Falta um mês para a terceira edição da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra e a organização anuncia os 39 artistas que irão ocupar diferentes lugares da cidade, ativando fortemente o seu património arquitetónico e imaterial, parcialmente qualificado pela UNESCO. | |
Anozero – Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra é uma iniciativa proposta em 2015 pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, organizada em conjunto com a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra, que assume como objetivo primordial promover uma reflexão quanto à circunstância da classificação da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Surgindo como tentativa de compreensão do significado simbólico e efetivo desta nova realidade da cidade — ser detentora de Património Mundial —, a bienal propõe um confronto entre arte contemporânea e património, explorando os riscos e as múltiplas possibilidades associadas a este património cultural que agora é da Humanidade. O Anozero é, portanto, um programa de ação para a cidade que, através de um questionamento sistemático do território em que se inscreve, poderá contribuir para a construção de uma época cultural atuante e transformadora, em Coimbra e na Região Centro. A nova edição da bienal, intitulada A Terceira Margem, tem curadoria-geral de Agnaldo Farias e curadoria-adjunta de Lígia Afonso e Nuno de Brito Rocha. O nome toma por empréstimo o título do conto «A Terceira Margem do Rio» (1962), de João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros do Século XX. Esse conto apresenta, pela voz de um filho, a história de um pai que, vivendo numa aldeia junto ao rio, decide mandar construir uma canoa para nele entrar e dele nunca mais voltar a sair. A autorreclusão a céu aberto, decisão individual do protagonista para a qual não oferece nenhuma explicação à família ou à comunidade, configura um gesto radical de ocupação irreversível. É esse gesto que define o território, tremendo, instável, insondável e indizível, da terceira margem, que é a nossa contemporaneidade. Cinco frases retiradas do conto servem como eixos conceituais para possíveis desdobramentos da bienal e serão interpretadas por meio de uma pluralidade de vozes: curadores, artistas, autores e alunos da Universidade de Coimbra. Elas sugerem silêncio — nosso pai nada não dizia; passagem — longe, no não-encontrável; marginalidade — passadores, moradores de beira; invenção — executava a invenção; e, por fim, militância — chega que um propósito. A Terceira Margem apoia-se em três pilares: exposição, programa de ativação e livro. A exposição apresenta trabalhos de 39 artistas e ocupa diferentes lugares da cidade, ativando fortemente o seu património arquitetónico e imaterial, parcialmente qualificado pela UNESCO. Além da ocupação do singular Convento de Santa Clara-a-Nova, a bienal espraia-se pelas ruas do centro da cidade (Edifício Chiado, Sala da Cidade e Galerias Avenida), pelos edifícios da Universidade de Coimbra (Colégio das Artes e Museu da Ciência — Laboratório Chimico e Galeria de História Natural) e pelos espaços do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC Sede e Sereia). O programa de ativação é desenvolvido pelos alunos do Mestrado em Estudos Curatoriais do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra em colaboração com a Esfera CAPC. Este programa fortalece o vínculo do Anozero com a cidade, os seus moradores e a universidade, oferece aos alunos formação em contexto e garante a ativação laboratorial dos seus conteúdos expositivos. O livro reúne ensaios dos artistas participantes especificamente criados para este formato, aos quais se somam ainda textos de Clara Rowland, Isabel Carvalho, João Paulo Borges Coelho, Peter Pál Pélbart e Samuel Titan. Os artistas participantes são Alexandra Pirici, Ana María Montenegro, Ana Vaz, Anna Boghiguian, António Olaio, Belén Uriel, Bouchra Khalili, Bruno Zhu, Cadu, Daniel Melim, Daniel Senise, David Claerbout, Erika Verzutti, Eugénia Mussa, Joanna Piotrowska, João Gabriel, João Maria Gusmão + Pedro Paiva, José Bechara, José Spaniol, Julius von Bismarck, Laura Vinci, Luis Felipe Ortega, Luís Lázaro Matos, Lynn Hershman Leeson, Magdalena Jitrik, Maria Condado, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Marilá Dardot, Mattia Denisse, Maya Watanabe, Meriç Algün, Przemek Pyszczek, Renato Ferrão, Rita Ferreira, Steve McQueen, Susan Hiller, Tomás Cunha Ferreira. Tomás Cunha Ferreira, artista participante na bienal, apresenta a curadoria paralela de ShipShape, uma exposição em torno da poesia visual, concreta e experimental. A inauguração de A Terceira Margem decorre no dia 2 de novembro e conta com performances de Luís Lázaro Matos, do artista em residência Daniel Melim e de uma «on going action» por Alexandra Pirici. Toda a informação sobre as várias iniciativas propostas está disponível em anozero-bienaldecoimbra.pt |
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