Uma vida que “deveria ser fácil de ser vivida”, mas que, por algum motivo, não é.
Um caminho para a felicidade que nunca é encontrado: “Devo estar fazendo algo errado, não é possível”.
Uma sensação de que nada está bom. Uma sensação desconfortável, difícil de explicar.
A angústia, o sofrimento e as perdas fazem parte da vida, apesar de o pensamento contemporâneo prometer combos de felicidade ininterrupta e remédios para os momentos mais amargos da existência. Por mais que se tente ignorar, sofrer, se angustiar e sentir falta são aspectos tão humanos e comuns quanto ficar alegre ou comemorar uma vitória. Estão muito mais relacionados a saúde do que a doença.
E mesmo assim, recorrer à ajuda de psicólogos e psicanalistas para se viver melhor e lidar com as dificuldades que a vida, tenha certeza, vai nos trazer, permanece um grande tabu em nossa sociedade.
Uma pesquisa inédita do instituto Market Analysis, revelou que apenas 2% dos adultos dos principais centros urbanos do Brasil fazem psicoterapia. O levantamento mostrou que 87% não faz ou nunca recorreu a uma terapia, e 11% já fez em algum momento da vida.
Porém, 30% das pessoas consultadas admitem que têm muito interesse em fazer terapia, o que mostra um distanciamento entre a vontade e a concretização.
Para Bárbara de Souza Conte, conselheira do Conselho Federal de Psicologia (CFP), é possível pensar em pelo menos três motivos: Um deles é a diminuição do poder aquisitivo da população, o que restringe a procura, somada ao acesso cada vez menor a esses serviços pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dentre as pessoas interessadas em uma psicoterapia, existe também a dúvida quanto a quais profissionais estariam habilitados para fornecer este serviço, completa Conte, que é mestre em Psicologia pela PUC/RS e doutora em Fundamentos e Desenvolvimentos em Psicanálise pela Universidade Autônoma de Madri.
Questões financeiras – especialmente os mitos - de fato têm grande influência sobre fazer ou não terapia, apurou a pesquisa. De um lado, fazer terapia é visto por 46% das pessoas consultada's como um luxo reservado para a elite, onde só quem é abastado pode pagar as sessões. Esta leitura é reforçada pela percepção desfavorável de que a psicoterapia não vale o que custa – é o que pensam quase 4 em cada 10 brasileiros.
A conselheira do CFP destaca que o custo de um tratamento não é somente financeiro:
Há ainda um outro mito, que revela que os cuidados com a saúde mental ainda são um grande tabu em nossa sociedade. Para 34% dos consultados, apenas quem passa por problemas muito graves precisa fazer terapia. Pelo menos houve uma evolução quanto a isso: Em 2002, ano da primeira medição, esta era a percepção de 42% das pessoas.
Por outro lado, a percepção quanto aos benefícios de uma terapia vem aumentando. Três quartos dos consultados (76%) concordam que quem faz terapia acaba se relacionando melhor com os outros, segundo a pesquisa.
Melhorou também a relação com a autonomia, mas uma em cada três pessoas (31%) ainda receia que o paciente fique dependente do terapeuta. Antes, essa desconfiança vinha de 43% dos consultados.
Conte afirma que só o trabalho com ética é capaz de mudar essa visão.
Uma vez driblado o tabu, os pacientes têm muito com o que se beneficiar, e os efeitos de uma terapia dependem do conflito, do desejo da mudança, das condições individuais e familiares para a mudança psíquica e do tratamento a ser utilizado.
O estudo foi realizado com homens e mulheres de 18 a 69 anos em 906 domicílios das cinco regiões do País. Foram abrangidas as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Curitiba, Porto Alegre, Manaus, Belém, Brasília e Goiânia.
Fonte: Huffpost Brasil
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