Debater os
grandes e complexos desafios da era do Antropoceno, a era em que
vivemos, é o objetivo de um projeto curatorial lançado por Gonçalo
Santos e Ana Luísa Santos, investigadores do Centro de Investigação
em Antropologia e Saúde (CIAS), da
Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em
parceria com a Fundação de Serralves e com a rede de pesquisa
Sci-Tech
Asia,
o Centre
for Functional Ecology—Science for People and the Planet
e o Departamento de Ciências da Vida da FCTUC.
A primeira
iniciativa no âmbito deste projeto materializa-se num ciclo de seis
conferências e debates, designado “Pluralizando o Antropoceno:
Reimaginando o Futuro do Planeta no Século XXI”. Entre 15 de
fevereiro e 10 de maio, reputados especialistas vão partilhar
reflexões importantes sobre «esta
nossa condição plural de viver num mundo cheio de incertezas. Este
ciclo contará com a presença de influentes pensadores das
humanidades e ciências contemporâneas comprometidos com uma visão
mais plural do Antropoceno e das grandes questões de resiliência,
adaptação, e luta pela justiça ambiental»,
afirma Gonçalo Santos.
O ciclo arranca,
no dia 15 de fevereiro, entre as 18h00m e as 19h30m, com a palestra
de Tim Ingold, um dos mais conceituados antropólogos contemporâneos,
que vai abordar o que ele chama “sustentabilidade de tudo.” Para
a sustentabilidade da nossa economia se tornar uma realidade, nós
teremos de pensar numa sustentabilidade que não seja sustentável
apenas para algumas espécies ou algumas populações humanas. Nós
teremos de começar a pensar na sustentabilidade do planeta.
Contextualizando
o projeto curatorial agora lançado sobre o Antropoceno, Gonçalo
Santos observa que «o
mundo em que vivemos é muito diferente daquele em que os nossos avós
e bisavós cresceram: mais quente, mais seco, mais poluído, mais
incerto. O sistema de produção linear da sociedade de consumo
trouxe muitos benefícios para um número significativo de pessoas e
populações em todo o mundo mas também levou a uma devastação
ambiental sem precedentes e gerou uma conjuntura de alterações
climáticas com efeitos preocupantes».
«Olhando
apenas para factos básicos em Portugal, como a redução da
precipitação geral e o aumento acelerado da temperatura desde a
segunda guerra mundial, as previsões mais conservadoras não são
nada otimistas, apontando para um aumento significativo no número de
incêndios e de secas nas próximas décadas. A presente década —
a terceira do século XXI — será decisiva para começarmos a
planear um pouco melhor o nosso futuro (e o futuro do nosso planeta)
antes que seja tarde demais e tenhamos caído num ambiente de caos e
confusão ainda mais perturbador do que aquele que estamos a viver no
âmbito da atual pandemia de COVID-19»,
destaca o investigador da FCTUC.
O responsável
pelo projeto curatorial sublinha ainda que «mesmo
as pessoas que estão a negar este problema não podem ignorar os
debates em curso sobre a destruição do ambiente, as alterações
climáticas e o futuro da vida humana no planeta. Estes são os
grandes desafios da era em que vivemos: a era do Antropoceno, ou a
idade dos humanos. O Antropoceno não é apenas uma idade de
crescentes incertezas ambientais resultantes do impacto destrutivo
cumulativo das atividades humanas; é também uma idade de
importantes desafios e escolhas civilizacionais no sentido de
ultrapassar esta situação de crise e desastre iminentes e criar
novas visões de esperança e de justiça».
O especialista em
antropologia social-cultural lembra que «existem
muitos lugares diferentes e muitas populações diferentes dentro do
planeta. Os desafios que os portugueses ou os chineses estão a
experienciar na idade do Antropoceno são diferentes dos desafios
enfrentados pelos povos da Amazónia. O uso do termo Antropoceno para
denominar esta nova era de incertezas antropogénicas crescentes
abriu todo um novo campo de conversas multidisciplinares sobre as
relações dos seres humanos com o ambiente no século XXI, mas
também gerou um entendimento monolítico do Antropoceno como uma
experiência humana unificada».
Por isso, conclui
Gonçalo Santos, «é
preciso pensar nestas diferenças para prevenir uma intensificação
das desigualdades já existentes, da mesma forma que é preciso
pensar naquilo que nos junta no planeta como uma comunidade global de
populações humanas com um destino comum».
O programa
integral sobre o ciclo “Pluralizando o Antropoceno: Reimaginando o
Futuro do Planeta no Século XXI” está disponível em:
https://www.serralves.pt/ciclo-serralves/2102-pluralizing-the-anthropocene/.
Cristina
Pinto