Na Embaixada de Angola em Berlim estão registados cerca de 6.600 cidadãos angolanos e a maioria "não consegue emprego" e vive "com o apoio da segurança social", disse à Lusa o embaixador angolano.
O número de angolanos a residir na Alemanha "tem-se mantido estável", afirmou Alberto Correia Neto, acrescentando que a maior parte "tem mais de 40 anos". Neste retrato da comunidade, o diplomata acrescentou que "quadros superiores e empresários há poucos".
"Cerca de 70 a 80 por certo dos angolanos que vivem na Alemanha usufruem do apoio da segurança social. Muitos deles não conseguem arranjar um emprego", disse.
José Rocha foi um dos angolanos que na década de 1980 se mudou para Berlim, ao abrigo de um acordo de cooperação entre o Governo de Luanda e a ex-RDA (República Democrática Alemã), com o objetivo de receber formação profissional.
Com a reunificação da Alemanha acabou por voltar para a terra natal, Cabuta, no Cuanza Sul, mas "não havia emprego para ninguém". Regressou a Berlim, onde tirou o curso de bibliotecário na Universidade Livre. Trabalha há 25 anos na Biblioteca Universal e Científica da capital e é o vice-presidente da associação que reúne a comunidade angolana de Berlim e Brademburgo.
Lamenta que a comunidade "não tenha uma voz ativa" porque "está dividida" e refere que tem "saudades de uma estrutura unida, que possa defender os direitos dos angolanos".
"Há muitos angolanos indignados, alguns integram-se na comunidade alemã e já não se registam na embaixada", sublinhou José Rocha, que refuta os números oficiais, acrescentando que "há muitos angolanos a chegar à Alemanha".
Mas o angolano de 55 anos, a viver há 34 em Berlim, realçou que é "difícil encontrar emprego e muitos têm trabalhos que não são satisfatórios, por exemplo, nas limpezas", acrescentando que os angolanos podem "fazer mais, até porque muitos têm formação".
O representante da comunidade referiu que não foi convidado para participar no encontro entre o Presidente, que visita a Alemanha na quarta e na quinta-feira, e a comunidade angolana a residir no país.
E apontou o motivo: "Eu não tenho apoio por parte da embaixada porque não sou do MPLA, por isso não querem que esteja presente, mas tenho pena, gostava que ele se encontrasse com todos os angolanos, de todas as forças políticas".
José Rocha disse acreditar que o atual Presidente da República de Angola é "apenas um intermediário" e daqui a cinco anos haverá "um novo Governo e um novo Presidente".
"João Lourenço precisa do nosso apoio, mas o MPLA tem que nos dar a chance, Angola não pode ser refém desse partido", referiu o vice-presidente da associação que reúne a comunidade angolana de Berlim e Brademburgo, considerando que o atual Presidente "vai ficar na história como o homem que fez a transição entre a ditadura e um estado de direito".
Caso se torne possível um encontro com o chefe de Estado de Angola, José Rocha tem várias perguntas preparadas sobre o desemprego, por exemplo, ou o salário mínimo.
E rematou: "João Lourenço devolveu-nos a dignidade, mas isso não chega, há muito trabalho pela frente".
O Presidente angolano visita a Alemanha, depois das deslocações que efetuou à França e à Bélgica.
Em 2009, o antigo chefe de Estado de Angola José Eduardo dos Santos esteve na Alemanha e, em retribuição, a chanceler alemã, Angela Merkel, visitou Angola em 2011.
Fonte: DN