sexta-feira, 13 de julho de 2018
Seis dadores de sangue estrearam-se em Avis
Em
manhã muito agradável de verão, os dadores de sangue acordaram bem
cedo e já estavam no local da brigada
mesmo antes das portas abrirem. Sinal de que prometia a dádiva. E
assim aconteceu, tendo entrado no quartel dos bombeiros de Avis 36
pessoas, das quais 16 mulheres (44,4 %). Tudo gente bem disposta e
com muita vontade de se sentar na anatómica cadeira de dador. Nesta
colheita promovida pela Associação de Dadores Benévolos de Sangue
de Portalegre – ADBSP – estavam em condições para doar o
tecido que nos inunda as veias 32 dos presentes, o que é de se
destacar.
Novos
dadores também não faltaram. Primeiro um pouco tensos mas no fim
muito felizes por terem experimentado este gesto tão solidário.
Foram meia dúzia de estreantes, quatro dos quais do sexo feminino.
Quanto
ao Registo Nacional de Dadores Voluntários de Células de Medula
Óssea passou a ter em Avis mais cinco inscrições. Enfim, números
todos eles muito acolhedores e repletos de esperança.
O
almoço convívio foi servido num restaurante local e contou com o
apoio da Câmara Municipal de Avis. À mesa sentaram-se dadores, o
pessoal do hospital de Portalegre responsável pela colheita e ainda
membros da Associação.
São
Salvador da Aramenha a 28
julho
Avizinham-se
colheitas da ADBSP, sábados e da parte da manhã, em: São
Salvador da Aramenha,
a 28
de
julho,
no salão da Junta de Freguesia;
Fronteira,
a quatro
de agosto,
no centro de saúde.
Lembre-se
que ser solidário no verão também passa por ser dador de sangue!
JR
"Os cristãos e os islamitas passam-se da cabeça nisso de confundir o auto-sacrifício com o sacrifício do cordeiro"
Foi esta a resposta de Paul Schrader, cineasta e argumentista, a uma pergunta sobre o sangue, o sangue nos seus filmes, como uma patologia... "Isso vem de todas as religiões abraâmicas, judaísmo, islão, catolicismo. Tudo começa com a noção de sacrifício de sangue. Os cristãos e os islamitas passam-se da cabeça nisso de confundir o auto-sacrifício com o sacrifício do cordeiro"...
Pensemos num filme, num só, chamado Taxi Driver, com a personagem mais icónica do cinema americano dos anos 70, Travis Bickle. Foi Schrader que em dez dias, e como se expulsasse de si o fascínio pelas armas, a obsessão pelo sexo, as tendências suicidas e uma úlcera, criou Bickle, compêndio de solidão. Fê-lo para Martin Scorsese naquele que seria o primeiro encontro entre o mundo protestante e rural de um (Schrader) e o mundo urbano e católico de outro (Scorsese) — O Toiro Enraivecido, A Última Tentação de Cristo, Bringing Out the Dead seguiram-se-lhe.
Pois bem, Travis Bickle "vive" na personagem do novo filme do realizador, No Coração da Escuridão: o silencioso, grácil e assustador reverendo Toller (Ethan Hawke), homem em agonia espiritual e física que, perante a corrupção do corpo (um cancro), da igreja e do meio ambiente (descobre ligações entre a igreja e multinacionais que lucram com a destruição do planeta), veste o colete de explosivos como quem herda um património: o sangue limpa — como Travis Bickle quis limpar.
Datado de 2017, parece não querer saber da cronologia e colocar-se no tempo em que Schrader realizou os seus primeiros filmes, Blue Collar (1978) e Hardcore(1979), e eternizou Bickle. É um filme que violenta as práticas cinematográficas actuais: retira as bengalas da empatia e as "instruções" ao espectador (que costumam ir na montagem, na música...), impõe um cinema de que, para nosso mal, já nos esquecemos - mas quando nos lembrarmos, vai ser a nossa graça.
Há dossier sobre No Coração da Escuridão. Com entrevista ao realizador. O perfil começa assim: "Paul Schrader não tem memórias de cinema da infância. Na restrita educação calvinista em que foi formado, a Dutch Reformed Church de Grand Rapids, no estado de Michigan, só as palavras eram ideias. As imagens da televisão e do cinema eram meio caminho andado para o inferno — a mãe espetou-lhe um dia uma agulha na mão, aquilo, essa dor 'sempre', isso era o inferno..." Continuem aqui.
Mais cinema, antes da música: um plano para nos guiarmos no Festival de Curtas de Vila do Conde e, para ficarmos com inveja, três páginas sobre o que foi visto no festival Il Cinema Ritrovato, em Bolonha. É o ponto de encontro incontornável da cinefilia de todo o mundo que vai (re)descobrir filmes: por exemplo, o "maldito" Last Movie de Dennis Hopper, um mais desconhecido Marcello Mastroianni, um filme que Bergman renegou e um estarrecedor cineasta chamado Luciano Emmer... Scorsese também esteve lá a mostrar a cópia restaurada de O Toiro Enraivecido...
Agora precisamos de Bossa Nova. Aconselha Nuno Pacheco: "Quem passar pelas lojas e vir uma caixa onde sobressaem, a amarelo e rosa, as palavras Bossa Nova, não siga adiante; pare. E veja com atenção o que tem pela frente." É uma selecção de 20 álbuns notáveis em 9 CD, que espelha um olhar americano sobre este género musical brasileiro. A isso se junta uma reedição também made in USA de duas pérolas de Ary Barroso e Dorival Caymmi. A festa sonora pode começar aqui. Depois passemos a Nas e aos Gorillaz.
Conheçam agora Jota Mombaça.
Escreve e faz performance das suas ideias em torno das relações entre monstruosidade e humanidade, “estudos kuir”, justiça anti-colonial... Para uma nova geração de artistas, activistas, investigadores e curadores investidos no debate sobre a descolonização, tornou-se impossível pensar a questão do racismo sem cruzar as dimensões de classe social ou de identidade de género. Quanto a Jota, 27 anos, nascida e criada no Nordeste brasileiro, "fica-se com a impressão de que não apenas devorou teoria com a urgência de quem quis sobreviver, mas que esta lhe atravessou o corpo", como escreve Pedro F. Morais que a encontrou na Bienal de Berlim. Domingo na Praia Homem do Leme, na Foz do Porto, às 19h30, Jota fala sobre "Dor, Dívida, Dilema, o que significa descolonizar?".
Hora de Fecho: O que faz deles os motards mais perigosos do mundo /premium
Chegaram a Portugal pela mão de um emigrante na Alemanha que acabou sequestrado por querer desistir. Não serão mais de 100, mas a PJ descreve-os como altamente organizados e muito perigosos.
Entre os detidos transferidos para Caxias estão 4 suspeitos do ataque à Academia de Alcochete e um casal de presos preventivos por burla informática que partilhavam uma cela.
Negrão comparou a geringonça a um escorpião, Catarina Martins disse querer evitar que o Governo vá para o "centrão" e António Costa jurou fidelidade à esquerda. Foi assim o debate do estado da Nação
O país político tem dado sinais de claro mal-estar: maioria à esquerda a sofrer de hipertensão, oposição com fraturas expostas e dores de crescimento. Eis o check-up do Observador ao Estado da Nação.
Governo traz para o debate do Estado da Nação a descida do desemprego, o défice em valores mínimos e "o maior crescimento do século". Tudo verdade, mas que realidades existem além destes trunfos?
Quem quer manter aberta a Maternidade Alfredo da Costa deve fazer tudo para eleger um governo das direitas. Só então, voltará a maternidade a ter os defensores que teve há uns anos.
A mãe de um dos rapazes que ficou encurralado numa gruta na Tailândia pode abraçar o filho pela primeira vez depois do resgate e os médicos admitem que o rapaz poderá ir para casa na próxima semana.
Real Madrid enviou em responsável ao Brasil para tentar negociar a transferência de Neymar com o pai e o empresário. O PSG não está disposto a vender e já equaciona uma melhoria contratual.
Na cabeça de Cristiano Ronaldo, não faltarão incentivos para se mudar para a Juventus. Além da parte desportiva, há outro fator: uma nova lei que vai reduzir (e muito) os encargos fiscais de CR7.
Resultados das provas finais do 9.º ano mostram que a Português a média sobe para 66%, mas a Matemática os alunos afundam: descem para uma média negativa de 47% e 49 mil estudantes chumbaram.
O Sindicato da Função Pública do Norte é acusado de intimidação e assédio moral sobre duas trabalhadores. Uma delas enfrenta um processo disciplinar para despedimento.
Opinião
Rui Ramos
Quem quer manter aberta a Maternidade Alfredo da Costa deve fazer tudo para eleger um governo das direitas. Só então, voltará a maternidade a ter os defensores que teve há uns anos.
Helena Garrido
Algumas pessoas começaram agora a perceber os custos das decisões orçamentais tomadas nos últimos dois anos. Até o Governo já tem de explicar que, afinal, não há dinheiro para tudo.
Filomena Martins
O que aconteceu na Tailândia não foi um milagre. Foi uma operação altamente profissional. Já por cá continuaremos sempre à espera que os deuses nos acudam. Por isso, Costa podia passar por Chiang Rai.
José Milhazes
O assassinato de Ekaterimburgo não passou de um episódio do chamado “terror vermelho”, que ceifou milhões de vidas. Os comunistas começaram pelos nobres, mas depois a máquina de matar nunca mais parou
José Crespo de Carvalho
Pena que para muitos a bandeira signifique apenas futebol ou desporto. É pouco. Porque deveria simbolizar história, com todos os dilemas que possam existir, representar memória e como nos fizémos povo
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em observador.ptEstado da Nação: Governo arrisca-se a ser "carrasco do Serviço Nacional de Saúde" -- CDS-PP
O líder parlamentar do CDS-PP, Nuno Magalhães, defendeu hoje que o Governo se arrisca a ficar para a história como "carrasco do Serviço Nacional de Saúde", falando numa situação de rutura naquela área.
"Aquele partido e aquela maioria, que tantas vezes falam no Serviço Nacional de Saúde, arriscam-se, se o senhor não puser um travão - e a responsabilidade é sua -, às cativações Centeno, a ser o carrasco do Serviço Nacional de Saúde e ficar para a história com esse epíteto, senhor primeiro-ministro", defendeu Nuno Magalhães.
No debate do estado da nação, no parlamento, os centristas começaram por atacar a ausência de investimento público, designadamente na saúde e educação, e o aumento do imposto sobre combustíveis.
quele partido e aquela maioria, que tantas vezes falam no Serviço Nacional de Saúde, arriscam-se, se o senhor não puser um travão - e a responsabilidade é sua -, às cativações Centeno, a ser o carrasco do Serviço Nacional de Saúde e ficar para a história com esse epíteto, senhor primeiro-ministro", defendeu Nuno Magalhães.
No debate do estado da nação, no parlamento, os centristas começaram por atacar a ausência de investimento público, designadamente na saúde e educação, e o aumento do imposto sobre combustíveis.
Na réplica, o primeiro-ministro insistiu em dados da saúde que já havia mencionado na sua intervenção inicial, como o aumento de cirurgias, mais 19 mil, ou a diminuição do número de portugueses sem médico de família, que, declarou, passou de 14 para 7%.
Para o CDS, hoje discute-se "o estado de uma nação cativa das cativações de Mário Centeno e da austeridade cada vez mais mal disfarçada desta maioria" e um "Governo que me vez de governar, governa-se, em vez de decidir adia, em vez de resolver os problemas dos portugueses, vai tentando resolver os seus problemas".
Nuno Magalhães defendeu que Portugal é hoje "uma nação que vive numa dupla austeridade, e sem 'troika', onde se cobra taxas e taxinhas e que tem a maior carga fiscal desde que há registo, 34, 7% do PIB, 67 mil milhões de euros em impostos e contribuições sociais só no ano passado".
"Uma nação com cativações que encerram transportes, fecha escolas porque não há auxiliares, adia exames porque não há professores, fecha esquadras para ter o mínimo de polícias na rua e que, na saúde, vive uma situação de verdadeira rutura, em que o estado da nação do seu Governo é um estado de negação", defendeu.
O primeiro-ministro ironizou falando da "extraordinária conversão do CDS" ao investimento público, disse que há três anos o que movia os centristas era o medo do "socratismo" despesista e sublinhou que é o crescimento económico e, sobretudo, o aumento do emprego, que explicam a maior arrecadação fiscal e de contribuições para a Segurança Social.
"Os novos 300 mil postos de trabalho significam um aumento muito significativo de contribuições para a Segurança Social e é isso também que explica o aumento da carga fiscal. Há uma maior base contributiva, há mais pessoas empregadas e isso é um bom sinal", sustentou.
"Ou prefere que haja mais desempregados e menor carga fiscal?", questionou o primeiro-ministro.
Fonte: Lusa/DN
A “Ronaldomania” tomou conta de Turim
Um sabor de gelado criado em sua honra, uma pizza com a marca CR7 e filas intermináveis para comprar a camisola mágica da Juventus: para alguns, o futebolista internacional português Cristiano Ronaldo é tão importante quanto o Papa.
"La vecchia Signora" lançou ondas de choque no futebol europeu ao contratar o avançado, de 33 anos, ao Real Madrid, por um valor recorde no campeonato italiano de 100 milhões de euros, e a "Ronaldomania" parece já ter-se apoderado de Turim.Leonardo La Porta, dono da gelataria Miretti há 30 anos, localizada bem no centro da cidade, explicou à Associated Press onde foi buscar inspiração para criar o sabor CR7, a marca do jogador português, designado cinco vezes melhor futebolista mundial.
"Escolhi uma bebida típica de Portugal, a ginja. É um licor que liga Portugal a Piemonte, porque aqui também temos uma bebida semelhante. O sabor do gelado é composto por leite, nata, açúcar e farinha de alfarroba, ginja e pedaços de chocolate", revelou o autor, de 50 anos.
La Porta, que não é adepto da Juventus, nem sequer de futebol, já criou vários sabores para assinalar eventos importantes que decorreram em Turim, mas apenas um em homenagem a uma pessoa: o papa Francisco, quando visitou a cidade, em 2015.
"Espero que [Cristiano Ronaldo] venha cá prová-lo", disse, La Porta, talvez como complemento à pizza de um restaurante próximo, Tommy Tegamino, cujos proprietários, os irmãos Filippo e Tommaso Crozaso, esperam fazer disparar a clientela com a nova pizza CR7.
"Decidimos criá-la a partir do momento em que a transferência foi oficial. Na verdade, apenas começámos a vendê-la na quarta-feira. Está a ter muito boa saída, especialmente entre os adeptos", observou Sara Giulia Peira, gerente do restaurante.
A nova proposta do Tommy Tegamino não engana, nem mesmo o mais distraído visitante. Servida num prato fundo, a pizza tem a forma do número sete e é coberta por queijo stracchino (queijo fresco, de leite de vaca) e azeitonas pretas, simbolizando as cores dos bianconeri.
A Juventus também já começou a amortizar os milhões pagos para contratar Cristiano Ronaldo, com a venda das camisolas com o número e nome do avançado português, que desaparecem das prateleiras e não apenas em Turim. Na loja oficial em Milão, é vendida uma camisola por minuto.
Fonte: Lusa
Foto: DANIEL DAL ZENNARO
Pesca da sardinha deve ser suspensa em 2019
"Deve haver zero capturas em 2019", diz o Conselho Internacional para a Exploração do Mar.
A pesca da sardinha deverá ser proibida em 2019 em Portugal e Espanha, tendo em conta a diminuição do 'stock' verificada nos últimos anos, segundo um parecer científico do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES), divulgado esta sexta-feira.
De acordo com o ICES, o 'stock' de sardinha com um ou mais anos tem recuado desde 2006, tendo ficado abaixo dos 0,4 milhões de toneladas.
Já o recrutamento (novos peixes) tem sido inferior "à média, desde 2005, tendo mesmo em 2017 alcançado o seu pior resultado", abaixo dos cinco mil milhões de toneladas.
Apesar de recomendar a suspensão da captura de sardinha, o ICES apresenta vários cenários de pesca.
Por exemplo, se o número de capturas de peixes entre os dois e cinco anos for o mesmo do de 2018, a biomassa com mais de um ano rondará as 158.409 toneladas, abaixo das 169.327 toneladas caso a captura seja proibida.
Em 2018, o organismo científico recomendou também a suspensão da pesca da sardinha, sustentando, na altura, o seu parecer com a diminuição do 'stock' de pescado.
Já em 2016, o organismo científico recomendava que Portugal devia parar por completo a pesca da sardinha durante um período mínimo de 15 anos para que o 'stock' de sardinha regresse a níveis aceitáveis.
Na sequência da recomendação de 2018, Portugal, Espanha e a Comissão Europeia definiram um plano de pesca, no qual ficou acordado que o limite de capturas, a dividir entre Portugal e Espanha, deveria ser inferior a 15 mil toneladas.
A decisão foi, posteriormente, contestada pela generalidade dos produtores, pescadores e sindicatos que defendiam que o limite de capturas não deveria ceder, tendo em conta a abundância da espécie na costa portuguesa.
Tendo em vista a recuperação do 'stock' da sardinha, o Governo optou por suspender a pesca da espécie, com qualquer arte de captura, entre 11 de janeiro e 21 maio.
Até 31 de julho, os pescadores estão autorizados a capturar 4.855 toneladas, com limites diários, medidas de proteção dos juvenis e monitorização da pescaria.
A 27 de junho, os resultados preliminares do último cruzeiro científico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) apontavam para um aumento dos recursos de sardinha na ordem dos 50% e os de biqueirão 100%.
Fonte: Lusa
Foto: Gonçalo Delgado/Global Imagens
Macroscópio – Um livro inglês sobre Lisboa e outras leituras surpreendentes
Tantos temas, mas algum sol (prometido), um certo ar a férias já no ar, pelo que esta newsletter sai hoje da actualidade para falar um pouco de livros, de história, de Lisboa, sempre de boas leituras. Tudo isto a partir de um pretexto próximo: foi publicado esta semana no Reino Unido uma história de Lisboa – Queen of the Sea: A History of Lisbon – e não resisti não apenas a referi-lo, por via de uma recensão, como a partir dele para outras divagações sobre a minha cidade – desculpem os não lisboetas – e, depois, sobre o meu continente e os tempos que vivemos.
Tomei conhecimento de edição desta obra pela Spectator, onde Nicholas Shakespeare escreve uma recensão crítica, Portugal’s entrancing capital has always looked to the sea. Escrito por Barry Hatton, Queen of the Sea: A History of Lisbon(C. Hurst & Co., pp.280, £14.99) parece não esconder algum encantamento pela nossa cidade-capital, mesmo quando nos revela os seus lados mais sombrios. Deixem-me porém ficar pelos lados mais luminosos: “To Barry Hatton in this enchanting history, ‘Lisbon is a mood’ which ‘cannot be captured in a travel brochure or photographs on a website’. The city’s special quality consists largely, he believes, in its exhilarating light, which falls on blue-tiled walls and white stone pavements with an intensity that is un-European, and more reminiscent of Portugal’s former colonies in Africa, India and Brazil. ‘It is a textured brightness, a creamy glow, at the same time vivid and silky.’ Lisbon’s second unique ingredient is what one Portuguese historian has called the ‘hybridism of cultures where, like nowhere else, the influences of Christianity and Islam converged’.”
Esta leitura da Spectator (o livro espero tê-lo a caminho um dia destes) fez-me recordar um vídeo da BBC em que tropecei aqui há uns tempos e que tinha guardado para um dia propor nesta newsletter. Hoje é esse dia: trata-se de um pequeno apontamento da série Civilizationse chama-se This painting is a snapshot of a world we've forgotten. O quadro a que este videozinho se refere é uma obra da colecção Berardo, O Chafariz d’El Rei, e não deixem se ver como, analisando, o apresentados nos explica como “Lisbon in Portugal was once the centre of a global empire”. Nestes tempos em que tanto se desfaz nosso passado como nação e como povo, faz bem ao nosso ego, pois nem só de Ronaldo se faz a identidade nacional.
Esta pintura fez-me lembrar outra, Rua Nova dos Mercadores, um quadro que era a peça central da exposição "A Cidade Global" que esteve patente no Museu Nacional de Arte Antiga há pouco mais de um ano, mostrando-nos como na Lisboa renascentista cabia o Mundo inteiro. Essa exposição andava também torno de um livro, The Global City - On the streets of Renaissance, editado por Annemarie Jordan Gschwend and K. J. P. Lowe. Quem não viu a exposição pode sempre ler o livro, uma obra que Theodore K. Rabb recenseou no TLS (ou Times Literary Suplement) no texto Elephants on the Rua Nova. Eis um pequeno extracto do que aí escreveu: “Lisbon in its heyday in the sixteenth century was the most globally connected and multicultural city on earth. Its ships were a redoubtable presence in harbours from Brazil to Japan; the distantly produced goods it imported attracted merchants and princes throughout Europe; and its population included more Africans (mostly slaves, but not all) than anywhere else outside their home continent. That its importance in world history is all too rarely recognized may be due to a lack of glamour. If the most famous Portuguese figure of the age is Ferdinand Magellan, who sailed for Spain, and Portugal’s finest poet, Luís de Camões, is known mainly to specialists, it is not too surprising that Venice, Rome and London get more attention as great sixteenth-century cities. But that perspective should be changed by this splendid book.”
Continuando a falar de livros salto agora até Espanha mas para falar de uma obra publicada em Paris, Barbastro. Guerre sainte et djihad en Espagne, Collection NRF Essais, Gallimard. Provavelmente a maior parte dos leitores nunca terá ouvido falar de Basbastro (eu não tinha), mas trata-se de uma cidade aragonesa onde no século XI se travaram importantes batalhas que, de acordo com os autores, Carlos Laliena Corbera e Philippe Sénac, marcaram o início da tensão medieval entre o Islão e a Cristandade. Isso mesmo nos explica Marc Bassets, do El Pais, El ensayo general de las Cruzadas tuvo lugar en Barbastro: “La toma cristiana de Barbastro en 1064, y la posterior reconquista por parte de los musulmanes nueve meses después, es uno de estos momentos estelares, o fatídicos, de la humanidad. Un momento poco conocido, sí: diluyeron su recuerdo fechas más emblemáticas como la toma de Toledo en 1085, la batalla de las Navas de Tolosa en 1212 o la conquista de Granada en 1492. Pero un momento, también, anticipador del mundo que se gestaba. Es entonces cuando se consolida el discurso ideológico para justificar la guerra. Ya no se trata sólo de combatir en busca de un botín o de una conquista territorial, sino que algo superior impulsa a los combatientes, como un dopaje espiritual. De ahí el papel el papa Alejandro II, que, según los autores, alentó la operación bélica en Barbastro, "una expedición de envergadura como jamás los musulmanes habían afrontado en estas regiones".”
Muito interessante, sobretudo se nos lembrarmos do papel que a III Cruzada teve na conquista de Lisboa, quase cem anos mais tarde (em 1147). Muito interessante também se pensarmos que ler livros de história é muitas vezes tão fascinante e envolvente como ler romances, um dos comentários de Jaime Gama no mais recente Conversas à Quinta, Livros para férias: uma mesa cheia de boas sugestões. As sugestões são as do próprio Jaime Gama, de Jaime Nogueira Pinto e minhas.
Uma dessas sugestões é o livro mais recente da antiga secretário de Estado do Presidente Clinton, Madeleine Albright, alguém cuja história pessoal – nasceu em Praga numa família judaica, teve de fugir duas vezes da sua cidade natal, a primeira depois da ocupação nazi, a segunda após a tomada de poder pelos comunistas, estudou nos Estados Unidos, onde teve depois uma brilhante carreira académica e política – a recomenda especialmente para abordar o tema que a obra trata – Fascism: A Warning. Ora foi precisamente a propósito deste livro que falou à Spiegel, numa entrevista onde confessou: 'I Am an Optimist Who Worries A Lot'. O que explica assim: “When I wrote this book, I decided I needed to do something that was historical, not emotional. There are striking similarities between then and now that have to do with divisions in society, a sense that there are winners and losers in economic terms, and politicians that take advantage of these divisions. Instead of looking for common ground they do everything they can to exacerbate the divisions. I believe in patriotism, but I am concerned by nationalism. We've all benefitted from globalization, in many ways, but it also is a doubleedged sword, because people seem to have lost their identity, and a feeling of belonging.”
Se nos recordarmos que, quando foi nomeada secretária de Estado, o Senado a confirmou por unanimidade (99-0), temos uma ideia de como há apenas duas décadas o ambiente político nos Estados Unidos se degradou e extremou, mas a que não escapa a nossa Europa. Daí que, mesmo sendo despropositados os paralelos, me chamou a atenção a reflexão de Cass R. Sunstein na New York Review of Books intitulada It Can Happen Here. Este autor parte de três obras que analisam o que permitiu a ascensão de Hitler na Alemanha (duas recentes ou agora reeditadas, They Thought They Were Free: The Germans, 1933–45 de Milton Mayer,e Broken Lives: How Ordinary Germans Experienced the Twentieth Century deKonrad H. Jarausch, Princeton University Press, e Defying Hitler, as memórias deSebastian Haffner) para chegar a uma conclusão que nos desafia: “In their different ways, Mayer, Haffner, and Jarausch show how habituation, confusion, distraction, self-interest, fear, rationalization, and a sense of personal powerlessness make terrible things possible. They call attention to the importance of individual actions of conscience both small and large, by people who never make it into the history books. Nearly two centuries ago, James Madison warned: “Is there no virtue among us? If there be not, we are in a wretched situation. No theoretical checks—no form of government can render us secure.” Haffner offered something like a corollary, which is that the ultimate safeguard against aspiring authoritarians, and wolves of all kinds, lies in individual conscience: in “decisions taken individually and almost unconsciously by the population at large.” De facto, como notou Edmund Burke, “para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados”.
É neste ponto que faço um desvio e deixo os livros pois julgo que vale a pena ler o ensaio de Ivan Krastev na Foreign Policy, 3 Versions of Europe Are Collapsing at the Same Time. A sua tese é que “Post-1945, post-1968, and post-1989 Europe are all different — and none of them make sense anymore.” Texto longo tem argumentos interessantes, de que destaco este, até pela sua actualidade à luz do que se passou na cimeira da NATO: “Postwar Europe is also failing because the majority of Europeans continue to take peace for granted while the world is turning into a dangerous place and the United States can no longer be assumed to be interested in protecting Europe. Brussels’ insistence that what matters is soft power while military might is obsolete is starting to ring false even to those making the claim. In that way, Europe’s postwar thinking has become its vulnerability, rather than an advantage. Postwar Europe today does no longer mean Europe as a peaceful power, it means a Europe that is unable to defend itself. (Grasping this new reality is going to be particularly painful for Germany.)”
Deixei para o fim aquilo que talvez possa definir como duas sugestões mais leves, ambas sobre ciência, ou mais exactamente sobre estudos científicos. Há sempre oportunidade de aprender mais e de descobrir o novo, pelo que aqui ficam essas duas referências:
- La última cena del hombre de los hielos é o relato pelo El Pais do que se conseguiu descobrir sobre aquilo de que se alimentava Ötzi, o famoso “homem dos gelos” assassinado há 5.300 anos nos Alpes italianos e cujo cadáver foi encontrado em excepcional estado de conservação. Hora parece que nem tudo na sua dieta paleolítica seria o mais adequado, pois “comió una dieta rica en grasa que puede estar asociada a sus problemas cardíacos”. Este trabalho do diário espanhol também refere que “El estudio de la dieta de los antepasados humanos, a través de los restos de moléculas que quedaron en recipientes de cerámica o en algunos yacimientos prehistóricos, ha hecho posible reconstruir una parte importante de la historia de la humanidad. Esos análisis, en combinación con los estudios de esqueletos a lo largo de miles de años de historia, muestran, por ejemplo, un impacto desigual de la llegada de la agricultura. La generación de una cantidad estable de comida del Neolítico facilitó el crecimiento de las poblaciones, pero en muchos casos supuso una pérdida de calidad de vida para los individuos, que vieron cómo les afectaban más enfermedades como la caries o los virus transmitidos entre humanos y animales en las ciudades.”
- ‘Find Your Passion’ Is Awful Advice é uma peça da The Atlantic onde se citam estudos que mostram que a ideia comum de que o melhor que podemos fazer na vida e na escolha da carreira é seguir as nossas paixões pode, afinal, ser uma forma de fecharmos horizontes e não descobrirmos outras paixões porventura ainda mais fortes: “The authors believe this could mean that students who have fixed theories of interest might forgo interesting lectures or opportunities because they don’t align with their previously stated passions. Or that they might overlook ways that other disciplines can intersect with their own. “If passions are things found fully formed, and your job is to look around the world for your passion—it’s a crazy thought,” Walton told me. “It doesn’t reflect the way I or my students experience school, where you go to a class and have a lecture or a conversation, and you think, That’s interesting. It’s through a process of investment and development that you develop an abiding passion in a field.”
Já vai longo este Macroscópio, como longa e rica foi a semana, mas dos despojos da actualidade que nos marcou por estes dias falarei a partir de segunda-feira. Até lá tenham um bom fim-de-semana.
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em observador.ptPolícia Judiciária | Homem terá matado mulher e abandonado corpo em pinhal no Cadaval
Foto: Arquivo/Global Imagens |
A Polícia Judiciária deteve um homem de 49 anos, suspeito de ter matado a mulher, em casa, no Bombarral, e de se ter desfeito do corpo num pinhal no concelho lisboeta do Cadaval. Os crimes aconteceram na quarta-feira.
A vítima, também de 49 anos, "foi encontrada sem vida num pinhal, no concelho do Cadaval, para onde o corpo terá sido transportado e abandonado pelo presumível autor", informa nota da PJ enviada às redações.
O detido, indiciado pela prática de crimes de homicídio consumado, violência doméstica e profanação de cadáver, vai ser presente a primeiro interrogatório judicial, no qual será sujeito à aplicação das medidas de coação adequadas.
A PJ contou com a colaboração da GNR do Bombarral na operação de detenção.
Fonte: JN