Uma equipa de
investigadores do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com o
laboratório GANIL, em França, conseguiu identificar as propriedades
de matéria não homogénea semelhante à que também se forma em
supernovas ou na fusão de estrelas de neutrões: matéria nuclear
pouco densa composta por protões, neutrões e núcleos leves, como
os isótopos de hidrogénio e hélio.
O conhecimento da
equação de estado da matéria nuclear em condições extremas de
temperatura, densidade e fração de protões é essencial para
interpretar observações de estrelas de neutrões, explosões de
supernova ou fusão de estrelas de neutrões. Contudo, recriar estas
condições em laboratório nem sempre é viável.
Recorrendo a uma
abordagem inovadora para a análise de dados das partículas
resultantes da colisão de iões pesados de xenon com estanho a
energias intermédias, medidas com o detetor INDRA@GANIL, Tiago
Custódio, aluno de doutoramento da FCTUC, descreveu as abundâncias
das mesmas sem pressupor previamente a densidade do sistema. Para
tal, utilizou o modelo teórico desenvolvido por Constança
Providência e Helena Pais, investigadoras do Centro de Física da
Universidade de Coimbra (CFisUC).
«Analisamos
treze bins de velocidade, que representam partículas que se
desacoplam da fonte quente em tempos distintos. Em cada bin, a
temperatura e a densidade foram determinadas através de uma análise
Bayesiana completa, desenvolvida pelo estudante, em colaboração com
Tuhin Malik, investigador do CFisUC»,
explica Constança Providência, professora da FCTUC.
A análise
baseou-se num modelo térmico microscópico, fundamentado na teoria
relativista de campo médio para matéria nuclear, considerando os
efeitos do meio, essenciais para uma descrição precisa da matéria.
«Os
resultados revelaram uma excelente correspondência com os dados
experimentais através de dois modelos nucleares distintos. Os
conjuntos estatísticos evidenciaram uma curva de arrefecimento a uma
densidade quase constante, interpretada como uma densidade de
congelamento abaixo da qual as partículas deixam de interagir
nuclearmente»,
revela Tiago Custódio.
Como esclarecem
os especialistas, as análises anteriores assumiam sempre um gás
ideal ou um gás ideal modificado de nucleões livres e núcleos
leves para estimar a densidade do sistema, tornando a densidade
associada a cada bin uma consequência direta dessa hipótese
inicial. No entanto, «os
resultados obtidos permitem construir uma equação de estado
realista, que inclui uma descrição precisa dos núcleos leves em
matéria nuclear de baixa densidade»,
afirmam.
«Estas
equações de estado são um contributo fundamental para simulações
mais realistas da fusão de estrelas de neutrões, trazendo novos
avanços ao estudo da astrofísica nuclear»,
conclui a equipa.
O artigo
científico “Calibrating
the Medium Effects of Light Clusters in Heavy-Ion Collisions”,
que mostra os resultados obtidos, está publicado na revista Physical
Review Letters
e pode ser consultado aqui.
Sara
Machado
Assessora
de Imprensa
Universidade
de Coimbra• Faculdade de Ciências e Tecnologia
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