Por
Oziel Alves em Instituto Jetro
Há
duas grandes notícias sobre as igrejas evangélicas contemporâneas.
Uma boa e outra má. A boa é que não resta a menor dúvida que, com
ou sem teologia da prosperidade, ela pode melhorar significantemente
a vida de uma pessoa. A má é que ela já não interpreta o certo e
o errado para a sociedade. O respeito incondicional pela igreja
moralizadora está em extinção. Aceita-se o que é bom, rejeita-se
o resto. Frente à gama de escândalos que o
povo se acostumou a ver e ouvir, até os mais bem intencionados
membros, colocam um pé atrás, antes de acreditar piamente nas
palavras de um líder.
Jacques
Ellul, em seu livro The New Demons, deixou claro que a instituição
“igreja” foi convidada “a ocupar um assento no vasto anfiteatro
da sociedade” em outras palavras “ela é demitida de seu posto de
protagonista moralizante, onde ditava as regras e dizia o que era
certo e errado, para ser apenas mais uma 'instituição', sem grande
valor e importância, a assistir o show da degradação dos valores
morais”. A sociedade aceita conviver com a igreja. Coexistir, como
diria Bono. Mas é preciso que ela fique em silêncio e não ouse
interferir na liberdade-libertina que o mundo há tanto tempo sonhou
alcançar, e hoje se deleita.
Há
igrejas que resistem. Há outras que abrem mão de seus princípios,
em prol de uma maior aceitação na sociedade. Sob
o manto das mudanças, do desenvolvimento político, cultural,
científico e tecnológico, está inserida, também, a nova igreja do
século XXI. Segundo a Revista Veja, “Com menos ênfase no
sobrenatural e mais investimento em técnicas de auto-ajuda, [...]
aumentando sua penetração na classe média”. A igreja encarou
novas exigências. Modernizou-se, ruma ao profissionalismo, tornou-se
mais tolerante. Mais humana. Boas medidas que contribuíram para o
aumento “das massas” e capacitaram as lideranças a oferecerem
“um tratamento psico-social e espiritual” visivelmente de maior
qualidade para os crentes. São, porém,
medidas perigosas, nas mãos dos falsos mestres que se utilizam da
palavra de Deus, visando única e exclusivamente, angariar lucros de
forma fácil e abusiva. A Bíblia diz que estes “falsos
mestres” “apascentam a si mesmos, sem nenhum temor” (Jd 1:12b),
isto é, em causa própria e indevidamente, utilizam-se de recursos
que deveriam ser destinados a melhoria e a boa administração da
obra de Deus.
Enquanto
a espiritualidade do brasileiro aumenta, há muitos de olho na
lucratividade que uma igreja pode render. Para estes, a Bíblia tem
um recado: “Ai deles! Que foram pelo caminho de Caim e pelo amor ao
lucro se atiraram ao erro de Balaão [...]”. “[...] Pastores que
apascentam a si mesmos, sem temor, são nuvens sem água, levadas
pelos ventos, são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas,
desarraigadas” (Jd 1:11a -12b).
A
igreja é uma empresa, sim. Preocupa-se, igualmente, com as contas a
pagar, com os salários dos pastores, músicos, ministros, obreiros,
missionários, com os investimentos materiais. E, não há
nenhum mal nisso. Nossos líderes – que trabalham com afinco e amor
a obra de Deus - merecem muito mais do que as
migalhas a que se submetem. Mas é preciso diferenciar uma
situação. Todas as igrejas são empresas, mas há empresas que
supostamente são igrejas. A verdadeira igreja, antes de ser empresa,
precisa ser casa de serviço e adoração. Que leve realmente a sério
as questões espirituais, e não abra mão sob hipótese alguma de
seus “princípios” para abocanhar “lucros ou poder”.
A
verdadeira igreja, não faz vista grossa para o pecado, quando quem
precisa ser corrigido é o irmão endinheirado que sustenta boa parte
da obra com seu alto dízimo. O falso mestre
pode esconder suas más intenções de multidões, enquanto o diabo
assiste de camarote as obras ambulantes de sua astúcia. Deus,
todavia, honra aqueles que por amor do seu nome, foram vítimas do
engano dos falsos mestres.
Dizem
que não podemos subestimar a inteligência do diabo. Então, ouso
subestimar a nossa ingenuidade quando a táctica mais eficaz do
inimigo, há séculos continua sendo, exactamente a mesma, ou seja,
alguma coisa, em troca de algum poder. Sabemos
que o poder é um método eficaz de tentação e corrupção.
Talvez ele esteja intrinsecamente ligado a raiz da personalidade
pecaminosa dos homens, caracterizada pelo pecado original de Adão e
Eva, lá no Jardim do Éden. Esta tática foi aplicada a outros como
Judas, Jacó, Ló, Ananias, Safira; a Jesus Cristo quando ofereceu
todos os reinos deste mundo se prostrado Ele, o adorasse. Há uma
extensa lista de personagens bíblicos. Ao que parece, seus métodos,
não sofreram alterações.
Segundo
Dr. Russel Shedd, “A mais sutil tentação do mundo é a que propõe
reconhecimento e aceitação ao cristão”. E ele diz mais “O
poder tem uma facilidade inata de corromper qualquer líder que
exerça o direito de manter controle sobre a vida dos outros”. E, é
este controle que muitos almejam, até invejam. Começam
ouvindo a palavra, como qualquer outro. O pastor, vê neles um
potencial. Chama-os para a obra. Ensina,
treina, dá oportunidades. Confia na ovelha. De repente, o escritório
pastoral é invadido por um lobo voraz. O pelego de ovelha, fica na
porta e serve de capacho. As contendas e dissensões vem à tona. O
nível de influência do dissidente, determina o tamanho da divisão
e os membros que o seguirão.
Igrejas
são filantrópicas. Não é difícil abrir uma. Basta ter influência
sobre algumas pessoas, para iniciar um pseudo-trabalho de
evangelização. Pseudo porque tais dissidentes
ao invés de irem para bem longe, evangelizar pessoas ainda não
crentes, divertem-se pescando no aquário em que viviam, semeando
contendas, discórdias e inevitavelmente despertando a ira de seus
ex-líderes.
Nunca
houve tantos templos espalhados por aí, como se tem visto,
ultimamente. O imaginário coletivo crítico-cristão ousa citá-los
como “botecos religiosos”, uma ironia à igreja comparada aos
estabelecimentos comerciais de pequeno porte, que limitados por um
raio físico-geográfico muito pequeno, através
de um marketing barato e agressivo, lutam pela sobrevivência
financeira, competindo pelos mesmos fregueses.
Que
bom seria se nossas cidades estivessem superlotadas de igrejas
preocupadas com o ideal maior, que em princípio deveria ser
compartilhado por todas: “Pregar o evangelho a toda a criatura e
declarar Jesus Cristo como o verdadeiro caminho, verdade e vida”.
Que bom seria se estas igrejas fossem
totalmente despreocupadas com o marketing lucrativo e a concorrência
estigmatizada por números e posição social de destaque na
sociedade. Mas, elas estão aí. E são pequenas, médias,
grandes. Há de todo tamanho. Multiplicam-se e mudam suas fachadas.
Com o intuito de atingir massas, adaptam-se a modernidade secular, e
lançam novas ideologias como isca aos necessitados. Igreja para
empresários. Para jogadores e artistas. Igreja para surfistas. Há
campos a serem explorados. Faltam os escritores, médicos,
psicólogos, físicos e matemáticos. Será que existirão igrejas
para garis, faxineiras e babás?
Não
será estranho se daqui há alguns dias nos depararmos com alguma
igreja levantando a seguinte placa: “Viva o pecado, venha, e una-se
aos pecadores de plantão!" Ironias a parte, há certamente,
aquelas que buscando a santificação, resolveram se separar. Estas,
no entanto, representam uma parcela muito pequena do todo. O alerta
já havia sido dado há algumas centenas de anos “Nos últimos
tempos haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias
concupsciências. Estes são os que causam DIVISÕES; são sensuais,
e não tem o ESPÍRITO” (Jd 1:18-9). Mas, Ai deles...
(Nota:
Este artigo foi publicado originalmente em Instituto Jetro em
07/03/2008)
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