A Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD) já emitiu cerca de 400 cartões do adepto, que permitem a entrada para zonas especiais nos estádios, disse hoje à Lusa o presidente desta entidade.
Com o sistema "em pleno funcionamento" e a medida aberta a qualquer interessado, o que falta agora é o regresso aos estádios, para já condicionado pela pandemia de covid-19, revelou, em entrevista à Lusa, o presidente da APCVD, Rodrigo Cavaleiro.
O cartão do adepto pode ser requisitado por qualquer pessoa acima dos 16 anos, terá a validade de três anos e serve para conceder acesso a zonas identificadas nos estádios, normalmente associadas à presença de claques.
A "necessidade" deste projeto, justificou, "prende-se com a identificação de alguns adeptos que frequentem este tipo de zonas", nas quais é permitida a utilização de "materiais coreográficos dos grupos organizados de adeptos".
Em junho, quando foi publicada em Diário da República a portaria que regula a nova medida, a nota do Governo destacava este como "um instrumento de promoção da segurança e do combate ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos".
"Permite o registo e a identificação dos seus titulares para efeitos de dimensionamento e gestão do acesso às zonas com condições especiais de acesso e permanência de adeptos", mas também para "auxílio à verificação, em tempo útil, das decisões judiciais e administrativas que impeçam determinadas pessoas de acederem aos recintos desportivos", esclareceu, então, o Governo.
Para o acesso ao documento, entre outros dados, devem ser facultadas informações quanto aos grupos organizados de adeptos em que o solicitador se encontre filiado.
Rodrigo Cavaleiro desvalorizou as críticas que têm sido apontadas ao cartão, por claques e, sobretudo, pela Associação Portuguesa de Defesa do Adepto (APDA), considerando "natural que haja alguns grupos menos recetivos a esta medida".
Na final da Taça de Portugal, entre Benfica e FC Porto, que os 'dragões' venceram, a APDA promoveu um protesto contra o cartão, com a presidente, Martha Gens, a dizer à Lusa que o modelo estava "totalmente ultrapassado" e seria "altamente contraproducente", pela "perda de adeptos" e por potenciar "gravemente a discriminação", transformando-se "numa ferramenta de repressão direta e indireta em massa".
"Está pronta a entrar em vigor assim que haja esse regresso, e a autoridade deu cumprimento ao que estava previsto na lei, como em outras iniciativas", reforçou.
Rodrigo Cavaleiro lembrou que "não é fácil mudar mentalidades" e que a APCVD tem "algumas iniciativas previstas em conjunto com alguns grupos de adeptos", já com contactos feitos para que se possa desfazer "muito mitos e modelos que os jovens seguem porque não há outros", no que toca à forma de viver o desporto enquanto adepto.
"Deixam na sombra muitas iniciativas positivas desses mesmos adeptos, que vivem o desporto com tanta paixão e gosto. Isso, só por si, é de encorajar. Há muitas ações de solidariedade desenvolvidos por grupos organizados de adeptos, mas quando se fala destes grupos, ou de claques, inevitavelmente é de atos de violência", refletiu.
Nesse campo, considerou importante que os clubes, "que são quem apoia os grupos e são quem pode financiar, empoderar e legitimar" as claques, e os organizadores desportivos "sejam uma primeira linha de legitimação, de orientação da atuação dos seus grupos, e comecem a preocupar-se em dar apoio às boas iniciativas", para que estas "cresçam em detrimento de outras", menos boas e nas quais os clubes não se devem rever.
Com a pandemia covid-19, a presença de público nos estádios de futebol foi proibida praticamente à escala mundial, estando esse impedimento a ser levantado gradualmente em alguns países, embora ainda não tenha sido dada 'luz verde' em Portugal.
O primeiro teste com público em Portugal ocorreu no sábado, com a disputa do encontro entre o Santa Clara e o Gil Vicente, na Ilha de São Miguel, nos Açores, em partida da terceira jornada da I Liga.
O regresso dos adeptos no território continental está marcado para quarta-feira, no primeiro teste, a ocorrer no jogo particular da seleção portuguesa frente à Espanha, no Estádio José Alvalade, em Lisboa, onde vai ser permitida a presença de 5% da lotação do recinto, aproximadamente 2.500 espetadores.
Para dia 14, novo teste vai ocorrer, também no recinto 'verde e branco', com o aumento para 10% da capacidade, cerca de 5.000 pessoas, no embate da equipa das 'quinas' frente à Suécia, para a Liga das Nações.
Lusa