“Carlos
de Oliveira,
Uma
Escrita Tatuada”
é
o tema do colóquio que vai estar em
debate no auditório da Biblioteca Municipal, em 20 de novembro.
Organizado pelo Município de Cantanhede e integrada
na
vasta programação que a Câmara Municipal preparou para assinalar o
Centenário
do nascimento de Carlos de Oliveira,
a sessão contará com a presença de académicos de reconhecido
mérito na abordagem à vida e obra do escritor gandarês,
designadamente Rosa Maria Martelo, Sérgio Dias Branco, Ida Alves,
Rita Patrício, Osvaldo Manuel Silvestre e António Pedro Pita.
As
inscrições encontram-se abertas e deverão ser formalizadas na
antiga escola Conde Ferreira, através do telefone 231 429
813/962 048 217 ou do email dc@cm-cantanhede.pt.
Rosa
Maria Martelo irá abrir a sessão com a abordagem ao tema “Visões
do Crepúsculo”, enquanto tópico de grande relevância na escrita
de Carlos de Oliveira, merecendo, por parte do escritor,
desenvolvimentos temáticos surpreendentes e de grande criatividade.
Tomando como ponto de partida as visões do crepúsculo presentes em
Entre
Duas Memórias
(1971) e Pastoral
(1976), a docente aposentada da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto irá analisar alguns dos sentidos e amplitudes formais de
que podem revestir-se as meditações crepusculares em Carlos de
Oliveira.
O
programa prossegue com Sérgio Dias Branco, Professor Auxiliar de
Estudos Fílmicos na Universidade de Coimbra, com uma alusão à
temática “Urdidura e lavores: refazer Uma Abelha na Chuva”, com
particular incidência no projeto de adaptação cinematográfica do
romance de Carlos de Oliveira, Uma
Abelha na Chuva (1953), iniciado
na década de 1960, mas o filme só estreou em 1972. As qualidades
lacónicas do filme, feito de composições desabitadas, densas
texturas visuais e sonoras, gestos que pesam, palavras que
estremecem, contribuem para refazer a narrativa e o tom de Uma
Abelha na Chuva noutra forma
artística, já não como literatura mas como cinema.
A
abordagem de Ida Alves, Professora Titular de Literatura Portuguesa
do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense-UFF,
Niterói, no Brasil, irá incidir sobre “De tatuagens e texturas,
modos de ler (em) Carlos de Oliveira”, em que a comunicação se
foca na atenção que o escritor dá ao ato de ler e seus efeitos na
escrita. Em diversos momentos de sua obra poética isso é fortemente
encenado e muito já se falou sobre suas práticas intertextuais,
tendo como ponto de partida a obra O
Aprendiz de Feiticeiro.
Sob
o tema “No centro do assombro: Dante em Carlos de Oliveira”, a
docente Associada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e
membro do seu Centro de Estudos Comparatistas, Rita Patrício, irá
apresentar um ensaio que privilegiará a leitura de Descida
aos Infernos, procurando
discutir os gestos que desenham uma poética própria a partir da
convocação do texto dantesco e relacionar estes traços com a
restante poesia de Carlos de Oliveira.
Por
outro lado, Osvaldo Manuel
Silvestre,
professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
apresentará uma preleção sob o tema “Tatuar,
gravar, inscrever o mundo”. O mundo, o mesmo é dizer, a Gândara,
ter-se-á inscrito em Carlos de Oliveira com o cunho indelével de
uma tatuagem, nas suas próprias palavras. Nesta comunicação será
indagado o sentido da metáfora da tatuagem em Oliveira e dos seus
desdobramentos figurais: a gravação, a inscrição, assim como toda
uma oscilação entre estruturas de superfície e estruturas de
profundidade, bem como sobre a relação especular entre umas e
outras. Um ponto central será a interrogação sobre o diferente
regime de inscrição no corpo ou na memória.
A
intervenção de António Pedro Pita, professor catedrático da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e investigador do
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX – CEIS20
incidirá sobre “O Aprendiz de Feiticeiro: ensaio de releitura”,
relacionado com a obra que Carlos de Oliveira publicou em 1971, livro
esse que retoma, profundamente reelaborados, artigos que publicara
dispersamente ao longo de cerca de trinta anos. No entanto, a obra
não tem a configuração de uma “recolha” de artigos, mesmo
remodelados, como é prática frequente. É a apresentação de uma
“poética”, tal como Carlos de Oliveira a concebia, no termo de
um longo trabalho de incorporação, de sedimentação e de depuração
do que foi pensado ao longo desse período. Incorporação de
leituras, referências e ressonâncias, depuradas através da sua
própria experiência e sedimentadas na complexidade de um “ponto
de vista”, entre o “astrólogo” e o “inventor de jogos”. A
comunicação ensaia uma releitura da obra nesta linha.
A
sessão encerra com um recital
intitulado “Canções de Fernando Lopes-Graça, sobre textos de
Carlos de Oliveira”,
com a participação da soprano Carla Simões, da Mezzo-soprano
Carolina Figueiredo e do pianista Ricardo Martins, num
dia que será inteiramente dedicado a Carlos de Oliveira,
revelando-se uma oportunidade única para conhecer e mergulhar no
extraordinário contributo que nos legou, pela literatura e a
participação pela música, relevando o nosso território, a
sub-região da Gândara.
Programa:
10h00
– Abertura
10h15m
– Rosa Maria Martelo: “Visões do Crepúsculo”
10h45m
– Sérgio Dias Branco: “Urdidura e lavores: refazer Uma
Abelha na Chuva”
11h15m
– Ida Alves: “De tatuagens e texturas, modos de ler (em) Carlos
de Oliveira”
Pausa
para almoço
15h00
– Rita Patrício: “No centro do assombro: Dante em Carlos de
Oliveira”
15h30m
– Osvaldo Manuel Silvestre: “Tatuar, gravar, inscrever o mundo”
16h00m
– António Pedro Pita: “O
Aprendiz de Feiticeiro:
ensaio de releitura”
17h00m
– Recital Canções
de Fernando Lopes-Graça, sobre textos de Carlos de Oliveira
Carla
Simões – Soprano
Carolina
Figueiredo – Mezzo-soprano
Ricardo
Martins – pianista
NOTAS
BIOBIBLIOGRÁFICAS
Sobre
Rosa Maria Martelo
Professora
catedrática aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Tem privilegiado o estudo da poesia e das poéticas modernas e
contemporâneas. Enquanto investigadora do Instituto de Literatura
Comparada Margarida Losa estuda as ideações da imagem na poesia e
os diálogos intermediais da literatura com as artes visuais e
audiovisuais. Entre os mais recentes livros de ensaio publicou O
Cinema da Poesia (2.ª ed. 2017) e Os Nomes da Obra – Herberto
Helder ou o Poema Contínuo (2016). Co-organizou a antologia Poemas
com Cinema (Assírio & Alvim, 2010) e organizou a Antologia
Dialogante de Poesia Portuguesa (2020). Co-dirige a revista Elyra
(www.elyra.org).
Sobre
Sérgio Dias Branco
Professor
Auxiliar de Estudos Fílmicos na Universidade de Coimbra, onde dirige
o Mestrado em Estudos Artísticos e coordena o LIPA - Laboratório de
Investigação e Práticas Artísticas. É investigador do Centro de
Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e
colabora com o Centro de Investigação em Teologia e Estudos de
Religião da Universidade Católica Portuguesa e o Instituto de
Filosofia da Nova. Lecionou na Universidade Nova de Lisboa e na
Universidade de Kent, onde lhe foram atribuídos os graus de Mestre e
Doutor em Estudos Fílmicos. Foi Presidente da Associação de
Investigadores da Imagem em Movimento entre 2018 e 2020 e membro da
sua Direção entre 2014 e 2020. Co-edita a revista Conversations:
The Journal of Cavellian Studies. Um dos seus últimos livros é
Escrita em Movimento: Apontamentos Críticos sobre Filmes (Documenta,
2020).
Sobre
Ida Alves
Professora
titular de literatura portuguesa do Instituto de Letras da
Universidade Federal Fluminense-UFF, Niterói, Brasil. Docente
permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura -
UFF.
Colidera
os Grupos de Pesquisa Estudos de Paisagem nas Literaturas de Língua
Portuguesa – UFF/CNPq - http://www.gtestudosdepaisagem.uff.br/ e
Poesia e Contemporaneidade – UFF/CNPq. É Vice-coordenadora do Pólo
de Pesquisas Luso-Brasileiras (PPLB), sediado no Real Gabinete
Português de Leitura (www.realgabinete.com.br). É pesquisadora do
CNPq e Cientista do Nosso Estado – FAPERJ. Organizou o site
Escritor Carlos de Oliveira
(https://escritorcarlosdeoliveira.com.br/). Organizou diversas
coletâneas de estudos sobre poesia portuguesa moderna e
contemporânea e representações da paisagem nas literaturas de
língua portuguesa.
Sobre
Rita Patrício
Professora
Associada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e membro
do seu Centro de Estudos Comparatistas. Publicou Episódios. Da
teorização estética em Fernando Pessoa (2012) e Apontamentos.
Pessoa, Nemésio, Drummond (2016); e co-editou com Osvaldo M.
Silvestre as Conferências do Cinquentenário da Teoria da Literatura
de Vítor Aguiar e Silva (2020). É autora de vários ensaios, em
volumes coletivos e em revistas especializadas, decorrentes dos seus
estudos sobre literatura portuguesa moderna e contemporânea,
nomeadamente sobre Fernando Pessoa e Vitorino Nemésio.
Sobre
Osvaldo Manuel Silvestre
Professor
Associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde
dirige o Instituto de Estudos Brasileiros e o Departamento de
Línguas, Literaturas e Culturas. Publicou ensaios e livros sobre
Carlos de Oliveira e por decisão da família do escritor é o
responsável científico pelo espólio do autor no Museu do
Neorrealismo em Vila Franca de Xira, onde coordenou, em 2017, a sua
primeira exposição, com o título “Carlos de Oliveira: a parte
submersa do iceberg”.
Sobre
António Pedro Pita
Professor
catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e
investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX –
CEIS20, da mesma Universidade. Sócio fundador da Associação da
Casa da Achada-Centro Mário Dionísio e membro do respetivo Conselho
Consultivo. Pertence ao Comité Científico ou Conselhos Editoriais
de várias revistas. Professor visitante na Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro e na Universidade de Santiago de
Compostela. Diretor Científico do Museu do Neo-Realismo (2014-2017).
Delegado Regional da Cultura do Centro (2005-2007) e Diretor Regional
de Cultura do Centro (2007-2011).
Recentemente,
publicou: Aqui estamos lado a lado, como sempre. E assim
continuaremos – Joaquim Namorado e Mário Dionísio:
Correspondência. Leitura, apresentação e notas. Coimbra/Lisboa:
Lápis de Memórias/Casa da Achada, 2020.