Portugal tem de melhorar a eficiência do uso de água para se conseguir adaptar às mudanças irreversíveis provocadas pelo aquecimento global.
Um estudo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) mostra um país já em situação de stress hídrico, numa altura em que se mergulha a fundo na fase de transição energética na tentativa de alterar comportamentos e modelos de negócio para realidades mais sustentáveis, na tentativa de abrandar as mudanças que ameaçam a subsistência do planeta que conhecemos.
O aumento da temperatura média é real, já se faz sentir, por exemplo, no degelo dos polos e de glaciares, e em fenómenos climáticos como os incêndios florestais de Pedrógão Grande, em 2017, ou na série de tornados fora da época da última sexta-feira na região centro-oeste dos Estados Unidos.
"É possível utilizar algo que está na lei portuguesa e que nunca foi utilizado: afetar a taxa de recursos hídricos a um factor de escassez, que neste momento é de 1 para todo o país, mas que pode ser distinto de uma zona do país para outra", defendeu o engenheiro civil doutorado em Ambiente e professor do Instituto Superior Técnico.
Preço nas mãos da política
Rodrigo Proença de Oliveira lembra-nos que "a taxa de recursos de hídricos é tipicamente paga pelas empresas que captam a água e depois a vendem aos consumidores finais", considerando que nesse eventual aumento do valor da água "pode não haver uma transmissão direta para o valor no consumidor final".
"Qualquer decisão nesse sentido tem de ser bem pensada, tem de haver solidariedade nacional, tem de haver uma perceção da capacidade de pagar dos vários setores utilizadores de água, mas isso já é mais uma decisão política", reconheceu o investigador, sem querer entrar no campo governativo numa altura em que Portugal se prepara para eleições e o Ministério do Ambiente pode ser em fevereiro diferente do atual.
O estudo apresentado, mas que ainda carece de uma publicação final, vai surgiu em forma de uma plataforma de dados aberta e em evolução constante, mediante novos contributos, para se conseguir uma perceção cada vez mais real das reservas de água atuais e futuras no país.
Seca espanhola ajudou
O estudo focou-se nas bacias hidrográficas portuguesas, aproveitou os dados públicos existentes em Espanha, onde este tipo de levantamentos se fazem há mais tempo, e cruzou-se a informação disponível para elaborar diversos cenários possíveis para diversos momentos futuros.
Há cenários mais otimistas e outros mais pessimistas. Para se garantir o melhor dos cenários é necessário agir de pronto e garantir uma mais eficiente gestão dos recursos hídricos disponíveis atendendo à previsão, por exemplo, de uma redução de precipitação nas próximas décadas.