O sector do Turismo anunciou recentemente que durante primeiro semestre o País recebeu 1,653.398 visitantes, mais 118 por cento do que em igual período de 2017. Contudo o sector privado reafirma que essas estatísticas não são reais, Moçambique terá recebido apenas cerca de 500 mil turistas, a taxa de ocupação de hotéis caiu para apenas 19 por cento e lança o alerta: “Para o parque hoteleiro disponível em Moçambique precisamos de mais turistas”.
Reunido no início de Agosto em Lichinga, no seu IV Conselho Coordenador, o Ministério da Cultura e Turismo fez mais uma avaliação positiva do seu desempenho tendo constatado que “até ao primeiro semestre do ano em curso o País recebeu 1,653.398 visitantes, representando um crescimento de 118 por cento em relação a igual período do ano transacto. Houve ainda um incremento de 743 quartos equivalendo a um crescimento de 254 por cento, bem como uma evolução de 405 postos de emprego, o correspondente a uma subida na ordem de 181 por cento em relação ao mesmo período do ano de 2017”, indica um comunicado recebido pelo @Verdade.
Porém, na semana passada, o presidente do Pelouro de Turismo na Confederação das Associações Económicas, João das Neves, reafirmou que o sector privado continua a divergir dos números apresentados pelo Governo. “Há algumas dificuldades de percepção de alguns colegas do sector público em relação aos números dos turistas, as vezes confunde-se chegadas internacionais com turistas”.
“Neste momento o número de chegadas internacionais, de acordo com aquilo que nos é providenciado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), e são números muitas vezes discutidos, oscilou entre 1,7 até cerca de 2 milhões tal e neste momento regrediu para 1,5 milhão. Mas dentro destas chegadas internacionais estamos nós próprios, quando nós viajamos para o estrangeiro e voltamos para casa também somos considerados como esses turistas ou essas chegadas internacionais”, revelou João das Neves, entrevistado pelo @Verdade à margem de um Seminário de Estatísticas do Turismo.
“Será que é oportuno continuarmos a atrair mais investidores para abrirem mais hotéis?”
De acordo com o representante dos empresários do sector do Turismo: “Muitas vezes colegas nossos do sector público entusiasmam-se com números e preferem mencionar os números mais alto sem destrinçar o trigo do joio, sem separar aquilo que são o número de moçambicanos que chegou pelas fronteiras mas que estão a regressar a casa”.
“Neste momento em termos de hóspedes nos hotéis estamos a falar de cerca de 500 mil hóspedes do turismo internacional por ano” disse João das Neves revelando que desde 2009 a taxa de ocupação média das unidades hoteleiras em Moçambique caiu de 45 por cento para apenas 19 por cento, sendo grande parte visitantes para negocio e não turistas.
Dados do INE indicam que em 2009 o País recebeu 482.555 hóspedes que proporcionaram uma taxa de ocupação de 45 por cento, pois na altura existiam somente 18.412 camas. Mas como até 2016 o número de camas quase triplicou, para 48.182, e no o número de turistas diminuiu para 480.965, a taxa de ocupação caiu para 19,7 por cento.
A cidade de Maputo, embora não represente o melhor do turismo que Moçambique tem para oferecer, teve a mais alta taxa de ocupação, 51,1 por cento, enquanto Tete teve a taxa de ocupação mais baixa, somente 7,2 por cento.
Com esta fraca presença de turistas a receitas em 2016 cresceram muito pouco, , 67 milhões de dólares norte-americanos, comparativamente aos 64 milhões arrecadados em 2009.
Por isso o presidente do Pelouro de Turismo na Confederação das Associações Económicas lançou o alerta: “Para o parque hoteleiro disponível em Moçambique precisamos de mais turistas”.
“Outro aspecto é será que é oportuno continuarmos a atrair mais investidores para abrirem mais hotéis? Temos visto os políticos engajados nos seus discursos, principalmente fora do país, a convidarem investidores para virem abrir mais unidades hoteleiras em Moçambique, para virem aumentar o número de camas e nós perguntamos: para quê? Estamos a enganar os investidores, estamos a dizer que há mercado fértil aqui quando nós sabemos que não há e estamos a aumentar a confusão aqui dentro”, acrescentou João das Neves.
Operadores do Turismo na província de Maputo não fornecem dados ao INE
Questionado pelo @Verdade quantos turistas são necessários para que o sector torne-se pujante e aumente as receitas o presidente do Pelouro de Turismo na Confederação das Associações Económicas disse que: “deveríamos estar neste momento na ordem de 1 milhão de turistas”.
Portanto se todos os turistas que o Governo contabiliza tivessem realmente visitado o país os hotéis estariam cheios. Mas se todos concordam que as estatísticas do Turismo não são fiáveis, o próprio ministro Silva Dunduro reconheceu ao @Verdade, o Instituto Nacional de Estatísticas justifica-se pelo facto do sector privado não ajudar no fornecimento de informação sobre a actividade.
“De facto nós temos um problema gravíssimo de baixa taxa de respostas dos operadores de alojamento e restauração (aos inquéritos), outras mandam dados para o INE tardiamente e depois há a questão da fiabilidade dos dados enviados”, revelou Jorge Chemane do INE que corroborou as suas declarações mostrando que dos inquéritos realizados entre Maio e Junho passados menos de metade foram respondidos em todo o País.
Paradoxalmente os operadores das províncias que são destinos turísticos de bandeira são os que menos colaboram.
Em Cabo Delgado apenas 41,7 por cento responderam aos questionários em Maio tendo em Junho a percentagem subido para os 50. Em Sofala durante esses dois meses apenas 44,4 por cento dos inquéritos foram respondidos. Na província de Inhambane os inquéritos efectuados em Maio obtiveram 33,3 por cento de respostas e em Junho somente 23,8 por cento foram respondidos.
Na cidade de Maputo em Maio foram respondidos 35,6 por cento dos inquéritos enquanto no mês seguinte as respostas caíram para apenas 23,7 por cento. Piores são os operadores do Turismo na província de Maputo que desde Abril não se dignam a responder a nenhum dos inquéritos submetidos pelo INE.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique