Com a nossa soberania ameaçada, um dos pilares da nossa independência são os combustíveis. Plinio Corrêa de Oliveira sempre defendeu a produção de um combustível alternativo no Brasil. Quando ainda menino, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ele sentiu na pele com toda a sua família e a sociedade brasileira o fato de não termos independência em relação aos combustíveis.
Situação não muito diferente ocorreu de forma mais acentuada durante a II Guerra, pois a frota nacional havia aumentado muito, nossas fontes de abastecimento ficavam todas no além-mar, e os petroleiros corriam o risco de ser bombardeados.
Com o surgimento da Petrobras na década de 1950 a situação não mudou muito, pois ela foi plasmada pelo monopólio estatista, tão em voga no comunismo e no nazismo, e, em vez de confiar na iniciativa privada como, por exemplo, nos Estados Unidos, em que o Estado só entrava como regulador do mercado, o Estado brasileiro quis monopolizar a produção e o refino de seu petróleo.
Com as guerras árabo-israelense de 1967 e 1973, quase fomos a pique, pois o petróleo subiu assustadoramente, aumentando de forma desenfreada nossa dívida externa. Não sendo economista, Plinio Corrêa de Oliveira analisava a situação sob outros pontos de vista. O mais sensível, contudo, era a soberania nacional, refletida nos dois pilares: alimentação e mobilidade. A defesa, sem dúvida, é pilar importantíssimo, mas sem comida e sem combustível ficaria seriamente neutralizada.
No início da década de 90 — portanto, logo depois de a nova Constituição dita cidadã ter aberto as portas para a esquerda socialista, colocando inúmeras restrições à iniciativa privada —, conversando com o saudoso Prof. Plinio num dos intervalos de suas atividades, o assunto versou sobre os combustíveis e a capacidade de o Brasil se tornar independente nesta matéria tão crucial. Lembro-me que ele arrematou a conversa afirmando que estava disposto a fazer uma campanha da TFP para defender o álcool combustível, posteriormente designado de etanol.
A mentalidade socialista dos governantes da época, com seus tabelamentos e condicionantes, tentava sufocar a indústria sucroalcooleira para favorecer a Petrobras… E havia razão suficiente para fazerem isso! Nos governos petistas apareceu um “tabelamento branco” de combustíveis com fins populares, mas com a roubalheira escancarada que se comprovou mais tarde, o maior prejudicado foi o setor sucroalcooleiro, uma vez que o “tabelamento da gasolina” afundou boa parte das usinas produtoras de álcool, levando ¼ delas à falência.
Estamos focando tão-só a questão dos combustíveis, pois os 13 milhões de desempregados que ainda vagueiam pelo país o dizem. Agora, parece que as coisas começaram a mudar. No último Congresso sobre Etanol, realizado nos dias 17 e 18 de junho no Centro Fecomércio, de São Paulo, organizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar, com mais de 1.500 participantes, o panorama descortinado apresentou desafios, mas a situação é totalmente outra [foto ao lado].
Foram dois dias de painéis, debates e projetos, e com a presença do governador, de vários ministros, senadores, deputados federais e estaduais. Apesar do preço baixo do açúcar no mercado internacional, em virtude dos subsídios de até 20% dados por produtores da Índia e da Tailândia, o Brasil já vem tomando providências junto à Organização Mundial do Comércio para enfrentar esta situação.
Com isto a produção foi direcionada do açúcar para o etanol, quando atingiremos um recorde de produção, garantindo preço estável da gasolina e quase 50% abaixo no preço do etanol. Por isso, quase metade de nossa frota de 50 milhões de veículos é abastecida com o combustível pouco poluente renovável e competidor.
Conhecemos um avanço enorme na quantidade e na qualidade da produção de álcool, uma vez que as tecnologias mudaram tanto que hoje produzimos mais de 35 bilhões de litros, ou seja, mais do equivalente a 500 mil barris de petróleo/dia de álcool.
Entraram em atividade duas plantas de usinas, uma em Alagoas e outra em São Paulo, para produzir o etanol de segunda geração, ou seja, extraído do bagaço da cana, do qual se extrai o álcool celulósico, ademais de aproveitar os resíduos usados para aquecer as caldeiras e produzir eletricidade.
A capacidade instalada gera mais energia do que a usina hidrelétrica de Itaipu… Do vinhoto se retira o gás inflamável para cozinha, granjas etc. e o resíduo é bombeado como adubo nos canaviais.
Também já são quase dez usinas que estão extraindo álcool do milho nas regiões da fronteira agrícola, onde a grande produção da segunda safra (safrinha) torna competidora a extração. E dos resíduos se fabrica a ração para animais e, em breve, teremos mais três bilhões de litros de etanol de milho adicionados ao mercado.
A grande novidade, sobretudo, com o fracionamento das passagens aéreas, que fez com que as viagens de ônibus aumentassem 20%, foi a apresentação do modelo de automóvel da Toyota com tecnologia híbrida, ou seja, etanol e elétrica.
O modelo apresentado e testado no ano passado era o Prius, que viajou de São Paulo a Brasília com êxito total, mas como a plataforma é semelhante à do Corolla, já fabricado no Brasil em larga escala, a tecnologia está sendo aparelhada para a produção em série já em outubro de 2019.
Como já deve ser do conhecimento do leitor, a energia do motor vem de uma bateria alimentada por um ponto externo de recarga (tomada), bem como por um gerador interno de combustão, no caso movido a etanol e gasolina, não precisa parar para abastecer, mas numa parada a negócio ou pernoite ela é carregada na tomada.
Na estrada ele gastaria, em média, um litro de etanol por cada 30 km. Se tomarmos o preço do etanol hoje em São Paulo (R$ 2,39 / litro), um percurso como Rio de Janeiro-Salvador, 1.567 km, seria feito com apenas 52 litros de etanol, o que corresponde a R$ 124,28. Basta comparar com uma passagem de ônibus para o mesmo trecho, que custa mais de R$ 300 por pessoa; ou ainda de avião, a partir de R$ 1.500,00 por pessoa. No caso de um carro com quatro pessoas, pouco mais de 30,00 reais por pessoa.
Até a derrocada da Venezuela, a gasolina naquele país era distribuída de graça aos venezuelanos, em razão de suas grandes reservas de petróleo, mas hoje eles precisam ficar até um dia inteiro na fila para abastecer o veículo, em razão do racionamento de gasolina imposto ao país.
Caso não queiram enfrentar a fila têm de pagar até U$ 20 no mercado paralelo por 60 litros de gasolina, só que o salário mínimo deles hoje não chega a U$ 8. E mais. Apenas 40% dos postos estão operando, pois a manutenção de um carro é muito dispendiosa, uma pessoa precisa trabalhar cinco anos (ganhando o salário mínimo) para pagar uma bateria elétrica para o veículo (Cfr. “Revista Época”, 10-6-19, págs. 64 a 66).
Na Cuba comunista não é diferente, pois de maior produtora de açúcar do mundo no início do século XX, com oito milhões de toneladas, neste ano só produzirá cerca de um milhão de toneladas, enquanto o Brasil produz mais de 30 milhões de toneladas, e todos os seus produtos já especificados.
Enquanto isso, a Petrobras se arrasta para conseguir sair do “buraco negro” em que foi jogado pelos governos socialistas de FHC, Lula e, sobretudo, Dilma, com um “tabelamento branco” sobre os combustíveis que somado à roubalheira quase destruiu a petroleira e levou 100 usinas de açúcar e álcool à falência.
Na Venezuela, em Cuba e no Brasil lulodilmista a história se repetiu. O comunismo e o socialismo levam qualquer país à miséria, ou, como bem dizia Margaret Thatcher: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”.
Coincidentemente, enquanto fechava este artigo, saiu notícia relevante sobre as tristemente famosas “campeãs nacionais”, ou seja, as empresas multinacionais brasileiras financiadas pelo BNDS (leia-se dinheiro meu e seu). A Odebrecht pediu recuperação judicial, pois sua dívida está em torno de R$ 100 bilhões; a Petrobras melhorou um pouco e deve quase R$ 300 bilhões, enquanto a JBS deve quase R$ 50 milhões. O PT pensou que com sua experiência em gerenciar uma lojinha de 1,99 em Porto Alegre — a qual, aliás, faliu —, Dilma seria capaz de governar o Brasil.
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De outro lado, todas as previsões são de safra recorde de 238,9 milhões de toneladas (Cfr. “O Estado de S. Paulo”, 12-6-19). Apesar do clima que prejudicou a safra de verão, fazendo que experimentasse até 30% de quebra em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul, a segunda safra, sobretudo a de milho, superou todas as previsões e passou de 100 milhões de toneladas. Com isso no cômputo geral vamos ter os recordes de produção de grãos.
Agradeçamos a Deus e à Padroeira Nossa Senhora Aparecida, que nos deram um País de dimensões continentais, com muita terra agricultável, através da qual o empreendedor rural assegura a soberania nacional com alimentos baratos e abundantes que nutrem mais de um bilhão de pessoas mundo afora e geram mais de 30 milhões de empregos, sendo também responsável pela produção de combustíveis que suprem com folga a demanda, e por mais de US$ 100 bilhões em exportações, preservando 65% da vegetação nativa encontrada aqui por Pedro Álvares Cabral há mais de 500 anos.
ABIM