Uma investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) de Coimbra liderou um estudo internacional pioneiro sobre o impacto do eucalipto no funcionamento dos ribeiros em diversas regiões do mundo, foi hoje anunciado.
“Um estudo internacional sem precedentes avaliou o impacto de plantações de eucaliptos no funcionamento dos ribeiros em diferentes regiões do mundo”, revela a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), numa nota enviada hoje à agência Lusa.
A investigação foi liderada por Verónica Ferreira, do MARE da FCTUC, e envolveu 18 cientistas de várias instituições ibéricas, sul-americanas e africanas.
As plantações de eucaliptos ocupam uma “área total de mais de 20 milhões de hectares em todo o mundo”, mas os seus efeitos no “funcionamento dos ribeiros têm sido estudados essencialmente na Península Ibérica”, o que “limita o real conhecimento sobre o impacto” que a cultura desta árvore pode ter em linhas de água de outras regiões onde o clima, a vegetação nativa e as comunidades aquáticas diferem, sublinha a FCTUC.
Com o estudo, “foi esta lacuna que se tentou colmatar”, afirma Verónica Ferreira, citada pela FCTUC, adiantando que os investigadores avaliaram, por isso, “o funcionamento de ribeiros em plantações de eucaliptos por comparação com ribeiros semelhantes, mas que atravessavam florestas de espécies nativas, em diferentes regiões na área de distribuição das plantações de eucaliptos de modo a expandir o conhecimento sobre os efeitos das plantações nos ribeiros”.
Para a realização da investigação, os cientistas utilizaram a decomposição das folhas como indicador do funcionamento do riacho, uma vez que – explica a FCTUC – as mudanças neste processo sugerem um impacto negativo.
“Os ribeiros que atravessam as florestas são ensombrados pela copa das árvores e é por isso que os organismos aquáticos dependem fortemente das folhas da vegetação ribeirinha”, refere Verónica Ferreira, destacando que, “na água, essas folhas libertam nutrientes que estão disponíveis para outros organismos, como algas, bactérias, fungos e invertebrados”.
Estudar o impacto dos eucaliptos nos ribeiros é particularmente relevante, porque “mudanças na floresta podem levar a mudanças na quantidade de folhas e nas suas características, o que pode criar desequilíbrios nas comunidades aquáticas e comprometer a capacidade dos rios de fornecer serviços para as populações humanas, como água de boa qualidade ou peixe”, clarifica a investigadora do MARE.
As experiências, realizadas em sete regiões da Península Ibérica, da África Central e da América do Sul, permitiram aos investigadores concluir que “o efeito das plantações de eucaliptos varia entre regiões e depende do tipo de organismos decompositores”.
Não é possível “fazer generalizações sobre o efeito das plantações desta espécie no funcionamento dos ribeiros, uma vez que têm de ser considerados fatores climáticos, o tipo de vegetação nativa e o tipo de comunidade aquática”, salienta Verónica Ferreira.
Foi verificada uma inibição da decomposição total das folhas nas regiões temperadas (Portugal, Espanha, Sul do Brasil e Uruguai), já que nestas regiões os invertebrados trituradores são naturalmente importantes e são afetados negativamente pelas plantações.
As conclusões deste estudo, já publicado na revista Ecosystems, “realçam a necessidade de se avaliar os efeitos das plantações dos eucaliptos nos ribeiros tendo em conta as características locais”, indica a investigadora, sustentando que “deve ser feito um esforço para conservar a vegetação ribeirinha nativa junto aos ribeiros para mitigar os efeitos das plantações”.
Além da UC, o estudo teve a participação das universidades do País Basco (Espanha), de Brasília (Brasil), Regional Integrada do Alto Uruguai e da República (Uruguai), de Temuco e de Concepción (Chile) e de Egerton (Quénia) e das Missões e Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Brasil).
NDC