Lusa
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Quase metade dos hotéis preveem encerrar até ao final do ano e os grupos com várias unidades admitem fechar 56% dos seus estabelecimentos, revelou hoje a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).
De acordo com o inquérito 'flash' "Encerramentos na Hotelaria 2020/2021", cujos resultados foram hoje apresentados, em conferência de imprensa 'online', pela presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, 45% dos inquiridos preveem encerrar até ao final do ano.
Adicionalmente, os grupos hoteleiros com várias unidades admitem encerrar 56% dos seus estabelecimentos também até ao final do ano.
Dos que preveem encerrar até ao final do ano, a região do Algarve destaca-se, com 65% dos estabelecimentos a admitirem fechar até final de dezembro, sendo que desses 70% já se encontravam encerrados em novembro.
Segue-se a Região Autónoma da Madeira, com 57% dos inquiridos a prever encerrar até ao final do ano, sendo que todos esses já se encontravam fechados em novembro.
Em Lisboa, 46% respondeu que estão encerrados até ao final do ano, sendo que 93% não abriram no mês de novembro.
Quanto ao período de encerramento, o valor médio é de 4,1 meses, de novembro em diante.
Assim, 46,4% estimou abrir em março de 2021, 23,7% disse ainda não ter uma previsão de abertura e 16,9% apontou a reabertura para o segundo trimestre do próximo ano.
Dos que referiram que vão encerrar, apenas um inquirido disse que não vai voltar a abrir portas, mas a AHP sublinhou que não trabalha com empresários em nome individual.
Quanto aos estabelecimentos que se mantêm abertos, estima-se uma redução de 72% da oferta de unidades de alojamento, ou seja, não estarão a funcionar em plena capacidade.
Quando questionados sobre se ponderam adotar uma utilização intermitente do seu estabelecimento (abrir, por exemplo, aos fins de semana ou para eventos), 40% respondeu estar disposto a abrir pontualmente.
No Alentejo, 70% disse que só abre ao fim de semana, tendo a AHP recebido queixas dos empresários daquela região relativamente às restrições impostas pelo Governo nos dois últimos fins de semana prolongados.
Quanto aos apoios do Governo, 65% recorreu ao apoio extraordinário à retoma, designadamente no que diz respeito à redução do período normal de trabalho.
Daqueles, mais de 80% dos inquiridos recorreram a redução do período normal de trabalho, entre 41% e 100% de redução.
"Como a performance do Alentejo foi bastante interessante no verão, por comparação com outras, 65% nas unidades não recorreram a redução do período de trabalho", explicou Cristina Siza Vieira.
A presidente executiva da AHP deixou, ainda, um desafio ao Turismo de Portugal, defendendo que o reforço da imagem de Portugal junto dos principais mercados emissores turísticos, como o Reino Unido e Alemanha, esteja alinhado com os planos de vacinação desses mercados, ou seja, a que faixas etárias se dará prioridade para vacinação naqueles países.
Relativamente às estimativas de perdas na hotelaria para o ano de 2020, a AHP mantém as previsões que já tinha apresentado: perda de 80% de dormidas, o que significa 46,4 milhões de dormidas perdidas, e uma queda de 80% nas receitas, um total de 3,6 mil milhões de receitas perdidas na hotelaria.
"As nossas estimativas são, neste momento, o pior cenário, 80% a nível nacional, considerando também as ilhas", reiterou Cristina Siza Vieira.
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Cristina Gatões Batista, diretora Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, cessou funções a seu pedido e "com efeitos imediatos".
A diretora nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Cristina Batista, demitiu-se. O anúncio foi feito pelo Ministério da Administração Interna, através de comunicado às redações.
A demissão ocorre depois de terem sido instaurados oito processos disciplinares a elementos do SEF, na sequência da morte do ucraniano Ihor Homenyuk no aeroporto de Lisboa, em circunstâncias que, após investigação, já conduziram à acusação de três inspetores, por “tortura evidente”, e à demissão do diretor e do subdiretor de Fronteiras do aeroporto.
A 30 de setembro, o Ministério Público acusou três inspetores do SEF do homicídio qualificado de Ihor Homenyuk.
A 16 de novembro, a diretora nacional do SEF admitiu que a morte do cidadão ucraniano resultou de “uma situação de tortura evidente”.
Quando questionada pela RTP sobre se tinha posto o lugar à disposição do ministro da Administração Interna, que tutela o SEF, ou se tinha pensado demitir-se, Cristina Gatões disse que “não”.
Após a morte de Ihor Homenyuk, o ministro da Administração Interna determinou a instauração de processos disciplinares ao diretor e subdiretor de Fronteiras de Lisboa, ao Coordenador do EECIT do aeroporto e aos três inspetores do SEF, entretanto acusados pelo Ministério Público, bem como a abertura de um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI).
Na sequência deste inquérito, a IGAI instaurou oito processos disciplinares a elementos do SEF e implicou 12 inspetores deste serviço de segurança na morte do ucraniano.
No mesmo comunicado, o Governo informa que irá estabelecer "uma separação orgânica muito clara entre as funções policiais e as funções administrativas de autorização e documentação de imigrantes".
Assim, está previsto um trabalho conjunto entre as "Forças e Serviços de Segurança para redefinir o exercício das funções policiais relativas à gestão de fronteiras e ao combate às redes de tráfico humano".
O Ministério da Administração informou ainda que irá reforçar a sua "intervenção estratégica nos domínios do asilo e da gestão das migrações", como está previsto no Programa do Governo, onde se reconhece a importância de “reconfigurar a forma como os serviços públicos lidam com o fenómeno da imigração, adotando uma abordagem mais humanista e menos burocrática”.
Esta redefinição de competências deverá estar concretizada durante o primeiro semestre de 2021, prevendo-se o agendamento de reuniões com as estruturas sindicais representativas dos funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
O processo de reestruturação do SEF será coordenado pelos diretores nacionais adjuntos José Luís do Rosário Barão, que assumirá a função de diretor em regime de suplência, e Fernando Parreiral da Silva.
Segundo informa, é neste contexto do novo quadro institucional que a Diretora Nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Cristina Isabel Gatões Batista, cessa funções a seu pedido e com efeitos imediatos.
Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Cristina Gatões é inspetora coordenadora superior da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF.
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O escritor moçambicano Mia Couto venceu o Prémio Jan Michalski de literatura, pela edição francesa da trilogia "As Areias do Imperador", publicada este ano em França, com tradução de Elisabeth Monteiro Rodrigues, anunciou hoje a fundação suíça.
O júri do prémio reconheceu “a excecional qualidade da escrita” de Mia Couto, que conjuga, “subtilmente, oralidade e narração literária e epistolar, contos, fábulas, sonhos e crenças, no seio da realidade histórica de Moçambique, no final do século XIX, na luta contra a colonização portuguesa”.
“Sem nenhum maniqueísmo, o autor prima pela empatia com os protagonistas, que se confrontam com a desumanidade da guerra, atribuíndo-lhes uma força épica, em concordância com a rica natureza africana”, concluiu o júri, presidido por Vera Michalski e composto pelo ensaísta francês Benoît Duteurtre, as escritoras Alicia Gime´nez Bartlett, de Espanha, e Siri Hustvedt, dos Estados Unidos, o novelista ucraniano Andrei Kourkov, o poeta polaco Tomasz Rozycki, além dos autores Carsten Jesten, do Canadá, e o ‘rapper’ francês Jul.
A trilogia “As Areias do Imperador”, composta pelos romances “Mulheres de Cinza”, “A Espada e a Azagaia” e “O Bebedor de Horizontes”, centra-se nos derradeiros dias do chamado Estado de Gaza, o segundo maior império de África, no final do século XIX, dirigido por um africano.
Ngungunyane (Gungunhana) foi o derradeiro de uma série de imperadores notáveis, que detinham o poder sobre quase metade do território de Moçambique.
Derrotado em 1895 pelas forças portuguesas, comandadas por Mouzinho de Albuquerque, Ngungunyane foi deportado para os Açores onde veio a morrer em 1906. Em 1985, os seus restos mortais foram trasladados para Moçambique.
Na trilogia, Mia Couto retoma os factos conhecidos e personagens reais, que combina com ficção, centrando-se na jovem moçambicana Imani Nsambe, educada por missionários, que serve de intérprete às diferentes fações em confronto, ligada por um amor impossível ao militar português Germano de Melo.
A obra tem por suporte a investigação do autor sobre extensa documentação existente em Moçambique e Portugal, assim como testemunhos recolhidos em Maputo e Inhambane.
O título, “As Areias do Imperador”, remete para a lenda, segundo a qual, em vez das ossadas de Ngungunyane, foram torrões de terra, areias, que regressaram ao seu país.
A trilogia, publicada pela francesa Me´tailie´, com o título “Les sables de l’empereur”, foi editada em Portugal pela Caminho, entre 2015 e 2017.
O prémio Jan Michalski de Literatura combina o valor de 50 mil francos suíços (45.687 euros) com “uma obra de arte escolhida e encomendada em homenagem” ao laureado.
Criado pela Fundação Jan Michalski, para distinguir obras da literatura mundial, publicadas em francês, o prémio é atribuído a Mia Couto, cerca de um mês após a publicação do seu novo romance, “O Mapeador de Ausências”, que começou por ser uma homenagem à cidade da Beira, mas acabou por se tornar uma viagem ao passado do autor e às “ausências” que o marcaram para sempre, como disse á agência Lusa.
“O Mapeador de Ausências” tem como narrador Diogo Santiago, um prestigiado e respeitado intelectual moçambicano, que se desloca à sua cidade natal, Beira, nas vésperas do ciclone Idai que a arrasou em 2019.
Traduzido em mais de 30 línguas, vencedor do Prémio Camões em 2013, Mia Couto foi igualmente distinguido com o Prémio Vergílio Ferreira, em 1999, com o Prémio União Latina de Literaturas Românicas, em 2007, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2011, pelo conjunto da carreira.
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A partir da fotografia, crianças e jovens de Coimbra com pais presos ganharam voz para mostrar como o sistema não está adaptado aos seus problemas. Uma exposição é um primeiro passo de um projeto que quer mudança.
Uma porta arrombada pela rusga, as janelas da escola com grades que lembram a prisão, o telefone à espera da chamada do pai, o copo vazio na mesa à refeição, as prendas do Dia do Pai que ficaram por dar, o saco de roupa para levar com o número do recluso, a fotografia do pai com que chorava todas as noites.
Estas são algumas das fotografias presentes na exposição "Reclus@ 008", que vai estar patente até dia 19 no Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), em Coimbra, e que é inaugurada na quinta-feira, no mesmo dia em que é promovido um webinar sobre o tema.
A exposição é apenas a parte mais visível do Núcleo de Intervenção Infanto-Juvenil (NIIJ), criado pelo Projeto Trampolim (financiado pelo Programa Escolhas) para dar eco aos problemas das crianças com pais presos, na sua zona de influência - Planalto do Ingote e Centro de Estágio Habitacional do Bolão, na periferia de Coimbra.
São oito crianças e jovens que tiveram ou têm o pai ou a mãe presos e que, a partir de imagens tiradas com máquinas fotográficas descartáveis, retratam a ausência, a saudade, mas também um sistema pouco adaptado aos seus direitos.
A acompanhar as fotografias estão também testemunhos das oito crianças e jovens que participaram no projeto.
"Quando tinha nove anos um guarda quis algemar-me, mas o meu pai não deixou e a seguir os polícias bateram nele", "O trajeto de casa à prisão é distante e dispendioso", "A última rusga que presenciei foi muito violenta" e "Era bom que não destruíssem as nossas coisas" são alguns dos testemunhos.
"As crianças precisam dos pais, mas os pais também precisam das crianças", conta a jovem estudante no ensino superior que viu o pai ser preso quando tinha 17 anos.
Não vê o pai, que está em Espanha, há um ano. Ao fim de semana, aguarda ansiosamente pela chamada que não durará mais de cinco minutos, tempo curto para dizer tudo o que se tem passado.
Na cabeça, imagina a conversa e estrutura tudo o que tem para lhe dizer, mas quando chega a hora do telefonema os minutos são poucos.
"Parece sempre pouco tempo. Há tanta coisa que queremos dizer e depois acaba por não sair nada. Às vezes, fazemos as conversas na nossa cabeça e quando vamos ligar é 'Olá. Como estás? Adeus e até amanhã'", conta à agência Lusa a jovem que participou no projeto.
Ao início, quando o pai foi preso, nem chamadas recebia. Falavam por carta, que não tinha telefone em casa.
Em 2018, viu o pai ser preso em janeiro e a mãe morrer, por paragem cardiorrespiratória, em julho.
Em agosto, fez 18 anos, sem pai nem mãe em casa. "Foi crescer às três pancadas, sem opção", recorda.
"Era tanta coisa a passar-se na minha vida e nem podia ouvir a voz do meu pai. Eu precisava de ouvir o meu pai. Com 18 anos, temos perguntas sobre o que fazer e não tinha resposta imediata. Tinha que imaginar que ele estava ao meu lado a dizer: 'Vai correr tudo bem'", conta.
Conhecendo o sistema prisional português e o espanhol, Maria sublinha que em Espanha, das duas vezes que viu o pai, pôde estar numa sala só com ele, enquanto em Portugal "é tudo ao molho e fé em Deus - uma hora com toda a gente numa sala".
Também 'Joana' (nome fictício), que teve o padrasto e o irmão presos, queixa-se do pouco tempo e da falta de privacidade nas prisões portuguesas.
"O espaço não nos deixa ter outro tipo de conversas. Eu não contava ao meu irmão o que se estava a passar cá fora, até pelo barulho que não nos deixa ter uma conversa e depois o tempo é muito curto", salientou.
O projeto do Trampolim levou as duas jovens a falarem sobre o assunto, a refletirem sobre a sua experiência, mas também a ouvirem outros com "histórias parecidas".
"É bom sabermos que não somos só nós a passar por isto", realça Joana.
O núcleo foi criado em 2019 depois de o Trampolim ter identificado este problema após uma série de rusgas realizadas no Planalto do Ingote, uns anos antes.
Ao abrigo do projeto, foram sinalizadas 49 crianças e jovens com pais que estiveram ou ainda estão presos entre 2018 e o presente ano, no Planalto do Ingote e no Centro de Estágio Habitacional do Bolão.
A coordenadora do Trampolim, Carla Mendes, viu-se confrontada com uma realidade pouco estudada e pouco conhecida, não se sabendo sequer quantas crianças no país têm pai ou mãe presos.
"O trabalho existe, mas é de forma dispersa. Aqui, se há uma rusga e se o pai vai preso, a professora fica alerta, mas há relatos de professores que dizem que a criança chegou, levantou a mesa e partiu tudo e depois vemos que teve uma rusga às 06:00 e os dois pais estavam presos e ele foi para a escola na mesma e a escola não sabia", frisou.
Nesse sentido, para além do trabalho com as crianças, o núcleo realizou um 'focus group' com profissionais de diferentes áreas para abordar a temática, desde juízes, polícias ou guardas prisionais, tendo criado um relatório com propostas para um sistema mais humano.
"As crianças sentem muito a falta de tempo na visita e até o tipo de espaço na visita", notou Carla Mendes, salientando ainda a importância de o sistema poder ser mais flexível nos dias ou horas de visita.
"Um dos miúdos do projeto, com 12 anos, tem mãe e pai presos. Ele tinha que escolher - o dia de visita era o mesmo - se ia visitar a mãe ou o pai. Como o pai estava mais perto, face a questões financeiras, ele ia ver mais o pai. Esteve dois ou três meses sem ver a mãe", apontou.
Para a coordenadora do Trampolim, não é "justificável" pôr crianças naquela posição, considerando que uma adaptação do sistema que permita um maior contacto entre filhos e pais pode também ter um papel importante para "quebrar o ciclo intergeracional" de reclusão, em que há casos de "avô, pai e filho presos".
"Já me aconteceu estar com ex-reclusos que dizem que não querem que o filho vá lá para dentro. Se tivessem mais tempo para partilhar isso com o filho seria importante, mas não há. Quando chegam [à prisão para a visita] é: 'Estás bonito, estás bem, tens comido?' e acabou", frisou.
O núcleo pretende agora dar um outro passo para mudar efetivamente o sistema, tendo-se candidato ao programa Cidadãos Ativos para avançar com um projeto-piloto em Coimbra em torno da temática.
"Queremos aplicar uma metodologia de intervenção para ao fim de 30 meses ver o que funciona", explicou, salientando que, apesar de o sistema não estar adaptado, há sinais de abertura, como o facto de a própria Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais estar envolvida no projeto como parceira.
"O nosso objetivo é a mudança. Ainda falta, mas estamos no bom caminho", realçou.
Fonte e Imagem: Lusa
Quase 90% dos professores gostaria de se aposentar mais cedo e diz que está a trabalhar mais horas do que as legalmente estabelecidas, segundo um inquérito divulgado na semana em que os docentes realizam uma greve nacional.
Estas são algumas das conclusões do inquérito 'online' realizado pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) ao qual responderam 5.218 educadores e professores do ensino obrigatório de todo o país.
Estes docentes também se pronunciaram sobre o protesto agendado para sexta-feira e a sua posição é clara: 88,3% defendem que é preciso continuar a lutar, segundo os resultados da "Consulta aos professores e educadores em tempo de Covid-19" hoje divulgados.
À pergunta sobre o que fariam se houvesse um regime de pré-reforma, apenas 10,9% diz que não pensa nisso e que só deixará de exercer quando reunir os requisitos legais em vigor.
Todos os outros acreditam que aproveitavam o regime de pré-reforma para abandonar mais cedo a profissão: 54% diz que sai "se as condições permitirem uma aposentação sem qualquer corte" e 35,1% admite que aproveitava "se as condições não forem muito penalizadoras".
Os professores constituem uma classe envelhecida, já que a maioria dos docentes das escolas portuguesas tem mais de 50 anos, sendo pouco mais de 1% os que têm menos de 35 anos.
Por isso, quase todos (98,2%) consideram que é urgente criar um regime específico que permita a aposentação mais cedo. Apenas 1,4% entende que o tempo de serviço e a idade são os adequados e 0,4% garante que não se importa "se tiver de ficar ainda mais alguns anos ao serviço do que os atualmente fixados".
Outro dos problemas identificados no inquérito está relacionado com os horários de trabalho, que os professores dizem estar "desajustados".
Também no que toca à carreira docente, há quase unanimidade (96,9%) em considerar que existem problemas por resolver, tais como o tempo de serviço que esteve congelado e não conseguiram recuperar ou as vagas.
A carreira docente é composta por 10 escalões, sendo que existem vagas para aceder ao 5.º e 7.º escalões. Para a grande maioria dos professores (87,1%), o regime de vagas deveria ser eliminado.
Os concursos de professores foram outro dos temas abordados, com os inquiridos a defender que se deve manter o modelo atual: concursos de caráter nacional em que a seleção é feita pela graduação profissional dos candidatos.
Os docentes são contra a ideia de serem os diretores a selecionar os professores (apenas 2,6% concorda com este modelo).
Outra das medidas contestadas é a transferência de competências para os municípios, por temerem que abra "a porta à ingerência na vida das escolas, à privatização e provocará ainda maiores assimetrias".
A Fenprof lembra, em comunicado, que estas são apenas algumas das reivindicações que levam os docentes a fazer uma greve nacional em 11 de dezembro.
"Face ao bloqueio negocial imposto pelo Ministério da Educação, torna-se necessário que a luta prossiga sem adiamentos. Essa é a opinião de 88,3% dos milhares de docentes que participaram na consulta", revela a Fenprof.
O inquérito feito aos docentes no mês passado mostrou ainda que os professores estão preocupados com a insuficiente segurança sanitária que sentem existir nas escolas, "principalmente pelo facto de continuarem a não ser feitos testes" ou por não ser garantido em todas as escolas o distanciamento físico de dois metros entre as pessoas.
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"No meio de uma pandemia global, todas as pessoas de todos os locais tentaram perceber o que se estava a passar à sua volta - e é por isso que não é surpresa que o coronavírus tenha sido a pesquisa mais popular em todo o mundo este ano e, obviamente, Portugal não foi exceção", refere a Google.
Em termos gerais, os temas "coronavírus Portugal", "escola virtual", "coronavírus", "eleições nos Estados Unidos", "Pedro Lima", "Segurança Social Direta", "classroom", "DGS", "Zoom" e "Liga NOS" foram os temas mais pesquisados este ano.
Entre as pesquisas sobre como fazer coisas, destacam-se "como fazer pão", "como fazer máscaras", "como funciona 'lay-off'" ou "como colocar máscara".
Palavras novas também foram pesquisadas no Google, como "o que é 'lay-off'", "o que é mitigação" ou "o que é calamidade pública", entre outros.
Entre os protagonistas internacionais estiveram "Cavani", "Donald Trump", "Joe Biden" ou "Isabel dos Santos", enquanto a nível nacional destacou-se "Pedro Lima", o ator português que morreu em junho.
O futebolista argentino Diego Maradonna também consta na lista de pesquisas.
"O ano de 2020 foi recheado de surpresas e dilemas nas quatro linhas: transferências milionárias, vitórias e derrotas moldaram a pesquisa dos portugueses", refere a Google, adiantando que "o enorme sucesso de 'Bruno Fernandes' no Manchester United, tornou-o o líder da tabela dos nomes nacionais mais populares em Portugal na pesquisa Google.
Já "Cavani" e a "sua possível transferência para o Benfica foi outro dos interesses dos portugueses e que fez com que o jogador fosse o nome internacional mais popular nas pesquisas no Google", adianta.
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Órfãos (1885), pintura de Thomas Benjamin Kennington (1856-1916)
Fiquei órfão de pai aos cinco anos. Esconderam-me a perda, era natural não me quisessem ciente, evitavam sofrimentos de um toquinho de gente despreparado para o choque. Estava viajando, voltaria logo, diziam. Menino acredita em tudo. Um primo, seis meses mais novo, revelou-me a verdade no meio da rua. Ele nunca se deu conta que dele veio a revelação atroz. Até hoje tenho nítida a cena, navalha na carne, das dilacerações mais traumáticas da vida. Contudo vou tratar hoje de outra orfandade, também dilacerante e trágica, não a de um menino desconhecido do interior mineiro, que afeta multidões mundo afora.
Fernando Haddad, calculista como todo político de muita estrada, vem se posicionando como intelectual com tintas de moderação, procura atrair a atenção no palco por desvestir em ocasiões escolhidas a capa do PT e enfiar no lugar a toga do professor; sob aspectos de um Fernando Henrique uns 30 anos mais moço. O prócer petista falou sobre as últimas eleições e, no meio de enxurrada de reflexões carregadas de segundas intenções, veio o que ninguém ou quase ninguém quis dizer: “Houve um deslocamento do eleitorado para direita e para a extrema direita”. Haddad também em tais declarações tinha segundas intenções, mas não julgo o momento de destacá-las. Em política, nada é ocioso.
Ele caminhou na contramão das opiniões em geral divulgadas: “Houve um deslocamento do eleitorado para a direita e para a extrema direita”. É natural, nada poderia irritar mais um político de esquerda. E por isso procura macular tal migração. Não embarco aí, meu foco é outro. Concordo com Fernando Haddad em um ponto. Apesar de todas as decepções, apesar de todas as contrafações, apesar de todas e piores surpresas, o sentimento conservador resiste. Permanece um substrato na opinião pública que recusa a desordem, antipatiza com a desonestidade, anseia por rumo estável de decência e crescimento. É a parte que mais presta, a parte mais saudável, a sanior pars; e boa parte dela hoje está órfã. Não tem em quem confiar, nem vê perspectivas no horizonte. Provavelmente continuará órfã, é longo e difícil trabalho resgatá-la da orfandade; ou, pior, temo muito, a experiência anterior me deixa escaldado, embarque em algum momento em alguma nova aventura destrutiva, engolindo utopias, que intoxicarão esperanças sadias.
Os órfãos (órfãos políticos, fique claro) do Brasil, assim como os órfãos da Argentina, os órfãos dos Estados Unidos, os órfãos mundo afora, em geral sentem faltam de ideal sistematizado e alcançável; e em decorrência de tal ausência, de um programa e de um caminho. Em duas palavras, não está claro o ponto de chegada; digo logo, deveria ser a ordem temporal cristã. E não enxergam quem a ele deverá conduzir.
E então, muitas vezes no passado, na correria irrefletida e atabalhoada em busca da solução (espécie de pai mítico), agarraram-se a uma pessoa ou movimento que lhes parecia ter pelo menos um ponto favorável em relação a todo o resto: com ele podia dar certo, podiam conseguir pelo menos parte do que almejavam. A aparente eficácia encobria em geral defeitos que depois se revelariam, acabariam destruindo o personagem fictício, tornariam inviável a obtenção das soluções esperadas e lançariam descrédito, desânimo e dúvidas sobre o movimento.
Terrível e repetido desfecho, filme que se assiste desde pelo menos o começo do século XIX. De passagem deixa ver a profundidadedo enraizamento conservador. Desde o século XIX? Sim, desde o começo. Pelo menos. Exemplo? Com Napoleão já foi assim, talvez tenha sido o maior exemplo. O vivido chefe militar aproveitou-se do horror que a Revolução Francesa tinha provocado, o povo estava exausto de sangue e anarquia. Puxou para si as simpatias de grande parte dos que queriam reagir. O Corso era forte e próximo, Luís XVIII era distante e fraco; o Corso não mostrava escrúpulos, prendia e arrebentava, Luís XVIII ainda tinha hábitos da corte do Ancien Régime; o Corso sabia mandar, Luís XVIII parecia indeciso. A comparação deprimente continuava sem fim. Em resumo, no jovem e enérgico general se farejavam vitórias, Luís XVIII, liderança mofada, cheirava a naftalina. O bonapartismo triunfante impôs sua concepção de ordem, estatizante e autoritária rescendendo a solução genial. Por alguns anos fez delirar parte da França, despertou admiradores no exterior, formou imitadores. Depois vieram as decepções, a derrota, a humilhação da França invadida, a juventude sacrificada nas batalhas, as famílias destroçadas. Luís XVIII assumiu, ainda arrumou um pouco a casa. A transposição com adaptações para outros personagens ao longo da história não será difícil.
Realço um dos motivos dessa anomalia mortal. Talvez seja o verso mais famoso do “Cantar de Mio Cid”: “Dios, qué buen vassalo, si oviesse buen señor”. O vassalo ansiava por bom senhor, via nele ocasião de ótimos serviços e aperfeiçoamentos. Empurro de lado as disputas eruditas a respeito e jogo para o primeiro plano a importância central do bom senhor naquela canção de gesta. O anelo, o sonho, o sebastianismo avant la lettre, aqui e em tantos outros lugares, evidenciam um lado louvável, a disposição da adesão fácil e entusiasmada a uma liderança que leva a bom porto. De outro lado, no reverso da medalha, muitas vezes tal postura esconde deficiências, entre os quais desponta a preguiça demolidora de desconfiar das soluções fáceis e de olhar de frente, riscados nas testas de supostos salvadores, os sintomas preocupantes, na verdade claros sinais precursores de desastres futuros. É penoso sondar autenticidade e rumo certo em chefes aclamados que irradiam atmosfera de vitória.
Um rumo certo, um sintoma de autenticidade. Lembrei acima, um teste do tornassol para reação conservadora salutar: a defesa da ordem temporal cristã, fundada na família, no princípio de subsidiariedade, (entre outras instituições e princípios); enfim, buscar a continuidade e aperfeiçoamento do que a Civilização Cristã produziu no Ocidente. Na presente quadra histórica, não vejo outro bom começo. Sem o trânsito por este vestíbulo, repetiremos fracassos do passado, passando da ilusão para a orfandade, da orfandade para a ilusão; serão descaminhos e derrotas. Pensemos todos nisso neste fim de ano. Feliz e Santo Natal, bom ano novo para todos.
ABIM
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Reserve na sua agenda o dia 17 de Dezembro | 15h às 17h30
A AIDA CCI vai realizar o webinar “A tecnologia e inovação na indústria”, cujo propósito é sensibilizar para a importância dos apoios europeus na aposta na inovação, na tecnologia e na digitalização na indústria. Serão igualmente apresentados os resultados do projecto PME Qualify no qual esta acção se integra. O webinar tem como oradores Nuno Mangas, Presidente do COMPETE2020, Helena Silva, Chief Technology Officer do CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento e Rui Gidro partner da Deloitte Portugal sendo moderado por João Luís de Sousa, director do semanário Vida Económica.
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A participação é gratuita com registo obrigatório neste link Inscreva-se até 15 de Dezembro 2020 O webinar terá um momento preparatório no qual permitirá que os participantes enviem previamente 2 questões práticas, relacionadas com o tema, que serão analisadas e respondidas no dia do evento. |
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Contactos: T. 234 302 497 – Informações | Celeste Claro | c.claro@aida.pt T. 234 302 494 – Informações sobre Inscrições | Isabel Caçoilo | i.cacoilo@aida.pt |