domingo, 26 de junho de 2022
Casal encontrado morto numa habitação: PJ investiga possível homicídio em Cascais
Liga MEO Surf – Frederico Morais e Teresa Bonvalot vencem o Allianz Ribeira Grande Pro
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Liga MEO Surf – Teresa Bonvalot sagra-se campeã nacional de surf!
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RIBAU ESTEVES PARTICIPOU EM CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE “AÇÃO OCEÂNICA” DOS GOVERNOS LOCAIS E REGIONAIS
Evento decorreu em Matosinhos e antecede a grande Conferência de Lisboa sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
O Presidente da Câmara Municipal de Aveiro (CMA), Ribau Esteves, participou este sábado, 25 de junho, no Evento Especial de Ação Oceânica Local / The Localizing Ocean Action Special Event, em Matosinhos, para falar no “Fortalecimento da Cooperação, abordagens inclusivas e governança para proteção dos oceanos” (Strengthening cooperation, building inclusive and governance approaches to protect the ocean).
Para além da presença de Aveiro, o painel contou com o contributo de responsáveis de entidades públicas Municipais e Regionais das Maldivas, Espanha, Brasil e Moçambique, e representantes da Organização de Alimentação e Agricultura das Nação Unidas (FAO) e do Gabinete de Pescas e Oceanos da Associação Natureza Portugal / World Wide Fund for Nature (ANP / WWF).
Esta sessão focou-se no papel dos autarcas e dos Governos Locais e Regionais para a implementação da medida n.º14 “Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável” no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.
Foi possível perceber como os modelos de gestão inovadores dos territórios, serão a chave para alcançar a gestão sustentável dos Oceanos. As discussões incidiram sobre modelos e recursos de governança multinível e multissetoriais inovadores desenvolvidos ao nível Nacional, Regional e Local para cumprir o ODS 14.
Ribau Esteves, que já presidiu ao Cluster do Mar Português, incidiu a sua intervenção em quatro aspetos:
As Nações têm de ser muito mais Unidas para poderem gerir bem esse espaço comum e sem fronteiras que são os Oceanos;
É muito importante, em Portugal e em muitos outros Países, que se aprofunde o modelo de cooperação formal e de gestão de projetos pelos Clusters, que juntam os Centros de Investigação e Desenvolvimento (onde se integram as Universidades), as Empresas, e os Poderes Públicos Nacionais, Regionais e Municipais;
No que respeita às áreas costeiras, onde a terra e o mar se encontram, está provado que é útil um instrumento de gestão integrada do tipo do Polis Litoral, que tem tido excelentes resultados e que em vez de se extinguir como está a acontecer, seja relançado e integre a gestão de projetos e competências em zonas costeiras, lagunas e rios, juntando na administração o Ministério do Ambiente e os Municípios;
É necessário investir na valorização social e cultural do Mar, incentivando o emprego nas atividades que usam o Mar, garantindo segurança que o Desporto ajuda a percecionar junto dos mais novos.
Esta é a segunda vez no espaço de um mês que a Câmara Municipal de Aveiro, através do seu Presidente, participa em eventos de âmbito internacional sobre o tema do ambiente e do desenvolvimento sustentável, depois da participação, no dia 14 de junho, na 5.ª Edição do Fórum das Cidades de Madrid.
O encontro deste sábado antecede a “Conferência das Nações Unidas para Apoiar a Implementação do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14: Conservar e usar de forma sustentável os Oceanos, Mares e Recursos Marinhos para o Desenvolvimento Sustentável” que será realizada de 27 de junho a 01 de julho em Lisboa, sob o tema abrangente: “Ampliar a ação Oceânica com base na Ciência e na Inovação para a implementação do Objetivo 14: balanço, parcerias e soluções”. Uma Conferência convocada pela Assembleia Geral das Nações Unidas e coorganizada pelos Governos do Quénia e Portugal.
Mais de 1.000 saíram à rua em Cantanhede. Desfile em honra de S. Pedro fechou programa das marchas populares
Mais de 1.000 pessoas assistiram este sábado, 25 de junho, em Cantanhede, às marchas populares em honra de S. Pedro, padroeiro da cidade. Organizado pela Câmara Municipal, em parceria com a União de Freguesias de Cantanhede e Pocariça, o desfile percorreu algumas das ruas do centro urbano até chegar à Praça Marquês de Marialva, onde uma numerosa assistência aguardava a apresentação final das coreografias especialmente ensaiados para o efeito.
Entre as milhares de pessoas que assistiram ao espetáculo de cor e alegria protagonizado pelos grupos de Cantanhede, Murtede, Tocha e Arrôtas, aos quais se juntou a Marcha de Santa Clara (Coimbra), como convidada, estiveram a presidente da Câmara de Municipal, Helena Teodósio, o presidente da Assembleia Municipal, João Moura, o vice-presidente da autarquia, Pedro Cardoso e os vereadores Célia Simões, Sérgio Negrão e José Santos, o pároca de Cantanhede, João Pedro Silva, o presidente da União de Freguesias de Cantanhede e Pocariça, Nuno Caldeira, bem como outros autarcas e representantes de diversas entidades.
O desfile abriu com a atuação da Escola de Dança Flowmotion, que apresentou uma versão das marchas latino-americanas, numa fusão do estilo latino merengue com marchas populares. Seguiu-se o grupo convidado do desfile deste ano, a Marcha de Santa Clara (Coimbra), que proporcionou uma viagem pelas tradições, com referências à filigrana, ao mítico Galo de Barcelos, Vinho do Porto, fado de Coimbra, a sardinha que acompanha todo o país nos Santos Populares, o Zé Povinho, o Cante Alentejano ou os doces do Algarve.
Os grupos do concelho entraram, depois, em ação, com a Marcha de Cantanhede a prestar tributo à diva Amália Rodrigues, uma homenagem que surgiu com dois anos de atraso, devido à pandemia da Covid-19, pois evocou o centenário da fadista, assinalado em 2020.
Seguiu-se a Marcha de Murtede, que celebrou os 10 anos durante os quais tem marcado presença nas marchas populares, e a Marcha da Tocha, que retratou o ciclo do moinho ao pão, do grão à farinha e da farinha ao pão.
Coube à Marcha das Arrôtas encerrar o desfile, retratando o mar que traz alento, esperança e alegria, mas que também desperta tranquilidade, paz e harmonia, sentimentos tão necessários neste contexto pós-Covid-19 e agravados pela guerra na Ucrânia.
No total, foram mais de 300 os marchantes que criaram na Praça Marquês de Marialva um ambiente de cor, luz e alegria, com os seus coloridos e reluzentes trajes, as imaginativas quadras sobre as alegorias escolhidas e as danças coreografadas para dar expressão aos respetivos temas.
Posição destacada no programa teve, como habitualmente, a Praia da Tocha, que realizou na sexta-feira, 24 de junho, as marchas populares em honra de S. João.
O desfile, que tem como imagem de marca a elevada adesão popular, foi realizado em parceria com a Associação de Moradores da Praia da Tocha e Junta de Freguesia da Tocha, e contou com a participação de grupos de Cantanhede, Murtede, Tocha e Arrôtas, que levaram às ruas o seu entusiasmo contagiante. Com início na Marginal, os marchantes desceram a Avenida dos Pescadores, tendo o primeiro ponto de apresentação no Largo da Fonte e posteriormente no Largo de São João.
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Preço do leite fecha vacarias em Portugal. Setor tem de “acordar”
O preço do leite à produção e a subida dos custos está a levar as vacarias a encerrar, podendo haver escassez deste produto, alertou a Aprolep, vincando que, quando a distribuição “acordar”, poderá já ser tarde. “Há vacarias de grande dimensão que já fecharam e muitos produtores estão a [pensar] se fecham ou se reduzem a produção. Temos situações de produtores com água limitada por causa do regadio e outros compram silagem de milho, que está muito mais cara. Se não tiverem um preço que lhes permita pagar as despesas, a única solução é reduzir as compras e a produção”, apontou o secretário-geral da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), Carlos Neves, em declarações à Lusa. O encerramento de vacarias e a redução da produção só não é maior porque quem fez projetos de investimento tem que se manter na atividade durante cinco anos, indicou este responsável, notando que os produtores que se aproximam da reforma ou que têm outras atividades deixam este trabalho. “Tenho conhecimento de vacarias que vão fechar e ser substituídas por projetos de produção de amêndoas”, exemplificou. Segundo a Aprolep, esta não é uma situação recente, uma vez que já há cerca de 30 anos os pequenos produtores abandonavam a atividade, uma vez que não eram competitivos ou rentáveis. Neste momento, com os baixos preços pagos à produção e a subida dos custos, as grandes vacarias também já estão a encerrar, podendo haver escassez de leite em Portugal. “Receio que, quando a indústria e a distribuição acordarem, já seja tarde. Quem abandona a produção não volta a meter vacas. Não é como plantar batatas, que podemos deixar a terra em pousio e, no ano seguinte, voltamos a produzir. Quem deixa as vacas não volta”, sublinhou Carlos Neves. Segundo a Aprolep, os produtores estão assim desiludidos e apreensivos com o futuro da produção de leite em Portugal. “Desilusão porque vemos que, na Europa, o leite está a ser valorizado e em Portugal não. Um país que estava na média ou ligeiramente aproximado e está há 12 anos abaixo da média […]. Fomos ultrapassados pelos países do Leste, com um nível de vida inferior ao nosso”, destacou. Em muitas vacarias de Portugal, o preço de produção ronda os 50 cêntimos, estando, atualmente, os produtores a perder “muito dinheiro”, mostrando-se “apreensivos face aos próximos meses”. Perante este cenário, a Aprolep enviou dois pedidos de reunião à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, e um à comissão parlamentar de Agricultura, mas, até ao momento, não obteve a resposta. No dia 01 de julho, os produtores vão reunir-se em Alcobaça, distrito de Leiria, para discutir, entre outras temáticas, este problema. Preço do leite ao produtor sobe mas é dos mais baixos na Europa O preço do leite e de alguns derivados pago ao produtor tem subido, desde o início do ano, em Portugal, mas continua a ser um dos mais baixos da União Europeia, segundo dados do GPP e de Bruxelas. Em janeiro, no continente, o preço do leite comprado a produtores individuais era de 0,356 euros por litro, abaixo dos 0,405 euros registados em abril, segundo dados do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP). O valor do leite adquirido a postos de receção e salas coletivas de ordenha ascendeu a 0,368 euros por litro em abril, quando no primeiro mês do ano estava em 0,338 euros. Nos Açores também se verificou a mesma tendência, com o preço pago aos produtores individuais (que possuem tanque na refrigeração na exploração e com transporte a cargo da fábrica) a passar de 0,317 euros por litro em janeiro para 0,333 euros em abril. Já no que se refere ao leite adquirido a produtores individuais, que entregam em postos de receção, com o transporte a cargo do produtor, o valor passou de 0,299 euros por litro em janeiro para 0,317 euros por litro em abril. No período em causa, o preço médio do leite biológico à produção foi de 0,533 euros por litro em abril, quando, em janeiro, estava nos 0,520 euros. O preço médio do leite em pó (à saída da fábrica) é apresentado à semana, variando consoante a subcategoria — desnatado, inteiro ou soro. Desde janeiro e até junho, considerando o leite em pó desnatado, o valor mais elevado verificou-se na semana de 07 de março, com 393,09 euros por 100 quilogramas (kg), enquanto o valor mais baixo (277,09 euros) foi apurado na semana de 10 de janeiro. O preço do leite inteiro, por seu turno, atingiu, neste período, um máximo de 468,96 euros por 100 kg na semana de 09 de maio e um mínimo de 287,69 euros por 100 kg na semana de 10 de janeiro, considerando os dados disponibilizados pelo GPP. O valor do soro oscilou entre os 85,48 euros por 100 kg (semana de 03 de janeiro) e os 124,39 euros por 100 kg (semana de 09 de maio). Por sua vez, o preço da manteiga à saída da fábrica, que também é apresentado à semana, teve vários avanços e recuos, estando, em 06 de junho, nos 701,84 euros por 100 kg. Tendo em conta o período apresentado, o valor mais baixo registou-se na semana de 17 de janeiro (453,40 euros por 100 kg). Nos primeiros quatro meses deste ano, o preço do queijo flamengo à saída da fábrica, em bola ou em barra, passou de 463,19 euros por 100 kg para 504,67 euros. O GPP ressalva que, a partir de março de 2016, há uma quebra de série, por isso, passaram a ser comunicados os preços reais de venda, em vez dos preços de tabela. Dados da Comissão Europeia revelam que o preço de leite de vaca cru atingiu, em Portugal, os 37,85 euros por 100 kg em maio, o valor mais alto, desde junho de 2008. Porém, esse valor é o segundo mais baixo da União Europeia, apenas acima da Eslováquia (37,83 euros). Em maio, o preço mais elevado foi registado em Malta (62,41 euros). Destacam-se ainda o Chipre (57,68 euros), Bélgica (57,23 euros), Irlanda (52,84 euros), Países Baixos (52,50 euros) e a Dinamarca (50,94 euros). Nos primeiros quatro meses do ano, Portugal apresentou mesmo o valor mais baixo entre todos os Estados-membros, enquanto Malta esteve sempre a liderar, apresentando valores acima de 61 euros. Os dados da Comissão Europeia não apresentam o valor pago no Luxemburgo, que é classificado como confidencial. Entre 1996 e até maio de 2022, Portugal atingiu o valor mais elevado (39,40 euros) em novembro de 2007, tendo-se prolongado até janeiro de 2008. Fonte: MadreMedia/Lusa |
Amabilidade: virtude quão necessária hoje!
- Plinio Maria Solimeo
A amabilidade é uma das virtudes mais encantadoras e das mais necessárias ao bom convívio humano. Ela tempera o que pode haver de brusco no nosso temperamento, e leva-nos a tratar os outros como gostaríamos de ser tratados.
Fazem parte dessa virtude uma série de outras muito necessárias nos dias de hoje, e que constituem o cortejo liderado pela verdadeira caridade: “a benignidade, que leva a tratar e julgar os outros e as suas atuações com delicadeza; a indulgência em face dos defeitos e erros alheios; a educação e a urbanidade nas palavras e nas maneiras; a simpatia, que por vezes será necessário cultivar com especial esmero; a cordialidade e a gratidão; o elogio oportuno às coisas boas que vem”[i]. Podemos ainda acrescentar a isso a gentileza, cortesia, brandura, carinho, meiguice, ternura e suavidade no trato com as pessoas.
O famoso apologista americano, arcebispo Dom Fulton Sheen, explica que “a palavra inglesa «kindness» (amabilidade) é derivada de «kindred» ou «kin» (parentes), e portanto implica uma afeição que dedicamos naturalmente àqueles que são a nossa carne e o nosso sangue. A amabilidade original e típica é a de um pai para com o filho ou a de um filho para com o pai. Gradualmente a palavra adquire maior amplitude até atingir todos os que desejamos tratar como parentes”[ii].
A amabilidade deriva da virtude da misericórdia que, por sua vez, é um dos efeitos da caridade. Como diz o renomado teólogo Pe. Royo Marin, O.P., ela “nos inclina a ter compaixão das misérias do próximo, considerando-as de certo modo como nossas próprias, porque o que lhe causa tristeza, do mesmo modo nos causa a nós […]. O próprio Deus manifesta misericórdia num grau extremo, ao ter compaixão de nós”[iii].
Essa virtude também está relacionada com a da piedade, que por sua vez, como diz o mesmo teólogo, é “um amor filial por Deus considerado como Pai, e um sentimento de irmandade universal para com todos os homens como nossos irmãos e filhos do mesmo Pai celeste” (p. 387). E acrescenta: “É essa piedade que levava São Paulo a se afligir com os aflitos, a chorar com os que choram, e suportar as fraquezas e misérias do próximo com o propósito de o salvar” (p. 390).
O eminente teólogo continua dizendo (p. 402), que a afabilidade ou amabilidade, é “a virtude social por excelência, e uma das mais delicadas manifestações do verdadeiro espírito cristão”. Ela é muito afim com a verdadeira amizade, que é definida como “uma virtude pela qual nossas palavras e ações externas são dirigidas à preservação de uma amigável e agradável associação com nosso próximo. … A verdadeira amizade procede do amor, e entre os cristãos, deve ser o resultado natural da caridade fraterna, a afabilidade é uma espécie de amizade que consiste em palavras e ações com relação aos outros, requerendo de nós que nos conduzamos de um modo amigável e maneira social com o próximo, sejam amigos íntimos ou estranhos”. Por isso, acrescenta o Pe. Royo Marin “Benignidade, polidez, simples louvor, indulgência, sincera gratidão, hospitalidade, paciência, mansidão, refinamento em palavras e ações etc., exercem uma espécie de atração que é difícil de resistir.” O que faz com que “Esta preciosa virtude é extremamente importante não somente em nossa associação com amigos, vizinhos ou estranhos, mas de um modo especial mesmo no círculo de nossa própria família, onde ela é frequentemente muito negligenciada”.
A importância dessas virtudes nas relações sociais, é porque todas pessoas querem, no trato com as outras, três coisas essenciais: afabilidade, respeito, e perdão para suas faltas. E ficam felizes quando são assim tratadas. Pelo contrário, sofrem e se sentem feridas no seu ego quando são objeto de desatenção, mau trato ou recriminação.
Nesse sentido conta-se que uma das filhas de Luís XV, da França, um dia recriminou impacientemente uma camareira sem muito motivo. Esta lhe manifestou seu desagrado. A princesa então lhe disse: “Não sabe que eu sou filha do Rei?”. Ao que respondeu dignamente a camareira: “E Vossa Majestade não sabe que eu sou filha de Deus?” Quer dizer, se cada um visse no outro um filho de Deus, o trataria de modo muito diferente. Desse modo a amabilidade, tendo Deus como principal motor, é o contrário da dureza de coração, que resulta geralmente de um doentio amor de si mesmo.
Alguns países, como a França do Ancien Régime, levaram a amabilidade e a cortesia a um alto grau. Foi então que ocorreu a “douceur de vivre”, a doçura de viver, pois cada um se sentia tratado segundo o melhor lado de si mesmos. É muito conhecido o fato de o rei Luiz XIV, o Rei Sol, em todo o seu esplendor, tirar o chapéu quando cumprimentava uma simples lavadeira.
Pelo que “São Francisco de Sales nos ensina que a primeira condição [para termos um trato cortês] é sermos humildes, pois ‘a humildade não é somente caritativa, mas também doce. A caridade é a humildade que se projeta externamente, e a humildade é a caridade escondida’; ambas as virtudes estão estreitamente unidas. Se lutarmos por ser humildes, saberemos ‘venerar a imagem de Deus que há em cada homem’, saberemos tratá-los com profundo respeito”[iv].
É também o que afirma o já citado D. Fulton Sheen, “Todas as anomalias mentais têm suas raízes no egoísmo, toda a felicidade tem suas raízes na amabilidade. Mas para sermos realmente amáveis, devemos ver em todos uma alma imortal, que há de ser amada pelo amor de Deus. Então, não haverá quem não seja para nós de grande apreço”.
Na mesma linha, diz a Águia de Hipona, Santo Agostinho, com o vôo que lhe é característico: “Os frutos da caridade são alegria, paz e misericórdia. A caridade exige bondade e correção fraterna. É benevolente. Promove a reciprocidade e permanece desinteressada e generosa. É amizade e comunhão. O amor é em si a realização de todas as nossas obras. Essa é a meta; é para ela que corremos. Corremos em sua direção, e assim que nela chegarmos, nela encontraremos nosso descanso”.
Infelizmente está cada vez mais longe o tempo em que as pessoas primavam por serem corteses, amáveis, respeitosas dos outros pois, com o avanço da técnica, e sobretudo com a malícia dos tempos decorrente da profunda orfandade religiosa, essa virtude está cada vez mais posta de lado. As pessoas estão ficando cada vez mais pragmáticas, egoístas, pensando só em si mesmas e no seu mundinho, entretidas com seus celulares. Para elas, as outras não existem.
Por isso é sobretudo difícil ser amável com aqueles que nos pedem um favor, uma esmola. Ora, diz ainda D. Fulton Sheen, “A amabilidade para com os que sofrem torna-se compaixão, que significa sofrer com outrem, partilhar a mágoa e as dores de outrem, como se fossem nossas”. Isso porque, explica ele, “A amabilidade estimula o interesse do coração para além de todo o interesse pessoal, e impele-nos a dar o que temos na forma de esmola, ou o nosso talento, como o médico que trata um doente pobre, ou o nosso tempo, que às vezes é a coisa mais difícil de dar”. Como consequência, “O homem verdadeiramente compassivo e amável, que dá o seu tempo aos outros, consegue encontrar sempre tempo”.
Ele observa que “muitas pessoas, amabilíssimas nos seus lares e escritórios, podem se tornar grosseiras e egoístas ao volante de um automóvel. Isto é talvez devido a que nos seus lares elas são conhecidas; no automóvel, à sombra do anonimato, podem ser quase brutais sem receio de serem reconhecidas”. E conclui: “Sermos amáveis pelo receio de que os outros pensem que somos grosseiros, não é amabilidade real, mas antes uma forma dissimulada de egoísmo”.
O diz-que-diz, o deboche, a chanchada, a brincadeira porca, a libertinagem são fonte frequente de desavenças e de maus tratos, estando nas antípodas da amabilidade e do respeito no trato social. Infelizmente, como dissemos, com a decadência da prática religiosa e consequente queda dos bons costumes, isso está cada vez mais em voga no mundo de hoje.
Mudando de quadro: felizmente ainda não se apagaram de todo os resquícios de amabilidade pelo mundo, e quando menos esperamos, disso temos exemplos frisantes.
Nesse sentido, um amigo meu contou-me um exemplo marcante disso, e do qual jamais se esquecerá, do trato surpreendentemente amável de que foi objeto em circunstâncias quase dramáticas quando viajava pelo Exterior.
Vindo dos Estados Unidos para o Brasil com uma conexão em Toronto, no Canadá, como havia grande diferença entre a chegada do primeiro e a partida do segundo vôo, ele deixou as malas no aeroporto, tomou um trem, e foi conhecer a cidade para ocupar aquele tempo. À tarde, depois de muito andar num frio congelante, caminhava por uma grande avenida quando, tropeçando nos seus próprios pés, caiu com todo o peso do corpo com a face no chão. Não pôde amortecer a queda com as mãos, pois as tinha no bolso da gabardine por causa do frio. A queda foi tão violenta, que fraturou-lhe o nariz, cortou-lhe os lábios, e quebrou-lhe dois dentes. O sangue corria em profusão do nariz.
Ele ficou tão atordoado com a queda, que perdeu momentaneamente a memória e não conseguia mover-se. Foi aí que acorreu um casal de jovens em seu auxílio. Com muito cuidado, o ajudaram a sentar-se e a enxugar o sangue do rosto. Isso tudo com muita amabilidade e consideração à sua idade, pois era octogenário. Quando viram que ele estava um pouco refeito, perguntaram-lhe onde morava, se tinha algum parente ou amigo que pudessem avisar, em que hotel estava. Depois de um momento de amnésia, tendo recobrado a memória, meu amigo pôde explicar que estava somente de passagem etc. Como seu lenço já estava todo encharcado de sangue, a jovem correu a um restaurante próximo, e trouxe-lhe um punhado de guardanapos de papel.
Nesse momento acorreu outro jovem que, vendo que o amigo tiritava de frio, foi a uma loja e comprou um par de luvas, ajudou-o a calçá-las, e perguntou se havia mais algo que pudesse fazer. Então os dois rapazes conseguiram ampará-lo para sentar-se em um banco de pedra das proximidades.
Mas não parou aí. O primeiro jovem já tinha telefonado para um serviço de saúde, e logo apareceu uma ambulância com um casalzinho de para-médicos, muito simpáticos. Profissionalmente eles examinaram as feridas para ver se ele tinha recebido algum golpe na cabeça, mediram-lhe a pressão e a temperatura, controlaram as batidas do coração, tudo feito com muita amabilidade e consideração à sua idade. Para se certificarem de que ele tinha tido mesmo uma queda acidental, e não devido a um mal súbito e não estava com memória afetada, começaram a lhe fazer perguntas sobre o Brasil, família, São Paulo etc. Enfim, deixaram-no no hospital, onde lhe fizeram suturas no nariz e nos lábios, e lhe deram alta. Ele pôde assim voltar no mesmo dia para o Brasil.
Esse amigo ficou muito grato e até comovido com a amabilidade e atenção desses vários jovens, tanto mais por serem eles já de uma geração técnica, informatizada, pragmática, órfã de religião, e que provavelmente não receberam em casa lições de boas maneiras ou de bom trato.
Meu amigo afirmou que, estando em um país estrangeiro, numa cidade em que não conhecia ninguém, tendo um grave acidente, apesar disso não se sentiu desamparado, pois encontrou pessoas que se interessaram por ele, e o trataram com uma caridade cristã e com a consideração que teriam com um parente.
ABIM
[i] https://semeandocatequese.wordpress.com/2014/01/23/virtude-da-amabilidade/
[ii] https://rumoasantidade.com.br/rumo-felicidade/contentamento/
[iii] Pe. Antônio Royo Marín, O.P., The Theology of Christian Perfection, The Foundation for a Christian Civilization, New York, 1987, p. 356.
[iv] Semeando…
Da descrença à autodestruição – a obra do ceticismo
- Paulo Henrique Américo de Araújo
Um jovem de boa aparência coloca-se tranquilamente diante do microfone. Educado e respeitoso, apresenta-se para um debate programa “Unbelievable” (Inacreditável), veiculado por uma emissora de rádio na Inglaterra.1 Alex O’Connor (este é o nome do rapaz) transmite impressão favorável a quem, como nós católicos, gostaria de ver e admirar um jovem de bons princípios. Mas logo se desvanece tal primeira impressão quando ouvimos Alex expor seus pensamentos, pois ele se autoproclama cético. Não um cético qualquer, mas cético radical. E o título dado por ele à sua página na internet e ao seu canal no Youtube não deixa dúvidas: Cosmic Skeptic: question everything (Cético Cósmico: questione tudo).
Alex está cursando graduação em filosofia e teologia na conceituada Universidade de Oxford. Além desta credencial, talvez sua jovialidade e aparente segurança discursiva explique o porquê de sua fama nos ambientes ingleses e americanos embrenhados no ceticismo e ateísmo.2 Não quero parecer injusto, pois de fato ele demonstra capacidade intelectual invulgar na sua idade, daí o número de jovens atraídos por seu discurso.
A incapacidade de formar certezas
Em termos gerais, o ceticismo é uma doutrina filosófica que nega a capacidade do intelecto humano de conhecer qualquer certeza.3 Tendo tal doutrina como pressuposto, no seu programa de rádio Alex argumenta contra a existência de Deus. Seu opositor é Frank Turek, polemista protestante, conhecido nos meios apologéticos norte-americanos, autor de livros provocativos como “Eu não tenho suficiente fé para ser ateu”.
A discussão gira em torno da pergunta: será Deus o fundamento dos preceitos morais objetivos? Frank Turek, debatedor experiente, discorre sobre o assunto com desenvoltura e firmeza. Apesar de protestante, recorre a argumentos da apologética católica tradicional. Infelizmente, logo o diálogo mergulha em digressões sobre ontologia, epistemologia e semântica. Poupo ao leitor outras referências a assuntos tão superespecializados, mas Alex recorre a eles frequentemente, como escapatórias diante de certas dificuldades.
O mais interessante para atrair o ouvinte é que Frank Turek consegue evidenciar os dilemas e incoerências insanáveis da posição de Alex, e nessas ocasiões o rapaz titubeia, vacila, arrastando-se no terreno pantanoso e movediço da falta de certezas. Convicto da sua “falta de convicção”, ele repete muitas vezes contestações como “não necessariamente”, “não tenho certeza disso”. Um exagero didático, muito cômodo para quem “duvida de tudo”, é citar a si mesmo como autoridade: “De acordo comigo…”!
Nenhuma civilização sobrevive sem certezas
No fim do debate, o ouvinte dotado de bom senso se convence de que, independente das veleidades humanas, só pode haver moral objetiva se existe Deus para fundamentá-la. Caso contrário, qualquer desejo subjetivista justificaria as loucas atrocidades praticadas por Hitler, Stalin ou Mao Tsé-Tung.
Essa conclusão é óbvia, repito, para pessoas de bom senso. Mas a maioria dos seguidores de Alex O’Connor pertence àquela gama de espíritos incoerentes, ansiosos de não serem responsabilizados por seus atos diante de um Divino Juiz. Pois a consequência lógica de admitir uma moral objetiva é que se tem a obrigação de prestar contas ao Divino Autor e garantidor dessa moral. Disso o cético procura fugir a todo custo e agarra-se a qualquer solução, por mais pobre que seja. Para esses, Alex fornece saídas tranquilizadoras, pseudo-racionais.
A consequência lógica do raciocínio sem fundamentos4é um mundo igualmente sem fundamentos, autodestrutivo por si mesmo. Sem convicções, nada de seguro, elevado e sublime se constrói. Nenhuma instituição ou civilização pode perdurar sem bases sólidas. Caso o ceticismo triunfasse, chegaríamos ao fim da História.
No Brasil, não me consta que haja celebridades do ceticismo, como o jovem inglês. Apesar da falta de notoriedade (e talvez à procura dela), alguns resolveram recentemente levantar a voz para alcançar o público brasileiro.
Em artigo publicado pela “Folha de S. Paulo” em 10 de setembro de 2020, Contardo Calligaris confessa sua inclinação ao ceticismo: “Somos condenados a sermos liderados por fanáticos incultos?”. Nas entrelinhas, muitas semelhanças com a mentalidade de Alex O’Connor: vacilações, irresponsabilidades e a consequente ruína da civilização.
A Roma católica deu novo impulso ao Império Romano
Em resumo, Calligaris usa a narrativa da queda do Império Romano do Ocidente (século V d.C.) para fazer uma espécie de alerta sobre o grande erro — segundo ele — de sermos governados atualmente por pessoas convictas de suas ideias. Para ele, o perigo são os fanáticos “incultos, analfabetos funcionais ou, no mínimo, leitores de um livro só”. Obviamente, o alvo aqui são os cristãos.
Ainda segundo o autor, uma minoria de “cristãos fanáticos e incultos” assumiu o poder no Império Romano e provocou a queda da outrora grandiosa Roma dos Césares. Do mesmo modo, a “minoria fanática” de hoje — leia-se o movimento conservador — galgou o poder nos últimos anos no Brasil, e assim vai preparando a derrocada da nossa cultura.
Sem entrar em todos os pormenores do artigo, apenas desejo apontar as vacilações e incongruências do autor. Antes de tudo, demonstra uma ignorância histórica imperdoável. Roma se tornou grande exatamente em razão das convicções e certezas de seus habitantes. A noção da Pax Romana impregnava a mentalidade dos romanos. Eles estavam certos de que levariam o bem-estar aos povos sujeitos à sua administração, e com tal convicção forjou-se a grandeza de Roma. Pouco importa se alguém está de acordo ou não com essa política, o fato é que os romanos se mostraram coerentes com ela.
Ora, a queda do Império se deveu justamente ao fato de os “céticos cultos”, “gozadores da vida” (para usar as expressões de Calligaris) terem tomado as rédeas do poder em Roma. Eles constituíam a parcela dos irresponsáveis da época, incoerentes em seus raciocínios e adversos à ideia de serem julgados por seus atos no tribunal de Deus. Ao contrário do que diz o autor, o último recurso para a salvação do Império veio precisamente dos cristãos.5 O Imperador Constantino o percebeu, e por isso lhes deu a liberdade.
Os católicos daquela época recolheram os restos do Império decadente e empreenderam a sua reconstrução. Foi daí que vieram as instituições medievais. Com Carlos Magno, o Império Romano renasceu. Mais tarde a solidez da fé católica produziu as magníficas catedrais, as grandes universidades, a heroica e caritativa nobreza cristã, a síntese escolástica, as corporações de ofício… Todo esse conjunto de fatores proporcionou o surgimento da civilização cristã, esplendorosa e repleta de coerência.
Se hoje nossa cultura está morrendo, tal se dá em boa medida pela corrosão promovida por falsos “cultos” e por céticos como Alex O’Connor, Contardo Calligaris e seus frustrados seguidores, sejam eles jovens ou anciãos. Poderíamos perguntar-lhes: o seu ceticismo ilógico, o que produziu de verdadeira cultura? Ouviríamos provavelmente uma resposta vacilante, ou então as palavras cínicas do autor brasileiro: “Os cultos e céticos lutam para que cada um possa tocar a vida e gozar do jeito que lhe parece certo, sem ser julgado (apenas nos limites do Código Penal)”.
Somente católicos convictos de sua fé podem resgatar os restos de civilização cristã. O futuro pertence a eles, e não a céticos incoerentes e irresponsáveis.
ABIM
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Notas
- O debate está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=b5a3MxIqZOs
- No canal de Alex, o debate já tem quase 1 milhão de visualizações.
- Cfr. Enciclopédia Católica na internet: https://www.newadvent.org/cathen/13516b.htm
- Idem: “O cético assume a capacidade do intelecto de criticar a faculdade do conhecimento e, ao mesmo tempo, ele nega conhecer qualquer coisa. Assim, implicitamente contradiz a si mesmo”.
- Cfr. ESOLEN, Anthony, Manual politicamente incorreto da Civilização Ocidental, Vide Editorial, Campinas, SP, 2019.