Francisco destaca necessidade de transformar cada casa num “lugar de acolhimento e compreensão”, manifestando proximidade a quem viveu situações de “rotura”.
O Papa publicou este uma carta para os casais de todo o mundo, aludindo aos vários impactos da pandemia e dos confinamentos, com uma mensagem de “proximidade”, particularmente a quem viveu momentos de perda e separação.
“Vivemos enormemente a incerteza, a solidão, a perda de entes queridos e fomos impelidos a sair das nossas seguranças, dos nossos espaços de controlo, da nossa forma de fazer as coisas, das nossas ambições, para nos interessarmos não apenas pelo bem da nossa família, mas também pelo da sociedade, que depende igualmente do nosso comportamento pessoal”, refere o documento, divulgado hoje pelo Vaticano, na festa litúrgica da Sagrada Família (primeiro domingo depois do Natal).
Francisco assinala o primeiro aniversário da proclamação do ano especial "Família Amoris Laetitia", iniciativa que teve início na solenidade de São José deste ano, no dia 19 de março, e decorre até à celebração do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, em junho de 2022.
“Sempre tive presente as famílias nas minhas orações, mas mais ainda durante a pandemia que colocou todos duramente à prova, sobretudo os mais vulneráveis. O momento que estamos a atravessar leva-me a aproximar, com humildade, estima e compreensão, de toda a pessoa, casal e família na sua situação concreta”, escreve.
O Papa convida a refletir sobre algumas “dificuldades e oportunidades” que as famílias têm vivido neste tempo de pandemia, em que passaram mais tempo juntas, “proporcionando uma oportunidade única para cultivar o diálogo em família”.
“Obviamente isto requer um exercício especial de paciência; não é fácil estar juntos o dia todo, quando se tem que trabalhar, estudar, divertir-se e descansar na mesma casa”, acrescenta.
Francisco deseja que esta oportunidade de estar juntos seja “um refúgio no meio das tempestades” e que a família seja “um lugar de acolhimento e compreensão”.
A carta admite que, para muitos casais, a convivência durante estes confinamentos foi “particularmente difícil”, com “discussões e feridas”, chegando até à “rotura da relação”, nalguns casos.
“A estas pessoas, desejo manifestar também a minha proximidade e afeto”, indica.
Nem sequer é possível poupar aos filhos a amargura de ver que os seus pais já não estão juntos. Mesmo assim, não deixeis de procurar ajuda para que se possa dalguma forma superar os conflitos, a fim de que estes não provoquem ainda mais sofrimento entre vós e aos vossos filhos”.
Francisco deixa um apelo ao “perdão”, sublinhando que Deus acompanha e ama “incondicionalmente” todas as pessoas.
“As diferentes situações da vida – a idade que vai passando, a chegada dos filhos, o trabalho, as doenças – são circunstâncias em que o compromisso mutuamente assumido obriga cada um a abandonar a própria inércia, as certezas, os espaços de tranquilidade para sair rumo à terra que Deus promete”, refere aos casais católicos.
O Papa deixa uma reflexão sobre a importância da paternidade e da maternidade, da autoridade e da educação dos filhos, desafiando as famílias a “colaborar na Igreja”.
“Compete às famílias o desafio de lançar pontes entre as gerações para a transmissão dos valores que constroem a humanidade. É necessária uma nova criatividade para expressar, nos desafios atuais, os valores que nos constituem como povo nas nossas sociedades, e como Povo de Deus na Igreja”, precisa.
Francisco encoraja os jovens que se preparam para o casamento, num momento de dificuldades por causa da pandemia, em que “aumenta ainda mais a incerteza laboral”, e aos avós que sofreram com o isolamento, longe dos netos.
“Que São José inspire em todas as famílias a coragem criativa, tão necessária nesta mudança de época que estamos a viver, e Nossa Senhora acompanhe na vossa vida conjugal a gestação da cultura do encontro, tão urgente para superar as adversidades e os contrastes que obscurecem o nosso tempo”, conclui.
O Papa publicou a 8 de abril de 2016 a sua exortação apostólica sobre a Família, "Amoris laetitia" (A Alegria do Amor), uma reflexão que recolhe as propostas de duas assembleias do Sínodo dos Bispos (2014 e 2015) e dos inquéritos aos católicos de todo o mundo.
Eclesia