«Preferia não ter escrito este livro, sinal de que não tinha havido uma guerra que, de resto, continua a haver. Um tirano, antigo espião de uma ditadura sangrenta, alimentando sonhos megalómanos de retorno a um império de má memória, promoveu a invasão e a destruição da Ucrânia e, dentro de mim, a indignação que é o sangue destes versos.» Tendo consciência de que, embora haja grande literatura contra a guerra, escrita em todos os tempos e latitudes, a denúncia dos seus horrores não impediu que outras guerras surgissem depois, o poeta, ensaísta e crítico literário Eugénio Lisboa decidiu não baixar os braços.
Saber não desistir é um privilégio «ético, mas sobretudo estético». É, segundo Eugénio Lisboa, «fundamentalmente, bonito. Gide propôs, subversivamente, que a Ética fosse uma dependência da Estética. Por isso digo que desistir é feio, antes de ser muitas outras coisas.» O resultado dessa insistência é a obra Poemas em Tempo de Guerra Suja, um impetuoso livro de combate que denuncia as atrocidades de Putin, figura que apelida de «aborto malcheiroso, cozido no enxofre do inferno». As referências satíricas ao chefe de Estado russo são constantes na obra e, em particular, em poemas como «Putine revisitado», «Como se faz um Putine» ou «Notícias da Liliputinelândia», em que o poeta exclama: «[...] não há filho da puta,/que, como ele, esteja na berra!»
«Nas guerras vence-se, mas não se ganha. Há sempre um vencedor, um vencido e dois perdedores.» Neste livro, Eugénio Lisboa luta com a força da palavra, mesmo sabendo que vamos todos perder. Exaltando o valor da vida, seja em que contexto for, o autor denuncia a indiferença com que, em cenários de guerra, se encara a morte. No poema «Matar é matar é matar é matar», lê-se:
«Pensar que matar, na guerra,
não é bem assassinar,
assim como quem enterra
segredos que é melhor guardar
é só mentir a si próprio, […].»
Mas este não é apenas um livro sobre a guerra na Ucrânia: é um livro em que se estabelecem paralelismos entre os horrores a que assistimos nos nossos dias e as guerras do passado e em que o poeta discorre também sobre temas que nada têm que ver com a guerra, mas que foram escritos em tempo dela. «Em tempo de guerra, ora a encaramos de frente, ora lhe voltamos as costas.» Um dos exemplos é um poema de homenagem a Paula Rego, consagrada pintora portuguesa que nos deixou no último mês de Junho.
«Deste à singular pintura, tua,
bebida no sangue das tuas feridas,
uma violência perversa e nua,
só própria das almas destemidas. […]»
Uma edição Guerra e Paz contra tiranos, oligarcas e putines, Poemas em Tempo de Guerra Suja chega à rede livreira nacional do próximo dia 6 de Setembro. Estará ainda disponível no site da editora e nas feiras do Livro de Lisboa e do Porto, que decorrem até ao dia 11 de Setembro.
Poemas em Tempo de Guerra Suja
Eugénio Lisboa
Ficção / Poesia
118 páginas · 15x20 · 13 €
Nas livrarias a 6 de Setembro
Guerra e Paz, Editores
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