CARACTERÍSTICAS DAS IGREJAS QUE CRESCEM
As igrejas que mais crescem possuem,
pelo menos, três características comuns: uso intenso de
modernas ferramentas tecnológicas, forte liderança pessoal e uma poderosa marca
institucional. É claro que existem outras características, mas quero me
deter nestas três e reflectir sobre os riscos que elas representam para o
futuro da igreja.
A revolução tecnológica da segunda
metade do século 20 e deste início de século 21 mudou o cenário religioso. A
busca pela excelência funcional e por uma comunicação eficiente ocupa o topo
das prioridades de muitas igrejas. Possuímos tecnologia
para um bom planeamento estratégico, música de excelente qualidade, projectos
de crescimento eficientes.
O problema é que a tecnologia tem o
poder de substituir aquilo que Deus faz por aquilo que é feito pelo homem.
Vivemos o risco de um perigo semelhante ao que Paulo percebeu na igreja de
Éfeso, cujos crentes, segundo o apóstolo, tinham aparência de piedade e no entanto
lhe negavam o poder. Ter uma boa música, não nos torna, necessariamente,
adoradores. Um bom planeamento estratégico não tem o poder de transformar
mentes e corações. Projectos eficientes não fazem de nós verdadeiros discípulos
de Cristo.
Igreja bem estruturada não é sinónimo de
comunhão. A crítica à Igreja de Laodicéia é de que ela era rica e abastada e
não precisava de coisa alguma. Inclusive de Deus. A tecnologia vem se tornando
um substituto para a fé. Mas essa eficiência não substitui o poder transformador
do evangelho. Precisamos perguntar: é possível discernir o que Deus está
fazendo? O primeiro risco que a igreja enfrenta hoje é o da negação de Deus.
Não a negação de sua existência, mas do seu poder.
Uma segunda característica
comum é a forte liderança pessoal. A liderança forte, bem como a tecnologia, em
si, não constitui um problema. O risco está naquilo que nem sempre é percebido. Se a tecnologia
traz o risco de uma igreja sem Deus, a liderança forte traz o risco de uma
igreja sem netos ou bisnetos. Hoje, o que mais atrai os fiéis a uma igreja,
além de sua funcionalidade, é o carisma de seu líder.
Ao ser perguntado pela igreja que
frequenta, a resposta mais comum é "a igreja de fulano de tal". Essa
liderança confere uma posição de destaque ao membro desta igreja. A pergunta é:
igrejas assim sobreviverão à uma segunda ou terceira geração? Sobreviverão
depois que seus grandes líderes saírem de cena? Sabemos que algumas Mega
igrejas na América do Norte entraram em rápido declínio na segunda geração de
líderes.
O velho problema da igreja de Corinto se
repete: uns são de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e alguns chegam a
dizer que são de Cristo. O personalismo intensifica o narcisismo, que muda o
objecto da adoração. Tanto na política como na igreja, a figura forte de um
líder compromete o futuro. Vive-se um apogeu glorioso seguido por um rápido
vazio e declínio.
A terceira característica é a
forte marca institucional, que a torna atraente. Aqui vejo dois perigos. O
primeiro diz respeito à busca por relevância. Porém, o que precisa ser
relevante, a igreja (instituição) ou o evangelho de Cristo? É possível ser
relevante e, ao mesmo tempo, comprometido com a verdade? Sem o evangelho e sem
a verdade, qualquer esforço para ser relevante se mostrará, cedo ou tarde,
totalmente irrelevante. A imagem que Paulo usa é a do tesouro em vasos de
barro.
Não é o evangelho de Cristo que desperta
o interesse de muitos para a igreja hoje, mas a própria igreja com seus
métodos, programas, música e tecnologia. Isso não é necessariamente ruim. Nem
sempre as pessoas serão atraídas pelos motivos mais nobres. O problema é que o
vaso vai se transformando não só na porta de entrada, mas num fim em si mesmo.
Quanto mais atenção se dá ao vaso, menor valor terá o evangelho.
O outro perigo é a perda da consciência
de ser povo de Deus, Corpo de Jesus Cristo. Algumas igrejas que crescem
rapidamente atraem uma quantidade considerável de cristãos frustrados com suas
igrejas de origem, que ali chegam como a última alternativa institucional de
sua jornada cristã. Envolvem-se com paixão, adquirindo uma forte identidade com
aquele grupo em particular. O problema é que não são mais capazes de se verem
como parte do povo de Deus em uma determinada região ou cidade, mas apenas como
povo de Deus de uma igreja particular. É a negação do "povo de Deus"
e a afirmação perigosa de uma elite religiosa superior.
CUIDADOS NO CRESCIMENTO
O desafio do movimento moderno de
crescimento de igrejas requer alguns cuidados. O primeiro é o de preservar Deus
como Deus na igreja. A tecnologia pode nos ajudar em muitas coisas, mas não
transforma o coração e a mente caída do ser humano. Só seremos relevantes
enquanto permanecermos envolvidos pelo que é eterno. Podemos usar os recursos
modernos, mas precisamos nos assegurar que o que virá pela frente serão vidas
transformadas pelo poder do evangelho de Jesus Cristo e não consumidores de
programas e entretenimento religiosos.
O segundo cuidado é reconhecer a virtude
da humildade. O testemunho de João Batista era: convém que ele cresça e que eu
diminua. Este deve ser o espírito de qualquer líder. Jesus advertiu seus
discípulos em relação ao risco do poder quando disse que entre os grandes e
poderosos deste mundo, o maior manda nos menores. No entanto, disse ele, entre
vocês não será assim. Quando a admiração por um líder diminui a devoção a
Cristo, é sinal de que o espírito desta era já nos capturou.
O terceiro cuidado é compreender que
fomos baptizados num corpo. Somos o povo de propriedade exclusiva de Deus.
Adoramos a Deus em uma comunidade local, grande ou pequena, mas o Deus que
adoramos fez uma aliança com seu povo do qual somos parte. O precioso tesouro
foi confiado a um vaso de barro. Seja este vaso grande e inovador, ou pequeno e
discreto, o que importa é o tesouro confiado a ele, sempre. Se a relevância
pertencer ao vaso, o tesouro será negado à humanidade. É o Corpo de Cristo,
todo ele, que revela a glória do cabeça da Igreja.
Os riscos do crescimento são invisíveis,
mas muito grandes. Construir uma casa sobre a areia sempre foi uma opção
atraente e sedutora. Mas formar discípulos fiéis e obedientes de Jesus Cristo,
ensiná-los a guardarem seus mandamentos e obedecê-los, integrá-los em uma comunidade
de adoração e serviço sacrificial, sempre foi uma tarefa difícil, lenta e
trabalhosa.
Porém, quando vierem as tempestades e os
vendavais testando o valor da fé, esta igreja, edificada sobre a rocha,
testemunhará a glória da verdade redentora de Jesus Cristo.
Fonte:http://blogdopcamaral.blogspot.com.br/2013/08/crescimento-das-igrejas-tres-armadilhas.html