A primeira temporada de os 13 porquês foi um sucesso. Nesta temporada, o foco é o julgamento iniciado pela mãe de Hannah, a garota que comete suicídio, contra a escola Liberty, onde ela estudava. Para isso, a série expande os tema do assédio, abuso para outros jovens e aprofunda os efeitos da atenção ou desatenção dos personagens adultos.
Escolas e famílias são instituições cujas imagens sofrem os maiores arranhões ao longo da temporada.
Leia os 10 pontos importantes e fundamentais que aprendemos com a segunda temporada de Os 13 porquês:
1- O bullying é algo sério e deve ser encarado de frente:
Embora o bullying tenha sido tratado na primeira temporada de forma exaustiva, não fica muito claro como os amigos de Hannah reagiram a essas experiências. Na primeira temporada, a vítima do bullying parece ser única e exclusivamente a adolescente. Já nessa temporada fica claro como os tentáculos desse abuso afeta todos ao redor.
O bullying traz consequências e feridas emocionais profundas. As crianças e jovens que praticam o bullying ("valentões") estão em busca de popularidade, de sentir-se mais poderosos (para encobrir a própria insegurança), de obter uma boa imagem de si mesmo, afinal, não possuem controle emocional ou mesmo disciplina/supervisão. Também praticam o ato por conviverem em um ambiente marcado pela punição física, pelo autoritarismo dos pais ou pelo uso familiar de comportamentos agressivos ou explosivos. A criança agressora, geralmente, se torna o espelho do ambiente em que vive.
Já as crianças que sofrem o bullying, são crianças com dificuldade de interação social, consideradas diferentes ou com baixa autoestima. Os motivos que levam a prática são aparência do corpo, aparência do rosto, desempenho acima da média, raça/cor, orientação sexual, religião ou região de origem. Crianças e adolescentes que sofrem bullying têm 3 vezes mais possibilidade de pensar em suicídio, além de sofrerem de distúrbios de saúde e emocionais na fase adulta, tais como: instabilidade nas relações sociais, ansiedade, propensão ao vício do álcool e drogas.
Os pais precisam estar atentos para alguns sinais que podem indicar que os filhos estão sofrendo bullying: isolamento, exclusão social, ataques de fúria e impulsividade, sentimento de incapacidade, agitação e agressividade atípica, medo ou pânico de ir para escola, diminuição nas notas escolares, choro aparentemente sem motivo, aparecimento de feridas pelo corpo que a criança diz que não sabe como surgiram, chegar em casa com roupa rasgada ou suja, sumiço de pertences e dores de cabeça e barriga várias vezes ao dia.
Aos primeiros sinais que o filho possa estar exposto ao problema, os pais devem conversar com seus filhos sobre o assunto e informar imediatamente a escola e os professores.
2 - Vítimas de abuso sexual tem medo de contarem o que aconteceu com elas:
A segunda temporada mostra como as vítimas de abuso sexual se sentem inseguras e com medo para contarem a violência que sofreram. Jessica, a adolescente aterrorizada pelas lembranças tem medo de não ser compreendida, julgado pelos amigos e tudo o que ela mais quer é esquecer o ocorrido. Porém isso não acontece. Diariamente ao ver o adolescente que a estuprou a adolescente sente violentada e injustiçada novamente.
Jessica não é a exceção. Histórias são silenciadas porque geralmente não têm testemunhas, e pelo estigma que deixam em suas vítimas, marcadas pela dor e constrangimento que levam ao sofrimento da solidão, reforçando uma cultura do estupro. Muitas desistem de denunciar e de pedir ajuda, e temem o tratamento que receberão do poder público, seja no primeiro atendimento policial ou na rede de saúde, seja quando lhes é negado o acesso ao abortamento legal, direito previsto em lei desde 1940.
As vítimas têm, sim, dificuldade de falar sobre o assunto.Revelar para outra pessoa uma situação de abuso sexual é muito difícil para a maioria das mulheres. Mesmo que seja uma pessoa de sua confiança.
Outra marca desumana do estupro é o risco de não restarem provas físicas da violência e assim dificultar a punição do criminoso. Se reagir, um vestígio do agressor pode aumentar as chances de justiça, mas a resistência aumenta o risco de morte. Não reagindo, são menores as chances de o agressor lhe deixar marcas, mas são maiores a de sair viva. Há ainda as que não denunciam por vergonha ou por medo.
3- O suicídio não afeta somente quem se mata mas todos ao redor:
O suicídio é sempre uma experiência extremamente traumática para os amigos e familiares, mesmo que quem tente o suicídio pense que ninguém se preocupa com elas. Além dos sentimentos de mágoa normalmente associados com a morte da pessoa, podem existir sentimentos de culpa, cólera, ressentimento, remorso, dúvidas e grande angústia acerca de situações não esclarecidas. O estigma que cerca o suicídio pode fazer com que seja extremamente difícil para os que sobrevivem lidar com a sua mágoa podendo-lhes causar, também, situações de isolamento extremo.
É frequente acharem que são tratados de forma diferente após o suicídio e um familiar ou amigo tornando-se-lhes difícil falar sobre o problema devido ao estigma da condenação. Normalmente sentem que fracassaram por alguém que tanto amavam ter optado pelo suicídio, e a construção de novos relacionamentos é extremamente difícil devido à dor que sentem.
É fundamental salientar a interface entre os sobreviventes e a rede social, já que o estigma está muito presente, estas pessoas precisam de ajuda para lidar com as consequências sociais do suicídio. Estudo sobre as necessidades de uma família após o suicídio de um adolescente aponta a importância do apoio aos sobreviventes.
4 -Escola e pais devem ser parceiros e não inimigos
O papel da família, de modo geral, é o de fornecer apoio, segurança e afetividade.Um verdadeiro jogo de empurra. É assim que muitos definem a relação entre a escolas e as famílias quando se trata dos deveres e responsabilidades de cada parte na educação das novas gerações. Se, por um lado, professores e gestores cobram maior envolvimento dos pais no cotidiano escolar de seus filhos por meio do acompanhamento da lição de casa, participação em reuniões, entre outras estratégias; do outro, estes reclamam da falta de abertura e escuta de suas demandas por parte da escola.
A família deve buscar a interação com a escola, promovendo, questionando, sugerindo e interagindo de forma a fornecer elementos que através de discussões e ampla comunicação com os educadores promovam as iniciativas que vão de encontro às necessidades dos educando.
Na série fica claro como os pais da Hannah e a escola não se comunicavam, não eram parceiros. A impressão passada era de dois mundos isolados, onde cada um tinha sua parcela de responsabilidade em ajudar a adolescente e os dois falharam. Cada um com sua dose de parcela: O papel educador é responsabilidade da família, para que o papel pedagógico possa ser exercido pela escola com boa qualidade.
O caminho e a parceria entre família e escola é fundamental. Ambas precisam se acolher, se entender e se ajudar para o bem comum desse indivíduo, preparado como pessoa para viver em sociedade. Porém, sempre cabe à família educar e estar alerta, pois o contrato com a escola pode ser rescindido, mas o contrato de pai, mãe e filho é para a vida toda. Portanto, é muito importante exercer os papéis com sabedoria e responsabilidade de todos.
5 - Adolescentes têm dificuldade em se abrirem e conversarem, principalmente com os pais.
Claramente, esta é a fase do silêncio. A nova forma de comunicar-se é o silêncio ou, no melhor dos casos, as frases entrecortadas. Alguns livram-se de cair nesta etapa, mas são muito poucos. Por isso, é normal encontrar tantos pais desesperados com a indolência dos seus filhos. Tomar consciência do que se trata e de por que acontece é uma boa ajuda, pois assim é possível aprender o lado positivo, que neste caso, não é pequeno.
Quando alarmar-se:
1. quando o silêncio é acompanhado de manifesta agressividade;
2. quando a má relação com os pais e professores exigir outras causas que não simplesmente a adolescência;
3. quando existam suspeitas fundadas de que o filho não anda por bons caminhos;
4. quando existam quebras do rendimento escolar.
6 - A escola pode ser um lugar de muita dor para o adolescente
O bullying nas escolas infelizmente é uma realidade que também enfrentamos. Ele assume varias características, e formas dentro das escolas, bem como a reação de cada adolescente quando sofre.
Há várias formas de manifestar o bullying. A prática pode ocorrer da forma direta, quando a agressão é feita contra o seu alvo por meio de apelidos, exclusão do grupo, agressão moral ou física. O bullying pode ser também indireto, envolvendo furtos, fofocas e até mesmo, o cyberbullying , aquele que usa a internet, celular e outros meios do mundo digital para divulgar as ofensas - sites caluniando as vítimas, vídeos disseminados com situações embaraçosas e fofocas circulam pela rede numa velocidade impressionante.
A escola que deveria ser um lugar de aprendizagem, amizades, o encontro com o primeiro amor, acaba se tornando um lugar de tortura onde o adolescente se vê maltratado por seus colegas. Se o adolescente for uma pessoa tímida, fechada isso pode ainda piorar já que ela não se sentirá capaz de ter uma “voz” para falar o que acontece.
A forma como a escola e os pais lidam e percebem o bullying também influência na hora de decidir procurar apoio. Se o adolescente não se sente amparado, ou mesmo quando conta não se sente protegido, isso irá causar um sofrimento psíquico que poderá acarretar em sérias consequências.
7 - Pais não estão prestando atenção nos seus filhos
Esse não é um problema novo, mas que atualmente tem tomado proporções enormes. Antes os pais precisavam se ausentar porque trabalhavam demais, hoje eles continuam trabalhando demais, porém quando estão em casa, os filhos encontram outro concorrente: o celular. Não que os adolescentes não se isolem também nos aparelhos celulares, mas quando o modelo parental reforça e dá o exemplo a situação se complica.
Pais não estão prestando atenção ao que acontece com seus filhos e tem terceirizado a função que é só deles: amar, cuidar, proteger, disciplinar. Na série a escola é colocada como a grande responsável, mas em vários momentos foram levantadas questões do papel desses pais em não perceber como a personagem Hannah não estava bem. Não se trata de uma caça a bruxas para achar culpados, mas um alerta para os pais da necessidade de estar mais próximo do seu filho, de conversar mesmo quando as respostas venham monossílabas, em colocar limites, em demonstrar que ama e que eles estarão ali sempre.
8 - Adolescentes estão perdendo a noção do que é certo ou errado
Entende-se por moralidade o conjunto de normas e princípios de conduta. Na atualidade, a moral é o princípio de conduta que decai com o passar dos dias. Quem é que nunca se deparou com alguém ou até consigo mesmo menosprezando valores passados pela família ou pela religião para fazer o que lhe bem aprouver?
Que a adolescência é uma época difícil, de conflitos e muitas dúvidas todos nós sabemos. Mas se pararmos um pouco para observar os adolescentes de hoje perceberemos que eles nunca estiveram tão perdidos sem noção do que é errado ou certo. Valores morais tem sido distorcidos e coisas como bullying, assédio moral, levar vantagem, humilhar o outro, exposição exagerada nas redes sociais tem se tornado cada vez mais comum, porque não dizer normal.
O adolescente confronta os seus próprios valores com os valores do "mundo adultos", na tentativa de alcançar a tão desejada autonomia. Para tal ajuíza regras e convenções sociais, o que o leva, por vezes, a acata-las e, por outras, a desobedece-las. Em uma sociedade perdida onde os valores estão cada vez mais distorcidos , não é de se admirar que os adolescentes sentirem tão perdidos.
9- Escolas precisam de psicólogos
Enquanto assistia cada episódio o que não saia da minha cabeça era: cadê o psicólogo desta escola? Eu sei, tinha o conselheiro, o Sr. Porter. Mas ele parecia ser o primeiro a precisar de um apoio ali. Isso não está longe da nossa realidade, nossos professores estão lidando cada dia mais com dificuldades emocionais dos seus alunos e eles não têm o preparo (e nem são obrigados a ter) necessário para dar o suporte emocional tanto para os professores e principalmente para os alunos.
O psicólogo ajuda o professor a conhecer quais são seus interesses, atitudes, aptidões e outras capacidades e habilidades adquiridas ou inatas. Também ajuda na compreensão sobre o estágio em que o aluno se encontra com relação ao seu desenvolvimento social, emocional, intelectual e físico, além de levar em consideração o nível de aspiração e o comportamento consciente e inconsciente do aluno.
Aspectos da vida do aluno que atualmente são ignorados no ambiente educacional, influenciam muito no rendimento do aluno e são o objeto do psicólogo educacional: como o aluno se comporta em grupos, seus conflitos, desejos e outros aspectos de sua saúde mental. Com a orientação adequada, o aluno pode formar uma atitude mais positiva com relação à vida e a si mesmo, além de formar uma personalidade mais integrada e solidária.
10- Os pais precisam conhecer as amizades dos seus filhos
Responda rápido: quem é o melhor amigo do seu filho? Você conhece a família dele? Onde ele mora? Pode parecer bobagem mas é algo importante. Na adolescência caminha-se da família para os amigos. Pense no seriado, enquanto acontecia o julgamento, a cada depoimento os pais da Hannah descobriam algo a respeito da sua filha e sua relação com seus amigos. Tudo era surpresa. Eles não sabiam com quem ela estava envolvida e como a filha sofria.
Os adolescentes preocupam-se com a inclusão num grupo, valorizam a opinião dos amigos, refugiam-se nas conversas com estes e o número de amigos está habitualmente conotado com a satisfação consigo próprio. Mas a verdade é que a influência dos pares tanto se pode revelar positiva, com comportamentos de amizade, proximidade e suporte que favorecem o seu bem-estar, como se pode revelar de negativa, com comportamentos de crítica, rejeição e estigmatização que afetam seriamente o equilíbrio, já de si frágil, do adolescente.
O círculo de amizades não tem a ver apenas com a formação de caráter e personalidade, mas, também, com interesses em comum. É mais provável que pessoas com interesses semelhantes se tornem amigas devido às afinidades naturais que surgem. Isso faz com que, dentro de um mesmo grupo, os amigos sejam relativamente semelhantes entre si, justamente por partilharem alguns gostos e interesses. Ao conhecer os amigos dos seus filhos, você conhecerá um pouco da sua criança ou adolescente.
Entender quem é o melhor amigo, por exemplo, dará uma boa perspectiva do seu rebento. Além de tudo, é uma maneira de ter novos assuntos, estreitando e fortalecendo laços. Conhecer os amigos dos seus filhos é indispensável para estar por perto, conhecer mais e acompanhar o desenvolvimento deles. Isso promete um relacionamento mais saudável e com mais segurança.
Debora Oliveira
Psicóloga Clínica