Vivemos atualmente em Portugal um sistema de total anarquia em relação à gestão dos castelos. Em vez de seguirmos políticas culturais evoluídas como em Inglaterra, onde não se paga para entrar nos principais museus, em Portugal temos uma realidade totalmente antagónica.
Já não falo nos museus e nos monumentos que foram esquecidos pelas políticas governamentais há muito tempo e onde se paga “forte e feio” e se mudam as regras do dias de entrada gratuita à velocidade da luz… falo sim dos castelos de Portugal que de terra para terra, ninguém sabe, nem turistas, nem portugueses, aqueles em que se paga e aqueles em que não se paga.
Se o castelo de Linhares da Beira é gratuito, já não podemos dizer o mesmo do castelo de Guimarães, e por aí fora… pelo país inteiro, a anarquia é total.
A meu ver a gratuidade deveria ser geral em todo o território nacional, até porque não estamos a falar de uma arrecadação substantiva de verba determinante para dar resposta àquilo que o Governo deveria vocacionar do seu orçamento sem ser preciso em nenhum local de Portugal, a cobrança de um bilhete para entrar num castelo.
Existem ao todo em Portugal 101 castelos, no entanto há quem afirme (Vortex Magazine) que Portugal tem cerca de quatrocentas fortificações, não contando com as que desapareceram com o tempo. Sendo desta forma, o país europeu com mais castelos no seu território.
Possuir de facto este património e já haver um dia no nosso calendário dedicado aos castelos, deveria fazer-nos pensar numa política uniforme e conjunta para todos os castelos portugueses com vista realmente à atração dos turistas que nos trazem maiores benefícios se virem a Portugal novamente e gostarem daquilo que viram nos castelos portugueses do que “sacar-lhes” os trocos de um bilhete a cada castelo a que vão.
Houve no passado recente, a ideia peregrina, de transferir a gestão dos castelos para as autarquias, como se o mal de Portugal não fosse a compartimentação do Estado em mais capelinhas e os males da descentralização realizada de há 20 anos para cá, feita por publicação de decreto governamental, e que nos levou na prática, nas terras mais pequenas, a vivenciarmos uma forma asfixiante de opinião, condicionada em espaço público e nos órgãos comunicacionais tendenciosos, que nos fazem lembrar o poder dos regedores de antigamente e a falta de democracia também de outros tempos.
A criação de uma petição ou de um movimento que lutasse pela gratuidade dos castelos seria mais que fundamental para os portugueses, até mais do que para os turistas e para o turismo português.
O imaginário de uma criança que cresce numa terra, lado a lado com o castelo que outrora protegeu os seus antepassados, não deveria ser bloqueado aos portugueses em geral, quanto mais aos portugueses que têm nas suas terras um castelo.
Este imaginário, é que fará a uma criança, sentir no futuro, o ser português e a sua pertença a uma terra. Não deixemos, pois, bloquear esse sentimento tão bonito de uma criança e de todos nós com cancelas e bilhetes de entrada à porta de cada castelo.
Paulo Freitas do Amaral
Professor de História