Está patente na Biblioteca Municipal de
Cantanhede até ao próximo dia 30 de abril, a exposição intitulada
Mostra de Máquinas de Escrever.
A mostra é constituída por 23 máquinas de escrever, de várias
marcas de fabricantes, manuais e elétricas, pertencentes a vários
proprietários particulares e instituições do concelho.
No acervo exposto podem encontrar-se as
máquinas de escrever que pertenceram aos escritores emblemáticos do
concelho, nomeadamente Augusto Abelaira e Carlos de Oliveira, figuras
de destaque no panorama literário português e a vários outros
particulares. Estão igualmente em exposição equipamentos que
pertencem à Escola Secundária de Cantanhede (que integra hoje o
Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria), à
Cooperativa Agrícola de
Cantanhede, à primitiva firma
“Hortícola de Cantanhede”,
ao
Grupo Folclórico Cancioneiro de Cantanhede, ao Museu
Rural Etnográfico – Rancho Regional “Os Esticadinhos” e à
Paróquia de S. Pedro.
Sobre as máquinas de escrever
A máquina de escrever marcou um período
importante na história da tecnologia. A sua história apresenta
fases distintas, que mapeiam toda a trajetória desta grande
invenção, que revolucionou a sociedade e todos os segmentos ligados
à escrita, até então feita de forma manual. Com a expansão do
setor comercial e dos serviços, pela necessidade de uma maior
rapidez e uniformidade da escrita, a máquina de escrever difundiu-se
largamente.
Inventados e desenvolvidos, na segunda
metade do século XIX, estes equipamentos contribuíram de forma
decisiva para um grande impulso nas comunicações da época, para o
desenvolvimento económico e social e, também, para a entrada e a
emancipação da mulher no mercado de trabalho e no mundo dos
negócios. A manufatura desses objetos exigiu muita criatividade,
trabalho árduo e coragem de inventores e empreendedores da época.
Segundo o historiador Michael Adler, a
primeira máquina de escrever documentada foi fabricada por um nobre
italiano chamado Pellegrino Turri, introduzindo, em 1808,
o sistema de Teclado
para escrever, com o intuito de facilitar a comunicação com pessoas
cegas.
Em 1829, foi concedida a primeira patente
norte-americana ao inventor William Austin Burt que concebeu uma
máquina com os caracteres colocados numa roda semicircular que
girava e imprimia no papel, chamada Typographer. Em 1861, surge um
novo modelo, mais rápido e funcional, atribuído ao padre brasileiro
Francisco João de Azevedo, conhecedor de matemática e hábil
mecânico.
Contudo, só em 1867, é que o tipógrafo
americano, Christopher Latham Sholes, fabricou a primeira máquina de
escrever, que realmente funcionava, patenteando-a em 1868. Mais
tarde, em 1874, com a firma Remington and Sons, de Nova Iorque,
Sholes fabricou o seu primeiro modelo industrial, designado Sholes &
Gliddens, com teclado QWERTY, contribuindo, assim, para o início da
produção e industrialização da máquina de escrever, mas este
modelo só escrevia em maiúsculas.
Já em 1878, foi introduzida uma nova
máquina, a Remington Nº 2, ainda mais rápida e que escrevia,
agora, com letras maiúsculas e minúsculas, utilizando a tecla
shift, tornando-se um grande sucesso comercial. Crandall, a máquina
de escrever New Model – 1886, foi a primeira máquina de escrever
para imprimir, a partir de um único elemento ou “tipo Luva”.
Na primeira metade do século XX, com a
introdução das máquinas de escrever portáteis e das elétricas, a
máquina de escrever, já mais desenvolvida e sofisticada, tornou-se
mais rápida, silenciosa, prática e ao alcance de todos. A Mignon 4,
fabricada em 1923, destacou-se como um dos modelos mais bonitos das
primeiras máquinas elétricas.
Com o encerramento da última fabricante de
máquinas de escrever, a multinacional Godrej & Boyce, com sede
em Bombaim, em abril de 2011, hoje, com mais de 200 anos passados, e
quase desconhecida dos mais jovens, a máquina de escrever
transformou-se em peça de antiquário e de museu. Algumas das mais
antigas, são as marcas Royal, Corona, Imperial, Continental e a
Underwood, que se destacam pela sua robustez, algumas pelos motivos
decorativos e pelos layouts de teclado AZERTY e HCESAR, compostos por
teclas de vidro com anilha. Estes teclados, entre outros, surgiram da
necessidade de rapidez na escrita.
O primeiro era usado sobretudo, em países
de expressão e influência francesa. O segundo, conhecido como
teclado português, foi criado pelo decreto-lei de 21 de julho de
1937, pelo primeiro-ministro António Oliveira Salazar e tinha como
particularidade, a dupla função de teclas, entre outras.
A máquina de escrever foi suplantada pela
supremacia do computador, na era da informática, e pela exigência
crescente de um ritmo acelerado em que a competitividade e a
qualidade estão associadas ao sucesso e ao lucro. No entanto, os
equipamentos mais modernos e aperfeiçoados continuarão a utilizar
as teclas, até que o avanço tecnológico proporcione outra
alternativa.
Curiosamente, os teclados modernos dos
computadores de hoje preservam ainda o mesmo formato QWERTY das
antigas máquinas de escrever.