No exercício da profissão você encontrará varias situações na qual você sentirá uma certa dúvida como deve proceder. São situações corriqueiras mas que muitas vezes nos colocam em uma posição que nem sempre é fácil decidir o que deve ser feito. Situações como : Posso ir no enterro de um familiar do paciente? Devo visitar o paciente no hospital? Quando devo ligar para alguém da família?
É fácil cair em erros que acabam prejudicando o paciente, afinal somos humanos, temos sentimentos e acabamos, em um grau maior ou menos nos envolvendo emocionalmente com os pacientes. Torcemos por eles. Queremos o seu bem. Mas cuidado !
Um psicólogo quando muito cheio de seu narcisismo pode configurar um predador terapêutico. O messianismo, e a associação com práticas ancoradas no imaginário, são inevitavelmente potencializados pela maior arma psicanalítica: a transferência.
Todo paciente possui problemas com suas figuras paternais paterna, e logo o paciente o identifica, como pais imaginários. Esses pais são “perfeitos” sob o ponto de vista do paciente e portanto a investitura pelo suposto saber ocupa o lugar de um desejo falho, o de um pai que tudo saiba, que tudo possa, que tudo salve: o lugar de Deus. Por isso é necessário que o psicólogo, em sua análise pessoal, tenha padecido de uma boa dose de feridas em seu narcisismo. Concordamos com Quinet (2009, p. 121):
“O analista em sua análise deve ter experimentado a destituição narcísica e deve poder refazer a terceira revolução copernicana, descrita por Freud, na qual o homem não é senhor em sua própria casa, descascando uma a uma como uma cebola suas identificações imaginárias que constituem sua persona, seu little me.”
Separei algumas situações que embora pareçam claras tem muita gente confundido e deixando de colocar limites na relação psicologo-paciente.
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O psicólogo PODE sugerir possibilidades no processo de mudança e escolhas do paciente. Mas NÃO PODE querer mandar no paciente e tão pouco se chatear quando ele toma decisões contrárias do seu ponto de vista.
O psicólogo PODE ser empático com o paciente. Mas NÃO PODE querer se deixar levar pelo seu problema. Nada de chorar junto, “ter dó”.lembre-se: o papel é ajudar o paciente a se responsabilizar por suas decisões, atitudes e se tornar protagonista da sua vida.
O psicólogo PODE se importar com os problemas do paciente. Mas NÃO PODE ajudar a resolvê-los fora do ambiente terapêutico. Portanto, nada de querer brigar com a mãe do paciente ou com o marido que explora. Confesso que muitas vezes é normal sentir raiva dos familiares e ou amigos do paciente, mas guarde essa SUA raiva para a sua terapia. O seu papel não é o de brigar com ninguém, mas de ajudar o paciente a ver os seus problemas, fortalecer o seu eu e dar ferramentas emocionais para que ele consiga lidar com a situação da melhor forma possível.
O psicólogo PODE estar com o paciente em momentos difíceis, mas Mas NÃO PODE estar com ele o tempo todo. Ajude o seu paciente a caminhar com as suas próprias pernas. Sabe aquele ditado: ensine a pescar ao invés de dar o peixe. O seu papel não é deixar o paciente dependente da terapia, mas ajudá-lo a caminhar com as suas próprias “pernas”.
O psicólogo PODE indicar um psiquiatra, principalmente quando identificar alguma doença mental que precisa de tratamento , mas de forma alguma deve dar remédio para o paciente. Isso inclui floral, remédios para dor ou de uso pessoal. Cada profissional no seu quadrado de atuação.
O psicólogo PODE e deve respeitar as crenças do paciente , mas NÃO PODE impor as suas crenças. Em primeiro lugar, vamos deixar claro: não existe Psicologo cristão , psicólogo espírita , psicólogo de qualquer outra religião. A faculdade nos forma para sermos psicólogos e sua crença é algo que deve ficar FORA do consultório. Por outro lado, se o paciente traz problemas ou dilemas relacionados a sua religião , elas devem ser respeitados e tratados dentro do contexto terapêutico.
Uma vez ouvi de um paciente que gostaria de tratar dos seus traumas das vidas passadas para ficar melhor. A minha sugestão foi a de que tratássemos dessa vida onde eu tinha acesso. A paciente topou, foi resolvido e nunca mais se incomodou com problemas , que segundo ela, era de suas vidas passada. Perceba que não ataquei e nem reforcei a sua crença, apenas trouxe para o contexto terapêutico.
O paciente PODE responder às perguntas que o paciente faz sobre a sua vida pessoal (se quiser e for pertinente), mas NÃO PODE ser íntimo do paciente ou exagerar na liberdade. Aprenda algo: por mais que você goste e se simpatize com seu paciente ele nunca será seu amigo.
A dosagem entre o que pode e não pode fazer é sempre entender a relação terapêutica. A relação terapêutica é à base de uma boa terapia, pois a boa terapia se desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favoreça esse processo, com essa junção de extrema relevância para o processo fluir de forma harmoniosa entre terapeuta e cliente.
Quando há uma boa relação terapêutica, cria-se um ambiente que permita a revelação do interior desse sujeito e favorece assim o desenvolvimento do processo singular de cada um, assim o que está mais oculto se mostra, permitindo que o processo aconteça.
Uma sólida relação terapêutica é a condição necessária para uma terapia efetiva. Algumas questões ou atributos como empatia, interesse genuíno, calor humano, autenticidade, devem estar presentes em todo psicólogo. E essa relação que se estabelecerá será vista como um esforço colaborativo entre psicólogo e paciente.
Juntos, terapeuta e cliente estabelecem os objetivos da terapia e cada sessão, prazo e duração do contrato terapêutico, os sintomas-alvo, as tarefas, etc., ficando clara a participação ativa do paciente em seu processo de mudança.
Ah! E na dúvida, pense sempre se a sua decisão irá ajudar ou atrapalhar o tratamento do paciente.
Debora Oliveira
Psicóloga Clínica
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