Santos Anjos, catedral de Leeds, Inglaterra |
Luis Dufaur
Na festa dos Arcanjos São Miguel, São Gabriel e São Rafael (29 de setembro), o primeiro se destaca como aquele que liderou a luta contra o demônio e o precipitou no inferno.
São Miguel, chefe das legiões angélicas
Ele é o chefe dos Anjos da Guarda dos indivíduos e o chefe também dos Anjos da Guarda das instituições, especialmente da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
São Miguel tem a função tutelar dos homens nesse vale de lágrimas e nessa arena de luta que é a vida.
Deus quis servir-se dele como de seu escudo contra o demônio e quer que ele seja o escudo da Santa Igreja Católica contra o chefe infernal. Mas um escudo que é gládio também. Portanto, tem uma missão dupla e era considerado na Idade Média, o primeiro dos cavaleiros.
São Miguel Arcanjo
O cavaleiro celeste, leal, forte, puro e vitorioso como deve ser o cavaleiro que põe toda sua confiança em Deus e também em Nossa Senhora.
São Miguel é o nosso aliado natural nas lutas para defender a Civilização Cristã.
O abade beneditino de Solesmes, Dom Guéranger (1805-1875), apresenta São Miguel como “o mediador da prece litúrgica. Deus que distribui, com uma ordem admirável, as hierarquias visíveis e invisíveis, emprega por opulência, para louvor de sua glória, o ministério desses espíritos celestes que contemplam sem cessar a face adorável do Pai, e que sabem, melhor do que os homens, adorar e contemplar a beleza de suas perfeições infinitas”.
Os anjos são habitantes da Corte celeste onde vivem numa eterna contemplação, vendo Deus face a face e eles aclamam os triunfos do Criador.
O Céu é a pátria de nossa alma e é a ordem de coisas que corresponde plenamente a todas as nossas aspirações. Nas épocas de verdadeira fé, algo da felicidade eterna era sentida pelas almas piedosas e comunicada através de celebrações que enriqueciam o tesouro comum da Igreja.
Pedir que os Santos Arcanjos nos comuniquem o desejo das coisas celestes, das quais eles estão inundados é uma excelente intenção. E o grande pedido a São Miguel Arcanjo é que nos faça imitadores dele, perfeitos cavaleiros de Nossa Senhora nessa Terra.
São Gabriel na Anunciação, Fra Angelico (1395 – 1455). Missal em San Marco, Florença.
São Gabriel, o mensageiro chefe da diplomacia divina
O martirológio afirma que São Gabriel foi enviado por Deus para anunciar o Mistério da Encarnação do Verbo Divino. Podemos ter certa noção sobre ele pela natureza dessa missão.
Há Anjos que por natureza executam certas tarefas funções de acordo com sua posição no Céu. E a missão de São Gabriel foi elevadíssima; foi a missão chave na História da humanidade, uma vez que incumbido de anunciar à Virgem Maria que a plenitude dos tempos havia chegado, que o reino do mal seria esmagado, que a humanidade seria remida e que as portas do Céu se abririam para os degredados filhos de Eva.
Foi São Gabriel incumbido de pedir a Nossa Senhora seu consentimento para lhe anunciar o Mistério da Maternidade Virginal. Ele foi incumbido por Deus de levar a mais alta mensagem que alguém possa ter transmitido em toda a História.
Quando um rei tem uma mensagem muito importante para enviar, escolhe como portador um dos mais nobres fidalgos de sua corte. E São Gabriel foi o escolhido para tal missão.
Nos quadros de Fra Angélico sobre a Anunciação está muito presente esse senso de hierarquia no trato com Nossa Senhora, antes e depois da comunicação de que Ela fôra a escolhida para ser a Mãe de Deus. Quando o Arcanjo chegou era superior, enquanto natureza; mas quando se retirou mostrou-se súdito da Santa Mãe do Criador de todas as coisas.
Nos quadros da Anunciação os artistas revelam todo o sendo de hierarquia e respeito da Santíssima Virgem em relação ao Arcanjo e deste em relação a Ela. São obras-prima do trato anti-igualitário.
Os dois pilares da Contra-Revolução são a humildade e a pureza. E os da Revolução são o orgulho e a sensualidade. E São Gabriel é representado como que quebrando tais pilares da revolta da serpente infernal, orgulhosa e sensual. Num sentido análogo à ação de São Miguel Arcanjo no Céu, ao expulsar Satanás e seus asseclas.
Temos, pois, muitos motivos para pedir a São Gabriel que nos conceda a graça do senso de hierarquia e do amor à superioridade. Assim como o amor ilibado à pureza.
São Rafael, vitral de Santos Felipe Tiago, Oxford, Inglaterra
São Rafael, o supremo cortesão da Corte celeste
São Rafael Arcanjo é um dos sete Anjos que assistem diante de Deus e tem a missão de auxiliar os homens a apresentar suas preces.
O Céu constitui uma verdadeira Corte. Antigamente, antes da republicanização da religião falava-se muito da “Corte Celeste” nos devocionários. O que se baseia na ideia de que Deus está perante os anjos e santos, na Igreja gloriosa, como o Rei perante sua Corte.
Há cerimonias nas cortes terrenas que acabam refletindo a Corte Celeste. O protocolo monárquico é o modo de reger as pessoas do serviço real de maneira que todas as coisas se passem de um modo prático, simples, decoroso, facilitando a vida do rei.
O rei recebia os embaixadores tendo perto de si os príncipes da casa real, pessoas da alta nobreza. O interessado comparecia diante do rei, dizia o que desejava. Algum príncipe, ou pessoa de alta categoria, podia dizer uma palavra ao rei e depois entregava a um dignitário um pergaminho com o pedido, que o rei examinava depois.
Na Corte Celeste os mesmos costumes existem, em última análise, pelas mesmas razões. Os Anjos agem como esses príncipes, como intercessores dos homens junto a Deus. Há uma vida de corte, com protocolo de dignidade que serve de padrão para todas as cortes terrestres.
Nas fotografias dos políticos modernos, sobretudo dos socialistas e comunistas esse aspecto não aparece. Por isso, causa desinteresse ou horror, por exemplo, o discurso do chefe de Estado moderno, sindicalista. Enquanto que nas cortes serenas de estilo aristocrático monárquico a hierarquia sobe e desce e é a própria imagem do Céu.
A comemoração de São Rafael nos conduz a essa ideia. Um intercessor celeste de uma alta categoria, padroeiro especial dos doentes e que leva nossas preces a Deus porque está mais próximo d´Ele para lhe transmitir nosso pedido.
São Rafael reforça em nós o desejo de que as realidades terrestres sejam semelhantes às realidades celestes. Na medida em que amamos as realidades terrestres parecidas com as do Céu, preparamos nossa alma para a vida eterna.
Um exemplo: admirando as cerimônias e as pompas da corte inglesa, ainda quando não é católica, mas herdeira das belezas da Civilização Católica que evocam as cerimonias angélicas.
Houve uma santa que recebeu a graça de ver o seu próprio Anjo da Guarda. Era de uma natureza tão elevada, nobre e excelsa que ela pensou que fosse o próprio Deus. O Anjo teve que explicar-lhe que era apenas um Anjo da Guarda, e de uma das hierarquias menos alta no Céu.
O que nós podemos imaginar de um Arcanjo, como São Rafael, que pertence a uma das mais altas hierarquias celestes? Poderíamos imaginar São Rafael tratando com Nossa Senhora no Céu pensando, por exemplo, em São Luís, Rei de França falando com sua mãe, a rainha Branca de Castela. Poderíamos imagina a cena transcorrida nos esplendores da corte da França. Quanta distinção, quanto respeito, quanta elevação, quanta sublimidade nessa cena!
Cena que nos dá um pouco a ideia do que é São Rafael transmitindo nossos pedidos a Nossa Senhora. Ele pode ser considerado como uma espécie de São Luís celeste.
Por essa transposição, podemos ter também a ideia da alegria de teremos no Céu, quando pudermos contemplar um Arcanjo como São Rafael. Peçamos a ele essa contemplação, a fim de que algo dessas ideias penetrem em nós. E que a consideração dessa ordem ideal realmente existente, nos conforte para a esperança do Céu e do reinado de Maria nesta Terra.
Dessa forma poderemos repelir a tristeza crescente de nossos dias nesta data em que comemoramos a festa dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.
ABIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário