quinta-feira, 28 de abril de 2022
Proença-a-Nova | 34 voltas garantem vitória a António Martins na primeira edição da Horizontes Backyard Ultra
Proença-a-Nova | Inscrições para a Taça do Município até dia 13 de maio
Figueiró dos Vinhos | CIMRL já tem os 8 finalistas para a Fase Final do Concurso Nacional de Leitura 2022
Norte Alentejano | Semana Europeia da Vacinação 24 a 30 de abril 2022
Castelo de Paiva | FESTIVAL INVENTA APRESENTOU ESPECTÁCULO NO SALÃO MULTIUSOS DA FREGUESIA DE REAL. A Lanterna Mágica apresentado no Sábado
SÃO PEDRO DE MOEL E PRAIA VELHA GALARDOADAS COM BANDEIRA AZUL
Cantanhede | CLAS de Cantanhede emitiu pareceres técnicos relativos a 11 projetos. Candidaturas a programas de criação de serviços e equipamentos sociais
O Conselho Local de Ação Social (CLAS) de Cantanhede reuniu recentemente, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, para emitir os pareceres técnicos, no âmbito do aviso de abertura do concurso n.º 02/C03-i01/2021 – Requalificação e alargamento da rede de equipamentos e respostas sociais, destinado às Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e equiparadas, as Autarquias e outras entidades públicas, e outras entidades de direito privado sem fins lucrativos, de utilidade pública.
De referir que nos termos do regulamento interno, e de acordo com a legislação em vigor, compete ao CLAS de Cantanhede emitir pareceres técnicos acerca de candidaturas a programas nacionais ou comunitários e/ou sobre a criação de serviços e equipamentos sociais no concelho.A competência para a emissão dos pareceres é do Núcleo Executivo, que deverá analisar a(s) candidatura(s) e aplicar os critérios existentes (da responsabilidade do Instituto de Segurança Social). No entanto, é ao plenário do CLAS que compete avocar e deliberar sobre os pareceres técnicos emitidos pelo Núcleo Executivo.
Nesta sessão plenária estiveram presentes mais de 20 entidades parceiras do CLAS de Cantanhede e foram deliberados 11 projetos, cuja área de intervenção incide sobre as pessoas mais idosas e sobre as pessoas em situação de deficiência e/ou incapacidade e emitidos os respetivos pareceres técnicos.
Os pareceres serão agora remetidos para o Instituto de Segurança Social, para integrarem as candidaturas submetidas pelas respetivas entidades.
Ainda no decorrer da reunião foi eleito o representante das IPSS ou de outras organizações não governamentais que desenvolvam, na área de competência territorial da CPCJ, respostas sociais de caráter não residencial dirigidas a crianças, jovens e famílias, que integrem o CLAS de Cantanhede, para fazer parte da composição da Comissão Alargada da CPCJ de Cantanhede.
Papa Francisco pede que se trate melhor as sogras, mas pede-lhes “cuidado com a língua”
POLOS DE EDUCAÇÃO AO LONGO DA VIDA DE SILVES RECEBEM WORKSHOPS DE CORTE E COSTURA
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William Thomas Walsh — escritor e historiador genuinamente católico
- Plinio Maria Solimeo
Édifícil encontrar nos últimos tempos um historiador católico que tenha sido em seus livros inteiramente coerente e ufano de sua fé. Na primeira metade do século passado houve um que preencheu esses requisitos. Trata-se do americano William Thomas Walsh [foto acima].
Desse vibrante jornalista, escritor, romancista e historiador diz o site Catholic Authors: “William nasceu em Waterbury, Connecticut, em 11 de setembro de 1891, e ao longo dos anos recebeu uma sólida educação católica que o inspiraria nos anos posteriores com um desejo feroz de defendê-la”. Ao que acrescenta a Wikepedia em inglês: “A obra de Walsh é escrita de um ponto de vista declaradamente católico”.
Thomas Walsh era neto de irlandeses radicados nos Estados Unidos e, como diz o site acima, “recebeu sólida educação católica”. Muito precoce, já aos 16 anos, ainda no ginásio, tornou-se repórter e passou a escrever para alguns jornais. Aos 19 anos, aluno da famosa universidade de Yale, publicou seu primeiro livro, The Mirage of Many (A Miragem de Muitos), alertando contra o socialismo que estava se infiltrando na sociedade americana. Na mesma universidade estudou violino, fazendo-o com tanto sucesso que se tornou regente de sua orquestra sinfônica.
Em 1913, aos 22 anos, recebeu em Yale o título de Bacharel em Artes. No ano seguinte casou-se com Helen Gerard Sherwood, com quem teve seis filhos, entre eles um homônimo que faleceu na infância, e uma filha que se tornou religiosa.
Em 1918 lecionou na Hartford Public School, e depois tornou-se chefe do departamento de inglês da Roxbury School por quase 20 anos. Em 1933 tornou-se professor de inglês no Manhattanville College of the Sacred Heart, em Nova York, no qual lecionou por 14 anos.
Foi em 1930, praticamente 20 anos depois de ter publicado seu primeiro livro e seis anos antes do início da Guerra Civil espanhola, que Walsh escreveu sua segunda obra: Isabella of Spain – The Last Crusader (Isabel da Espanha – A Última Cruzada) [foto ao lado], a primeira de uma série dedicada pelo autor ao Século de Ouro da Espanha. Seu sucesso fez com que a obra fosse traduzida na Espanha, Alemanha e França.
Em 1935 publicou a documentadíssima obra Philip II [foto abaixo], sobre esse grande rei da Espanha, recebendo elogios do London Times e do New York Times, que escreveu: “O livro ’Felipe II’ está tão completamente documentado, que deve permanecer como um retrato calmo e realista de um homem e uma época, muitas vezes mais excitante para a imaginação do que ficção, enquanto a suavidade de seu estilo literário impecável oferece constante deleite.” E a poderosa mega-empresa Amazon diz dessa obra em seu anúncio de venda: “O maior livro de Walsh ‒ sobre o rei mais poderoso da Europa de todos os tempos. Mas, mais do que isso, é um panorama de todo o século XVI. Abrange o nascimento do protestantismo e os esforços secretos para minar a unidade católica, as guerras huguenotes na França, o saque de Roma, o Grande Cerco, a Batalha de Lepanto, a Armada Espanhola, o Concílio de Trento etc.. E, Henrique VIII, Maria Tudor, Isabel I, São Pio V, Santa Teresa de Ávila, Santo Inácio de Loyola etc.”.
A sofreguidão de Walsh em resgatar de toda uma legenda negra uma obra da Igreja levou-o a publicar em 1940 os Characters of the Inquisition (Personagens da Inquisição) [foto abaixo] , a cujo respeito diz a mesma Amazon: “Este livro é sobre a Inquisição, particularmente a Inquisição Espanhola em oposição à Inquisição Romana nos anos seguintes à Reconquista Espanhola. Walsh investiga a Inquisição, sua prática, propósito, história e personalidades. A Inquisição não foi um festival de BDSM [sadomasoquismo] sanguinário que enlouqueceu. Foi uma resposta racional à infiltração da Igreja Católica por inimigos da fé cristã que fingiam ser cristãos para perverter o culto, a doutrina, e enfraquecer a cristandade. Quem quiser entender a Inquisição faria bem em ler Personagens e aprender sobre os heróis da Fé, Cardeal Ximenes, Torquemada e outros que lutaram o bom combate por Jesus Cristo e sua Igreja. Depois de ler este livro, você nunca mais olhará a Inquisição do mesmo modo”.
Em 1943 William Thomas escreveu um de seus mais conhecidos livros, sobre a grande mística e Doutora da Igreja Santa Teresa d’Ávila [foto ao lado], porque: “Quando li uma tradução inglesa da Autobiografia de Santa Teresa […] me perguntei se uma mulher na qual o divino e o humano se encontraram de maneira tão surpreendente poderia realmente ter sido tão banal, tão arrogante , tão conscientemente ‘literária’ como muitas vezes ela aparecia naquelas páginas. Mais tarde, quando pude ler o texto em espanhol, descobri que as qualidades irritantes não eram dela, mas de seu devoto tradutor”. Assim, com o texto original espanhol em mãos, escreveu um livro baseado nas “minhas próprias traduções, e tão literalmente quanto possível, mesmo com algum sacrifício de eufonia, sem excluir os ocasionais lapsos de gramática, referências errôneas e coloquialismos vigorosos de quem escreveu sem olhar para o efeito livresco, mas no momento em que ela falava — rápida, concisa, de vez em quando bastante desajeitada”.
No decurso do ano de 1946 ou 1947, Walsh tomou conhecimento dos surpreendentes acontecimentos em Fátima, Portugal. Impressionou-se tanto com eles, que resolveu deixar de lado todas as suas outras obras para ir àquele país recolher material para um livro que contaria a história do que lá se passou em 1917. Ele estava convencido de que nada é mais importante do que propagar o que a Mãe de Deus pediu nessas aparições tão incompreendidas, e das quais dependem o próprio futuro da humanidade. Entre muitas pessoas, entrevistou no convento das Dorotéias a única testemunha viva dos acontecimentos, a Irmã Maria das Dores (Lúcia), no que resultou o livro Nossa Senhora de Fátima [foto abaixo], que foi fundamental para trazer sua mensagem à atenção de milhões de católicos americanos.
Thomas Walsh escreveu algumas outras obras de vários gêneros, que não tiveram tanta repercussão como as citadas.
O livro São Pedro Apóstolo [foto abaixo] , de 1948, um ano antes de sua morte, foi o último que publicou. Dele diz o site do Good Reads: “‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja’ (Mateus 16:18). Raramente em toda a História um mero homem foi encarregado de uma responsabilidade tão terrível como a que foi delegada ao Príncipe dos Apóstolos quando Nosso Senhor pronunciou essas palavras. E é a história deste humilde pescador, tão curiosamente negligenciado pelos autores modernos, que William Thomas Walsh conta de forma tão brilhante”.
William Thomas Walsh foi premiado com a Medalha Laetare pela Universidade de Notre Dame em 1941, em reconhecimento pelo contributo de um católico americano à Igreja e à nação; e em 1944 foi homenageado pelo governo espanhol com a mais alta honra cultural da Espanha: A Cruz de Comendador da Ordem Civil de Afonso, o Sábio. Walsh foi o primeiro escritor norte-americano a receber tal honra. Muito escrupuloso, ele entrou em contato com o Departamento de Estado para saber se um “leal cidadão dos Estados Unidos” poderia aceitar tal honra de um governo estrangeiro.
Em 1947, enfrentando problemas de saúde, o escritor se aposentou do ensino, concentrando-se em terminar seu romance Nossa Senhora de Fátima. No ano seguinte, agravando-se muito seu estado de saúde, foi internado no Hospital Santa Inês, em White Plains, no estado de Nova Yor, onde haveria de morrer.
Diz a Imitação de Cristo que talis vita finis ita (tal vida, tal morte). Tendo levado uma vida ilibada e sempre segundo os princípios da Igreja, esse grande batalhador morreu como viveu: como verdadeiro filho da Igreja.
Assim, quando lutava entre a vida e a morte, seu dileto amigo, o Pe. William C. Mc Grath, responsável pelas visitas da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a levou a seu quarto. Wash olhou fixamente para a bela Imagem, tendo com ela um profundo colóquio mudo.
No dia 22 de janeiro de 1949, com apenas 58 anos incompletos, o grande batalhador faleceu na esperança de receber no Céu a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva aos seus eleitos.
ABIM
Crianças de outrora e tirania digital
- Paulo Henrique Américo de Araújo
Lá pelos fins do século XIX, o pintor francês Charles Bertrand d’Entraygues1fez fama internacional com telas figurando quase sempre o mesmo motivo: crianças. Mesmo o observador comum fica encantado ao se deparar com esses quadros repletos de singeleza, doçura e inocência. Vemos aí os pequeninos em atitudes das mais corriqueiras. Nos seus jogos, brincam com bolinhas de gude, piões, bastões, cavalinhos de madeira.
Por outro lado — e aqui vem algo de paradoxal — o artista francês frequentemente pinta coroinhas, isto é, ajudantes de missas, vestidos enquanto tais, fazendo seus jogos e inocentes divertimentos. O contraste é digno de apreço: meninos com batinas vermelhas, solidéus, peregrinetas, sobrepelizes, todo o aparato próprio a um coroinha dos tempos antigos… e assim são representados pelo pintor: brincando, jogando, rindo!
Num dos quadros mais expressivos, os coroinhas se encontram diante do portal de uma igreja. Tudo indica que a missa apenas se encerrou. Dois dos meninos comandam o divertimento, atraindo a atenção dos demais. Eles tentam de todas as formas fazer com que o cachorrinho apático se anime a fazer malabarismos, saltando através de um círculo. As fisionomias expressam alegria própria de crianças inocentes. Além disso, há nos meninos qualquer coisa de dignidade, de elevação, que transparece, sobretudo nos trajes.
Note-se a postura do rapazinho que aparenta ser o mais velho do grupo. Vemos seu corpo ereto, a batina rubra e a sobrepeliz branca. Pés juntos, braços estendidos, rosto sorridente. Há nele certa harmonia entre o frescor da inocência e a gravidade de alguém que já assumiu responsabilidades na vida. Quase um cardeal em miniatura, diríamos.
Diante dessa cena, convido o leitor a fazer uma digressão. Sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo um dia foi criança. Poderíamos imaginar o Menino Jesus nessa mesma atitude do “coroinha-cardeal” da pintura? A resposta não é fácil. Alguém dirá que o Divino Infante demonstrar-se-ia mais grave, mais sério. Talvez. Não sei responder. Mas sei que se um artista desejasse pintar o Menino Jesus encantador e digno, encontraria uma boa inspiração nesse coroinha.
Proponho outra digressão. O Divino Salvador, já na fase de sua vida pública, se aproxima e vê a cena dos coroinhas brincando. Diante desses meninos, Jesus poderia dizer aquela sua famosa frase: “Vinde a mim os pequeninos”? Opino que sim. Nada na alegria inocente desses coroinhas desmerece a ternura de Nosso Senhor, que deseja atrair para Si os pequenos inocentes, os humildes.
Deixo agora os ambientes amenos e cândidos representados pelo pintor francês no fim do século XIX e volto — com tristeza — aos nossos dias. Em que atitude comumente nós vemos as crianças de hoje? Instintivamente, um quadro de todo diverso se apresenta a nós: meninos e meninas mergulhados nas telas brilhantes de seus smartphones! Vidradas, focadas e conectadas num mundo cheio de sons, cores e imagens frenéticas.
Procuremos aí a doçura e a inocência representadas pelo pintor Charles Bertrand d’Entraygues e não as encontraremos. A vida conectada provocou devastações inegáveis no comportamento infantil. Nossas crianças são irritadiças, nervosas, depressivas. Não tenho intenção de demonstrar essa afirmação aqui, apenas cito trecho do artigo escrito por Maria Clara Vieira, em 25 de setembro p.p., publicado na “Gazeta do Povo”:
“Não é difícil encontrar livros, estudos e reportagens que retratam os jovens nascidos a partir da segunda metade da década de 1990, a ‘geração Z’, sobretudo no Ocidente. Solitários, engajados com causas progressistas e vítimas das maiores taxas de depressão e ansiedade da História — principalmente graças aos hábitos digitais convertidos em vícios — este público já representa cerca de 30% da população mundial e é alvo de pesquisas substanciais, sobretudo nos Estados Unidos.”2
Alguém poderá objetar que nem todas as crianças atuais levam uma vida “conectada”, diante dos smartphones e computadores. Muitas delas agem como as crianças sempre agiram: brincam, jogam, alegram-se, longe dos aparelhos eletrônicos.
Não nego que haja crianças afastadas das telinhas. Também não nego a possibilidade de alguém, jovem ou adulto, usar smartphones com critério e temperança. Mas qualquer observador mediano há de reconhecer que tal não é a tendência geral. A maioria das pessoas, sobretudo as crianças, se já não caiu na tirania digital, ao menos, está caminhando para lá, inelutavelmente.
Considerando esta lamentável realidade, façamos outra divagação. Acima, propus o “coroinha-cardeal” como uma imagem aproximada de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua infância. Pergunto agora se o leitor conseguiria representar o Menino Jesus na atitude das crianças “superconectadas” do século XXI. Apenas um pintor imbuído das diatribes da arte moderna poderia retratar tal quadro.
Mais. Figuramos acima Jesus naturalmente chamando a Si os coroinhas que brincam diante da igreja. Ele os chama porque são pequenos inocentes. Alguém poderia imaginar o Divino Salvador se deparando com as crianças modernas e dizendo: “Vinde a mim, vós, meninos vidrados em smartphones”? Podemos afirmar com segurança que a infância da era digital produz inocência, singeleza, doçura?
Todos os pais e mães verdadeiramente católicos têm obrigação de preservar seus filhos dos males da vida “superconectada”. Que a Santa Mãe do Menino Jesus os ajude nesse sentido.
ABIM
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Notas
- Cfr.https://rehs.com/eng/default-19th20th-century-artist-bio-page/?fl_builder&artist_no=199&sold=1
- Cfr.https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-a-china-esta-construindo-uma-geracao-na-contramao-do-ocidente/. A articulista tece comentários ao livro: “iGen – Porque as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta”, da psicóloga Jean Twenge.
Projeto progressista visa desfigurar Notre-Dame
A catedral de Paris enfrenta outra ofensiva contra sua grandeza e seu prodigioso aspecto sobrenatural que fazem dela um verdadeiro sacrário. “O que o fogo poupou, a diocese quer destruir!”.
- Luis Dufaur
Atribui-se ao jesuíta, dotado de dons proféticos, Pe. Charles-Auguste-Lazare Nectoux (1698-1773) — último provincial na Aquitânia antes de a Companhia de Jesus ser fechada por insídias maçônicas — uma visão concordante com as mensagens de Fátima e La Salette.
Ela apresenta um processo revolucionário universal contra o qual a Igreja obterá um triunfo jamais visto, dizendo, entre outras coisas: “A destruição de Paris será tão completa que os pais andarão com seus filhos sobre suas ruínas e dirão: ‘Meu filho, havia uma cidade grande aqui, Deus a destruiu por causa de seus crimes’”.
São João Bosco, em sonho consignado por escrito ao Bem-Aventurado Papa Pio IX, em 12-2-1870, prevê a mesma tragédia: “A grande Babilônia que os bons chamam, suspirando, ‘o prostíbulo da Europa’, será privada da cabeça e entregue à desordem. Paris, Paris! O teu ídolo, o Panteão, virará cinzas, […] cairás nas mãos do estrangeiro, teus inimigos verão de longe teus palácios em chamas, tuas casas transformadas num amontoado de ruínas banhadas pelo sangue de teus filhos que não existem mais”.1
Nossa Senhora em La Salette também advertiu: “As montanhas e a natureza inteira tremerão de espanto, porque as desordens e os crimes dos homens transpassarão a abóbada celeste. Paris será queimada”.2 A vidente Mélanie viu a cidade arruinada num instante de uma forma desconhecida.
O que será então de Notre-Dame de Paris, à qual se pode aplicar a lamentação do profeta Jeremias sobre Jerusalém: “A catedral perfeita, a alegria dos homens”?!3 Cabe aos bons católicos implorar a Deus que a poupe dos castigos que poderão advir, pois a Revolução sempre tentou arrasá-la, mas a Providência Divina não o permitiu em atenção aos bons.
Projeto desfigurador
Hoje, mais de 100 personalidades da cultura francesa, inclusive ateias ou não católicas, se indignam com o projeto da arquidiocese de Paris para desfigurar por dentro a paradigmática catedral. Na revista “La Tribune de l’Art”4 e no jornal “Le Figaro” elas o rotularam de “absurdo”. “Absurdo?” Estas sumidades estão imersas num mundo no qual o absurdo é até premiado. O que viram então para ficar tão chocadas? Só podia ser o horror da autodemolição que devasta a Igreja por dentro.
A restauração de Notre-Dame avança de modo rápido, financiada por doações privadas, reparando o prédio que é do governo desde que foi confiscado iniquamente pela Revolução Francesa (1789). Há um ano, o arcebispo de Paris, Dom Michel Aupetit [foto ao lado], que depois deixou o cargo por ser suspeito de grave escândalo moral, propôs uma insensata reforma de paredes e vitrais, mas ouviu brutal resposta do Estado proprietário.
O arcebispo queria trocar os vitrais por outros que se previam monstruosos para que Notre-Dame “incorpore certa modernidade como lembrança de sua tragédia”. Aventou-se “uma janelona de novo feitio com seis metros de altura, para fornecer luz e atrair turistas e fiéis, acompanhada de uma projeção ‘muito 2020’ de versos das Sagradas Escrituras”.
O Ministério de Cultura respondeu ser “inadmissível”, os vitrais não foram afetados pelo fogo e são patrimônio nacional, “portanto a questão está resolvida”. “O senhor não é o dono de Notre-Dame, mas locatário, e os vitrais de Viollet-le-Duc são monumento histórico. A resposta é não”, revidou o fundador de “La Tribune de L’Art”, Didier Rykner.
O arcebispo progressista encolheu as unhas, mas não por muito tempo, alegando que as igrejas decidem a decoração interior do edifício.
Nos tempos medievais as igrejas requintavam a sacralidade, a arte e a riqueza dos altares, imagens e púlpitos, a fim de elevar as almas e glorificar a Deus, Nossa Senhora, anjos e santos, irradiando um antegozo do Céu. Foi assim que o bárbaro Clóvis, rei dos Francos, quando foi se batizar, voltou-se para o bispo São Remígio e indagou admirado: “Pai, isto já é o Céu?”
Infelizmente, no período pós-conciliar se instalou a tendência oposta, e por mão episcopal! O cardeal-arcebispo de Viena, Christoph von Schönborn, promoveu concertos de rock com iluminação de boate e apresentações pró LGBT em sua catedral, que a moral nos impede de descrever. A catedral de Innsbruck instalou um grande Crucificado de cabeça para abaixo e os braços arrancados. A catedral de Pamplona exibe um impressionante touro Miúra empalhado.
Já na catedral de Besançon montou-se uma exibição equestre. E até na fachada da Basílica de São Pedro, em Roma, projetou-se o show “Fiat Lux”, de sabor esotérico, ecumênico, pagão e ecológico. O sofisma do clero progressista é o mesmo: a Igreja deve abrir-se ao mundo e às suas modernidades (ainda que monstruosas), para atrair os homens como o Vaticano II pretendeu.
Os escândalos católicos infeccionaram até os protestantes, que montaram um gigante “Museu da Lua” rotativo nas catedrais de Chichester e outras, ou um parque de diversões na catedral de Norwich, para atrair os fiéis pelo divertimento. Esses precedentes de “vanguarda cultural”, que o pontificado do Papa Francisco acentuou, levou centenas de intelectuais e artistas a exclamar: “O que o fogo poupou, a diocese quer destruir!”.
Um parque temático?
Anne-Elisabeth Moutet, colunista do jornal inglês “Daily Telegraph”, explicou: “A diocese de Paris tem um projeto de viagem catacumenal dentro da catedral, com animações, projeções de palavras em diferentes idiomas. Isso ficaria bem em um museu. Mas não numa catedral. No ‘Le Monde’ os defensores dessa reforma aduziram que seria uma ‘capitulação’ refazer Notre-Dame de forma idêntica”.
Para “La Tribune de l’Art”5, o projeto distorce a fundo o espaço litúrgico e ignora que Notre-Dame é uma Bíblia de Pedra que fornece em seus vitrais verdadeiros cursos de catequese e de História Sagrada. Mas a diocese quer destruir essa obra de séculos da Igreja e instalar uma iluminação mutável com as estações e projeções de vídeo como nos projetos culturais contemporâneos nos quais a tolice compete com a vulgaridade barata. Um “cristianismo para manequins”, resume a revista de arte especializada.
O porta-voz do projeto é o Pe. Gilles Drouin, diretor do Instituto Superior de Liturgia do Instituto Católico de Paris, nomeado por Dom Michel Aupetit, o arcebispo de Paris que desejava trazer a “catedral para o século XXI”, mas que se envolveu num relacionamento que o levou a deixar o bispado. “É Notre-Dame de Paris transformada em Disneylândia. Não faz sentido”, disse o arquiteto Maurice Culot ao “Art Newspaper”.6 No YouTube, o Pe. Drouin exibiu profunda ignorância da catequese de séculos feita pela Bíblia de Pedra. Ele quer catequizar com efeitos nos moldes de uma Disneylândia e falou de luminosos “bancos móveis”, altares deslocados das capelas e apenas quatro confessionários no térreo, escreveu “The Art Newspaper”.7
O ensino do clero e dos catequistas clamava há décadas pela ausência e é estranho que apareça agora para pôr tudo de cabeça para baixo. O Pe. Drouin postula um ‘passeio’ interior que terminaria numa capela dedicada à ‘criação reconciliada’, aplicando a encíclica ecológica ‘Laudato Si’, estimou “The Daily Mail”.8 Como complemento deste espírito de religião naturalista, o contíguo hospital medieval Hôtel-Dieu viraria um shopping center.
Fim do sacrifício propiciatório?
Para “La Nación”,9 esses “liturgistas intelectuais” não querem organizar a visita, mas refazer o culto de modo sorrateiro, indo muito além da renovação da mobília. Nos primeiros séculos, o batistério ficava do lado de fora, pois o não batizado, criança ou adulto, era pagão e não podia pisar solo sagrado. Depois foi colocado na entrada, átrio ou paraíso onde hoje podemos vê-lo. Nas novas “experiências litúrgicas” se minimiza o sacrifício, que é o cerne da missa, e se privilegiam os eventos comunitários, como o ingresso de um neófito ou uma ceia. Nessa perspectiva, o projeto fala em instalar um batistério em estilo contemporâneo no lugar central.
No período medieval, não havia cadeiras comuns na catedral, cada fiel mantinha seu móvel no local ou a família levava tapetes e almofadas para todos, inclusive para os vassalos. Quando os fiéis aumentaram, surgiram os bancos. Agora, com a deserção dos fiéis, os reformistas querem esvaziar a nave, para em teoria recuperar a “atmosfera medieval”. Mas a reforma seguiria o caminho tentado, mas frustrado, da igreja do convento de Santa Teresinha em Lisieux: um tatame oriental de ponta a ponta com algumas almofadinhas no estilo yoga.
O jornal “Le Figaro” reprovou porque as “fotos dão a impressão de estar em uma pista de aeroporto ou em um estacionamento”. Execrou certas “criações” propostas que destruirão a “harmonia secular” de Notre-Dame. A suprema blasfêmia “seria pensar em trocar os vitrais não figurativos do tempo de Viollet-le-Duc por obras contemporâneas”.
Para o jornalista Harry Mount, da revista britânica “The Spectator”,10 o plano fará da catedral um “showroom litúrgico experimental” de arte moderna, com “espaços emocionais”, citações da Bíblia projetadas até em mandarim, culminando na religião panteísta do ambientalismo. Será um “parque temático muito infantil e trivial”, lamentou o arquiteto parisiense Maurice Culot ao “The Telegraph”.11
Dessacralização atinge o auge
Na revista “Spectator”, o bispo evangélico Robert Barron atribui o declínio do catolicismo ao embrutecimento da fé que dominou a catequese e a educação do seminário nos anos pós-Concílio Vaticano II. Essa assembleia convocada em 1961 prometeu atrair as massas ao tornar o rito mais acessível injetando fortes doses de banalização, mas acabou por afastar os fiéis. As projeções vislumbram “zero fiéis semanais” até 2050, se o atual declínio persistir.
Num editorial do britânico “Telegraph”,12 Tim Stanley escreveu que “o que atrai os recém-chegados ao catolicismo é a oração e o mistério. Mas o clero reformista carece disso na vida interior e não consegue torná-lo atraente em parte alguma. Então opta por um arranjo à maneira de um museu moderno. ‘Museu’ é a definição certa do projeto. Mas tudo em um museu está morto”.
O jornalista prossegue dizendo que o Papa Francisco nomeou o defensor do controle populacional Jeffrey Sachs para a Pontifícia Academia, abraçou a mudança climática e a migração em massa, curvou-se à elite globalizada e ao sincretismo da Pachamama, garantiu a Eucaristia ao presidente pró-aborto Biden, demonizou os movimentos que se opõem ao aborto e à ideologia de gênero.
Nessa lógica, a Igreja tem de se desculpar por tudo que o laicismo desaprova nela e aprovar tudo o que modernidade gosta. Ela se torna assim como um cão domesticado que pode ocasionalmente soltar alguma condenação contra a fertilização in vitro ou o casamento sodomítico. Mas bastará que o laicismo levante o dedo e diga ‘não’ que ela vai se encolher de vergonha como uma boa menina, completou o jornalista.
Fiéis apelam in extremis
Cristina Siccardi aponta em “Corrispondenza Romana”13 o atual paradoxo. Simples fiéis tentam deter a loucura do clero, que ébrio das modas do momento expulsa das igrejas a sacralidade religiosa medieval. Uma profanação sem precedentes entrega a catedral de Paris à estética antirreligiosa, cafona e vulgar, própria a uma galeria de arte contemporânea ultracomercializada e de valor baixo ou nulo, como definiu a professora Christine Sourgins.
O “Inverno da Igreja” adota o “Inverno da Cultura”, disse Jean Clair, historiador da arte. O parque de diversões visual desenvolvido pela arquidiocese de Paris gera uma máscara ridícula e mefistofélica, sob a direção do Pe. Gilles Drouin, conclui o colunista.
Como nos referimos no início do artigo, a oração e a ação dos católicos fiéis constituem uma exigência no momento para salvar a catedral de Notre-Dame. A Société Française pour la Défense de la Tradition, Famille et Propriété14 colheu pelo menos 150.000 assinaturas de franceses instando o Presidente da República e o Ministro da Cultura a restaurar Notre-Dame respeitando identicamente sua fisionomia medieval original. O pedido obteve o que pedia na parte estrutural.
Por sua vez, a Associação Avenir de la Culture está encaminhando mais de 70.000 assinaturas suplicando a Mons. Georges Pontier, Administrador Apostólico da diocese, que “renuncie a emporcalhar Notre-Dame!”. A súplica conclui dizendo que introduzir a modernidade naquele templo seria conspurcá-lo. Equivaleria também a ofender Aquela a quem está consagrada a catedral de Paris, Nossa Senhora.
“Eu vos peço para pôr fim imediatamente a este projeto impulsionado pela diocese”.15 Uma petição análoga está sendo promovida pela TFP americana e por sua seção estudantil.16 Esse movimento filial e autêntico pesará na balança da Justiça de Deus a fim de poupar Notre-Dame nos infaustos dias da Cidade Luz, conforme alertaram a Santa Mãe de Deus e as santas almas acima referidas.
ABIM
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Notas:
- Archivio Salesiano Centrale, Roma, (AS S132 Sogni 1). Fotocopia del manoscritto di Don Gioacchino Berto segretario, con postille marginali autografe di San Giovanni Bosco, descritto e trascritto da Don Angelo Amadei nel vol. X delle Memorie Biografiche.
- Michel Corteville – René Laurentin, “Découverte du Secret de La Salette”, Fayard, Paris, 2002.
- Lamentações, 2,15. https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/lamentacoes/2/
- https://www.europe1.fr/societe/reconstruction-de-notre-dame-un-projet-absurde-et-pas-necessaire-selon-ses-detracteurs-4081367
- https://www.latribunedelart.com/une-nouvelle-menace-plane-sur-notre-dame-de-paris-ce-que-l-incendie-a-epargne-le-diocese-veut-le
- https://news.artnet.com/art-world/notre-dame-new-plans-disney-2043237
- https://www.theartnewspaper.com/2021/12/01/interior-redesign-notre-dame-cathedral
- https://www.dailymail.co.uk/news/article-10246695/Notre-Dame-turned-woke-theme-park.html
- https://www.lanacion.com.ar/cultura/polemica-por-notre-dame-en-paris-ahora-es-la-decoracion-interior-la-que-cristaliza-las-tensiones-nid22122021/
- https://www.archpaper.com/2021/11/plans-for-a-modern-interior-at-notre-dame-cathedral-invokes-the-ire-of-traditionalists/
- id.ibid.
- https://spectatorworld.com/book-and-art/woke-notre-dame-future-christianity/
- https://es.corrispondenzaromana.it/llamamiento-para-salvar-la-catedral-de-notre-dame-de-los-proyectos-de-desacralizadores-de-la-arquidiocesis-de-paris/
- https://flechenotredame.org/
- https://www.avenirdelaculture.info/signez-contre-la-denaturation-de-notre-dame/
- https://www.tfp.org/act/petition/please-sign-here-to-prevent-notre-dame-from-being-burned-a-2nd-time/ e https://tfpstudentaction.us4.list-manage.com/track/click?u=ce78b929c07d23e05785298d4&id=0546cc41b1&e=6f18f4c9b9