São três as estreias deste fim de
semana no âmbito do Ciclo de Teatro Amador de Cantanhede, neste caso
com espetáculos nas localidades onde estão sedeados dos grupos
cénicos, enquanto outros três cumprem a jornada de itinerância com
atuações “fora de casa”.
No capítulo das estreias, no sábado,
7 de março, às 21h30, a Bombarda – Companhia de Teatro apresenta
no Largo das Árvores, em Vila Nova de Outil, “Aventuras e
Desventuras da 1.ª Volta ao Mundo”. Trata-se da encenação de
Primer Viage Alrededor del
Globo, texto original de
Antonio Pigafetta que relata a odisseia de Fernão de Magalhães à
frente da armada espanhola que há 500 anos realizou a
circum-navegação à volta do mundo, parte dele ainda desconhecido
naquela altura. A partir das palavras do cronista que acompanhou a
viagem, recriam-se as personagens mais marcantes e reconstituem-se
alguns dos momentos emblemáticos desse percurso controverso e
difícil, perigoso e deslumbrante.
Também no sábado, às 21h30, “O
Cénico dos “Esticadinhos”, de Cantanhede, sobe ao palco da sua
sede para representar “Crime!... Disseram elas!...”, uma
adaptação de Fernando Geria e Carla Negrão com referências da
popular série televisiva. A ação tem como personagem central
Duarte, um homem com vasta experiência na investigação que se
instala na cidade de Cantanhede, onde rapidamente se torna num
detetive privado reconhecido pela sociedade como importante figura na
luta contra o crime. São vários episódios envoltos em mistério,
em que Duarte tem sempre a seu lado o fiel parceiro Tó. “Uma
hilariante comédia nonsense,
onde qualquer coincidência com a semelhança é pura realidade!”
Igualmente no sábado, à mesma hora,
o Grupo de Teatro da Tocha, da Associação Recreativa e Cultural 1.º
de Maio, apresenta no salão da sua sede “A Mulher Sem Pecado”,
um drama da autoria de Nelson Rodrigues, cuja teia se desenvolve em
torno do excessivo e patológico ciúme que um homem sente pela
segunda esposa. A sua paralisia inventada e a perseguição obsessiva
são motivos para piorar a relação marital. E quando Olegário
reconhece a total fidelidade da esposa, eis que a história tem um
desfecho absolutamente inesperado!
Ainda no sábado, às 21h30, o grupo
de teatro RTP Tinto (Resistência Teatro e Produções), de Cordinhã,
atua no salão paroquial da Sanguinheira com a peça “O Tesouro do
Conde”. Nesta comédia escrita por Manuel Tomé, a ação
desenrola-se na época medieval, quando os mouros, que tinham acabado
de invadir um Convento de Frades nos arredores de Montemor-o-Velho,
procuravam um tesouro enviado pelo Rei destinado à repovoação das
Terras do Conde. Aí, um frade perseguido pelos mouros acaba por se
render e depois de pressionado, deixa cair o manuscrito onde consta a
localização desse tesouro. Depois de várias peripécias, o
documento apareceu numa gruta 900 anos depois, descoberto por dois
amigos, o João Garrafão e o Zé Rolhas, que prosseguem esta
verdadeira caça ao tesouro.
A
jornada de sábado conclui-se com a atuação do Grupo de Teatro “As
Fontes do Zambujal” no salão da Junta de Freguesia de Murtede,
onde vai representar, também às 21h30, uma adaptação de “Filho
Sozinho”, um drama de Francisco Ventura que propõe uma reflexão
sobre as exigências da educação familiar. A personagem principal é
José, que em criança só fazia asneiras, sempre com a complacência
da mãe. Passada a adolescência, as asneiras passam a crimes, que
persistem e vão desde o furto de um cântaro de azeite, ao roubo do
dinheiro dos pais, até ao assassinato de um vizinho.
Finalmente no domingo, 8 de março,
pelas 15h30, é na sede da Associação do Grupo Musical das
Franciscas que Grupo de Teatro, Arte e Cultura da Associação
Musical da Pocariça cumpre a sua ação de itinerância com a
representação de “Frio que Faz na Cama”. Da autoria do
dramaturgo António Manuel Rejez, a peça proporciona uma reflexão
sobre as relações afetivas, num retrato atual e sem tabus da busca
pela satisfação amorosa e sexual. As saídas possíveis quando a
relação entre duas pessoas se torna monótona e a superação do
desgaste parece uma impossibilidade é a questão subjacente a esta
peça que aflora também o desencanto do amor por alguém que recusa
ser amado.
A trama desenrola-se em torno dos
problemas existentes no seio de dois casais, um que vive
conjugalmente há vários anos e parece cansado da vida familiar
rotineira, outro, mais jovem, que vive um relacionamento animado pelo
sexo e pelo prazer imediato. Têm no entanto alguma coisa em comum:
o “Frio que Faz na Cama”.
Bombarda
– Companhia de Teatro
A Companhia de Teatro e Recriação
Histórica Bombarda, constituída
como associação sem fins lucrativos em 10 de maio de 2018,
é um grupo de atores e artistas profissionais e amadores, na maioria
descendente de Vila Nova de Outil, localidade desde há muito ligada
ao teatro, onde a vontade de representar tantas vezes se confunde e
se iguala à vontade de viver. Recriação histórica, teatro de
palco, teatro de rua, animação circense, animação musical, entre
outros espetáculos são certamente performances que, através da
interação direta e indireta com o público, fazem com que cada
momento artístico seja único e intenso, e que permite um despertar
de sentimentos através da ação, em palco ou na rua, com uma grande
componente lúdica. Repete pelo segundo ano consecutivo a sua
participação no Ciclo de Teatro organizado pelo Município de
Cantanhede.
Sobre o GTT - Grupo Amador de
Teatro da Tocha
As origens do GTT – Grupo de Teatro
da Tocha ninguém as sabe ao certo e também não existe nenhum
documento escrito onde estejam registadas. São os elementos antigos
com mais anos de casa que contam, entre as memórias que ainda
surgem, os momentos mais marcantes de que há lembrança.
Os ensaios decorriam na antiga sede,
localizada na Rua Dr. José Gomes da Cruz. A primeira peça foi
levada à cena na década de 60, no antigo Grémio de Instrução e
Recreio da Tocha, onde se realizavam os bailes (no atual café
Esplanada), mas a continuidade perdeu-se.
É na década de 70, pelas mãos de
Júlio Garcia Simão, encenador e antigo funcionário do Rovisco
Pais, que o Grupo de Teatro ganha novo alento. Mais tarde é
substituído por Américo Guímaro, que levou à cena a peça "A
Forja", também encenada no Festival de Teatro de
Montemor-o-Velho. É com ele que se estreia a peça "Frei
Thomaz".
Segue-se novamente um período de
interregno, onde apenas se fazem alguns "sketches", para em
1984 Júlio Campante, de Coimbra mas casado com a professora da
escola primária da Tocha, dar uma nova dinâmica ao Grupo Amador de
Teatro, que com ele começou a atuar em palcos um pouco por todo o
país.
O bichinho do teatro ficou de vez, e
já na sede da Associação Recreativa e Cultural 1.º de Maio da
Tocha, "o salão encheu-se um punhado de vezes". A
população aderia aos espetáculos e é com o Ciclo de Teatro Amador
de Cantanhede e a participação no certame que o grupo se revitaliza
e se consolida, ficando apenas marcada por um interregno de um ano,
em 2003, devido a um vazio de direção instalado, e em 2012, por
doença do ator principal, Américo Romão.
O Grupo de Teatro Amador da Tocha já
levou a palco diversas peças de diferentes estilos, tais como "A
Casa dos Pais", "Entre Giestas", "A Mala de
Bernardete", "Serão Homens Amanhã", "Há Horas
Diabólicas", "As Duas Cartas", "Uma Sardinha
para Três", "Terra Firme", "Frei Thomaz",
levada a palco na década de 1970 e que em 2009 voltou a estar em
cena, seguida de “Falar Verdade a Mentir”, “A Forja”, “O
Doente Imaginário”, uma adaptação do original da autoria de
Molière, “Verdades e mentiras da vida real”, um original da
autoria de José Maria Giraldo, e Desejo Voraz, peça com que
encerrou a 18.ª edição do Ciclo de Teatro Amador do Concelho de
Cantanhede.
Sobre O Cénico dos “Esticadinhos”
de Cantanhede
O Rancho Regional “Os Esticadinhos”
de Cantanhede, fundado em 1935, conhecido e reconhecido pelos seus
pares, mesmo além-fronteiras, de modo a construir mais uma fonte
onde as suas gentes pudessem beber cultura, formou em 1985 o grupo de
teatro “Os Esticadinhos”. Para a sua génese em muito
contribuíram Carlos Garcia, que fazia parte da direção desta
coletividade desde então, e António Francisco, conhecido por todos
como “Chico Carteiro”, o qual durante anos coordenou as peças de
teatro (“Culpa e perdão”; “Malditas letras”; “Deus,
ciência e caridade”; “Marido da minha mulher”; “Código
penal”; “como se vingam as mulheres”; “Erro judicial”; “Meu
marido que Deus o haja”; “Justiça ou vingança”; “Criado
distraído”; “A órfã”; “Que mulheres”; “Casa de Pais”;
“Cavalheiro respeitável”; “Duas causas”; “Marido de duas
mulheres”; “Filho pródigo”; “Tire daí a menina”; “Filho
sozinho”; “Flor da Aldeia”; “Crime de uma mulher honesta”;
“Namoro engraçado”; “Rainha Santa” e “Processo de Jesus”).
A peça “Processo de Jesus” foi relevante, tendo alcançado um
êxito a nível de teatro amador no concelho. Participaram quatro
dezenas de personagens, elementos do grupo, bem como atores dos
grupos de teatro das Franciscas, Murtede, Sanguinheira e Vila Nova de
Outil. Esta peça foi a palco em todas as localidades referidas e
várias vezes na cidade de Cantanhede, chegando a ser apresentada na
cidade de Viseu no ano de 2000.
Em 2003 foi levada a palco a peça
“Inês de Castro” encenada por Dulce Sancho.
Em 2004, passou a coordenar o grupo de
teatro Carlos Pacheco, o qual encenou e levou a palco as peças
“Terra Prometida”, “Está lá fora o Sr. Inspetor”, “Tá
tudo Maluco”, “Hotel 69”, “Inês de Castro e Rainha Santa”
e “A Sr.ª Presidenta”. Todas as peças referidas são originais
escritas pelo próprio Carlos Pacheco e apresentadas no Ciclo de
Teatro promovido pelo Município entre os anos de 2004 a 2011.
Por ser uma vontade da Direção do
Rancho Regional “Os Esticadinhos” e umas valências de grande
importância para dar de beber cultura e lazer, em 2016 foi ativado o
grupo de teatro, do qual é responsável Fernando Geria, tendo
reunido um grupo de voluntários maioritariamente “esticadinhos”,
movidos pelo “bichinho do Teatro”.
Sobre
RTP Tinto (Resistência Teatro e Produções)
A Associação Cultura e Recreativa de
Cordinhã foi formalmente constituída a 18 de outubro de 2019, tendo
por objeto estatutário a promoção e divulgação de atividades
socioculturais, a formação artística de jovens e seniores, a
produção de eventos e objetos artísticos, a produção e edição
de trabalhos nas áreas do teatro e do cinema e a defesa do
património cultural de Cordinhã. O Grupo faz a sua estreia no Ciclo
de Teatro com a apresentação de um original de Manuel Tomé,
diretor da coletividade.
Sobre o Grupo de Teatro As Fontes
do Zambujal
O Grupo de Teatro “As Fontes do
Zambujal” foi constituído em 1996. A sua designação é uma
referência às quatro fontes de origem romana que existiram no
Zambujal, designadamente Fonte de Rodelos, Fonte Má, Fonte Perto e
Fonte Seca.
As raízes desta formação teatral
podem ser encontradas em 1954, mais precisamente em 27 de maio, data
em que foi fundado um agrupamento com o nome “Viva O. R. Zal”
(Viva o Rancho do Zambujal). A iniciativa partiu de alguns indivíduos
da comunidade que pretendiam desenvolver atividades de lazer para
preencher os seus tempos livres, assim como manter vivas a tradição
e a autenticidade dos trajes, danças e cantares do Zambujal.
Depois de uma interrupção de alguns
anos, o Grupo retomou o seu funcionamento em 1992, sob a nova
designação de Grupo Folclórico “Os Malmequeres do Zambujal”.
Em julho de 1995, passou a integrar a Associação Juvenil do
Zambujal e Fornos, mais precisamente a sua secção de folclore, e em
1996 filiou-se no INATEL.
É nessa mesma altura que surge o
Grupo de Teatro “As Fontes do Zambujal” que inicia um trabalho de
produção teatral regular apresentando uma a duas peças anualmente,
por altura da quadra natalícia e participando no Ciclo de Teatro
Amador de Cantanhede, desde a sua primeira edição.
Em 1998, faz a sua primeira
apresentação fora da terra, mais precisamente nas Franciscas, no
âmbito do I Ciclo de Teatro Amador de Cantanhede, com as peças
“Falar Verdade a Mentir” e “O Senhor”. No ano seguinte faz um
périplo por várias localidades do Concelho de Cantanhede com as
produções “O Céu da Minha Rua” e “Terra Firme”.
A peça que ensaiou e apresentou de
seguida, no Natal de 2000, a comédia em três atos “Dois Maridos
em Apuros”, constituiu-se como um grande sucesso perante o público,
sendo apresentada igualmente no Ciclo de Teatro de Cantanhede do ano
seguinte. Em dezembro de 2001 esta formação teatral apresentou a
comédia “O Padre Piedade”, que também apresentou no Ciclo de
Teatro Amador de Cantanhede, em 2002.
Desde o início da sua atividade que
cabe a Dinis Fatia, atualmente Presidente da Assembleia-Geral e
Coordenador do Grupo de Teatro, escolher as peças a serem
apresentadas, bem como distribuir os diferentes papéis pelos atores,
atendendo sempre às características e capacidades de cada um. É
também o autor dos cenários, passando largas horas a pintar as
imagens que servem de fundo à atuação dos atores.
Sobre o Grupo de Teatro, Arte e
Cultura da Associação Musical da Pocariça
O teatro na Pocariça remonta ao ano
de 1895, quando começaram a ser feitas várias representações por
um grupo de amadores de Coimbra. Um dos elementos deixou o grupo e
decidiu organizar uma sociedade dramática, apenas constituída por
amadores da Pocariça, que foi designada de Recreio Artístico.
Apesar da saída de alguns membros do Recreio Artístico pouco depois
da sua fundação, o agrupamento ainda subiu ao palco em fevereiro de
1896.
Em 14 de julho desse mesmo ano nasceu
outro grupo de teatro amador, que foi batizado de Sociedade Dramática
Pocaricense e que teve a sua estreia com a peça “Os Milagres de
Santo António”.
Um novo grupo dramático foi
constituído em 1909 com o objetivo específico de angariar fundos
para a construção de uma casa de teatro na Pocariça. Constituído
exclusivamente por elementos da localidade, este grupo exibiu as
primeiras peças em abril, como a opereta intitulada “Canto
Celestial” e outras peças, entre as quais um original de José
Gomes Lopes, intitulado “Milagres de Amor”, o mais recordado de
todos. Com a receita destas peças e com o produto de uma subscrição
pública foi possível instalar um palco, camarins, vários cenários
pintados e ainda pano de boca de cena.
Em abril de 1914 foi representada a
última récita, uma vez que, pouco tempo depois, o prédio teve novo
dono e desapareceu assim o “passatempo” de representar peças
teatrais.
O Grupo Cénico da Pocariça surge já
na década de 1950, sob orientação de Mário Pereira da Silva. Aí
se revelaram nova vaga de atores amadores de grande vocação
artística.
Para manter viva esta tradição
ligada ao teatro amador, foi criado em 2000 o Grupo de Teatro, Arte e
Cultura, no seio de outra coletividade de referência, a Associação
Musical da Pocariça. A inspiração para este grupo está ligada ao
trabalho artístico da atriz de teatro musical que conquistou fama a
nível internacional, Auzenda de Oliveira, nascida na Pocariça em
1888.
O Ciclo de Teatro Amador do Concelho
de Cantanhede, organizado pelo Município, serviu também de pretexto
para trazer de volta a atividade teatral e de lhe dar um caráter
sistemático e regular.
“Saudades da minha Terra” foi o
primeiro êxito desta formação mais reduzida, mas também a opereta
“Entre Duas Avé Marias”, peça dos anos 1950, ajudou a cimentar
a reputação deste coletivo.
O Grupo participa ininterruptamente no
Ciclo de Teatro Amador do Concelho de Cantanhede desde a sua 4.ª
edição em 2001-2002.