Entramos naquele mês que é, predominantemente, o das férias. Agosto. Tempo de descanso, de adoptar um ritmo mais lento, de acordar e deitar tarde, mudar de ares, conhecer pessoas novas, pôr a leitura em dia e ler outras coisas nos jornais. Por exemplo, o Questionário de Proust leva-nos até uma esplanada onde conhecemos alguém para lá da sua profissão. Não é o diplomata, a bastonária, o músico, o político ou o escritor, mas é alguém que confessa, mais a sério ou mais a brincar, o que pensa sobre o amor, a verdade ou a morte. Até agora, em comum, para os nossos inquiridos, as suas famílias são quem mais amam no mundo (outra coisa não seria de esperar); declaram que não mentem ou quando o fazem é por piedade (um mal menor); e todos desejam ter uma morte santa (quem não?).
No fundo, afirmam que são mortais e iguais a todos nós, com os mesmos sonhos, desejos, medos e frustrações. Cada um tem o seu lema de vida, o do músico Kiko Pereira tocou-me particularmente : “Viver com se morresse amanhã, aprender como se fosse eterno.”
Morrer. Muitos temem a morte, outros deixam-se morrer quando já nada mais vale a pena. Depois de, no domingo passado, se ter celebrado o Dia dos Avós, nesta terça-feira, a enfermeira Carmen Garcia escrevia um testemunho duro e sentido sobre o que acontece em tantos hospitais deste país. O que não é uma novidade, nem culpa da pandemia. “O meu apelo é que cuidemos dos nossos, que não lhes larguemos a mão, que estejamos para eles como eles sempre estiveram para nós. Eles connosco desde o início. Nós com eles até ao fim”, escreve Carmen Garcia.
“Desisti. Na minha 12.ª missão encontrei o meu limite e desisti. Foi das decisões mais dolorosas da minha vida.” É assim que Gustavo Carona começa a sua última crónica sobre a sua experiência médica em cenários de guerra. Fomos introduzidos na sua escrita durante a pandemia, quando descrevia o que se passava num dos hospitais do Norte do país onde os doentes com covid-19 eram recebidos. O Diário de um Intensivista fidelizou muitos leitores às suas palavras e, nos comentários, estes agradecem-lhe porque Carona transmite sempre uma enorme esperança num mundo melhor. Sobre a sua experiência em África (e sobre a morte) escreve: “Aqui todas as famílias têm uma história de uma criança que morreu. Eu gostava que elas percebessem que não é normal, mas também gostava de aprender a aceitar melhor a morte. Parece uma contradição, mas não tem de o ser: valorizar a vida até ao último esforço, mas aceitar a morte com paz e tranquilidade.”
Esta semana conhecemos mais algumas propostas do Ministério da Educação para o novo ano lectivo que, inevitavelmente, foram alvo de críticas. Há uma classe que está preocupada com as crianças, o seu crescimento, a suas relações e interacções, em suma, com a sua saúde mental e bem-estar — a dos psicólogos. Numa carta aberta, já com milhares de partilhas, estes profissionais lembram como é importante a relação da escola, presencial, com as crianças e as suas famílias. “Não podemos deixar que as medidas sanitárias se sobreponham à necessidade de preservar a saúde mental das nossas crianças e jovens. Porque, se o fizermos, teremos com certeza em mãos uma outra pandemia no campo da saúde mental, com resultados bem mais dramáticos, provavelmente.”
E para quem está de férias, além de espreitar o novo site Leituras, pode também ver as sugestões do Plano Nacional de Leitura que, semestralmente, lança uma lista de livros com as recomendações mais relevantes — dos bebés aos adultos. Aqui ficam algumas sugestões. E uma do Ímpar: o último romance histórico da jornalista Isabel Stilwell que, pela primeira vez, se debruça sobre um personagem masculino. D. Manuel I, duas irmãs para um rei é o seu nono romance e a crítica do Ípsilon deu-lhe quatro estrelas.
Boa semana!
Fonte: Público
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