terça-feira, 5 de abril de 2022
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PÁSCOA ATIVA É DIVERTIDA
Marinha Grande | VACINAÇÃO ANTIRRÁBICA E IDENTIFICAÇÃO ELETRÓNICA DE CÃES
Morreu o ator e encenador António Reis
O ator António Reis, cofundador da Seiva Trupe e do Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI), morreu esta terça-feira, aos 77 anos, no Porto, em consequência de doença prolongada, anunciou a companhia teatral.
António Reis iniciou atividade nos anos de 1960 no Grupo dos Modestos, num espetáculo de Joseph Kesserling, e ingressou depois no Teatro Experimental do Porto, em 1970, onde fez a estreia profissional e trabalhou durante dois anos.
Em 1973, juntamente com Júlio Cardoso e Estrela Novais — também vindos do Teatro Experimental do Porto -, António Reis cofundou a Seiva Trupe, onde foi ator, mas também encenador, cenógrafo, diretor de produção e diretor de cena, refere o Centro de Estudos de Teatro, da Universidade de Lisboa, na sua base de dados.
Foram dezenas os êxitos, quer no palco, quer como corresponsável da emblemática estrutura teatral do Porto, sendo difícil distinguir, pelas suas qualidade e personalidade inconfundíveis, a escolha entre o famoso ‘Um Cálice de Porto’ ou, antes, em ‘Perdidos numa Noite Suja’ de Plínio Marcos, ou, depois em ‘Macbeth’ de Shakespeare ou ‘Uma Visita Inoportuna” de Copi’, escreveu o Seiva Trupe em nota de pesar.
A par do teatro, António Reis também fez cinema e televisão, tendo trabalhado, sobretudo, com Manoel de Oliveira, em filmes como “Vale Abraão” (1992) e “Singularidades de uma rapariga loira” (2008).
António Reis foi igualmente um dos fundadores do FITEI — Festival de Teatro de Expressão Ibérica e, ao longo da carreira, recebeu alguns prémios pelo labor no teatro português, nomeadamente a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal do Porto (1988), a comenda da Ordem do Infante (1995) e o prémio Lorca, pela Universidade de Granada em Espanha (1995).
SIC Notícias/Lusa
Sporting de luto. Morreu Joaquim Carvalho, o guardião da baliza verde e branca na final da Taça das Taças
O antigo guarda-redes internacional português Joaquim Carvalho morreu aos 84 anos, lamentou hoje o Sporting, ao serviço do qual conquistou a Taça dos Vencedores das Taças de futebol, em 1963/64.
“O Sporting Clube de Portugal manifesta o seu pesar pela morte de Joaquim Carvalho, aos 84 anos de idade. Joaquim da Silva Carvalho chegou ao clube em 1958 e na temporada de 1961/62 passou a ser o detentor da camisola n.º 1, conquistando o seu primeiro título de campeão nacional de futebol”, lê-se na mensagem de condolências do emblema ‘leonino’.
Carvalho vestiu a camisola do Sporting entre 1958/59 e 1970/71, tendo conquistado, além do único troféu europeu do historial ‘verde e branco’, três títulos de campeão nacional (1961/62, 1965/66 e 1969/70) e uma Taça de Portugal (1962/63).
Natural do Barreiro, iniciou a carreira em clubes locais como o Operário e o Luso e terminou no Atlético, em 1971/72, após deixar o Sporting, no qual começava a despontar Vítor Damas. Ainda voltou aos ‘leões’, para treinador de guarda-redes, tendo ainda feito parte da primeira equipa técnica da equipa de futebol feminino.
Defendeu a baliza da seleção portuguesa em seis ocasiões, entre as quais o triunfo por 3-1 frente à Hungria, no primeiro jogo da fase de grupos do Mundial1966, que Portugal terminou no quarto lugar, e que marcou a sua despedida da equipa das ‘quinas’.
Em 2011, foi distinguido com o Prémio Stromp, na categoria ‘Saudade’.
“Aos familiares e amigos, o Sporting endereça as mais sentidas condolências, não deixando de enaltecer e agradecer os anos de dedicação e devoção ao clube”, lê-se ainda na mensagem dos ‘leões’, que recordam que “Carvalho foi o herói da baliza ‘leonina’ na conquista da Taça das Taças em 1963/64”.
O Sporting ergueu o seu único troféu europeu em 15 de maio de 1964, em Antuérpia, ao vencer o MTK de Budapeste, por 1-0, na finalíssima, com um golo de canto direto de Morais.
Dois dias antes daquele que ficaria para a história como o "cantinho do Morais", Sporting e MTK empataram 3-3 na final, em Bruxelas. Pelo caminho, o Sporting deixou Lyon, Manchester United, APOEL e Atalanta.
Em 2014, por ocasião do 50.º aniversário desta vitória, o Sporting promoveu um convívio entre ‘velhas glórias’ das duas equipas. Então, em declarações à agência Lusa, Carvalho recordou a conversa tida com Morais, na véspera da finalíssima: “Eu era colega de quarto na noite que dormimos cá, e ele disse-me que tinha sonhado que ia fazer o canto direto que já tinha feito e que íamos ganhar”.
Também o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) apresentou as condolências: “A história do futebol português tem sido construída por muitos nomes de excecional valia como Carvalho. À família, aos amigos e ao clube que representou durante tantos anos dirijo uma palavra de conforto”.
“Lamento profundamente o desaparecimento de Joaquim Carvalho, internacional português que marcou presença na primeira participação da seleção nacional no campeonato do mundo, em 1966, integrando a célebre equipa dos ‘Magriços’. Foi um guarda-redes de enormes atributos, um gigante na baliza, que cumpriu uma carreira notável ao serviço do Sporting, no qual, além de títulos nacionais conquistou a Taça dos Vencedores das Taças”, escreveu Fernando Gomes.
Madremedia/Lusa
Imagem: CM
Silves | JAZZ NAS ADEGAS COM CHIBANGA GROOVE E OS VINHOS DA QUINTA DA MALACA - NO REAL PICADEIRO - PÊRA
Aprovado o Plano Estratégico de Educação Ambiental de Cantanhede para 2030. Documento foi votado na Assembleia Municipal
O Plano Estratégico de Educação Ambiental de Cantanhede (PEEAC) está em condições de ser ativado nos termos da sua aprovação recente pela Assembleia Municipal. Elaborado pela Câmara Municipal e INOVA-EM, o documento dá enquadramento às ações preconizadas até 2030 e estabelece as linhas orientadoras para uma gestão sustentável dos recursos ambientais disponíveis, direcionando as ações para o reforço do reconhecimento do concelho pelos elevados indicadores de qualidade de vida, de competitividade, de inovação e de modernidade, na ótica do desenvolvimento sustentável que apresenta.
O objetivo é criar condições favoráveis à concretização de modelos de conduta sustentáveis em todas as dimensões da atividade humana, através de uma convenção colaborativa, participada, estratégica e de construção da literacia ambiental em Cantanhede e em Portugal.
Descarbonizar a sociedade, reforçar as práticas tendentes ao incremento da economia circular e valorizar o território são os três grandes eixos em que assenta o PEEAC, que se rege pelos princípios orientadores da Estratégia Nacional de Educação Ambiental.
Para acelerar a descarbonização da sociedade, a autarquia vai promover ações de sensibilização sobre os impactos das atividades humanas nas alterações climáticas, reconhecer o uso de energias renováveis e a promoção da eficiência como pilar fundamental para a sustentabilidade energética, berm como mobilizar a comunidade para o uso racional de energia.
No que se relaciona com a economia circular, o Município de Cantanhede pretende compreender o impacto das atividades e atitudes humanas nos recursos naturais, avaliar a necessidade de adotar processos de produção agrícola e ambientalmente sustentáveis e analisar o ciclo de vida dos diferentes bens de consumo, incorporando práticas de consumo responsável.
Outro vetor aponta para a valorização do território através da promoção de boas práticas tendo em consideração os seus múltiplos usos na alimentação humana, preservação, conservação e diminuição dos impactes ambientais, da sensibilização para a importância da floresta, compreender a importância dos oceanos para a sustentabilidade do planeta ou incentivo de adoção de novos comportamentos com vista à poupança de água.
O documento prevê a realização de vários tipos de iniciativas, entre as quais as visitas de educação ambiental em locais previamente selecionados, como praias, parque verde, lagoas, ou em contexto de sala de aula, com atividades em escolas ou outras instituições, além de campanhas regulares de educação ambiental através dos canais digitais do Município e da INOVA-EM, flyers e outros dispositivos de difusão de informação.
Com o PEEAC, o Município de Cantanhede pretende garantir que, a partir de ações de educação formal, não-formal e informal, todos os munícipes adquirem conhecimento e capacidade necessária para promover o desenvolvimento sustentável do território.
Marinha Grande | DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIAS NOS AGRUPAMENTOS DE ESCOLAS
A Câmara Municipal da Marinha Grande celebrou contratos interadministrativos de delegação de competências com os Agrupamentos de Escolas do concelho, na sequência da transferência de competências do Governo para os municípios, no domínio da educação.
Os contratos foram formalizados no dia 31 de março, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, entre o presidente da Câmara, Aurélio Ferreira, e os diretores do Agrupamento Marinha Grande Poente, Cesário Silva; Agrupamento de Vieira de Leiria, Lígia Pedrosa e a Presidente da CAP do Agrupamento Marinha Grande Nascente, Susana Fonseca.
No âmbito da transferência de competências, o Município recebeu, no dia 1 de abril, mais 209 trabalhadores, provenientes das escolas, a quem, publicamente, dá as boas-vindas.
A parceria tem por objetivo a identificação das condições que asseguram o efetivo exercício das competências, agora delegadas, por parte de cada agrupamento de escolas, quanto às diferentes matérias a transferir, nomeadamente: pessoal não docente; transportes escolares – circuitos especiais; Escola a Tempo Inteiro; Alimentação Escolar; Despesas de manutenção e conservação.
O contrato tem por objeto a delegação de competências municipais nos diretores dos Agrupamentos, tendo como período de vigência a duração do mandato dos órgãos do Município. São delegadas responsabilidades como o poder de direção; a contribuição do poder de avaliação de desempenho do pessoal não docente; apresentação de propostas de mapa de férias, de modo a assegurar o normal funcionamento dos estabelecimentos de educação.
Outras das competências delegadas é a contratação do fornecimento do leite escolar aos alunos que frequentam a educação pré-escolar e o 1.º ciclo do ensino básico; a confeção e o fornecimento de refeições no refeitório escolar para os alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e ensino secundário; contratação de circuitos especiais de transportes para alunos com necessidades especiais; acompanhamento da implementação das Atividades de Enriquecimento Curricular no 1º. ciclo do ensino básico, Atividades de Animação e Apoio à Família e Componente de Apoio à Família na Educação Pré-Escolar e 1.º ciclo, respetivamente.
O contrato interadministrativo prevê, também, suportar os encargos com as instalações, quanto à água, eletricidade, combustíveis, comunicações, limpeza, higiene e material de escritório; conservar e manter a(s) escola(s) dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e/ou do ensino secundário; organizar e gerir, no âmbito da ação social, os procedimentos de atribuição de apoios de aplicação universal e de aplicação diferenciada ou restrita; gerir a utilização dos espaços que integram a(s) escola(s) dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e/ou do ensino secundário fora do período das atividades escolares.
Salienta-se, publicamente, toda a colaboração e envolvimento dos Agrupamentos de Escolas do conselho, bem como os recursos humanos das várias entidades envolvidas, fazendo com que o processo tivesse recorrido de forma, absolutamente, tranquila.
FERRYBOAT REGRESSA À OPERAÇÃO AMANHÃ . “Cale de Aveiro” esteve em manutenção durante o último mês
O Ferryboat “Cale de Aveiro”, que faz a ligação a São Jacinto retoma a operação amanhã, quarta-feira, dia 06 de abril, depois de uma paragem de um mês para o cumprimento de obrigações legais de manutenção e inspeção, em estaleiro.
Tal como definido no momento da paragem, a Câmara Municipal de Aveiro dá nota pública do regresso do Ferryboat à circulação, agradecendo aos utilizadores a compreensão e colaboração durante este período de interregno.
Recordamos que se encontra em construção pelo Grupo ETE, o novo Ferryboat 100% Elétrico, num investimento global da CMA de 7,2 M€ e que vai aumentar significativamente a qualidade e previsibilidade da travessia, com ganhos vários ao nível da coesão territorial, do ambiente e da promoção do território.
Lancha Dunas assegurou travessia
Durante este período, a operação foi garantida integralmente pela Lancha Dunas. A embarcação que integra, de novo, a operação de travessia entre São Jacinto e o Forte da Barra (concessionada desde 2017 à ETE Fluvial, empresa do Grupo ETE), refletiu um investimento no valor de 180.000€ realizado pela Transdev / ETAC / AveiroBus e pela Câmara Municipal de Aveiro.
Arouca pretende criar estratégia para a impulsionar setor da construção civil local
COVILHÃ PODERÁ VIR ACOLHER CENTRO DE ESTUDOS E SISTEMAS AVANÇADOS DO RECIFE
FÉRIAS DA PÁSCOA – ATIVIDADES PARA CRIANÇAS E FAMILIAS NA BIBLIOTECA DA COVILHÃ
NOTA DE PESAR PELO FALECIMENTO DE ANTÓNIO JOAQUIM SEQUEIRA, FUNCIONÁRIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE SILVES
Historiadora inglesa apaixonada pela epopeia quinhentista dos portugueses
- Plinio Maria Solimeo
Nenhuma outra nação do Ocidente, teve um poeta épico que cantasse com tanto talento e profundidade suas glórias como Camões cantou as de Portugal. Com muito fogo, propriedade e senso poético, ele canta os grandes feitos marítimos e militares de sua pequena nação nos séculos XV e XVI, que maravilharam o mundo de então. “Cesse do sábio grego e do troiano, as navegações grandes que fizeram; cale-se de Alexandro e de Trajano, a fama das vitórias que tiveram; que eu canto o peito ilustre lusitano, a quem Netuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”, afirma ele, com orgulhosa ousadia, em seu imortal Lusíadas.
Faltava, porém, alguém que cantasse os mesmos feitos em prosa, com riqueza de detalhes, alicerçados em documentos da época.
Fê-lo no século XX uma historiadora inglesa de origem francesa, Elaine Sanceau, que de modo surpreendente preencheu essa lacuna.
Quem teve a ventura de ler seus empolgantes livros sobre a epopeia dos nossos irmãos portugueses em seus séculos de glória, pode-se julgar afortunado. Pois neles ela descreve, com riqueza de detalhes e muita admiração, a incrível saga de uma pequena nação que descobriu mundos e fundou impérios, tornando-se a maior potência econômica de seu tempo.
Elaine Sanceau [foto ao lado] nasceu em Croydon, um dos maiores distritos comerciais fora do centro da Região de Londres, no ano de 1896, e faleceu em Leça do Balio, perto do Porto (Portugal), a 23 de dezembro de 1978.
Em sua infância estudou em Montreux, na Suíça, mudando-se depois com a família para o Brasil. Segundo o blog Torre da História Ibérica, “foi aí, em Terras de Vera Cruz, que Elaine Sanceau contactou, pela primeira vez, com a História de Portugal e, muito particularmente, com o período quinhentista, que desde logo lhe aguçou o interesse e lhe despertou o espírito de investigação”.
Isso de tal maneira, que em 1931 resolveu mudar-se para Portugal, a fim de aprofundar suas pesquisas históricas visitando as ricas fontes a seu dispor naquele país. Continua o citado blog: “Deste seu notável labor, resultaram obras que aliam uma extrema simplicidade de linguagem a um rigor histórico, que as tornam fontes de informação da maior confiança”. Pois, “nunca escreveu uma palavra ou uma frase sobre um monarca, um príncipe, um vice-rei, um marinheiro, um mercador, um soldado ou um capitão, sem que um prévio e exaustivo trabalho de investigação, de estudo e de análise, se realizasse nos arquivos portugueses — especialmente na Torre do Tombo e no Arquivo Histórico Ultramarino — com a ajuda de dedicados paleógrafos que punham o seu saber e conhecimento das letras quinhentistas e seiscentistas ao serviço da escritora”.
Por sua contribuição e empenho em divulgar em seus livros os feitos de Portugal, recebeu no país várias dignidades. Entre elas, tornou-se oficial da Ordem de Santiago da Espada e da Ordem do Infante D. Henrique, membro do Instituto de Coimbra e do Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, bem como sócia correspondente da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.
“Todos os livros de Elaine Sanceau foram primeiramente redigidos na sua língua materna (o inglês), mas os seus excelentes conhecimentos de português tornaram-na uma crítica severa das traduções que as suas obras recebiam dos colaboradores portugueses” — comenta Torre da Histórica Ibérica.
Historiadora fecunda, de sua incansável pena saíram 38 volumosos estudos, 28 dos quais sobre o tempo que nos ocupa, incluindo vários sobre os portugueses no Brasil, entre eles Capitães do Brasil, e Os portugueses no Brasil.
Depois de uma profunda e exaustiva pesquisa, Elaine publicou seu primeiro grande estudo, Indies Adventures. The Amazing Career of Afonso de Albuquerque, que na tradução portuguesa tomou o título de Afonso de Albuquerque – O Sonho da Índia. Essa biografia do grande batalhador que por sua grande fama recebeu vários cognomes — o Grande, o César do Oriente, o Leão dos Mares, o Terribil e o Marte Português — é considerada por muitos como a obra-mestra da grande historiadora.
Sendo esse seu primeiro livro sobre o tema, em sua Introdução Elaine Sanceau descreve em rápidos traços o que a grande aventura portuguesa representou para a História e para o mundo:
“A expansão portuguesa de além-mar é fenômeno inexplicável à face da História. O desejo de expansão supõe falta de espaço, e os portugueses tinham mais do que o bastante na sua linda pátria pequenina; a população era muito a inferior a dois milhões. […] A razão por que havia este povo de sentir-se instigado a espalhar-se pelo mundo desconhecido, depois de ter alcançado a paz pela vitória sobre seus vizinhos (espanhóis e muçulmanos), é enigma indecifrável. ‘O reino está muito pobre e minguado de gente para guarnecer as terras de além-mar. Seria impossível conservá-las!’. Assim dizia o sábio infante D. Pedro em 1436, quando se premeditava a conquista de Tanger. Não se pode negar que fossem sensatas estas palavras. Todavia, menos de um século depois, sem qualquer auxílio de homens ou de dinheiro estranhos, Portugal estava senhor, não só de todas as cidades importantes de Marrocos, mas também de territórios em toda a costa da África, e impunha a sua vontade a metade dos reis da Ásia”.
Sanceau pondera com razão: “Não é de admirar que esta grandeza não fosse duradoura. Maravilha é que tenha existido. Para que um país, com os recursos de Portugal, pudesse conservar as suas conquistas, seria indispensável uma raça de heróis e o gênio que os dirigisse. A cópia de heróis não sofreu interrupção, mas o gênio não é hereditário. Houve, certamente, inúmeros grandes homens. […] o domínio português, para além dos mares, foi inaugurado e estabelecido por dois espíritos superiores que muito sobrelevam à sua geração: o infante D. Henrique, o Navegador foi a força que impeliu a nação a explorar o Atlântico desconhecido, a rasgar os mistérios do Globo terrestre, lançando-a assim no caminho da Índia. E o grande Afonso de Albuquerque [quadro acima] assentou os alicerces do Império do Oriente”.
Antes de falar desse extraordinário líder e forjador de reinos e impérios, julgamos oportuno ver como Elaine Sanceau desfaz a legenda negra com que os inimigos da religião tentaram menoscabar o motivo religioso que estava na arrière pensée e orientava os grandes desbravadores e descobridores ibéricos quinhentistas.
Escreve ela: “Há quem tenha explicado a ação dos portugueses no Oriente como simples corrida atrás do lucro. Foi muito mais do que isso: foi a última Cruzada, ato de defesa da Europa contra a ameaça muçulmana […]. É certo que Portugal pretendia apoderar-se do comércio das especiarias e aproveitá-lo em seu benefício. Mas onde está o governo, moderno ou medieval, que alguma vez seguisse política absolutamente desinteressada? […] É fato incontestável que se não tratava apenas de uma simples experiência comercial; os maiores dos seus capitães eram cruzados sinceros, e o seu ideal distante a libertação de Jerusalém. […] a cruz rubra de uma Ordem Militar figurava nas velas que, ano a ano, transportavam para além-mar os varões da Nação”.
Pois nossa santíssima religião estava tão entranhada na alma desses portugueses, que a primeira coisa que faziam nas terras conquistadas era transformar os lugares de culto pagão em igrejas. E se isso não era possível, uma de suas primeiras preocupações era construí-las. Em todo o linguajar, mesmo nas interjeições que esses guerreiros soltavam no ardor da batalha, estavam os dulcíssimos Nomes de Jesus, de Maria, ou de algum santo, que também davam nomes a quase todas as caravelas com que cruzavam os mares: Santa Maria, Santiago, Espírito Santo, São Cristóvão… E nelas, junto aos soldados e tripulantes, iam sempre sacerdotes, não só para ministrar os sacramentos aos navegantes, mas também para eventualmente levar o dom precioso da fé às terras a se descobrir ou conquistar. Basta considerar o número de igrejas e conventos do Brasil colonial para se ter disso uma ideia.
Voltando a Afonso de Albuquerque, Elaine Sanceau o descreve como sendo a figura mais genial do império português do Oriente. Ora ele surge como marinheiro, ora como soldado, estadista, administrador ou diplomata, com a mesma competência e saber em todas as situações, pondo sempre as suas múltiplas faculdades ao serviço de um único fim: fundar um poderoso império no Oriente, exaltar o rei e a pátria, e, sobretudo, difundir a fé. Muito avançado para a época, Afonso de Albuquerque governou povos de outras raças sem os escravizar, respeitou-lhes os costumes e deu-lhes liberdade religiosa, concedeu-lhes uma justiça que desconheciam, deixou-os participar no governo e preocupou-se com a educação e formação das novas gerações.
Pondera a lúcida e competente historiadora que esses “podem ser os fins declarados de toda administração colonial moderna, mas são teorias recentes. Não teria lembrado a muitos contemporâneos de Albuquerque ou posteriores, que um povo conquistado podia tornar-se mais feliz com a conquista. Considerar os naturais de uma colônia, não como meros servidores do branco, mas como súditos do mesmo estado, cujas liberdades são garantidas pela mesma bandeira, é idéia moderna. De todas estas idéias Albuquerque foi um precursor que tanto ultrapassara a sua época que, ao vagar o seu lugar, não havia quem o ocupasse. […] Em seis anos de governo [da Índia], sempre manietado pela falta de homens, de navios e de dinheiro, bem como pela estreiteza de vistas e pelas suspeitas injustas do rei, Albuquerque fez sentir sua influência desde a Arábia até a China, e apossou-se das chaves do Oceano Índico. A Pérsia, o Sião e a Abissínia solicitavam a sua amizade, ao mesmo tempo que uma dúzia de reizetes indianos, inquietos, se informavam dos seus desejos, enviando-lhe embaixadas respeitosas. […] Quando morreu, Portugal era a potência que na Ásia mais se fazia temer. Por única recompensa, teve a ingratidão real”.
A Wikipedia em português enumera alguns dos grandes feitos desse Albuquerque Terribil: “Destacou-se tanto pela ferocidade em batalha, como pelos muitos contatos diplomáticos que estabeleceu. Nomeado governador após uma longa carreira militar no Norte de África, em apenas seis anos — os últimos da sua vida — com uma força nunca superior a quatro mil homens sucedeu a estabelecer a capital do Estado Português da Índia em Goa; conquistar Malaca, ponto mais oriental do comércio Índico; chegar às ambicionadas “Ilhas das especiarias”, as ilhas Molucas; dominar Ormuz, entrada do golfo Pérsico; e estabelecer contatos diplomáticos com numerosos reinos da Índia, Etiópia, Reino do Sião, Pérsia e até o Império Mingue (China). Adem seria o único ponto estratégico cujo domínio falhou, embora tenha liderado a primeira frota europeia a navegar no mar Vermelho, a montante do estreito Babelmândebe”.
Não podendo nos alongar descrevendo as campanhas e batalhas do insuperável guerreiro, concluímos dizendo que, injustiçado pelo rei — que não reconhecendo seus grandes feitos e mal influenciado pelas intrigas de invejosos da Corte o substituiu no governo da Índia por um seu rival e inimigo, sem qualidades para o governo —, Albuquerque, então já doente, deixou-se morrer de desgosto à vista de sua maior conquista, Goa. Assim foi sua agonia, “Pediu o crucifixo que pendia na parede. ‘Senhor’, rezou, ‘por tua grande misericórdia e piedade, te aprouve derramar o teu precioso sangue na cruz por remissão dos pecadores; peço-te por tua tanta bondade, que nesta santa redenção que ao mundo fizeste, minha alma pecadora seja salva’. Ainda viveu toda a noite, enquanto o confessor lia o evangelho de São João”. Após receber os últimos Sacramentos da Santa Madre Igreja, “morreu no momento em que a nau largava âncora no porto de Goa, que tanto amava”.
ABIM
Biblioteca Municipal de Cantanhede assinala este ano o 30.º aniversário. Equipamento quer recuperar frequência diária de duas centenas de pessoas
2022 poderá ser o ano da retoma integral da atividade da Biblioteca Municipal de Cantanhede (BMC). Para além de se assinalarem 30 anos da inauguração das atuais instalações, o objetivo passa agora por recuperar os índices de afluência, não só dos leitores regulares mas também dos participantes nas diversas ações culturais desenvolvidas pelos serviços - algumas das quais ainda se têm realizado embora sem a mobilização de antes da pandemia de Covid-19.
Reconhecida como equipamento de grande qualidade e um exemplo no processo de certificação a BMC é muito mais do que um espaço de leitura e estudo, oferecendo um leque variado de serviços e produtos culturais que suscitam uma crescente procura.
Os anos de 2020 e 2021, marcados pela pandemia Covid-19, foram atípicos no que diz respeito ao acesso a este tipo de equipamentos, mas a BMC soube adaptar-se à nova realidade, disponibilizando outros serviços, nomeadamente através do projeto “Levamos a biblioteca perto de si”, cujo principal objetivo foi promover e divulgar a cultura, facultando, para isso, a cedência de livros, CD de música e filmes em DVD aos utilizadores, permitindo, desta forma, o acesso contínuo aos documentos da biblioteca sem necessidade de sair de casa.
Com a fase pandémica em acentuada curva descendente, o objetivo passa agora por recuperar os índices de frequência de 2019, durante o qual a BMC registou 71.644 entradas – uma média de quase 200 entradas/dia. Nesse mesmo ano, o espaço foi palco de 294 sessões diversas, entre exposições, visitas guiadas, encontros, lançamentos de livros, etc, nas quais participaram quase 18 mil pessoas.
Integrada na Rede Nacional de Leitura Pública desde 1992, ano em que se mudou para as atuais instalações, a BMC desenvolve ações de promoção do livro e de incentivo à leitura orientadas para públicos de diferentes idades, organiza exposições temáticas e dinamiza um grupo de teatro infantojuvenil.
Da atividade de Biblioteca Municipal merecem ainda destaque o serviço de biblioteca itinerante – que desde 1999 está ao serviço das escolas, jardins de infância e instituições de solidariedade social do Município, e a pólo sazonal a funcionar na Praia da Tocha durante o período de verão, bem como a bebeteca, e o serviço da Biblioteca do Hospital.
Dotado de instalações modernas e funcionais, dispõe de um auditório com lotação de 100 lugares – para a realização de conferências, colóquios e debates -, um átrio com condições privilegiadas para exposições, uma sala de leitura, um espaço dedicado às crianças que inclui ludoteca e bebeteca, sala de audiovisuais, além de um bar e outros serviços de apoio.
O seu fundo bibliográfico é constituído por um total de 56.282 documentos, dos quais 44.021 são livros, e inúmeros produtos em suporte digital, tais como CD-ROM's, DVD's, diapositivos e cassetes de vídeo e áudio.
História da Biblioteca
A Biblioteca Municipal de Cantanhede teve origem numa doação do arcebispo D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, que em testamento deixou à Câmara Municipal 3.000 volumes, conforme refere o ofício camarário dirigido à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, em 27 de maio de 1892. Esse legado comporta atualmente apenas 2.300 títulos, o que se fica a dever à falta de instalações indispensáveis ao seu adequado acondicionamento e, também, ao facto de não ter sido ainda possível garantir a sua total catalogação.
Tendo sofrido várias mudanças de instalações ao longo de quase 80 anos, a BMC fixou-se no edifício dos Paços do Concelho no final da década de 60, tendo a mudança para as atuais instalações, acontecido a 25 de julho de 1992, numa cerimónia que contou com a presença do então presidente da Assembleia da República, Barbosa de Melo.