20 de Abril de 2020, 17:40
A China tem mais de 83 mil casos confirmados desde Dezembro, a esmagadora maioria em Wuhan THOMAS PETER/REUTERS |
A China tem estado sob crescente pressão internacional por causa da origem e gestão do surto de coronavírus e há líderes mundiais a contestarem publicamente a transparência chinesa. Pequim rejeita as acusações e pede aos governantes que não espalhem teorias da conspiração.
A China rejeita qualquer investigação à origem da covid-19 e à forma como lidou com a doença em Wuhan, garantindo que vai fazer uma “oposição veemente" a quem pressionar para que avance.
O Governo de Pequim tem sido acusado de ser responsável pela pandemia e de falta de transparência e o apelo australiano deste domingo, para a constituição de uma investigação independente, foi o mais recente embate.
“Os assuntos sobre o coronavírus são para serem avaliados de forma independente e acho ser importante que o façamos”, disse ministra dos Negócios Estrangeiros australiana, Marise Payne, salientando que a sua preocupação sobre a transparência chinesa está “muito elevada”. “De facto, a Austrália vai insistir nesta questão”.
Há anos que a Austrália e a China são rivais no Pacífico e, quando o coronavírus extravasou as fronteiras chinesas, os dois países começaram a competir na chamada diplomacia de saúde. Pequim enviou aviões de carga com toneladas de equipamento médico para as ilhas do Pacífico e a Austrália, que era o maior doador até ser ultrapassada pela China, redobrou os esforços.
Pequim não gostou das palavras nem do tom usado pela chefe da diplomacia australiana, aliada dos Estados Unidos no Pacífico, e respondeu esta segunda-feira. “A China expressa grande preocupação e uma oposição veemente sobre isto”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios estrangeiros chinês, Geng Shuang. “Qualquer questão sobre a transparência da China na prevenção e controlo da situação epidemiológica não carece de factos”.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem também acusado a China de ter gerido mal a crise sanitária, depois de num primeiro momento a ter elogiado por essa mesma gestão. E o Presidente francês, Emmanuel Macron, já levantou dúvidas sobre a veracidade do número de mortos oficiais na província chinesa de Hubei (onde se situa Wuhan), devido à falta de transparência das autoridades chinesas.
No início do mês, Trump, que já chamou ao coronavírus “o vírus chinês” (e foi acusado de xenofobia), ordenou a cientistas americanos que investigassem a hipótese de o novo coronavírus ter ido origem num laboratório militar chinês em Wuhan. Fê-lo depois de essa teoria aparecer nas redes sociais e ser apresentada por comentadores da Fox News, canal americano conservador e que o chefe de Estado segue, com vários cientistas a virem a público desmenti-la. No domingo, o Presidente voltou a frisá-lo e disse querer enviar investigadores para a China, mas que os pedidos foram rejeitados.
“Certos americanos devem ter isto claro: a China não é sua inimiga. A comunidade internacional deve unir-se para vencer a luta contra o vírus”, disse também esta segunda-feira o porta-voz da diplomacia chinesa. “Atacar e difamar a China não recuperará o tempo e as vidas perdidas”, acrescentou, apelando para que os governantes parem de espalhar teorias da conspiração.
Washington e Pequim estão há meses em conflito económico e analistas dizem que Trump está a usar esta narrativa para enfraquecer a influência do país rival e satisfazer a sua base eleitoral em ano de presidenciais. Além disso, dizem, o Presidente quer afastar as atenções pela sua má gestão da crise, por a ter desvalorizado no início, arranjando um bode expiatório, depois de ter aberto fogo contra a Organização de Saúde, por si vista como aliada de Pequim.
“Trump sempre foi bem-sucedido a arranjar um bode expiatório e a China é perfeita”, disse ao Business Insider Chris LaCivita, estratega político republicano.
A pressão sobre a China não tem cessado e a estratégia de Trump parece estar a dar frutos. Pequim actualizou no final da semana passada o número de mortos em Wuhan acrescentando 1290 novos óbitos, um aumento de 50%, ao mesmo tempo que declarou “não autorizar encobrimentos”. Mas ao fazê-lo deu novas munições aos seus críticos. Dos mais de 80 mil pessoas infectadas em Wuhan, 4512 morreram.