São 32 as histórias relatadas no livro “A Grande Devassa - Estórias de um arquivo judicial – 1820-1920”, da autoria de José Avelino Gonçalves, juiz presidente do Tribunal da Comarca de Castelo Branco e Desembargador no Tribunal da Relação de Coimbra, que retratam um período conturbado da história de Portugal, com especial enfoque na realidade da Beira Baixa. Natural da Lousã e há 22 anos a morar na região, José Avelino Gonçalves encontrou os processos deste período no sótão do Tribunal da Covilhã. “Os processos judiciais constituem uma fonte fundamental e inesgotável para o conhecimento da história local e regional. Das suas assentadas nascem estas histórias, simples como as personagens que lhes dão vida. Enredos e vivências camilianas com um ligeiro toque queirosiano, estórias da nossa justiça”, adianta José Avelino Gonçalves.
A exposição que resultou do espólio encontrado foi inaugurada a 7 de novembro no Auditório Municipal, seguindo-se a apresentação do livro cujo grafismo é da autoria de Catarina Alves, do Município de Proença-a-Nova, uma das parcerias destacada pelo autor. A outra foi com a Cooperativa Trevim, que editou o livro. Paulo Peralta, presidente da Cooperativa, apresentou a obra, destacando a importância de se recuperar o património documental das instituições, não apenas dos tribunais, mas também das Câmaras Municipais, Associações ou Juntas de Freguesia. “Estar enfiado num sótão de máscara, quando ela não era obrigatória, no meio daquela poeirada toda e a tratar documentos nem sempre com escrita legível, obviamente que é um trabalho hercúleo mas que nos vai valer de muito porque vai traduzir uma parte da história do nosso país e da nossa região das Beiras. Dá-nos um retrato etnográfico e histórico extremamente importante”, referiu. “Percebendo a nossa história estaremos muito melhor preparados para enfrentar o futuro”.
Na conversa informal que se seguiu, José Avelino Gonçalves mencionou episódios caricatos de algumas das estórias que mais lhe chamaram a atenção, desde logo a do processo que ilustra a capa do livro sobre Rosa Jacinta de Carvalho, a Viúva Veiga. Devido à morte do marido, teve de ficar à frente da fábrica de lanifícios, numa época em que a mulher não tinha visibilidade social. Por questões relacionadas com emolumentos a pagar, tem de ir a Tribunal e o juiz refere que a empresária, por ser mulher, “não pode entrar no mundo judiciário: é mulher, contra o direito e, portanto, proibido”.
João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, destacou o papel da cultura “como fator de desenvolvimento da sociedade”. Nesse sentido, a autarquia continuará a apoiar iniciativas que contribuam para um maior conhecimento da nossa história coletiva.
A exposição pode ser visitada até 30 de novembro e o livro adquirido junto da Cooperativa Trevim.
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