domingo, 10 de julho de 2022

“Não consegui salvar nenhum dos meus seis amigos”: o sofrimento dos migrantes na fronteira sul da Europa

Algumas das pessoas resgatadas pelas equipas da MSF no Geo Barents encontraram coragem para partilhar as suas histórias. A organização desenvolve atividades de busca e salvamento no Mediterrâneo central desde 2015.
Passou já um ano de operações no Mediterrâneo central, desta vez com o Geo Barents – o navio de buscas e salvamento operado pela Médicos Sem Fronteiras (MSF) –, tendo sido resgatadas das águas 3.138 pessoas e feitas 6.536 consultas médicas antes de as desembarcar num local seguro na Europa. Após o trágico resgate na noite de 27 de junho passado, a triste realidade na fronteira sul europeia não mudou: a normalização das políticas de dissuasão e de não-assistência no mar, assim como o desmantelamento do sistema de buscas e salvamento a favor dos retornos forçados, continua a gerar sofrimento humano e perda de vidas.

Os números, que representam vidas humanas, são chocantes. Entre 2017 e 2021, pelo menos 8.500 pessoas morreram ou desapareceram e 95.000 foram forçadas a regressar à Líbia, incluindo 32.425 pessoas só em 2021 – o número mais elevado de retornos forçados jamais registado. Na Líbia, as pessoas resgatadas do mar enfrentam tratamento degradante, como extorsão, tortura e, demasiadas vezes, a morte.

Os Estados europeus que não providenciam capacidades de buscas e salvamento adequadas e pró-ativas e que aumentam a capacidade da guarda-costeira líbia estão inegavelmente a apoiar os retornos forçados para a Líbia, onde as detenções e os abusos são a norma. A presença da MSF no Mediterrâneo central é resultado direto do progressivo e vergonhoso afastamento da capacidade naval de buscas e salvamento pró-ativa e liderada pelos Estados no mar Mediterrâneo”, frisa o representante da MSF para as operações de buscas e salvamento, Juan Matías Gil.
Os horrores pelos quais passam as pessoas refugiadas, requerentes de asilo e outras migrantes na Líbia, quer antes de tentarem atravessar o Mediterrâneo central ou depois de terem sido forçadas a regressar, são muitas vezes inimagináveis. Algumas das pessoas resgatadas pelas equipas da MSF no Geo Barents encontraram a coragem para partilhar as suas histórias e, com estes testemunhos, a organização médico-humanitária documentou o brutal impacto e os angustiantes relatos da violência infligida a milhares de homens, mulheres e crianças encurraladas entre o mar e a Líbia.
Entre os sobreviventes resgatados pelo Geo Barents, 265 pessoas relatam ter sofrido alguma forma de violência, de tortura ou de maus-tratos, e 63 de entre elas contam ter sofrido violência sexual ou outras formas de violência de género.

Os polícias, a guarda-costeira, os militares não se importam connosco. […] Espancaram-me muito, todos eles nos batem. Até desmaiarmos. Até colapsarmos. […] Há tantas punições severas naquele país […] Por que é que a União Europeia está a apoiar estas pessoas? Eu pedi ‘Deus, por favor ajuda-me’. […] Se a Nigéria fosse segura, eu não estaria nesta terra. […] Quando me estava a preparar para esta terceira vez, disse ‘Deus, prefiro morrer no mar a ser mandado de volta para os centros de detenção líbios’. Chorei e chorei. E, nesta terceira vez, entrei noutro barco”, conta um homem de 25 anos, oriundo da Nigéria.
MSF desenvolve atividades de buscas e salvamento no Mediterrâneo central desde 2015

De acordo com testemunhos recolhidos a bordo do Geo Barents, 84% das 620 ocorrências de violência que foram relatadas às equipas da MSF por sobreviventes resgatados tiveram lugar na Líbia – destas, 68% foram reportadas terem acontecido durante o ano que antecedeu o resgate. Um número significativo destas ocorrências deu-se após as pessoas terem sido intercetadas pela guarda-costeira líbia e, subsequentemente, fechadas em centros de detenção. Sobreviventes resgatados pelo Geo Barents contam que a violência foi cometida por guardas dos centros de detenção (34%), pela guarda-costeira líbia (15%), por polícias militares ou não-estatais (11%) e por contrabandistas/traficantes (10%).

Nestas 620 ocorrências de violência incluem-se agressões físicas, tortura, desaparecimentos forçados, raptos, detenções e encarceramentos arbitrários – sobretudo na Líbia, mas também durante as interceções e retornos forçados, frequentemente múltiplos, feitos pela guarda-costeira líbia.

As equipas da organização médico-humanitária documentaram ainda níveis substanciais de violência contra mulheres e crianças – 29% eram menores, o mais novo com 8 anos, e 18% eram mulheres.

A líder da equipa médica da MSF no Geo Barents, Stephanie Hofstetter, explica que “as mais prevalentes consequências para a saúde das ocorrências de violência registadas estão ligadas a traumatismos contusos, queimaduras, fraturas, ferimentos na cabeça, ferimentos relacionados com violência sexual, transtornos de saúde mental”. “Outras consequências incluem deficiência física de longa duração, gravidez, desnutrição e dor crónica”, acrescenta.

A MSF desenvolve atividades de buscas e salvamento no Mediterrâneo central desde 2015, tendo trabalhado já com oito navios diferentes, sozinha ou em parceria com outras ONG. Nestes cerca de sete anos, as equipas de buscas e salvamento da MSF no Mediterrâneo central prestaram assistência a mais de 80.000 pessoas.
A embarcação com que a organização médico-humanitária está atualmente a operar, o Geo Barents, navegou já por 11 vezes até à zona de buscas e salvamento, entre junho de 2021 e maio de 2022 – foram feitas 47 operações de salvamento e resgatadas 3.138 pessoas e recuperados os corpos de mais outras dez que morreram no mar. De entre as pessoas resgatadas pela MSF no Mediterrâneo central neste último ano, 34% eram crianças e delas 89% eram menores não acompanhados ou que estavam separados das suas famílias. A bordo deste navio foram providenciadas 6 536 consultas de cuidados primários de saúde, de saúde sexual e reprodutiva e de saúde mental.

Ignorados pedidos da MSF para desembarque em local seguro
Desde o início das operações de buscas e salvamento com o Geo Barents em junho de 2021, a MSF tem também continuado a observar a normalização dos impasses no mar e a angústia que é gerada por esta prática.

Os pedidos das equipas da MSF para atribuição de um local seguro para o desembarque de sobreviventes têm sido sistematicamente ignorados ou recusados pelas autoridades de Malta, enquanto que os que são dirigidos às autoridades de Itália são respondidos com cada vez maiores demoras. Os impasses no mar impedem o acesso imediato a uma avaliação completa das necessidades médicas e de proteção e prolongam o sofrimento dos sobreviventes.

Mudar esta política mortal de migrações é não apenas necessário, mas também possível. A Europa tem demonstrado no contexto da crise na Ucrânia que pode levar a cabo uma abordagem humana nas migrações forçadas. A proteção da vida de todas as pessoas deve ser aplicada independentemente da raça, género, país de origem, convicções políticas ou religiosas, e tratamento igual – com respeito pelos direitos e dignidade das pessoas – tem de ser dado a quem procura a segurança às portas da Europa.

SIC Notícias/Médicos Sem Fronteiras
Imagem: ANNA PANTELIA/ MSF

Praia Fluvial de Valhelhas: um clássico nos caminhos de verão na Serra da Estrela

Com temperaturas a rondar os 40 graus, as praias fluviais do Parque Natural da Serra da Estrela são uma opção.
A praia fluvial de Valhelhas é já um clássico nos caminhos de verão na Serra da Estrela.
Sol e sombra, água e descanso: está tudo ali com o Zêzere num centro de atração. A praia de Valhelhas tem alojamento para diferentes gostos e diferentes bolsas.
Este pode ser um mergulho no interior do país, que refresca quem chega e a economia de quem espera pelos turistas o ano inteiro.

SIC Notícias

Aos cancelamentos dos voos no aeroporto de Lisboa acresce outro problema: as malas perdidas

A perda ou danos na bagagem podem obrigar as companhias aéreas a pagar até 1.400 euros.
A situação esteve, este domingo de manhã, um pouco mais calma no aeroporto de Lisboa, mas aos cancelamentos dos voos acresce outro problema: as malas perdidas dos passageiros.
Ao que a SIC apurou algumas das malas estão lá há uma semana. Esta é uma das consequências das centenas de cancelamentos de voos ao longo dos últimos sete dias no aeroporto de Lisboa.
Este constrangimento dá direito a indemnização. A perda ou danos na bagagem podem obrigar as companhias aéreas a pagar até 1.400 euros.
Já uma indemnização por atraso ou cancelamento começa nos 250 euros e pode ir até aos 600 euros, além do direito a assistência, que inclui alojamento, refeições e transporte para o aeroporto. Os passageiros têm ainda direito a novo voo.

SIC Notícias

Crise das matérias-primas pode estar a agravar desvio de equipamentos eléctricos usados

Electrão instalou 104 GPS em electrodomésticos e confirmou que 75% vai parar ao mercado paralelo.

A crise das matérias primas no mercado internacional pode estar a agravar o fenómeno de desvio de materiais dos equipamentos eléctricos usados. O problema do fornecimento de materiais, que começou a sentir-se durante o auge da pandemia, intensificou-se depois da invasão da Ucrânia por parte da Rússia, já que estes dois países são também grandes fornecedores de matérias primas, incluindo metais.
Alguns dos materiais que compõem os equipamentos eléctricos, como o alumínio ou o cobre, são valiosos e estão a ser cada vez mais procurados nos circuitos informais. O problema é que estes equipamentos usados têm também componentes perigosos. Ao serem desviados das unidades de reciclagem, que garantem a sua descontaminação, estes equipamentos eléctricos são transformados em sucata metálica, em processos que não acautelam a protecção da saúde humana e do ambiente.
Nos últimos dois anos o Electrão seguiu o rasto de um total de 104 electrodomésticos usados, colocados na via pública e circuitos municipais para posterior recolha por parte dos serviços municipais. Em cada um dos aparelhos foi instalado um GPS, os equipamentos foram distribuídos por 33 concelhos e 10 distritos e o seu percurso foi monitorizado em tempo real.
A monitorização dos GPS permitiu concluir que 75% destes equipamentos vai parar ao mercado paralelo. A esmagadora maioria dos equipamentos usados foi detectada, via GPS, em locais onde não existem operadores de gestão de resíduos licenciados para descontaminar e reciclar estes equipamentos. Há ainda situações de equipamentos encaminhados para operadores licenciados depois de terem seguido um percurso alternativo com passagem por casas particulares e outros locais que não estão associados à gestão de resíduos. Apenas cerca de 25% dos aparelhos integraram o circuito formal e foram encaminhados para unidades licenciadas para a reciclagem destes equipamentos.
O Electrão optou por monitorizar as tipologias que são mais procuradas pelo mercado paralelo, dado o valor dos seus componentes, como é o caso de frigoríficos, torres de computadores, máquinas de lavar e fogõesA lista dos equipamentos desviados e respectivos destinos foi comunicada à Inspecção Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), a entidade responsável pelas acções de fiscalização, de forma a possibilitar a identificação dos agentes e circuitos do mercado paralelo.
A monitorização de equipamentos eléctricos usados via GPS é uma iniciativa do Electrão que arrancou com o projecto “Weee-Follow” em 2020. Na primeira fase do projecto, que decorreu entre 2020 e 2021, foram distribuídos 73 GPS em 12 dos concelhos mais populosos das áreas de Lisboa e Porto. A análise dos percursos permitiu concluir que 3 em cada 4 equipamentos usados (75%) foram desviados para o mercado paralelo.
A iniciativa do Electrão inspirou depois um projecto de âmbito nacional que serviu de base à campanha nacional de fiscalização, dinamizada com o envolvimento das autoridades ambientais e das restantes entidades gestoras.
Nesta segunda fase do projecto, que decorreu entre Dezembro de 2021 e Março deste ano, o Electrão distribuiu 31 GPS em 27 concelhos, maioritariamente fora dos grandes centros urbanos. Os resultados confirmaram a mesma tendência. A amostra é menor, mas permitiu concluir, igualmente, que a maioria dos electrodomésticos deixados para recolha na via pública e circuitos municipais continua a ser desviada. O flagelo do mercado paralelo também se regista em zonas mais interiores do país. Em 31 equipamentos monitorizados apenas 11 terão seguido o circuito formal. Há, no entanto, zonas cinzentas já que em alguns casos os electrodomésticos foram encaminhados para espaços municipais, de onde poderiam ter seguido para reciclagem, mas perderam o sinal de GPS no local apesar de terem bateria. Pelo menos 20 electrodomésticos (65%) foram desviados.
“O problema do mercado paralelo é um fenómeno que não é novo, o Electrão já o sinalizou na ‘Agenda Nacional dos Eléctricos’. O crescimento desta realidade vem dificultar o cumprimento da missão do Electrão e também os resultados de reciclagem a nível nacional”, alerta o CEO do Electrão.
Pedro Nazareth considera que para que Portugal possa atingir as metas nacionais, muito ambiciosas, é necessário apostar em acções concertadas que visem o reforço da fiscalização de forma a minimizar o impacto do mercado paralelo na reciclagem de equipamentos eléctricos usados.
A recolha de equipamentos eléctricos usados porta-a-porta, um esforço que o Electrão já está a fazer em alguns pontos da Área Metropolitana de Lisboa, em complemento com a recolha municipal na via pública, é uma medida em que o Electrão está a apostar para tentar minimizar este fenómeno.
O Electrão – Associação de Gestão de Resíduos é a entidade responsável por três dos principais sistemas de recolha e reciclagem de resíduos: embalagens, pilhas e equipamentos eléctricos usados. Gere uma rede de recolha de pilhas e equipamentos eléctricos usados com mais de 7.000 locais de recolha dispersos por todo o território nacional e é também responsável pela reciclagem de embalagens em todo o país. A sua principal missão é assegurar a reciclagem dos resíduos recolhidos, contribuindo para a minimização do impacto ambiental e para um reaproveitamento dos materiais que os constituem promovendo a economia circular. Desenvolve diversas campanhas de comunicação e sensibilização, com o objectivo de promover uma maior consciencialização ambiental e uma mudança de comportamentos, de que se destacam o Quartel Electrão, a Escola Electrão e o TransforMAR.

Biden assina ordem para proteger mulheres que recorrem ao aborto

 O presidente norte-americano, Joe Biden, classificou como "extrema" a maioria do Supremo Tribunal que colocou um ponto final no direito constitucional ao aborto.
O presidente apelou aos norte-americanos revoltados com a decisão para votarem nas eleições intercalares de novembro ao mesmo que assinava uma ordem executiva concebida para salvaguardar as mulheres de potenciais sanções relacionadas com o recurso ao aborto.
"Quando dezenas de milhões de mulheres votarem este ano não estarão sozinhas. Milhões e milhões de homens estarão do seu lado na luta em prol do direito à escolha e do direito à privacidade de que eles negam a existência. O desafio do tribunal às mulheres e homens norte-americanos, à nação, o desafio é irem votar. Há eleições em novembro. Votem, votem, votem", apelou o presidente norte-americano.
Mais de uma dezena de estados adotaram limites estritos ou proibições totais relativamente ao aborto na sequência da decisão do Supremo Tribunal. Mais de uma dezena de estados preparam restrições adicionais.

Euronews

Mais de dois mil homens combatem 32 fogos rurais

Mais de dois mil operacionais combatem esta manhã 32 incêndios florestais, destacando-se oito que estão ainda em curso, em especial os dos concelhos de Pombal, Ourém e Carrazeda de Ansiães, segundo a Proteção Civil.
Segundo os dados disponíveis na página da Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, consultados pela Lusa às 08:30, estavam 2.065 homens no terreno a combater 32 fogos rurais, apoiados por 639 viaturas e sete meios aéreos.

A maioria desses incêndios estava em fase de conclusão (21), havendo ainda três em fase de resolução. Os oito fogos rurais em curso mobilizavam a maioria dos homens: 1.528.

O incêndio de Abiul, em Pombal, continua a ser um dos que mobiliza mais meios: Às 8:30 estavam no terreno 503 homens, 162 viaturas terrestres e três meios aéreos.

Em Ourém, o fogo que começou na quinta-feira na Cumeada, conta hoje com 743 homens, 234 meios terrestres e oito meios aéreos.

Em Carrazeda de Ansiães (Bragança), as chamas estão a mobilizar 204 homens, 63 meios terrestres e um meio aéreo.

Por volta das 08:30, a proteção civil tinha o registo de seis novos incêndios que deflagraram hoje de manhã: Em Canelas e Custóias, ambos no distrito do Porto, e em Pisão, distrito de Leiria; Gavião, e Braga; Sabroso de Aguiar (Vila Real), Arruda dos Vinhos, em Lisboa.

O ministro da Administração Interna anunciou no sábado que o Governo decidiu declarar a situação de contingência entre segunda e sexta-feira, permitindo que a Proteção Civil mobilize “todos os meios de que o país dispõe” para combater os incêndios num período em que se preveem temperaturas superiores a 45° em alguns pontos do país.

José Luís Carneiro explicou que a decisão se deve à previsão de agravamento das condições meteorológicas associadas a um elevado risco de incêndio, com a conjugação de fatores como a seca que se vive no país, níveis de humidade muito baixos, a previsão de ventos de várias orientações e noites muito quentes, o que não dá garantia de que haja reposição de humidade para níveis de segurança.

Aveiro | Farmacêuticos apresentam diversos estudos de caso. Salvar vidas e poupar recursos são vantagens do acesso aos dados clínicos do doente

 O acesso dos farmacêuticos aos dados clínicos dos doentes contribui para salvar vidas, poupar tempo e recursos ao sistema nacional de saúde. Estas são algumas das conclusões do debate sobre o tema, realizado durante o 3º Encontro SPFCS: O que Levamos para Marte, promovido pela Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde (SPFCS), neste fim de semana, em Aveiro.
Vários estudos de caso, apresentados durante o evento por parte de farmacêuticos de farmácia hospitalar, de farmácia comunitária, de análises clínicas e de clínicas de diálise, evidenciaram a mais-valia do acesso aos dados clínicos do doente. A ausência desta partilha de informação dificulta a compreensão de qual a melhor terapêutica para o doente e não permite avaliar as incompatibilidades entre medicamentos. Em última análise, pode salvar vidas.
Um dos casos clínicos apresentados refere-se a uma cuidadora profissional, com três idosos a seu cargo, para os quais possuía três sacos com medicação, mas sem qualquer indicação médica a quem se destinavam. A “investigação” conduzida pelo farmacêutico envolveu a procura do médico de família – para se descobrir que se havia reformado e não existir um substituto. O enfermeiro de família, muito solícito, permitiu o agendamento de uma consulta para daí a três dias. Infelizmente, um dos idosos, devido à falta de medicação adequada, acabou por ser internado de urgência no hospital. O acesso aos dados destes doentes teria facilitado a medicação e evitado consequências negativas para estas pessoas.
Outro caso envolve uma pessoa que entra numa farmácia comunitárias com dor crónica, episódio de urticária e quadro depressivo e discurso suicida. Efetuada uma consulta farmacêutica de urgência no mesmo dia, procurou-se apurar toda a documentação possível sobre os medicamentos prescritos à doente. O quadro depressivo dificultou o processo, igualmente em resultado de insónia grave superior a 30 dias. Encaminhada para consulta de avaliação psiquiátrica, a falta de recursos humanos adiou esta possibilidade mais de um mês, até se perceber que a sucessiva prescrição de medicamentos originara conflitos entre eles, os quais provocavam, entre outros efeitos secundários, a urticária. A intervenção farmacêutica permitiu acertar a dose do medicamento para tratamento da tiroide, controlar quase todos os sintomas psiquiátricos e reduzir a medicação crónica em mais de 50%.
Estes dois casos, entre outros apresentados ao longo do 3º Encontro SPFCS, comprovam a urgência do acesso aos dados clínicos dos doentes, no sentido de lhes ser prestado um melhor serviço, salvando vidas e poupando inúmeros dos escassos recursos disponíveis o sistema de saúde nacional.
O 3º Encontro SPFCS decorreu presencialmente no Meliá Ria Hotel, em Aveiro, nos dias 9 e 10 de julho, com transmissão simultânea via plataforma digital interativa, destinando-se aos farmacêuticos membros da SPFCS.

SPFCS – Sociedade Portuguesa de Farmacêuticos dos Cuidados de Saúde
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A SPFCS é uma entidade científica destinada a «contribuir para a melhoria das competências dos farmacêuticos e do nível científico, tecnológico e de gestão, que lhes permitam ser o garante de cuidados farmacêuticos integradores, não só em ambiente intra-hospitalar como extra-hospitalar». Apostada em desenvolver as competências individuais dos farmacêuticos de excelência, com o objetivo de melhorar, significativamente, a prestação dos cuidados de saúde, a SPFCS promove 
 formação, a elaboração de artigos científicos, bem como a participação em eventos de caráter científico dos farmacêuticos portugueses.
A SPFCS privilegia como valores: conhecimento, colaboração, inovação, empatia, assistencialismo, transparência, ética e deontologia. 
A SPFCS tem a sua sede em Coimbra e atua junto dos farmacêuticos de Norte a Sul, incluindo as ilhas dos Açores e da Madeira.

Hospitais cancelam consultas e cirurgias para desviar médicos para as urgências

Serviços de urgências estão a encerrar em todo o país devido à falta de médicos.
Os hospitais estão a cancelar consultas e cirurgias para desviar médicos para as urgências, avança o Diário de Notícias.
Vários serviços de urgências estão a encerrar em todo o país devido à falta de médicos. E as unidades de saúde pública começaram a mobilizar médicos de outras especialidades para fazer face ao problema.
Os sindicatos e a Ordem dos Médicos exigem medidas que fixem profissionais no Serviço Nacional de Saúde, pedem a valorização das carreiras, aumento dos salários e melhores condições de trabalho.
Para a próxima quarta-feira está agendada uma nova reunião com o Ministério da Saúde.

SIC Notícias

Cuidado com o calor: Há zonas onde as temperaturas passam os 40º C

Domingo de risco máximo.  Évora, Beja e Castelo Branco são três exemplos dos cuidados a ter...
As temperaturas mais alas registam-se em Évora (42º graus) , Beja e Castelo Branco (41 graus). Portalegre chega aos 39º graus e em Lisboa, Setúbal e Santarém as máximas vão oscilar entre os 37 e os 38 graus.
A Norte, especial atenção em Bragança (37º graus), Braga (36º graus), Vila Real (38º graus), Viseu (37º graus) e na Guarda (35º graus). No Porto e em Aveiro, as máximas rondarão os 24º graus.
Mais a sul, no Algarve, conte com temperaturas máximas de 34º graus para Faro e 32º graus para Sagres.
Para fazer face ao calor deve:

  • Aumentar a ingestão de água ou de sumos de fruta natural sem açúcar;
  • Procurar ambientes frescos e arejados ou climatizados;
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
  • Evitar a exposição direta ao sol, principalmente entre as 11:00 e as 17:00;
  • Utilizar protetor solar com fator igual ou superior a 30 e renovar a sua aplicação de 2 em 2 horas e após os banhos na praia ou piscina;
  • Utilizar roupa solta, opaca e que cubra a maior parte do corpo, chapéu de abas largas e óculos de sol com proteção ultravioleta;
  • Evitar atividades desportivas e de lazer no exterior que exijam grandes esforços físicos;
  • Escolher as horas de menor calor para viajar de carro;
  • Os doentes crónicos ou sujeitos a medicação ou dietas específicas devem seguir as recomendações do médico assistente ou do SNS24.
Lusa

O abismo profundo da igreja de Satã descrito por um ex-membro

 

  • Plinio Maria Solimeo

Odiar a Deus e amar o demônio é tão absurdo que só os mais empedernidos na magia negra chegam a tanto. Um bom número dos que, por diversão ou curiosidade, se entregam a práticas como tarô, ouija, tabuleiros falantes, Reiki, yoga e coisas do gênero, não sabem que o termo final de tudo isso é o culto do próprio demônio, com desfechos os mais inesperados.

         O site católico espanhol Religiónen Libertad traz a esse propósito o depoimento de um ex-satanista, no qual ele descreve como entrou para uma igreja satânica onde se praticavam até sacrifícios humanos.

A iniciação

David Arias era um jovem mexicano de 16 anos que se mudou como tantos de seus conterrâneos para os Estados Unidos, indo morar em San Fernando, no vale de Los Angeles. Provinha de família católica não praticante.

 No colégio, sob o pretexto de ensiná-lo a se comunicar com os espíritos, alguns de seus novos companheiros o introduziram na prática da tábua ouija, então muito generalizada entre os adolescentes, que “estão sempre buscando alguma novidade, e abertos por isso às experiências. Era assim fácil atraí-los, e logo prendê-los com o sexo ou com as drogas” — comenta.

No início Arias se entregou a isso como a um passatempo, considerando essa experiência como a de ir à noite aos cemitérios para vencer o medo. Aos poucos foi convidado a participar de reuniões “subterrâneas”, nas quais abundava a promiscuidade sexual e o abuso de drogas. Por fim, após um período de entrosagem, começou a participar da igreja de Satanás. O rapaz foi sendo levado a esse extremo de forma gradual e inconsciente.

         No grupo em que estava, havia gente de todas as idades e raças, sendo ele um dos mais jovens a ser atraído. Muitos se vestiam com trajes informais, trabalhando como médicos, advogados ou engenheiros. Outros, porém, mais coerentes, se vestiam com o chamado estilo “gótico”, isto é, com um traje peculiar, completamente negro, com os lábios pintados da mesma cor.

Das missas negras aos sacrifícios humanos

         Definindo um satanista como alguém que “rechaça, odeia e maldiz a Deus”, Arias comenta que o grupo ao qual pertencia era composto por cerca de 80 membros dirigidos por um “sacerdote” de Satanás. Eles se reuniam uma vez ao mês para celebrar missas negras.

         Segundo Arias, embora os membros dessa seita satânica procurassem não chamar a atenção, eles “estavam envolvidos em uma ampla gama de atividades criminosas, do consumo de droga à violação de adolescentes, e inclusive de assassinatos”. É claro que a isso só chegavam os mais iniciados, pois entre os membros havia uma gradação.

Em primeiro lugar estávamos principiantes, os quais se limitavam a observar os diversos rituais. Vinham depois os membros mais experimentados, que já participavam dos sacrifícios de animais, como ratos e gatos. Pelo ritual, esses membros deviam beber o sangue das vítimas, enquanto proferiam maldições sobre determinadas pessoas que queriam prejudicar.

Finalmente vinham os líderes do grupo, que realizavam sacrifícios humanos. As vítimas podiam ser as adolescentes “descontroladas” ou — o que era mais comum — os bebês das mulheres do grupo que se engravidaram após terem sido violadas.

         Por isso o processo de atração de novos membros tinha preferência pelas moças que pudessem engravidar, a fim de que seus bebês pudessem ser sacrificados em rituais satânicos.

A ação da graça

         Como pôde David Arias romper com esse grupo adorador de Satanás, após fazer parte dele durante quatro anos? É um mistério da graça de Deus, que age quando e onde menos se espera.

Ocorreu que o rapaz, sem causa aparente, começou a ser trabalhado por uma graça divina, que o fazia sentir um vazio, uma falta de sentido, um desgosto pela vida que levava. Como esse sentimento ia num crescendo, certo dia, sem saber o que fazer, ele começou a caminhar a esmo, sem rumo definido pelas ruas. Deparou-se então com uma igreja católica, e resolveu entrar. Sentou-se em frente de um Crucifixo, e limitou-se a olhá-lo fixamente. Fez então uma pergunta a Deus: “Podeis oferecer-me algo melhor que Satanás?”.

Nesse instante, de modo inesperado, David começou a considerar o horror da vida que levava, e sentiu um desejo profundo de mudar radicalmente. Decidiu então abandonar a seita, embora isso fosse muito perigoso, pois os que dela se afastavam e contavam o que lá se passava eram ameaçados de morte.

O primeiro passo que deu para isso foi mudar-se do vale de San Fernando, onde vivia com a família, para San Bernardino, longe dos grupos satânicos. Voltou então à Igreja Católica e começou a freqüentar os Sacramentos. Casou-se, e hoje tem três filhos.

Conselhos aos desavisados

         David Arias passou a dedicar seu tempo livre à evangelização sobre os perigos do ocultismo e do satanismo. Diz ele: “Os pais devem estar cientes daquilo que seus filhos estão fazendo. Hoje, as crianças têm acesso fácil a muitas coisas que lhes são prejudiciais” — como à internet, aos celulares, e aos aparentemente inocentes jogos de adivinhação, comuns em escolas.

         Sobre a influência satanista em nossos dias, Arias cita apenas um: o aborto: “O Maligno quer sacrifícios humanos, e os abortos são sacrifícios” que agradam ao Pai da Mentira. Ele comenta que um dos membros de sua seita era um médico abortista.

         Sobre os modos de lutar contra o poder infernal, ele mostra, com base na própria experiência, que um dos principais é o sacramento da confissão, ir regularmente à Missa e receber a Sagrada Comunhão, pois os satanistas também reconhecem que nela está realmente o Corpo de Cristo. É por isso que procuram roubar hóstias consagradas para suas missas negras. O ex-satanista indica também a importância da confissão frequente para se conservar na graça de Deus, tornando-se mais refratários à ação do demônio, e a recitação do Santo Rosário: “Quando alguém reza o Rosário, o Mal se assusta” – afirma.

David Arias vive sem medo das possíveis represálias dos satanistas com os quais conviveu: “O Senhor está comigo; com Ele não tenho nada a temer”.

ABIM

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Fonte:http://www.religionenlibertad.com/satanista-lider-catolico-david-arias-revela-los-secretos–53725.htm

Uma alma católica na Belle Époque parisiense

 

  • Paulo Henrique Chaves

Fui presenteado com um livro sobre a vida de Elisabeth Leseur (1866-1914), parisiense da Belle Époque, serva de Deus, até então minha desconhecida. São quase 400 páginas sem ilustração, um gênero de leitura diferente dos meus habituais e um tipo de impressão pouco convidativo. No entanto, a capa me agradou.

               Depois de folheá-lo, ver o autor e o índice, voltei à capa, ilustrada com uma ótima pintura da biografada. Uma senhora de meia idade, sentada em sua mesa de trabalho, trajada com um longo peignoir bordô contrastando com um veludo branco na gola e nos punhos, que sem dúvida ajudava compor a sua bela allure. Deixei-o sob os meus olhos enquanto lia dois outros livros.

               Sem perceber, fui construindo o perfil psicológico dessa senhora: marcante personalidade, muito lúcida e inteligente, ar grave, mas sereno, educada e culta, com a axiologia em ordem, sem ilusão com o mundo que a cercava. Predicados, com certeza, fruto de uma vida de sofrimento resignado de uma alma católica.

Situação da sociedade na Belle Époque

               Ao começar a lê-lo, dei-me conta de que seu marido, Félix, médico, era um ateu prático que a contrariava sobremaneira, de modo especial por suas ideias em relação ao catolicismo e à seriedade com que Elisabeth encarava a vida. Tentava de todos os modos minar a sua fé, passando-lhe livros de autores pouco recomendados que chegaram a lhe causar dúvidas metafísicas.

               Oferecia-lhe muitas joias, convidava-a para uma vida social intensa e viagens contínuas. Tudo isso ela soube reger com resignação e cortesia para não se indispor com o marido, sempre oferecendo a Deus todo sacrifício pela conversão dele. Por sua formação, experiência e considerações, sabia que para fazer a vontade de Deus era preciso ter uma vida interior séria, o que estava nas antípodas do modo de ser de seus coetâneos.

               Com efeito, observava ela, os cinemas, os chás, as danças, os automóveis e o telégrafo sem fio colocavam os seus contemporâneos em perpétua agitação, a ponto de as pessoas não quererem mais receber visitas em casa. Escrevendo a um amigo, discernia com nitidez que os maus exemplos provinham das classes superiores:

               “É extraordinário até que ponto a sociedade está atacada por uma espécie de doença de São Guido moral, que não mais permite pensar e viver um pouco a sós. As amizades cada vez menos profundas e verdadeiras são abafadas pelas relações que correspondem bem ao imperativo de banalidades. Aquele que não defender o seu lar e o ser íntimo, será submerso, pois tudo acarreta uma diminuição moral”, observava.

Restituir ao lar a dignidade e a paz

Com fina percepção das mudanças sociais em curso — dir-se-ia imbuída de ideias contra-revolucionárias —, ressaltava: “Digo isto aos amigos, porque sei que entendem, mas quanta gente o pode compreender numa época em que se move sem agir, fala-se sem refletir, e em que se pensa o menos possível?” Elizabeth escreveu essas linhas em fins de 1903… O que diria ela hoje!

               E dirigindo-se de modo particular aos católicos, acrescentou:

Elisabeth com seu esposo Félix Leseur. No fim da vida ele se converteu, depois de ler o diário da esposa

               “Os sinceros devem reagir, restituir ao lar a sua dignidade e a sua paz. É preciso defendê-lo nesta Paris, onde os encontros são tão suspeitos; o aperto de mão tão fácil; onde se fecha os olhos com tanta indulgência a situações irregulares; onde a moda e as atitudes são tão ultrajantes como inconvenientes; onde sob pretexto de esporte ou camaradagem, rapazes e moças se reúnem à vontade, sem a vigilância dos pais, num desembaraço tão perigoso como sem distinção. Receosos de passar por retrógrados, e igualmente por covardia, eles abdicaram de sua autoridade”.

               Ela dizia preferir mil vezes a vida calma, longe das agitações, que caem logo no vazio. Apontava o exagero no prazer da agitação, que poderia causar novas gerações ainda mais nervosas e superficiais. A distração tem limites, pois do contrário o próprio fundo da vida e seu fim serão desviados. Ora et labora. Para ela, “nesta vida todos somos culpados do bem que não fazemos”.

Má impressão que Leseur teve da Rússia

               Outro ponto de seu discernimento recaía sobre a rápida industrialização. Deplorava a concentração do trabalho nas fábricas, que arrancava a mulher de seu lar e tornava o operário mais acessível a hábitos e doutrinas nocivas. Censurava o distanciamento das classes sociais, favorecidas por urbanizações como a Paris de Haussmann, separando bairros ricos dos pobres.

               Preferia as classes sociais vivendo como outrora, mais perto umas das outras, conhecendo-se e entreajudando-se na troca amistosa de bons ofícios, pois elas já se ignoravam, o que necessariamente iria levar à luta de classes.

               Entre as muitas viagens que fez com seu marido, uma foi à Rússia, em 1899. Em suas notas ela criticou o poder autocrático absoluto; a nobreza, receptáculo de todos os privilégios e que só pensava em gozar a vida; a burguesia rudimentar; os estudantes, pobres e com futuro miserável em ambiente de ideias revolucionárias; e, por fim, uma religião puramente exterior, na verdade, um meio político.

               Observou que a religião russa, a ortodoxa, era despida de conteúdo espiritual, não passando de uma forma superior de polícia, e que os mujiques — camponeses e operários, aquele “pobre povo” — viviam na mais completa miséria, entorpecidos pelo álcool e por aquela falsa religião. Tudo, segundo ela, fazia pressentir a revolução comunista, que realmente ocorreu menos de vinte anos depois.

               Acachapada por esse clima pesado, preferiu interromper a viagem. Ao sair da Rússia rumo a Istambul, sentiu-se aliviada, com a sensação de ter sido libertada: “Depois, o que dizer de um país onde tudo é vigiado, espreitado?” E concluiu: “Deixamos a Rússia sem saudades.”

Elisabeth Leseur no seu leito de morte (de um desenho de Charles Duvent).

Posição católica frente ao sofrimento

               No âmbito espiritual, Elisabeth, de saúde muito débil, chegou a se perguntar se o sofrimento constituía um sacramento. Para ela, nada de grande se faz que não tenha por base o sofrimento e, ancorada em Santo Agostinho, viveu muito conformada com os dissabores próprios à existência terrena.

               Chegou à conclusão de que Deus a queria mais Maria que Marta. Sentia-se satisfeita com o que lhe reservara na vida enquanto esperava a velhice, a qual, aliás, não chegou, pois faleceu aos 47 anos de idade. Ocupava seu tempo com a oração e a doença, uma via fecunda que lhe proporcionava muita tranquilidade de alma.

               Tudo ela oferecia pelo bem das almas — de acordo com a doutrina da Comunhão dos Santos, da qual ela tanto gostava e difundia —, de modo particular pela conversão de seu marido, homem de coração duro. Além de uma vida de piedade intensa, deixou muitos escritos, como Jornal e Pensamentos de cada dia e Cartas sobre o sofrimento.

               Tendo se desposado misticamente com o sofrimento, faleceu num dia 3 de maio, festividade do encontro da Santa Cruz.

Obteve a conversão do marido

               Embora Deus a tenha privado da alegria de ver seu marido convertido, disse-lhe, ao se despedirem pela última vez, que não tardaria em mudar de vida e juntar-se a ela. Félix leu e releu enlevado os escritos, cartas e conselhos da esposa, converteu-se e abandonou o mundo, tornando-se padre dominicano. Ele é o autor do livro de que estou falando.

               Para que o leitor faça uma ideia do alcance do pensamento e da ação de Elisabeth Leseur, depois de se tornar sacerdote, seu marido fez, em cinco anos, cerca de 400 conferências nas principais cidades francesas, belgas e suíças, com plateias de até duas mil pessoas, sem nunca tomar a iniciativa, mas sempre respondendo a pedidos.

               Seus livros tiveram mais de 100 edições em vários idiomas. No Brasil, foram sete edições até 1931. Esta que li, mais recente, é cópia feita pela Editora da Misericórdia de uma dessas edições, prefaciada pelo renomado jesuíta Pe. Leonel Franca.

ABIM

Madre Paulina, a primeira Santa brasileira

Canonizada no dia 19 de maio de 2002, o Brasil, depois de 500 anos de História, viu sua primeira Santa ser elevada à honra dos altares. Sua festividade é celebrada pela Santa Igreja no dia 9 de julho.

Paulo Roberto Campos

Aencantadora cidade de Nova Trento (SC) não cessa de receber visitantes dos quatro cantos do Brasil. Caravanas afluem com frequência. Todos desejam conhecer a admirável vida de Santa Paulina, canonizada por João Paulo II, tendo sido beatificada pelo mesmo Pontífice, quando de sua visita ao Brasil, em outubro de 1991.

A referida cidade, de imigração italiana, a 100 quilômetros de Florianópolis, nestes dias vive repleta de peregrinos. Devotos percorrem os lugares onde a Bem-aventurada viveu. Muitos procuram pessoas que a conheceram e possam dar testemunho das virtudes que ela praticou em grau heróico; fiéis andam à busca de relíquias, rezam, agradecem e pedem graças à nova intercessora que todos temos agora junto a Deus, especialmente os brasileiros. Santa Paulina! Rogai por nós!

Um pouco de biografia

Vígolo Vattaro (Trento, Itália), cidade natal de Amábile Visintainer.

Amábile Lúcia Visintainer, segunda filha (dentre 14 irmãos) de Antonio Napoleone Visintainer e de Anna Pianezzer, nasceu em Vígolo Vittaro (Itália), em 16 de dezembro de 1865. Os Visintainer imigraram para o Brasil quando Amábile tinha apenas 9 anos. Cresceu no bucólico povoado — que recebeu o mesmo nome de sua terra natal — de Vígolo, em Nova Trento (SC). Aos 12, quando fez a primeira comunhão, iniciou sua obra de caridade: ensinava o catecismo às crianças da aldeia, visitava os enfermos, cuidava da limpeza da capela. Aos 25 anos, com permissão dos pais, deixou sua casa para dar início — auxiliada por uma amiga, Virgínia Rosa Nicolodi — à obra hoje conhecida no Brasil inteiro e em muitos países: a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada pela santa madre no dia 12 de julho de 1890.

Desde a fundação, ela fora escolhida para ser a superiora, mas só em 1895 as jovens que se formaram em torno de Amábile receberam a aprovação do Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros.

Assim, fizeram os votos religiosos, e a jovem fundadora recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus.

Terrível provação

Depois da fundação de sua obra em Vígolo e Nova Trento (SC), a Serva de Deus transferiu-se em 1903 para São Paulo, na colina do Ipiranga, onde iniciou a Obra da Sagrada Família, que cuidava de idosos e ex-escravos, os quais, com a abolição da escravatura em 1888, ficavam perambulando pelas ruas.

Em fevereiro de 1903, ela foi eleita Superiora Geral “ad vitam” (para toda a vida), mas seu governo durou apenas seis anos. Sua obra ia crescendo extraordinariamente, novas vocações surgiam, novas casas eram fundadas. Mas, a partir de 1909, Madre Paulina começou a ser perseguida e humilhada cruelmente. Pessoas estranhas, apoiadas por algumas religiosas, passaram a transmitir más informações ao então Arcebispo de São Paulo, D. Duarte Leopoldo e Silva. Devido a isto, o Prelado a demitiu das funções de superiora e proibiu-a de, no futuro, exercer qualquer cargo de mando na própria Congregação que ela havia fundado. Com heróico espírito de humildade, resignação e amor à obediência, ela nunca se revoltou contra essa injusta punição aplicada pela autoridade eclesiástica.

Tal vida santa, tal morte

Casa onde nasceu Madre Paulina

De 1909 a 1918 viveu na Casa-Asilo de idosos, fundada por ela em Bragança Paulista (SP). Foram nove anos de uma pungente Via Crucis, na qual a Divina Providência ia acrisolando suas virtudes, purificando ainda mais sua bela alma no caminho do sofrimento. Perseguida e humilhada, não desanimou em seu apostolado, tudo aceitou por amor de Deus, por sua obra e pela santificação de suas filhas espirituais.

Madre Paulina, em 1918, foi chamada de volta à Casa Geral no bairro do Ipiranga, em São Paulo, com pleno reconhecimento de suas virtudes, para servir de exemplo às mais jovens da Congregação, das quais não era mais a Superiora, mas era venerada como fundadora. Foi um modelo de vida de piedade, de amor ao sacrifício e de constante assistência às Irmãs enfermas.

Em 1938 começa a padecer dores atrozes devido a uma diabete. Sofreu progressivas amputações, tendo, aos poucos, ficado cega. Morreu piedosamente aos 76 anos e seis meses, em 9 de julho de 1942, sendo suas últimas palavras as de sua habitual jaculatória: “Seja feita a vontade de Deus”.

A postuladora da causa

Tanto a beatificação como a canonização se devem, em muito considerável medida, aos esforços da Irmã Célia Cadorin, postuladora da causa, instaurada 23 anos após a morte de Madre Paulina, em 3-9-65.

Irmã Célia, que também levou a bom termo o processo de beatificação de Frei Antônio de Sant’Ana Galvão, é religiosa da Congregação fundada pela nova Santa, que teve o privilégio de conhecer pessoalmente quando tinha 13 anos.

Em entrevista exclusiva à revista Catolicismo, a Irmã Célia narrou interessantes episódios alusivos à beatificação de Frei Galvão (Vide Catolicismo, setembro/1998).

O processo de canonização

Réplica da choupana onde se iniciou a obra de Madre Paulina, em Vígolo, Nova Trento (SC)

Antes de uma pessoa ser declarada santa, há um rigoroso processo em que se estuda minuciosamente toda sua vida, para certificar-se, sem qualquer sombra de dúvida — o que pode demorar décadas ou mais —, que ela tenha praticado em grau heróico as virtudes teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as virtudes cardeais (Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança).

Há também necessidade da comprovação inequívoca de dois milagres operados por intercessão do novo santo. No caso de Madre Paulina, houve duas curas atribuídas a ela: a da Sra. Eluíza Rosa de Souza, em 1966, e a de uma menina acreana, Iza Bruna Vieira de Souza, em 1992. (Vide quadro abaixo).

A Santa Sé reconheceu que houve intercessão da Madre Paulina nessas duas curas, após ter submetido a comprovação a uma junta médica que implacavelmente examinou os casos cientificamente; após aprovação, seguiu o tema para análise de teólogos; depois a cardeais e bispos, para que também eles fizessem a análise. Finalmente — ficando evidenciado que as curas eram duradouras e completas — o processo seguiu para a apreciação do Papa, que lerá a bula de canonização no dia 19 deste mês de maio, em Roma.

Casa Geral da Congregação fundada por Madre Paulina no bairro do Ipiranga, em São Paulo

Terminado o longo processo de 37 anos, Madre Paulina foi reconhecida como santa, suas virtudes foram proclamadas pelo mundo inteiro. Ela pode ser, então, cultuada pelos católicos dos cinco continentes, e todas as igrejas católicas poderão entronizar suas imagens nos altares.

Santa Paulina! Rogai por nós! E intercedei junto a Deus pelo Brasil — sua pátria adotiva — nesta situação caótica em que se encontra o nosso País, com sua população majoritariamente católica, da qual, infelizmente, muitos não praticam as virtudes ensinadas pela Santa Igreja.

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Fonte de referência: http://www.fides.orghttp://www.prodau.com.br/madre/http://www.ciic.org.br/fundadora/

OS DOIS MILAGRES COMPROVADOS

  • Eluíza Rosa de Souza: Foi curada em 1966, sofrendo perda intra-uterina do feto no sétimo mês de gravidez, tendo na ocasião sofrido hemorragias. Desenganada pelos médicos, rezou pedindo a intervenção da Madre Paulina e sobreviveu. Obteve a cura instantânea e completa, estando internada no Hospital Maternidade São Camilo, de Imbituba (SC). Depois desse fato surpreendente, teve quatro filhos.
  • Iza Bruna Vieira de Souza: Esta menina nasceu em junho de 1992, em Rio Branco (Acre), com um tumor cerebral do tamanho de uma maçã (hidrocefalia). Antes da operação para retirada do tumor, a mãe de Iza, Da. Mabel, colocou na mãozinha da filha uma foto de Madre Paulina. Após a cirurgia, teve convulsões cerebrais, tendo os médicos declarado que, se ela sobrevivesse, ficaria tetraplégica, cega, surda e muda. A avó da menina, Da. Zaira de Oliveira, disse confiante que estava rezando e pedindo a Madre Paulina que miraculasse sua neta. Batizaram a menina e, 20 minutos depois, ela melhorou repentinamente, alcançando a cura completa. A doença jamais voltou a se manifestar, nem deixou sequelas. Hoje goza de plena saúde.
ABIM