Naquela noite de 1669 as ruas de Hamburgo estavam particularmente silenciosas. Tudo se encontrava no local habitual e a rotina parecia estar instalada.
Nada antevia, portanto, que numa das casas mais banais da cidade um vidreiro estaria prestes a descobrir um novo elemento químico.
Na verdade, a residência de Henning Brandt tinha já algo distintivo. Logo na entrada se notava o cheiro intenso de… urina. É que Brandt tentava produzir ouro através da urina e tinha, literalmente, baldes com esta que adquiria regularmente a mineiros. Como qualquer alquimista do séc. XVII, ele procurava intensamente a pedra filosofal, que lhe daria a vida eterna e transformaria qualquer metal em ouro.
Mas o que o célebre alemão descobriu, por mero acaso, foi uma pedra que em contacto com o ar emitia, espontaneamente, luz.
Designou-a de “phosphorus”, que em grego antigo significa “o transportador de luz” e que, por sua vez, estava associada ao planeta Vénus, que anuncia o amanhecer no céu.
Os romanos usavam a palavra “Lucifer” que significa “o que traz a luz”. E ainda hoje e os holandeses e belgas chamam de “lucifers” aos vulgares fósforos de ignição.
O fósforo é um elemento essencial para a nossa vida. Aliás, sem fósforo não há vida, pois é um nutriente indispensável para o crescimento das plantas, por exemplo.
Mas há actualmente uma escassez deste elemento que encontramos nos recursos minerais do nosso planeta. Como a nossa população atingiu a marca dos oito mil milhões e os recursos são finitos temos um problema para resolver. Para além disso existe uma excessiva concentração do fornecimento de fosfatos em poucos países. A China, Marrocos, Saara Ocidental, EUA e Rússia controlam cerca de 80%. Para sermos sustentáveis precisamos de apostar na reciclagem, diminuir os nossos consumos e resolver o desperdício de fertilizantes usados em excesso.
Para o leitor que quiser saber mais sobre os caminhos da história, geopolítica e os possíveis horizontes para o fósforo recomendo o recente livro intitulado “Phosphorus (entre Vénus e Lúcifer)”. Trata-se de uma obra bem humorada, escrita pelo Professor da Universidade do Porto Manuel Monte. Tal como sucedeu com outras obras de divulgação científica do docente de Química, estou certo que brevemente este texto será encenado em vários palcos, com destaque para as nossas escolas. Assim se constrói, com humor e ciência, a mudança para um mundo sustentável.
Luís Monteiro
Apimprensa