Um estudo,
liderado por investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
(FCTUC) e publicado hoje na prestigiada revista Science, revela que a
Europa está a atravessar uma preocupante crise de dispersão de
sementes.
Os resultados
desta investigação mostram que um terço das 398 espécies de
animais que dispersam sementes ou está já ameaçado de extinção
ou as suas populações estão em declínio e poderão vir a
enfrentar risco de extinção num futuro próximo. Por outro lado,
pelo menos 190 espécies de plantas selvagens na Europa têm a
maioria dos seus dispersores conhecidos ameaçados ou em declínio.
«Este
estudo demonstra claramente que existe uma crise de dispersão de
sementes em todos os biomas europeus. Por outro lado, evidencia ainda
que apenas conhecemos os dispersores de 26% das espécies de plantas
que produzem frutos carnudos da Europa, pelo que é urgente conhecer
melhor quais os animais que podem ajudar as plantas selvagens a
escapar das rápidas alterações climáticas e da desertificação,
principalmente no Sul da Europa»,
alerta Sara Mendes, investigadora do CFE e primeira autora do estudo.
Por sua vez,
Rúben Heleno, professor do Departamento de Ciências da Vida da
FCTUC e coautor deste estudo, considera que «é
necessário investira mais na investigação e na conservação do
serviço de dispersão de sementes na Europa e no mundo, já que este
serviço é fundamental para garantir um funcionamento sustentável e
a resiliência das florestas.
As plantas não
se movem e por isso dependem dos serviços dos animais que se
alimentam dos seus frutos para levar as suas sementes para novos
locais onde possam crescer. Proteger os animais selvagens que prestam
este serviço, beneficiará não só os próprios animais, como
também as plantas e todo o ecossistema, do qual depende em última
análise a economia e a nossa própria qualidade de vida»,
nota o também investigador do CFE.
«Este
serviço é essencial para recuperar áreas perturbadas, por exemplo
por incêndios florestais, cheias ou atividades humanas,
especialmente em paisagens muito fragmentadas por vias de
comunicação, cidades e vilas, como as que dominam a Europa. Além
disso, no atual cenário de alterações climáticas, os animais que
se alimentam de frutos são essenciais para ajudar as plantas a
acompanhar as alterações do clima, mudando-se para locais com
condições mais favoráveis»,
concluem os especialistas.
A investigação
reuniu informação de cerca de dois mil artigos, publicados entre
1660 e 2023, em 27 línguas e de 38 países, para identificar quais
os animais que prestam este serviço de dispersão de sementes na
Europa e qual o seu estado de conservação. A compilação desta
informação demorou mais de três anos e resultou na maior rede de
dispersão de sementes do mundo, e a primeira a reunir informação
de um continente inteiro.
*Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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