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Joaquim Carlos * |
Maternidade
não é apenas processo material e biológico, mas, principalmente,
tarefa espiritual. E haverá função mais nobre?
Somente
a mãe tem o privilégio de sentir em outro ser humano o seu próprio
corpo. Tão forte é o sentimento da maternidade na mulher que, não
tendo filhos, ela sofre e procura atenuar a amargura, dedicando-se
aos filhos alheios.
A
solicitude com que a mãe trata o bebé, cria em torno dele um clima
de afectividade que concorrerá para a expansão de simpatia com os
seres e as coisas. É o ambiente humano propício ao desenvolvimento
da criança e também o de que ela necessita para conseguir e
desenvolver a verdadeira maturidade. Convergem, portanto, os
interesses da mãe e do filho. Tudo que impede a realização do
ideal materno, afecta os filhos: inferiores condições de habitação,
falta de segurança provinda do mau acolhimento que o pai oferece à
família.
Só
consegue educar quem se educa, por isso inicia uma vida mais profunda
a mulher que se forma mãe.
Dar
à luz uma criança, amamentá-la, distribuir carinhos ou palmadas,
conforme o bom ou mau humor, é pouco em conforto com o sentido
espiritual da maternidade. Esse consiste em auxiliar alguém a
tornar-se adulto.
Pelos
problemas que criam, os filhos educam as mães, obrigando-as a uma
revisão de si mesmas, a uma correcção de atitudes, e tudo isto não
significa uma dilatação do horizonte humano?
Ser
mãe é realizar sensibilidade, intuição do próximo, tacto, doçura
e principalmente procurar colocar-se no lugar dos outros, deixá-los
expandir-se num ambiente de serenidade, ordem e beleza. É tarefa que
exige além de inteligência e sensibilidade, também cultura humana.
Somente
a mãe é capaz de entremear as tarefas domésticas com factos,
gestos e palavras dos filhinhos. É a pessoa indicada para ajudá-los
e encorajá-los, a que não tem hora marca para atendê-los.
Sua
presença acalma e solicita confidência que estabelece confiança.
Enquanto
a mãe ensina o filho a conhecer-se e compreender-se, num esforço
consciente e constante, procura também conhecê-lo e compreendê-lo.
É ainda ela que orienta a criança para travar boas relações com o
próximo: verdadeira iniciação do amor, chave das relações
humanas.
Lutando
para auxiliar os filhos, instruí-los e educá-los, é a si mesma que
a mulher se auxilia, pois conquista um alto nível moral. Por isso,
todas as tarefas que lhe forem propostas, quer sejam de natureza
económica ou profissional, nenhuma oferecerá essa oportunidade de
ascensão espiritual.
O
trabalho fora do lar é sempre um prejuízo à maternidade. Cada
partida da mãe é marcada por gritos e choros que provocam o
sentimento de abandono.
No
fim do dia, ao revê-la, a criança paga com juros a ausência,
entregando-se a excessos de carinho o que também é condenado em
matéria de educação.
A
mãe, por sua vez, ao voltar do trabalho, já cansada, tem duas
atitudes: ou deixa a criança entregue a si mesma sem oportunidade de
quem lhe encoraja as falhas, ou torna-se irritada e irritante num
estado deplorável de nervos. Zanga-se facilmente e desaparece o
diálogo mãe e filho tão importante para despertar confiança.
Depois
de certo tempo, o afastamento se transforma em hábito, mas a criança
muda de atitude, fala pouco por não ter ocasião de expandir a
personalidade; tem necessidade de entregar-se, de fazer confidências.
Habitua-se
com a pessoa a quem foi confiada mas desorienta-se. Como atender a
duas orientações?
Chega
com a idade escolar mais uma orientação. Todos esses contactos
criam nela uma aceitação passiva que lhe é prejudicial porque não
se utiliza do raciocínio nem da vontade.
Minada
inconscientemente pelo remorso a mãe entulha-a de roupas, brinquedos
e jóias. Oferece-lhe todo o conforto material porque o moral não
pode dar.
Tem
valor inestimável a maternidade espiritual, a que torna a mulher
mais rigorosa consigo mesma, que a livra de qualquer baixeza, que a
incita a conquistar uma vida sem manchas à custa de lutas e
sofrimentos, mas que deixa como herança aos filhos a lembrança de
uma bela imagem.
Um
feliz dia da mãe.
*Director