♦ Plinio Maria Solimeo
Taiwan, cujo nome oficial é “República da China”, é formada pelas ilhas Formosa, Pescadores e outras menores. Em 1949, quando o Partido Nacionalista Chinês perdeu a guerra civil no continente para o Partido Comunista de Mao Tsé-Tung, o general Chan Kai Shek transferiu seu governo para aquele arquipélago. Durante a guerra fria, Taiwan passou a ser reconhecida por muitos países ocidentais e pela ONU como o legítimo governo da república chinesa, em contraposição à República Popular da China, comunista.
Atualmente com mais de 23 milhões de habitantes, o país reconhece 26 religiões. As cinco maiores são o budismo (8 milhões de seguidores), o taoísmo (7.6 milhões), o yiguandao (810 mil), o protestantismo (605 mil) e o catolicismo (298 mil fiéis, ou 1,3% da população). A presença da Igreja Católica em Taiwan provém dos missionários espanhóis que chegaram à Ilha no início do século XVII.
A San Francisco da Ásia
Até as eleições ocorridas no último dia 24 de novembro, Taiwan era considerada a San Francisco da Ásia, ou seja, a nação mais aberta aos homossexuais.
Em 24 de maio de 2017, 12 dos 14 juízes (um se absteve) do Conselho da Alta Justiça determinaram que a limitação do casamento a um homem e uma mulher violava a Constituição de Taiwan. E deram aos legisladores dois anos para que aprovassem uma nova lei em conformidade com a sua decisão. Se eles não agissem, o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo seria automaticamente legalizado, tornando-se aquela Ilha o primeiro país da Ásia a fazê-lo.
A Parada do Orgulho Homossexual de Taipei, capital de Taiwan, é considerada a maior da Ásia.
Entretanto, para a Irmã Stefania Wei, da Aliança de Grupos Religiosos pelo amor das Famílias de Taiwan, frequentemente chamado apenas de Família Taiwan — importante organização dedicada à proteção do verdadeiro casamento —, essa Parada “é vista como excessiva para muita gente. Seu estilo [dos homossexuais], costumes, gestos, causam a muitos uma reação negativa”, afirmou ela por telefone ao Catholic Register. “Muita gente antes simpatizava [com o “casamento” homossexual], mas depois da marcha lhe deram as costas”.
O líder católico Johnpaul Lin é da mesma opinião. Segundo ele, a impressão de muitos taiwaneses ao verem a cobertura dada pela mídia à Parada os levou a considerar que “a cultura homossexual é uma invasão imperialista”. Ele explica: “O povo taiwanês não é contra os estrangeiros. Por longo tempo nós idolatramos os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Mas acreditamos que temos um bom povo porque temos boas famílias educando bons filhos. Essa é a lei natural. Vivendo numa família estável, baseada no matrimônio estável entre um homem e uma mulher, esse é o fundamento da sociedade. E não iremos contra isso.”
Surpreendente resultado de um referendo
Nas eleições de novembro último, quando se disputavam mais de 11 postos em municípios, condados, distritos e vilarejos, houve também um referendo para decidir sobre várias questões que dividiam a população. Os 19 milhões de eleitores deveriam responder “sim” ou “não” a cinco perguntas, entre elas se aprovavam o “casamento” homossexual.
Ora, em janeiro de 2016, uma mulher — TseiIng-Wen — assumia pela primeira vez a presidência do país. Advogada, solteira e ex-negociadora de comércio internacional, com diplomas avançados da Cornell e da London School of Economics, em sua campanha ela havia apoiado a plataforma homossexual.
Entretanto, o resultado do referendo surpreendeu não só a mídia, mas também o Governo. TsaiIng-wen perdeu duas das mais importantes prefeituras da Ilha, e teve que renunciar à liderança de seu partido, o Democrático Progressista.
Contra o “casamento” homossexual e a “depravação sexual” nas escolas
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Em Taiwan, manifestação em defesa da instituição da família tradicional e protesto contra o “casamento” homossexual e “Ideologia de Gênero”. |
Para que se faça uma ideia da extensão do revide da “maioria silenciosa” taiwanesa temos, por exemplo, que para a questão nº 10: “Você concorda em que o matrimônio definido no Código Civil deve ser restringido à união entre um homem e uma mulher?”, 72,5% dos eleitores responderam “Sim”, e apenas 27,5%, “Não”.
À questão 11: “Você concorda em que o Ministério da Educação não deveria implementar as Regras para a Lei de Educação de Igualdade de Gênero nas escolas de ensino fundamental e médio? ”, isto é, se os eleitores queriam o fim da ideologia de gênero para estudantes de 6 a 15 anos nas escolas, 67,4% responderam “Sim”e 32,6%,“Não”.
O líder católico Johnpaul Lin acredita que essa vitória conservadora é produto do choque que as famílias taiwanesas sentiram ao perceberem que seus filhos estavam sendo educados contra seus próprios valores. “As pessoas começaram a perguntar umas às outras, ‘Por que as crianças estão recebendo essa educação sobre a depravação sexual?’”. Para Lin, “Taiwan presenciou uma revolta maciça contra o ensino de valores LGBT nas escolas”, porque “durante vários anos os taiwaneses passaram muitas horas trabalhando, confiando no Governo para educar bem nossos filhos. Então, quando as pessoas notaram as lições sobre educação sexual e ideologia de gênero, não conseguiram acreditar. Acharam incrível!” E acrescentou: “Esta foi uma das principais razões pelas quais as pessoas votaram contra o “casamento” do mesmo sexo e a ideologia de gênero no referendo.”
Contradição
Entretanto, contraditoriamente, a questão 12 — “Você concorda com a proteção dos direitos de casais do mesmo sexo em coabitação, de um modo permanente, sem mudar o Código Civil?” — foi aprovada por 61,1% contra 38,9%, quando na lógica anterior deveriam ter dito “Não”.
“A definição de casamento entre um homem e uma mulher é de origem divina, e deve ser sempre respeitada e ensinada como tal. É totalmente contraditório salvaguardar a definição legal do casamento entre um homem e uma mulher, por um lado [questão 10], e permitir que o comportamento homossexual seja legalizado por outro lado [questão 12]”, disse ao Catholic Register o Pe. Otfried Chan, secretário-geral da Conferência Regional Chinesa de Bispos.
Mas não se pode negar que o chamado “casamento” homossexual e a “ideologia de gênero” foram completamente derrotados num referendo realizado em um país onde o Governo, o sistema legislativo e judicial, o Ministério da Educação e a percepção popular estavam preparados para torná-lo o primeiro na Ásia a legalizar o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. Disse o sacerdote. “Foi um golpe para o movimento homossexual”.
Uma pergunta se põe: se a grande maioria dos cidadãos taiwaneses apóia tão fortemente os valores da família, por que o resultado eleitoral surpreendeu? Foi porque a mídia fingiu ignorar que essa maioria não se sente de fato representada pela elite política e judicial do país, a qual já estava pronta para confirmar nos próximos meses o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. De onde a grande e inesperada vitória.
O Pe. Chan se recorda que há cinco anos participou com um bispo de um lobby contra uma proposta legislativa da DPP (promovida por organizações internacionais) para redefinir o casamento, substituindo o “entre um homem e uma mulher” por “entre dois parceiros” no Código Civil.
“Na época, a necessidade comum e urgente era deter a influência política do movimento LGBT”, lembrou o sacerdote. Com a eleição da presidente Tsai, todos sabiam que o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo seria proposto de uma forma ou de outra.
“Foi então que muitas pessoas, em particular os cristãos, foram alertadas e mobilizadas para protestar e combater essa agenda política”, disse o Pe. Chan. “E nós conseguimos. Então o projeto foi interrompido, e a Taiwan Family, fundada.”
Assim, apesar de toda a pressão internacional e do poderoso lobby homossexual, os taiwaneses tiveram a coragem de ir contra a corrente, defendendo a lei natural e a Lei de Deus com relação ao matrimônio e à educação dos filhos.
ABIM