Por Caio Caio Cesar Rencinai Estan
Psicólogo, Psicanalista e membro do Departamento de Formação em psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
O psicólogo é antes de tudo um forte. Parafraseando Euclides da Cunha em sua obra os Sertões, inicio este meio de comunicação com meus leitores, esta frase se auto explica, aos psicólogos que se sentiram tocados com a mesma, aos profissionais da saúde e outros tantos que desejam colocar seu sofrimento acima do outro, como se houvesse uma escala de sentimentos, de dor, como se não fosse subjetivo.
A dor, o esforço, os sentimentos que acompanham o trabalho são subjetivos, de modo que, se um indivíduo fala que está exausto ou muito cansado, de fato, eu imagino que ele deva estar muito cansado ou exausto, mas eu, enquanto indivíduo não pode dizer e nem é permitido disser, que eu sei o quanto ele se cansou, pois, neste jogo, entram algumas figuras e imagens que são do indivíduo. Portanto, eu não sei o quanto determinada pessoa está sofrendo pois, não estou no corpo dela.
De uma forma muito semelhante ocorre no campo da psicologia, temos de abarcar o sentimento do paciente, escutando muitas vezes, suas raivas, frustrações, desabafos, entre outros e somente então a partir dai, entrar um pouco no sofrimento do outro, para então, escutar realmente o que o aflige, indubitavelmente.
O psicólogo, a partir do momento que entra no campo da dor do outro, sente também esta dor, mas sim, tem que lidar com a cientificidade da psicologia e em outro momento, saber lhe dar com a dor de outrem e, desta forma, o psicólogo se alterna entre estas duas vertentes, mas ainda, não pode se incluir demasiado em outrem, pois penso eu ficaria muito confuso para retornar novamente ou não saberia voltar, afetando deveras sua vida enquanto profissional da saúde e ser humano fora daquele espaço.
Ao terminar a sessão, o psicólogo tem de ter a certeza de que devolveu ao paciente tudo o que ele depositou naquela figura e mais ainda, tem de ser profissional a medida que da uma breve devolutiva ou simplesmente fala algo; nestas horas, o falar do psicólogo vale ouro e o paciente, mesmo que fragilizado, retorna novamente na outra sessão com pouco mais de sentido em seu problema.
Uma vez que, o psicólogo foi ao âmago do mesmo e retornou, este seria o atendimento considerado por muitos ideal, tendo a neutralidade e serenidade como Freud descreve em um de seus textos, ainda não expressando sentimentos e fazendo a famosa “cara de paisagem”, mas a medida que tomamos a dor do paciente para si, e em muitos casos, surge uma vontade incomensurável de falar para o paciente de coisas que estão literalmente na cara dele e ele não consegue ver, é nestas horas que muitos não se contém e tentar, via dor do paciente, dar um nome aquele inominável que o paciente está ali diante do psicólogo.
Querendo que este nome seja por leviandade ou pelo âmago de ajudar ou auxiliar o próximo, muitos passam por cima do que aprenderam, do que conhecem da teoria e vão de encontro com o que o paciente está pedindo, está suplicando e muitas vezes aclamando; o psicólogo se vê em uma sinuca de bico, muitas vezes não sabendo a qual senhor servir, a qual recorrer e abarcando por demais a história do paciente que, entra novamente em contradição, buscando “tirar” dele o sofrimento, e quando eu digo, “tirar” dele o sofrimento, seria retirar do paciente o que ele está sofrendo e retirar dele enquanto psicólogo, a dor que sente de uma situação supra parecida.
É inevitável que o psicólogo enquanto ser humano se depare com situações como esta enquanto um profissional que atende pessoas, mas ainda cabe ao mesmo, entrar na dor e sair da dor do paciente, não tornando, em absoluto, o trabalho do psicólogo fácil.
Contudo ainda, é preciso valorizar o psicólogo, assim como outros profissionais da saúde no que tange ao trabalho deles, tendo em vista que cada indivíduo apresenta a sua dor e cada dor tem de ser compreendida como una, de forma que a dor é individual e não coletiva, transformando assim, o meio em que vive e mais ainda, o universo biopsicosocial do indivíduo.
Posted: 14 Jan 2017 08:25 AM PST
“A profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira.” Robert Merton – Psicólogo
O conceito de profecia auto realizadora não é novo em psicologia. Há muito se percebe que a expectativa de uma pessoa a respeito do comportamento de outra pode contribuir para que essa última se comporte de acordo com o que se espera dela. Desta forma uma profecia autorrealizável é um prognóstico que, ao se tornar uma crença, provoca a sua própria concretização. Dito de outra forma , quando as pessoas esperam ou acreditam que algo acontecerá, age como se a profecia ou previsão já fosse real e assim a previsão acaba por se realizar efetivamente.
Profecias (e estereótipos) são impostos e repetidos até que o próprio sujeito se modifique, tornando-se aquilo que o outro acredita que ele é. Se permitirmos, somos engavetados. Algo que foi dito ao ser assumido como verdadeiro - embora seja falso - uma previsão pode influenciar o comportamento das pessoas, seja por medo ou por confusão lógica, de modo que a reação delas acaba por tornar a profecia real.
Este processo não é consciente e nem sempre esta pessoa deseja que tais coisas aconteçam, mas ao "profetizar", ou seja, ao acreditar que ocorrerão acabará por colaborar para este desfecho sem ao menos perceber o quanto interferiu no resultado.
Vemos isto ocorrer o tempo todo, por exemplo quando um professor comunica a uma criança a mensagem "Eu sei que você é inteligente", a criança aceita essa avaliação e muda seu autoconceito para incluí-la. Infelizmente, podemos presumir que o mesmo princípio também se aplica a estudantes cujos professores enviam a mensagem "Eu acho que você é burro". Não acredita? Pense nesses exemplos :
Esperava ficar tão nervoso que estagnada em uma entrevista de emprego. Foi o que aconteceu.
Previa se divertir muito (ou nem um pouco) em uma reunião social. Suas expectativas se consumaram.
Um professor ou chefe explicou uma nova tarefa dizendo que provavelmente você não faria direito a princípio. Você não fez direito.
Um amigo descreveu alguém que você estava prestes a conhecer, dizendo que você não gostaria da pessoa. A previsão foi carreta: você não gostou da pessoa.
Em cada um desses casos, há uma boa possibilidade de que o evento tenha ocorrido porque foi previsto que ocorreria. Você não precisava ter estragado a entrevista, a festa pode ter sido chata por você ter contribuído para isso, você poderia ter se saído melhor no serviço se o chefe não tivesse falado, e talvez gostasse do novo conhecido se o amigo não tivesse lhe incutido um preconceito. Em outras palavras, foi a expectativa que ajudou a fazer com que cada evento ocorresse.
Esse tipo de profecia auto-realizável é uma força poderosa para moldar o autoconceito e, em consequência, o comportamento das pessoas, como tem sido demonstrado em diversos ambientes, além das escolas. E pode ser usada tanto para o mal quanto para o bem.
Na medicina, pacientes que, sem saber, tomam placebos — substâncias como injeções de água esterilizada ou pílulas de açúcar, sem o menor valor curativo — muitas vezes reagem ao tratamento de forma tão positiva quanto os pacientes que receberam de fato uma droga. Os pacientes acreditam que tomaram uma substância que fará com que se sintam melhor, e essa convicção produz uma "cura".
Na psicoterapia, Rosenthal e Jacobson apresentam vários estudos que sugerem que pacientes que acreditam nos benefícios do tratamento mostram melhoras, independentemente do tipo de tratamento que recebem.
Mas o que podemos fazer para evitar que isto ocorra? A primeira coisa é se conhecer. O autoconhecimento nos ajuda a entender quais são as nossas crenças limitadoras, e como ela atrapalha o nosso dia. Observe seus comportamentos e sentimentos, a auto-observação ajuda na identificação destas profecias quando estiverem causando danos no bem estar emocional, social, profissional, dentre outros. Lembre-se: não é por que alguém te disse algo a seu respeito que aquilo é verdade. Por fim, mude seus pensamentos substituindo-os por algo positivo. É a velha história do copo com água. Ele pode estar meio cheio ou meio vazio. Depende do que você quer ver.
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