualizado, de tentar fazer algum humor e de escrever.
Como cidadão, parece ter escolhido a sua "intervenção política e local" através de um tipo de fino humor. É mesmo assim? Se sim, isto faz parte da sua forma de ser ou foi uma "personagem" criada para intervir na sociedade mirense?
Se é fino ou não isso é sempre algo subjectivo, e depende muito do público alvo. Eu posso achar o humor do Rui Sinel de Cordes, fino, e outros acharem que é apenas um retardado mental. Agora quem vive comigo no dia a dia sabe que ando sempre na comédia. Às vezes também posso encarnar uma personagem, repare que estou sempre a brincar com a vinda da Lusiaves, mas concordo com a sua implantação naquele local ermo e isolado do Seixo, pois havendo 175 mil jovens que não estudam nem trabalham, poderia ser uma alternativa temporária interessante. Não estou a dizer que devam fazer carreira nisso, estou a dizer que pode ser uma alternativa temporária.
O que considera haver em outros locais de Mira que faça falta na sua terra (Seixo)?
Tendo em conta o resto do concelho e do país, o Seixo está bem e recomenda-se. Tem uma boa junta assim como terá, se o outro candidato ganhar. Nisso, estamos bem servidos. E se houver rotatividade, não faz mal a ninguém. Não vou bater no ceguinho que falta emprego, que isso é geral. Há quem diga que falte uma farmácia, mas nunca debati esse assunto a sério com o meu irmão que é farmacêutico (para saber até que ponto seria rentável, as pessoas esquecem-se que a farmácia é um comércio). Seria necessário claramente um campo de futebol com relvado sintético. Podemos dizer que não é essencial, sei que são muito caros, mas olhamos para Vagos e Cantanhede e vemos sintéticos como cogumelos. Isso de andar na terra batida já é só para homens de barba rija. De certeza que mais jovens largariam a playstation para ir praticar desporto. Uma pessoa quer ir jogar ao polidesportivo (que teve obras há 2 anos) e aquilo parece patinagem artística. E claro, o saneamento básico, que é aborrecido pessoas terem que pedir uma cisterna para lhe esvaziarem a fossa de 15 em 15 dias. A pista ciclo-pedonal, de início deveria ter passado sempre pelo Seixo.
Ao contrário, o que consiedra haver no Seixo que faça falta no resto do Concelho?
Falta (ou faltavam) cemitérios com campas disponíveis na Praia de Mira por exemplo. Não faço ideia como é que eles vivem sem Lar de Idosos nem Casa Mortuária. Se o Seixo tivesse uma Lagoa de certeza que alguma coisa já teria sido feita para estancar a poluição. Falta mais coesão social no resto concelho e mais liberdade de expressão noutras zonas. Para além de todos os equipamentos sociais que o Seixo tem e os outros não. Mas convenhamos, não pode haver uma Cerci em todas as freguesias.
Alguma vez já pensou candidatar-se a algum cargo público?
Uma coisa é um cargo público, outra é um cargo político. Para um cargo público é preciso andar sempre à coca dos concursos e esperar que tenha um Paulo Júlio de Penela como primo. Ou seja, empregou um primo na Câmara. Abriu um concurso, para chefe da divisão da autarquia na área da cultura, desporto, património e juventude em que o requisito era ter licenciatura em História de Arte. Por acaso era o curso do primo. Curiosamente, foi mais tarde secretário de Estado da Reforma Administrativa Local que ia limpando os Carapelhos do mapa. Ficava freguesia do Seixo e Carapelhos, que seria uma coisa bonita de se ver. Engraçado que nunca se fale no papel fundamental que o antigo presidente da câmara teve na defesa dessa pequena freguesia.
Quanto a cargos políticos, não estou numa fase da vida em que consiga dar de mim, aquilo que um cargo político precise. A não ser que fosse para esse cargo para benefício próprio. Mas não acha que já há poucos nessas condições? Uma vez uma professora do Ensino Superior constatou que eu não lidava bem com a mediocridade. Eu respondi que com a mediocridade passiva até tenho paciência, sou é implacável com a mediocridade que tem voz, toma decisões, é sobranceira e pedante. Daí se calhar ainda não esta preparado para me candidatar a um cargo político. No outro dia num numa entrevista dum candidato na rádio de Mira, as perguntas dos ouvintes eram de familiares e membros da equipa do político, e eram feitas de forma a enaltecer e a divinizar todo o trabalho feito pelo autarca. Isso parece quando na faculdade se apresenta um trabalho de grupo, e no fim, quem coloca as questões são membros do mesmo grupo! Ainda não tenho perfil para isso. Talvez um dia.
Quando lê nas redes sociais "críticas às suas críticas", como se sente? Tem sempre vontade de ripostar?
O tipo de intervenção é normalmente a brincar, repare que achei caricato o panfleto do PS dos Carapelhos sem fotos, mas consigo valorizar aquela candidatura. O objectivo é incrementar o pensamento crítico e aumentar os níveis de participação em cidadania no concelho, ao mesmo tempo que me divirto. E tentar que seja inteligível… Se a crítica for anónima não ligo patavina, se a pessoa não entendeu, reflicto que é para a próxima ter que ajustar a piada ao público alvo. Quanto ao responder, dá-me jeito de além de ter um dia a dia muito preenchido, ter um telemóvel muito fraco e lento que inviabiliza correr o risco de ir ripostar e encontrar-me a certa altura num mar de comentários lamacentos, ao nível duma caixa de comentários dum jornal online nacional.
Define-se como alguém que "não é criativo", mas utiliza a criatividade para pôr a nu aquilo que considera como falhas no Concelho de Mira. Não é um contra-senso?
Não sou um criativo no sentido em que não tenho uma eloquência e fluidez verbal de improviso muito forte. O que até me faz compreender porque é que alguns candidatos faltaram aos debates. Até porque os adversários eram animais políticos que já dominam tudo sobre o interior duma junta ou autarquia. Tento fazer intervenção social pela sátira e pelo humor, se há criatividade ou não, seria soberba da minha parte, admiti-lo aqui.
Como define o atual momento político mirense? Está mais "calmo" do que esperava por esta altura, tão perto das eleições?
Está desinteressante. Interessante será daqui a 8 anos quando finalmente o presidente da Praia de Mira se degladiar com o presidente do Seixo, pela CMM! O momento atual está renhido, disso há poucas dúvidas. O MAR vai ter um papel decisivo porque onde for buscar mais votos será a sede do candidato derrotado. Discute-se muito o aviário… Quando não ouço ninguém a dizer se é possível ou não a Barrinha voltar ao que era há 30 anos. Porque se voltasse, até hotéis se tinham que construir no Seixo para albergar tanto turista. Ao nível das redes sociais os ataques ad hominem estão ao nível de outros anos. Nada de novo.
Na Praia de Mira também há pessoas que gostam de intervir, fazendo comparações, mostrando imagens do que ainda está por ser feito... em suma, "cobrando" do poder autárquico promessas e denunciando o que considera estar mal. Esta é uma forma de intervir, porém, diferente da sua. Considera ser, também, uma boa forma de chamar a atenção de todos?
Considero e acho um tipo de cidadania louvável. Temos que ser exigentes com os nossos autarcas, principalmente aqueles que são profissionais da política. Se só é possível conseguir deste modo, sensibilizar para tratarem duma paragem de autocarro da Barra, então que seja. Há quem depois utilize o típico argumento “não tem mais nada que fazer”. Pois, se nas folgas passar o dia nas minis no café, se calhar não lhe sobra tempo para essas reivindicações. Cada um usa o tempo livre como entender.
Para finalizar, o que espera que o "Miralidades" (grupo do qual é co-fundador e administrador) possa trazer de novo para Mira?
Miralidades é apenas um grupo duma rede social em que se debatem assuntos sobre Mira. Cada um lhe dá a importância que quiser. O papel dos administradores é apenas admitir membros e limpar aquilo de anónimos e pouco mais. O auge do Facebook já foi, e não sei o que estará em voga daqui a 3 anos. Se conseguir divertir-me e publicar algo que seja interessante, que faça pensar, que desperte consciências, melhor ainda. Quando tinha 22/23 anos não sabia distinguir nem definir Direita e Esquerda em política (não é que hoje saiba até porque não são conceitos estanques). Todas as noites, depois dum extenuante turno no café, sentávamo-nos ao balcão a contar o dinheiro e religiosamente víamos o noticiário das 3h da madrugada na Sic Notícias, enquanto se comia uma tosta. Era naqueles 8 minutos de noticiário que se enchia o estômago e debatíamos uns com os outros (o patrão era um tipo muito inteligente que não tinha ensino superior e eu aprendia muito com ele), a actualidade. Isto plantou-me o bichinho de querer estar a par do que se passa na minha terra, em Portugal e no mundo. E se nós estivermos informados e esclarecidos, seremos cidadãos mais atentos, mais exigentes, mas também mais tolerantes e participativos...
Nota da Redação: O Jornal Mira Online agradece a pronta receptividade que Jhonny Ribeiro teve, aquando do convite que lhe foi endereçado. Por obrigação moral e até ética, este Jornal é totalmente apartidário, tendo apenas o interesse de servir a comunidade, dando-lhes a conhecer os mais diversos modos de pensar e o verdadeiro pulsar da sociedade local, regional e até nacional.
Jhonny Ribeiro foi convidado exatamente por estar dentro da linha editorial pensada para o Mira Online desde a sua idealização. Ele é alguém que simboliza todos os que gostam de pensar a sociedade como um todo, procurando fazer desta, algo melhor...
Cabe a cada leitor, tomar a sua opinião sobre as respostas dadas e concordar, ou não, com elas. A isso chamamos "Democracia".
Francisco Ferra