- Plinio Maria Solimeo
Édifícil encontrar nos últimos tempos um historiador católico que tenha sido em seus livros inteiramente coerente e ufano de sua fé. Na primeira metade do século passado houve um que preencheu esses requisitos. Trata-se do americano William Thomas Walsh [foto acima].
Desse vibrante jornalista, escritor, romancista e historiador diz o site Catholic Authors: “William nasceu em Waterbury, Connecticut, em 11 de setembro de 1891, e ao longo dos anos recebeu uma sólida educação católica que o inspiraria nos anos posteriores com um desejo feroz de defendê-la”. Ao que acrescenta a Wikepedia em inglês: “A obra de Walsh é escrita de um ponto de vista declaradamente católico”.
Thomas Walsh era neto de irlandeses radicados nos Estados Unidos e, como diz o site acima, “recebeu sólida educação católica”. Muito precoce, já aos 16 anos, ainda no ginásio, tornou-se repórter e passou a escrever para alguns jornais. Aos 19 anos, aluno da famosa universidade de Yale, publicou seu primeiro livro, The Mirage of Many (A Miragem de Muitos), alertando contra o socialismo que estava se infiltrando na sociedade americana. Na mesma universidade estudou violino, fazendo-o com tanto sucesso que se tornou regente de sua orquestra sinfônica.
Em 1913, aos 22 anos, recebeu em Yale o título de Bacharel em Artes. No ano seguinte casou-se com Helen Gerard Sherwood, com quem teve seis filhos, entre eles um homônimo que faleceu na infância, e uma filha que se tornou religiosa.
Em 1918 lecionou na Hartford Public School, e depois tornou-se chefe do departamento de inglês da Roxbury School por quase 20 anos. Em 1933 tornou-se professor de inglês no Manhattanville College of the Sacred Heart, em Nova York, no qual lecionou por 14 anos.
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Foi em 1930, praticamente 20 anos depois de ter publicado seu primeiro livro e seis anos antes do início da Guerra Civil espanhola, que Walsh escreveu sua segunda obra: Isabella of Spain – The Last Crusader (Isabel da Espanha – A Última Cruzada) [foto ao lado], a primeira de uma série dedicada pelo autor ao Século de Ouro da Espanha. Seu sucesso fez com que a obra fosse traduzida na Espanha, Alemanha e França.
Em 1935 publicou a documentadíssima obra Philip II [foto abaixo], sobre esse grande rei da Espanha, recebendo elogios do London Times e do New York Times, que escreveu: “O livro ’Felipe II’ está tão completamente documentado, que deve permanecer como um retrato calmo e realista de um homem e uma época, muitas vezes mais excitante para a imaginação do que ficção, enquanto a suavidade de seu estilo literário impecável oferece constante deleite.” E a poderosa mega-empresa Amazon diz dessa obra em seu anúncio de venda: “O maior livro de Walsh ‒ sobre o rei mais poderoso da Europa de todos os tempos. Mas, mais do que isso, é um panorama de todo o século XVI. Abrange o nascimento do protestantismo e os esforços secretos para minar a unidade católica, as guerras huguenotes na França, o saque de Roma, o Grande Cerco, a Batalha de Lepanto, a Armada Espanhola, o Concílio de Trento etc.. E, Henrique VIII, Maria Tudor, Isabel I, São Pio V, Santa Teresa de Ávila, Santo Inácio de Loyola etc.”.
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A sofreguidão de Walsh em resgatar de toda uma legenda negra uma obra da Igreja levou-o a publicar em 1940 os Characters of the Inquisition (Personagens da Inquisição) [foto abaixo] , a cujo respeito diz a mesma Amazon: “Este livro é sobre a Inquisição, particularmente a Inquisição Espanhola em oposição à Inquisição Romana nos anos seguintes à Reconquista Espanhola. Walsh investiga a Inquisição, sua prática, propósito, história e personalidades. A Inquisição não foi um festival de BDSM [sadomasoquismo] sanguinário que enlouqueceu. Foi uma resposta racional à infiltração da Igreja Católica por inimigos da fé cristã que fingiam ser cristãos para perverter o culto, a doutrina, e enfraquecer a cristandade. Quem quiser entender a Inquisição faria bem em ler Personagens e aprender sobre os heróis da Fé, Cardeal Ximenes, Torquemada e outros que lutaram o bom combate por Jesus Cristo e sua Igreja. Depois de ler este livro, você nunca mais olhará a Inquisição do mesmo modo”.
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Em 1943 William Thomas escreveu um de seus mais conhecidos livros, sobre a grande mística e Doutora da Igreja Santa Teresa d’Ávila [foto ao lado], porque: “Quando li uma tradução inglesa da Autobiografia de Santa Teresa […] me perguntei se uma mulher na qual o divino e o humano se encontraram de maneira tão surpreendente poderia realmente ter sido tão banal, tão arrogante , tão conscientemente ‘literária’ como muitas vezes ela aparecia naquelas páginas. Mais tarde, quando pude ler o texto em espanhol, descobri que as qualidades irritantes não eram dela, mas de seu devoto tradutor”. Assim, com o texto original espanhol em mãos, escreveu um livro baseado nas “minhas próprias traduções, e tão literalmente quanto possível, mesmo com algum sacrifício de eufonia, sem excluir os ocasionais lapsos de gramática, referências errôneas e coloquialismos vigorosos de quem escreveu sem olhar para o efeito livresco, mas no momento em que ela falava — rápida, concisa, de vez em quando bastante desajeitada”.
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No decurso do ano de 1946 ou 1947, Walsh tomou conhecimento dos surpreendentes acontecimentos em Fátima, Portugal. Impressionou-se tanto com eles, que resolveu deixar de lado todas as suas outras obras para ir àquele país recolher material para um livro que contaria a história do que lá se passou em 1917. Ele estava convencido de que nada é mais importante do que propagar o que a Mãe de Deus pediu nessas aparições tão incompreendidas, e das quais dependem o próprio futuro da humanidade. Entre muitas pessoas, entrevistou no convento das Dorotéias a única testemunha viva dos acontecimentos, a Irmã Maria das Dores (Lúcia), no que resultou o livro Nossa Senhora de Fátima [foto abaixo], que foi fundamental para trazer sua mensagem à atenção de milhões de católicos americanos.
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Thomas Walsh escreveu algumas outras obras de vários gêneros, que não tiveram tanta repercussão como as citadas.
O livro São Pedro Apóstolo [foto abaixo] , de 1948, um ano antes de sua morte, foi o último que publicou. Dele diz o site do Good Reads: “‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja’ (Mateus 16:18). Raramente em toda a História um mero homem foi encarregado de uma responsabilidade tão terrível como a que foi delegada ao Príncipe dos Apóstolos quando Nosso Senhor pronunciou essas palavras. E é a história deste humilde pescador, tão curiosamente negligenciado pelos autores modernos, que William Thomas Walsh conta de forma tão brilhante”.
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William Thomas Walsh foi premiado com a Medalha Laetare pela Universidade de Notre Dame em 1941, em reconhecimento pelo contributo de um católico americano à Igreja e à nação; e em 1944 foi homenageado pelo governo espanhol com a mais alta honra cultural da Espanha: A Cruz de Comendador da Ordem Civil de Afonso, o Sábio. Walsh foi o primeiro escritor norte-americano a receber tal honra. Muito escrupuloso, ele entrou em contato com o Departamento de Estado para saber se um “leal cidadão dos Estados Unidos” poderia aceitar tal honra de um governo estrangeiro.
Em 1947, enfrentando problemas de saúde, o escritor se aposentou do ensino, concentrando-se em terminar seu romance Nossa Senhora de Fátima. No ano seguinte, agravando-se muito seu estado de saúde, foi internado no Hospital Santa Inês, em White Plains, no estado de Nova Yor, onde haveria de morrer.
Diz a Imitação de Cristo que talis vita finis ita (tal vida, tal morte). Tendo levado uma vida ilibada e sempre segundo os princípios da Igreja, esse grande batalhador morreu como viveu: como verdadeiro filho da Igreja.
Assim, quando lutava entre a vida e a morte, seu dileto amigo, o Pe. William C. Mc Grath, responsável pelas visitas da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, a levou a seu quarto. Wash olhou fixamente para a bela Imagem, tendo com ela um profundo colóquio mudo.
No dia 22 de janeiro de 1949, com apenas 58 anos incompletos, o grande batalhador faleceu na esperança de receber no Céu a recompensa demasiadamente grande que Deus reserva aos seus eleitos.
ABIM
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