domingo, 18 de novembro de 2018

País | Presidente da República pede aposta na prevenção da sinistralidade rodoviária


O Presidente da República fez hoje um apelo cívico aos portugueses para se combater a sinistralidade rodoviária no país e pediu uma aposta das autoridades “na prevenção, na educação e na sinalização”.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou hoje o dia mundial em memória das vítimas da estrada com uma mensagem no ‘site’ da Presidência da República, recordando que os “dados mais recentes revelaram a lamentável inversão da tendência de decréscimo, desde 2010, dos acidentes rodoviários e vítimas mortais”

Trata-se de “uma preocupação nacional”, que “deverá refletir uma aposta na prevenção, na educação e na sinalização”, pediu.

O Presidente agradece “a todos os que, diariamente, lidam de forma empenhada com as consequências traumáticas dos acidentes rodoviários” e faz um pedido aos cidadãos, “apelando a todos os portugueses, para que, em respeito das regras e com consciência cívica, contribuam para um ambiente rodoviário mais responsável e mais seguro”.

Antes, Rebelo de Sousa lembrou que o dia mundial em memória das vítimas da estrada é assinalado, desde 2004, pela Liga de Associações “Estrada Viva”, associando-se à “homenagem pública a todos os que, tragicamente, perderam a vida nas estradas” e recordando “todos aqueles” que “perderam a sua saúde, um familiar, um amigo”.

“A sinistralidade rodoviária tem uma trágica e imensa dimensão para todos os que, diretamente, vivem com as memórias dolorosas, na maior parte das vezes permanentes, causadas pela privação traumática de alguém próximo. É um problema grave à escala mundial, mas também à escala nacional”, escreveu na nota colocada no ‘site’ da Presidência da República.

Fonte: ominho

Acidentes nas estradas têm impacto económico e social negativo de 1,2% do PIB


O secretário de Estado da Proteção Civil afirmou hoje que o impacto negativo, económico e social da sinistralidade rodoviária em Portugal é de 2,3 mil milhões de euros, equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.


“A sinistralidade rodoviária no país tem um impacto económico e social que equivale a 1,2% do PIB, ou seja, 2,3 mil milhões de euros. Trata-se de um fenómeno complexo com vários fatores que contribuem para ele”, sublinhou José Artur Neves.

O governante, falava em Castelo Branco, durante a Cerimónia Nacional do Dia Mundial das Vítimas da Estrada 2018, cuja organização esteve a cargo da Liga de Associações Estrada Viva e da Associação de Motociclistas Cristãos de Portugal (CMA).

José Artur Neves explicou que, apesar dos progressos que têm sido obtidos, o número de mortos continua elevado e adiantou que a evolução da sinistralidade rodoviária dentro das localidades portuguesas tem tido uma diminuição mais lenta e adiantou que, em 2017, 77% dos acidentes com vítimas registaram-se dentro das localidades.

“Muito se tem feito, mas levamos três décadas de atraso face aos países do norte da Europa que foram adaptando os espaços urbanos e os tornaram mais seguros”, frisou.

Já em relação à fiscalização explicou que, nos primeiros dez meses de 2018, face ao período homólogo do ano anterior, houve mais 82,2% de autos de contraordenação, mais 791,5% de autos graves decididos, mais 256% de decisão relativa a autos muito graves e mais 21% de autos cobrados.

No mesmo período, as prescrições registaram uma diminuição de 74,5% e, desde que entrou em funcionamento o sistema de cartas por pontos, 118 condutores perderam a sua licença de condução e cerca de 500 estão atualmente em risco de a perder.

“O Governo tem a segurança rodoviária como um dos pilares essenciais para uma sociedade que valoriza o bem-estar. É necessário haver uma mobilização coletiva da sociedade portuguesa para o flagelo da sinistralidade rodoviária. O desafio que se coloca é gigantesco”, concluiu.

O vice-presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, Fernando Moutinho, avançou com alguns dados relativos ao distrito de Castelo Branco, onde, em 2017, morreram 19 pessoas, número que, a nível nacional, se cifrou em 602 mortes.

“Isto é só uma parte do problema. O combate à sinistralidade tem que passar sempre por uma mudança de comportamentos. Em 80 a 95% dos acidentes rodoviários, a responsabilidade é o comportamento do condutor. Há uma desculpabilização. Não há a perceção de que o comportamento é essencial para reduzir a sinistralidade”, disse.

Por seu turno, o presidente da Liga de Associações Estrada Viva, Mário Alves, explicou que, a nível mundial, morrem anualmente nas estradas um milhão e 200 mil pessoas, o equivalente ao despenhamento de dez aviões 747 (jumbos) por dia.

“Trata-se de um problema grave à escala mundial e à escala nacional. Não podemos baixar os braços”, concluiu.


Marcelo Rebelo de Sousa assinalou hoje o dia mundial em memória das vítimas da estrada com uma mensagem no ‘site’ da Presidência da República, recordando que os “dados mais recentes revelaram a lamentável inversão da tendência de decréscimo, desde 2010, dos acidentes rodoviários e vítimas mortais”

“A sinistralidade rodoviária tem uma trágica e imensa dimensão para todos os que, diretamente, vivem com as memórias dolorosas, na maior parte das vezes permanentes, causadas pela privação traumática de alguém próximo. É um problema grave à escala mundial, mas também à escala nacional”, escreveu na nota colocada no ‘site’ da Presidência da República.

Fonte: ominho


277 VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ACOMPANHADAS PELA SEGURANÇA SOCIAL


Só este ano, 25 mulheres e 30 crianças foram recolhidas em casas de abrigo. É uma notícia que pode ser lida hoje na edição impressa do JM, na qual se lê que, ao longo dos últimos anos, o Instituto já acompanhou algumas grávidas a viverem situações de violência.

Dados facultados pela Secretaria Regional da Inclusão e dos Assuntos Sociais, revelam ainda que só este ano, até ao final de outubro, foram registados 1.397 atendimentos neste serviço.

Fonte:JM

Cinco pessoas encontradas mortas em casa em Sabrosa

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A Bola
Suspeita-se que a causa da morte seja intoxicação por monóxido de carbono, mas outras hipóteses não são descartadas.
Uma família de cinco pessoas foi encontrada morta, em casa, em, Sabrosa, no distrito de Vila Real, confirmou o comandante dos bombeiros de Sabrosa, José Barros, à TSF. O incidente terá acontecido durante a madrugada deste domingo.
Suspeita-se que a causa da morte seja intoxicação por monóxido de carbono, por causa de uma lareira mal apagada, mas as autoridades não descartam outras hipóteses, nomeadamente uma intoxicação alimentar.
"Neste momento, não conseguimos ainda definir qual foi o motivo. Nenhuma hipótese está descartada", disse o comandante dos Bombeiros, José Barros.
Quando os bombeiros chegaram não sentiram qualquer odor, adianta José Barros que sublinha que "só depois das autópsias é que se poderá determinar o que é que se passou."
TSF

A violência na vida de adolescentes e jovens



Por: Zilah Meirelles e Regina Herzog

A violência na adolescência constitui matéria de reflexão de diversas áreas do saber. Quando dizemos que hoje em dia muito se fala sobre o assunto, isto não significa que só recentemente a violência passou a fazer parte de nosso cotidiano. É inegável que ao longo da História o fenómeno sempre esteve presente. Porém, dependendo das circunstâncias, os actos de violência podiam ser justificados em nome de uma causa maior ou considerados uma transgressão a ser punida.

Actualmente, a violência está de tal forma disseminada, assumindo as mais variadas formas, que se tornou quase impossível precisar suas causas e propor medidas eficazes para sua extinção. Esta questão se torna ainda mais complexa quando as agressões dirigem-se à população infanto-juvenil. A acção violenta envolvendo crianças, adolescentes e jovens - em fase de crescimento e desenvolvimento - pode deixar sequelas que os acompanham em sua vida adulta, impedindo o sujeito de estabelecer para si próprio critérios que lhe facultem o exercício de sua liberdade e o respeito pela liberdade alheia.

A violência contra crianças e adolescentes é bastante abrangente. Pode-se apontar um quadro de situações desfavoráveis como o abandono; o extermínio; os maus tratos; os abuso físico, sexual e psicológico; a exploração do trabalho infanto-juvenil; entre outros. Mas afinal por que nos dias de hoje violência e adolescência apresentam um vínculo tão forte? É a questão que este capítulo procura analisar.

A violência nas relações humanas
O homem possui capacidades que o distinguem de todas as outras espécies, entre elas a de discernimento, que o permite julgar, apreciar, optar, tornando-o sujeito do processo histórico-social e dotado de um valor essencial: a liberdade. A grande questão é como entender o exercício dessa liberdade, levando em conta a liberdade de seu semelhante? E, nesta perspectiva, como avaliar uma acção violenta sob o prisma de uma quebra de um contrato entre duas partes?

A história dos povos e da sociedade tem sido permeada por violações dos direitos humanos, porque nela se observa, segundo Veronese (1998), “...uma tendência de se reprimir as necessidades das pessoas, dos agrupamentos humanos ou mesmo de povos inteiros”. Na medida em que o homem é impedido de se desenvolver plenamente, dá-se início a um processo de violência, que se pode manifestar nas mais variadas formas, servindo-se de diferentes meios. A violência atinge a integridade da pessoa, a sua moral e o seu corpo, em outras palavras, atinge a estrutura psíquica mais profunda do ser humano.

O termo violência refere-se à vida de relação do ser humano: relação com o mundo, com os outros e consigo próprio. Provém do latim vis, que comporta a ideia de ‘força’, ‘vigor’, ‘potência’, podendo também designar o ‘emprego da força’. De acordo com Dadoun (1998, pg. 10), “vis serve para marcar o ‘carácter essencial’, a ‘essência’ de um ser”. Nesta última acepção, é possível dizer que a violência é algo inerente ao ser humano, ou seja, faz parte da natureza humana, o que leva o referido autor a defender a ideia de um homo violens. Em contrapartida, também se fala da violência como algo externo ao homem, algo que lhe é impingido, sendo que toda resposta, mesmo que violenta, passa a ser vista como uma reacção ou forma de defesa, por parte do homem, às tentativas de cerceamento de sua liberdade. Assim, por um lado fala-se do homem como agressor nato e, de outro, como vítima.

O problema que ambas posições apresentam decorre do fato de se atribuir à violência uma essencialidade, em lugar de vê-la como um fenómeno que implica uma relação. Não se trata de considerar uma relação simples com papéis bem definidos - o violentador e o violentado - mas de pensar o que não funciona na relação entre dois sujeitos, ou mesmo do sujeito consigo próprio quando emerge uma situação de confronto, sem emitir, de modo apressado, juízos de valor. Porém, quando se situa a violência em um ou em outro pólo, a única preocupação parece ser a de “conter”, ‘educar’ ou mesmo ‘reprovar’, sem se efectuar uma reflexão maior sobre o que, num primeiro olhar, se presentifica com uma força ou um vigor que pareça injustificado.

Por um lado, factores políticos, económicos, sociais e culturais criam situações em que a violência é perpetrada aos seres humanos, mas não se pode negar que o ser humano age com impulsividade em determinadas situações. Ou seja, não é tão simples precisar a origem e os motivos da violência. Nessa perspectiva, este fenómeno requer uma avaliação cuidadosa antes que se rotule um comportamento ou uma situação como violentas. Por que, na sociedade contemporânea, violência e adolescência mantêm um vínculo tão forte?

A violência contra adolescentes e jovens é mais visível hoje devido aos meios de comunicação, que são velozes em apresentar os fatos violentos, potencializando este fenómeno de forma tão negativa. Todavia, como observa Veronese (1998), a violência tem sido de tal modo banalizada, que a população acaba deixando-se levar, cada vez mais, pela acção violenta. A violência que deveria assombrar, conduzindo a acções positivas, abrindo um espaço de resistência para estimular atitudes construtivas e não punitivas, acaba por tornar omisso o ser humano. E assim, a indignação inicial dá lugar à passividade, ao descaso ou, no outro extremo, pode conduzir a uma atitude sombria, de revolta contra tudo e contra todos.

Com tantos sofrimentos e mortes de adolescentes e jovens, o futuro do nosso país parece envolto em um imaginário de violência que revela um modelo social perverso. Situações antes consideradas excepcionais passam a ser vistas como corriqueiras: “coisas do cotidiano”. Esta constatação pode nos levar aos seguintes questionamentos: que mundo queremos? Que juventude estamos formando? Que tipo de impacto a violência vem causando nos corpos e nas mentes daqueles que serão os adultos do Brasil do amanhã?

Adolescentes e jovens: entre perpetradores e vítimas

Falta de preparo, estrutura organizacional deficitária, modelo económico concentrador e excludente, situação de pobreza; todos estes factores têm uma importância fundamental na análise da situação com que nos defrontamos nos dias de hoje. Acrescente-se a isso as transformações vertiginosas que vêm ocorrendo em todos os sectores da sociedade: a questão da globalização, por exemplo, suscita, entre os profissionais de várias áreas, uma discussão acalorada sobre o futuro da sociedade e, mais especificamente, do adolescente.
Aqui cabe uma ressalva: apesar da pertinência de considerações de carácter social, económico e político, que levam a uma intensificação da violência na adolescência, não podemos dizer que as sociedades mais “justas” se encontrem livres desta questão, ou mesmo, que tenham a questão sob controle. Se olharmos para a nossa própria realidade, vamos nos deparar com situações de violência na população adolescente de classe média e alta. Por exemplo, o caso do grupo de adolescentes em Brasília que ateou fogo no índio Galdino, da tribo Pataxó. Casos como este nos obrigam não a relativizar os aspectos socioeconómicos, mas indagar o que há para além deles, ou juntamente com eles, que possa nos ajudar a compreender melhor a questão da violência na adolescência.

Por outro lado, o reconhecimento da categoria “adolescência” pela sociedade é recente. Até então, dividia-se o desenvolvimento humano entre infância, maturidade e velhice, ficando o adolescente ora identificado com a criança, ora com o adulto. Neste sentido, só há pouco tempo o adolescente passou a ter um lugar na sociedade e podemos dizer que, enquanto a violência, na actualidade, se alastrou, perdendo uma determinada circunscrição, em contrapartida o adolescente passou de direito a ocupar um lugar na sociedade. Cabe perguntar que lugar é esse. Nas transformações vertiginosas que caracterizam os tempos atuais, a sociedade parece ter perdido referências fundamentais para o convívio social, que lhe permitiam legislar e estabelecer modelos de justiça, igualdade e fraternidade. A sensação de desterritorialização, de uma ausência de certezas sobre si próprio e sobre o mundo, de falta de perspectivas futuras, é tão intensa que o ser humano tem dificuldade de sustentar seus valores e passar para as novas gerações um sentido para a vida. De certo modo este quadro acaba estabelecendo um solo fértil para o agravamento da situação de violência.

Numa definição, bem simples, a adolescência se caracteriza por um período de grandes transformações biopsicossociais. O que marca este processo é uma busca de identidade que, paradoxalmente, se pretende distinta, diferente de tudo que esteja instituído. Talvez seja mais apropriado dizer que se trata, para o adolescente, de uma busca de singularidade, busca que comporta uma ambiguidade. Estamos habituados a considerar o adolescente como um transgressor em virtude de sua recusa em aceitar normas e limites. Parafraseando uma velha canção, diz-se que o adolescente é “um rebelde sem causa”. Estas designações não são destituídas de sentido se entendemos este processo como uma busca de singularidade. Contudo, tornam-se problemáticas quando o sentido dado tem um carácter negativo.

O adolescente não se fixa em nenhum modelo, acompanhando com aparente facilidade as mudanças que ocorrem no mundo. É esta aparente labilidade emocional que faz com que o adolescente seja percebido pela sociedade como alguém sem um papel definido, em última análise, como um irresponsável de quem muito se exige e, para quem, pouco se concede. Mesmo que não seja preconceituosa, esta designação deixa implícita a necessidade de medidas educativas que, na maior parte das vezes, não levam em conta a labilidade emocional como constituinte do próprio processo em que se encontra inserido o adolescente, além de ser de fundamental importância em sua busca de identidade.

As medidas educativas têm como objectivo maior adaptar o adolescente à realidade, tornando-o responsável e propiciando a inserção no universo adulto. Dois aspectos merecem consideração: em primeiro lugar, a grande contradição é que o que se denomina como realidade comporta um elevado grau de violência social. Na prática, é como se alguém ordenasse ao adolescente que aprenda a conviver em sociedade segundo determinadas regras, sendo-lhe oferecido como modelo uma sociedade onde o que impera é uma ausência de referências. Em segundo lugar, a tarefa de educar, formar um adolescente, exige que se tenha presente não só sua capacidade de aprender mas, fundamentalmente, seu potencial afectivo, principal condição para que o adolescente estabeleça laços que possibilitem, no futuro, uma inserção mais criativa na sociedade.

Uma saída seria conscientizar a população adulta a ocupar, com mais propriedade, este lugar de modelo com o qual o adolescente deveria identificar-se. Trata-se de uma proposta pertinente, mas a desigualdade que se acentua cada vez mais dificulta a viabilização de tal projecto. Apesar disso, não devemos desistir da empreitada.

A questão da violência é de tal complexidade que leva aqueles que se dedicam ao tema a distinguir suas variadas formas de apresentação a partir dos aspectos que conformam determinadas situações. Assim, por exemplo, podemos falar de violência urbana para mostrar como um crescimento desordenado das cidades propícia a violência; ou de violência intradomiciliar, procurando circunscrever, no convívio familiar, as causas da violência. Ações sociais e políticas nas áreas do trabalho, da saúde e da educação certamente reduzem os conflitos existentes. Devemos ter presente que normas, preceitos e leis não são instituídos de modo independente da própria sociedade. Quando o que se denomina violência se caracteriza por um excesso ou um desvio daquilo que é a norma, corre-se o risco de forçar a obediência a leis que, muitas vezes, estão a serviço de uns poucos.

Com relação à necessidade de escutar as reivindicações afectivas do adolescente, podemos detectar nas situações de violência (urbana, intradomiciliar, social e outras) a ausência deste aspecto. Conforme assinalamos acima, violência significa ‘força’, ‘potência’, ‘vigor’, palavras que certamente servem para definir a adolescência. Isto porque, se podemos detectar no adolescente uma labilidade emocional, não podemos esquecer que ela expressa, antes de tudo, sua potência para investir sua emoção, mesmo que momentaneamente, em tudo o que faz e em todos com quem lida. A liberdade, para o adolescente, diz respeito à possibilidade de deixar fluir seu afecto. Longe de ser negativo, o que se chama de irresponsabilidade tem muito mais a ver com o fato de que esta força afectiva ainda não encontrou onde se fixar.

Neste quadro todas as normas, preceitos, limites impostos são vivenciados pelo adolescente como impeditivos da expressão de seus anseios e desejos. Na medida em que esses anseios e desejos são difusos, a busca se torna desordenada, visando tão somente a uma satisfação imediata. Em sua relação com o mundo, com os outros e consigo próprio, nenhum critério de avaliação é levado em conta. Para ele, pensar, ponderar, aguardar uma ocasião mais propícia são palavras vazias e toda acção precede a avaliação, fazendo com que a satisfação momentânea de seus desejos acabe por acarretar um conflito. Em outras palavras, o impulso para a realização de um desejo é de tal intensidade que torna difícil, para o adolescente, levar em conta a realidade. Por este motivo, toda análise sobre a questão da violência, em suas várias modalidades - urbana, social, intradomiciliar, institucional -, e que envolve a adolescência, deve dar relevo ao aspecto afectivo constituinte de sua formação.

Conforme sublinhamos acima, o processo de busca de uma identidade comporta uma ambiguidade, pois se nos referimos à necessidade de o adolescente se distinguir entre os demais, verificamos, em contrapartida, que uma das características mais marcantes é sua identificação com grupos de sua faixa etária ou, segundo seus próprios termos, o pertencimento a sua “tribo”. Nesta identificação ocorre um apagamento das diferenças e uma idealização sem crítica daquele ou daqueles que dentro das “tribos” são os “mais bem-sucedidos”, segundo a perspectiva do adolescente.

Se por um lado esta situação corresponde a um processo normal de desenvolvimento, também pode derivar de dificuldades emocionais no espaço familiar. Quando a falta de habilidade da família em lidar com o adolescente e as próprias dificuldades de ordem económica despertam nos pais um comportamento agressivo, o conflito de gerações dificulta o adolescente a enxergar em casa um modelo com o qual possa se identificar. Aí ele se volta para sua “tribo”. O que se depreende da fala dos adolescentes é uma carência afectiva que acabará por comprometer seu desenvolvimento. Além disso, uma situação como esta também pode gerar, da parte do adolescente, atitudes violentas na medida em que se sente respaldado por seu próprio grupo.

Esta situação é paradigmática do que se caracteriza como violência social. O ser humano está inserido num universo onde a relação entre os pares é vital. Ou seja, é fundamental que no processo de desenvolvimento o adolescente estabeleça laços sociais que lhe permitam fazer parte de um grupo. Se ele não encontra um espaço no seio da família, certamente irá procurar em outros lugares. Na actualidade, o modelo com o qual o adolescente irá se identificar está tão destituído de referências seguras, tão banalizado em termos de quaisquer valores, que se torna difícil forjar sua própria identidade. Além do mais, o social implica, por definição, uma renúncia de satisfação imediata na medida em que é preciso levar em conta o outro. Se não é fácil para o ser humano, de uma forma geral, concordar em abrir mão da satisfação imediata, para o adolescente, que se vê e se sente como ‘dono do mundo’, esta tarefa é muito mais árdua. Nesta dimensão, as exigências da vida em sociedade são percebidas, pelo adolescente, como uma violência.

A formação do adolescente precisa considerar que a própria construção da identidade pressupõe que um outro - os pais, os educadores, a sociedade - funcione ao mesmo tempo como agente propiciador (modelo) e como aquele que impõe limites. Exercer este duplo papel requer, antes de tudo, sensibilidade. Por outro lado, sabemos que aquele que serve de modelo também tem uma expectativa em relação ao adolescente. E esta expectativa pode estar comprometida com os próprios ideais do adulto, sonhos irrealizados, desejos frustrados, impedindo, muitas vezes, o adolescente de dar voz a seus anseios. Se esta atitude não é devidamente dimensionada, certamente podemos estar diante de uma relação que se configura como violenta. Deste modo, se por um lado é bastante difícil para o adulto exercer este duplo papel, por outro o trabalho do adolescente também não é simples. O vigor que o adolescente imprime, em sua busca de identidade, vai exigir que este processo de identificação com o outro não implique uma destruição de si.

A violência se caracteriza por uma relação onde se verifica uma quebra de contrato entre duas partes. Na questão da adolescência, outro factor se soma a isso: trata-se do aspecto afectivo que permeia suas relações e que, no processo de busca de identidade, precisa ser levado em consideração.

Violência, Juventude e Políticas Públicas

A violência é um tema corrente na vida da população infanto-juvenil. Pode-se situar uma rede de acções violentas a que este segmento populacional está sujeito: o abandono social; a agressão física, psicológica e sexual; a exploração no mercado informal de trabalho; a exclusão do sistema educacional; o tráfico de drogas.

São situações que vão de encontro aos direitos humanos mais elementares e que exigem uma reacção não apenas do Estado mas de toda a sociedade, visto que o adolescente se constitui no elo mais fraco do sistema de poder. Daí surge a questão de como garantir que esta população seja ouvida e defendida quando tiver seus direitos violados ou ameaçados. Os conselhos tutelares, hoje presentes em quase todos os municípios brasileiros, procuram responder a essa demanda. Contudo, sua estrutura organizacional ainda é bastante deficitária para dar conta das complexidades sociais que giram em torno desse segmento populacional. O combate à violência contra crianças e adolescentes reflecte a preocupação com a posição frágil que eles ocupam na sociedade, merecendo cuidados e acções especiais a serem promovidos não só pelo Estado mas, também, pela sociedade como um todo.

A despeito de todo o esforço e das atuais directrizes que conferem um direito inalienável a este segmento populacional, a violência contra crianças e adolescentes continua aumentando assustadoramente. Para a ONU, o modelo económico brasileiro é definido como “concentrador e excludente”, responsável pela violência que abate os mais pobres, principalmente nos grandes centros urbanos. O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana afirma que o Brasil ainda não encontrou o caminho para a implantação de políticas sociais que atendam devidamente às crianças e adolescentes.

Torna-se urgente a formulação de políticas sociais para o cumprimento de normas, princípios e legislações, no sentido de fazer valer o Estatuto da Criança e do Adolescente como instrumento prioritário para a atenção integral e equidade (...). Os estereótipos que existem sobre a infância e a adolescência pobre constituem uma inversão de abordagem com cruéis reflexos de estigma na sua vida cotidiana, criando mitos imutáveis e naturais, que geram indiferenças nos sectores sociais quanto ao significado e a magnitude do problema, além de interferir na elaboração e no cumprimento das políticas sociais”. (Souza, 1993, p.14).

Na verdade, incomoda à sociedade trazer à tona a miséria cotidiana de um país marcado pela crescente desigualdade social. O adolescente de camadas desfavorecidas no meio urbano passa a fazer parte de um grupo que apresenta diversos estereótipos aos olhos da sociedade. Embora o índice de jovens com práticas infracionais corresponda, no universo dos jovens em situação de risco, a uma fracção pequena, é a partir deles que a sociedade reage. É o grupo que se encontra mais a descoberto em termos de rede de apoio, ficando portanto sujeito a violências sociais. Por outro lado, a situação de pobreza das famílias de grupos populacionais cada vez mais numerosas, especialmente em área urbana, faz com que os mecanismos necessários às famílias para criar suas crianças e formar seus adolescentes sejam cada vez mais precários.



Yunes se refere a este aspecto, salientando:

(...) as condições de extrema pobreza, o abandono ou a expulsão de crianças e adolescentes, faz com que este grupo, se encontre em vulnerabilidade social. O fenómeno representado pelas crianças e adolescentes na rua, especialmente da rua, representa, quem sabe, a maior expressão do fracasso de qualquer projecto macro social”. (Yunes, 1993, pg.5).

O mesmo autor esboça alguns pontos de discussão, que reforçam esta lógica, tais como a falta de políticas que valorizem a criança e o adolescente; o conjunto de valores da sociedade que acaba não garantindo um desenvolvimento favorável deste grupo e, por último, a indiferença existente em todos os sectores sociais quanto à magnitude do problema, que pode trazer danos não só para o grupo afectado, de crianças e adolescentes, como para toda a sociedade.

Evidentemente, o processo de constituição da cidadania de crianças e jovens não se dá sem engendrar contradições e ambiguidades. Lavinas (1997, pg. 21) aborda este aspecto ao afirmar que a ambivalência “é a expressão de que as velhas contradições entre gerações ganharam novos conteúdos e novas configurações, necessitando, hoje, de novas formas de regulação para serem legitimadas pelo Estado”. Em síntese, muito ainda se tem a percorrer na luta pelos direitos da infância e adolescência das camadas mais pobres de nossa população.

Toda sociedade é responsável pela tarefa de reagir contra o avanço da violência e do descaso com os direitos humanos. A ideia de responsabilidade social, isto é, de que todos somos indispensáveis neste processo de reacção, não apenas consolida a concepção de que não mais devemos esperar que o Estado paternalista seja o único solucionador de conflitos, mas nos conduza a uma reflexão sobre a integração co-participativa. Daí a importância de acções de engajamento, de investimentos na não-violência, visando investir profundamente na confiança no ser humano, nas suas riquezas e potencialidades de edificação de uma sociedade mais humanitária, justa e solidária.

Não podemos esquecer que o Estatuto da Criança e do Adolescente considera, desde 1990, a criança e o adolescente como cidadãos, com direitos. As instituições devem assumir o compromisso de romper com a “Cultura” que coisifica este grupo etário, retirando-o da condição de objecto - passível de exploração e violência - e elevando-o à condição de autores da própria história, o que implica, necessariamente, uma mudança de valores, ideias e condutas.

Referências Bibliográficas

DADOUN, R., 1998. A violência: ensaio acerca do “homo violens”. Rio de Janeiro: Difel.
DIMENSTEIN, G., 1993. O cidadão de papel: a infância e adolescência e os direitos humanos. São Paulo: Ética.
GOMES, R., 1996. O corpo na rua e o corpo da rua: prostituição infantil feminina em questão. São Paulo: Unimarco editora.
LAURELL, A.C., 1981. Processo de trabalho e saúde. Revista Saúde em debate nº 11.
LEVISKY, D.L. (org.)., 1997. Adolescência e violência: consequências da realidade brasileira. São Paulo: Artes Médicas.
MARTINS, J.S., 1991. O massacre dos inocentes. A criança sem infância no Brasil. São Paulo: HUCITEC.
MINAYO GOMEZ, C. & MEIRELLES, Z.V., 1997. Crianças e adolescentes trabalhadores: um compromisso para a saúde colectiva. Cadernos de Saúde Pública 13 (supl.2): 135-140.
PEREIRA, A. & BEZERRA, J. (org.), 1994. Os impasses da cidadania: infância e adolescência no Brasil. Rio de Janeiro: IBASE.
PRIORE, D.M. (org.), 1995. História da criança no Brasil. São Paulo: Contexto Cedhal.
SOARES, L.E. (org.)., 1996. Violência e política no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume Dumará.
VELHO, G. & ALVITO, M. Cidadania e Violência. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV.
VERONESE, J.R.P., 1998. Entre violentados e violentadores. São Paulo: Cidade Nova


A VIDA É UMA OPORTUNIDADE




A vida é uma oportunidade, aproveita-a.
A vida é beleza, admira-a.
A vida é beatificação, saborei-a.
A vida é sonho, torna-o realidade.
A vida é um desafio, enfrenta-o.
A vida é um dever, cumpre-o.
A vida é um jogo, joga-o.
A vida é preciosa, cuida-a.
A vida é riqueza, conserva-a.
A vida é amor, goza-a.
A vida é um mistério, desvela-o.
A vida é promessa, cumpre-a.
A vida é tristeza, supera-a.
A vida é um hino, canta-o.
A vida é um combate, aceita-o.
A vida é tragédia, domina-a.
A vida é aventura, afronta-a.
A vida é felicidade, merece-a.
A vida é a VIDA, defende-a.

Chico Xavier – Emmanuel

NB: independentemente a sua fonte/autor, não deixa de ser um rico texto que nos conduz a uma séria reflexão sobre a vida.

Postado por J. Carlos


OPINIÃO|OE2019 O apelo eleitoral da CIP


A entrevista de António Saraiva é um manifesto do grande capital português e, no campo das possibilidades (ou das impossibilidades do PSD e CDS), um apelo eleitoral para uma maioria absoluta do PS.
Membros do Governo com representantes das confederações patronais, na assinatura do acordo laboral em Lisboa, 18 de Junho de 2018
Em mais uma das incontáveis entrevistas do presidente da CIP (Diário de Notícias, 11/11/2018) assistimos a uma declaração notável, entre numerosas aspirações, chantagens, falsificações, manipulações, mentiras «trazendo à mistura» algumas verdades, e muita treta.
Mas avulta uma que deve ser registada. A CIP, pela voz de António Saraiva (AS), aspira muito pragmaticamente a que o PS tenha a maioria absoluta. O registo para memória: «O Governo e o PS, pela percepção que, na minha opinião, os portugueses têm da estabilidade política, da bondade de algumas das medidas que o Governo, gerindo percepções, lhes transmitiu, tem condições para melhorar. Não sei se obtendo a maioria absoluta ou ficando perto dela. Se assim for, liberta-se ou de um ou de dois pesos. Talvez o País ganhe com isso».
Comecemos por saudar a dúvida que assalta AS na hora da conclusão! É ajustado o advérbio! E depois alertemos o grande capital, o grande patronato: o voto certo é no PS! Nada de desperdiçar votos em ruins defuntos, como o PSD e o CDS (ou mesmo nascituros mal paridos, como o novel de Santana)! Mesmo defendendo «a iniciativa privada, a dignidade dos empresários tal como nós defendemos…» foi chão (para já) que deu uvas. O «PSD entrou numa deriva de liderança (…)» e etc.. «A oposição parlamentar à direita [é verdade, há uma oposição parlamentar à esquerda!] tirando uma ou outra boa medida que tem apresentado, tem sido ausente»! Coitada da Cristas do CDS. Tanto esforço e berreiro e, afinal, nada na opinião avalizada de AS. Nem uma referenciazita ao CDS. Vamos lá todos votar no PS…
Diz mais AS: «Se o Governo estivesse mais liberto do peso da esquerda [esta obsessão!] o País ganharia». É verdade que o país de AS – o país do grande capital – ganhava. É verdade que o Governo não é de esquerda. É um Governo do PS amarrado a políticas estruturalmente de direita: legislação laboral, submissão à União Europeia e amarração ao capital monopolista (ver como se despachou um secretário de Estado da Energia que afrontava a EDP e companhia, tal como aconteceu no Governo PSD/CDS de Passos e Portas).
«Verdades» para esconder uma mentira. Porque o País dos trabalhadores e do povo português, perderia! Como todos os governos já passados do PS, de maioria absoluta, ou «perto dela», ou aliado à direita em várias modalidades, sempre demonstraram: o desastre total, nas ruins consequências para os portugueses e na abertura das portas do (des)governo do País ao PSD e CDS.

Uma aspiração de AS: a «greve» dos patrões. «Lamentavelmente, os patrões não fazem guerra [?], não fazem greves». De facto é uma chatice, mas a Constituição da República, pelo artigo 57.º, não permite o lock-out! De facto mantém-se uma «greve» ao investimento privado (e ao público também, da parte dos governos PSD/CDS e do actual PS!). A evolução do investimento privado no período 2016-2019 é reduzida, sem atingir sequer os valores de 2006-2008, e baixa mesmo a sua participação na formação bruta de capital fixo, de 90% em 2016 para 87% (previsível) em 2019. Isto apesar das muitas dezenas de milhões de euros de apoios e incentivos públicos em benefícios fiscais e fundos comunitários.
Mas percebe-se, os lucros são «escassos» para os dividendos, obrigando mesmo algumas das grandes empresas cotadas em Bolsa a endividar-se para os fazer engordar. Isto é, nem investem nem se desendividam (aliás, fazem o contrário), pagam dividendos. Mas disto não fala AS, porque o ajudava a perceber por que não aumenta a produtividade da economia portuguesa.
«Aquilo que é justo não tem cor nem ideologia». Uma notável descoberta de AS. E dá exemplos: «a reversão das leis laborais» Isto é: se for conforme pretende a esquerda, é injusta, é vermelha e ideológica. Se for como o grande patronato pede e os governos do PSD/CDS e PS fizeram, é justa, é incolor e não ideológica! Por exemplo «os adicionais do IMI» são injustos, vermelhos e ideológicos. A descida do IRC, como fizeram os governos do PSD/CDS de Santana e Portas, e de Passos e Portas, é justa, incolor e não ideológica! Como foi justa, incolor e não ideológica «a enorme subida de impostos» de Vítor Gaspar, do governo que se sabe. Isto é, do IRS, da carga fiscal sobre os trabalhadores, porque o IRC desceu… E plantar batatas, será justo, incolor e não ideológico? Então…
«Se for conforme pretende a esquerda, é injusta, é vermelha e ideológica. Se for como o grande patronato pede e os governos do PSD/CDS e PS fizeram, é justa, é incolor e não ideológica»
Para AS a ideologia é que estraga tudo! O que acontece é «colocar determinados critérios ideológicos na condução do País» pelos «pesos e pressões que os parceiros parlamentares exercem». Calcule-se que tais parceiros «insistem» em «aspectos ideológicos que o tempo já se encarregou de demonstrar que estão errados, (...) ao maldizerem a iniciativa privada, ao continuarem a perseguir a figura do empresário que é sempre um facínora, é sempre um bandido. Há aqui cargas ideológicas sem as quais viveríamos bem».
Já se tinha percebido a vesguice ideológica de AS: subir impostos sobre o capital é ideológico, subir impostos sobre o trabalho não é ideológico; não poder despedir é ideológico, poder despedir não é ideológico; subir o salário mínimo nacional (SMN) na Assembleia da República é ideológico, subir o SMN na Concertação Social não é ideológico, e etc.. Mas aquelas «cargas ideológicas» de AS não resultam de uma imaginação delirante. São a assunção de mentira insultuosa no seu combate e da CIP em defesa do grande capital, dos interesses do grande patronato. São as «cargas ideológicas» de AS na presente luta de classes em Portugal.
Não são novidade. Fazem parte do arsenal cavernícola do anticomunismo que, na oportunidade dos tempos que correm, saem da fossa. São uma cópia dos pronunciamentos de outros ideólogos ao serviço dos mesmos, como o Moedas, os Raposos, os Tavares, o Barreto e a Bonifácio, e de outros tantos.
Um esclarecimento sobre a extinção do PEC prevista no OE 2019, à volta do qual AS quis armar ao pingarelho. Diz AS: «Nós entidades patronais, de há três anos a esta parte temos solicitado em acordos de concertação social a eliminação do pagamento especial por conta». E agora «vejo pela cidade cartazes do Partido Comunista a dizer: conseguimos a eliminação do PEC», o PCP a dizer que «O pai desta boa medida fui eu».
«Mas aquelas "cargas ideológicas" de AS não resultam de uma imaginação delirante. São as "cargas ideológicas" de AS na presente luta de classes em Portugal»
De facto, nunca foi a eliminação do PEC uma grande bandeira da CIP. Não é um problema das grandes empresas. Sobretudo quando olhamos para as bandeiras que AS (como Ferraz da Costa e outros) transportam há muito na CIP: a cassete da liberalização da legislação laboral, ou a reclamação de mais fundos comunitários, ou da redução do IRC para o grande capital. A CIP sempre esteve mais especializada na redução da carga fiscal das grandes empresas e grupos monopolistas. Ainda na lista das 34 medidas para o OE 2018, onde se incluem 9 medidas fiscais, a CIP «esqueceu-se» da eliminação do PEC! Como se «esqueceu», no programa de acção que a actual direcção aprovou para o triénio 2017/2019. Ou quando apresentou, em 2015, onze propostas para o governo a sair das eleições desse ano.
Ora, desde a criação do PEC pelo primeiro governo PS/Guterres, em 1998, e o «aperfeiçoamento» em 2003 pela ministra Manuela Ferreira Leite, do governo PSD/CDS de Durão e Portas, até hoje, nunca o PCP se esqueceu de combater a sua existência e procurar reduzir os seus impactos nas pequenas empresas. E se o PEC acabar em 2019, é porque o PCP assim o impôs nesta legislatura. Ao fazê-lo, valoriza e conclui a longa intervenção e luta de muitas associações de micro, pequenos e médios empresários, onde avulta o papel da CPPME, que jamais desistiram de acabar com as injustiças do PEC.
Finalizemos com outra coisa notável na longa entrevista de AS. Esqueceu-se nas duas páginas do DN que ocupou, de falar da energia. E esta!? como diria o Pessa! De facto, a intervenção da CIP relativamente ao problema dos custos da energia (electricidade, gás natural, gasóleo) sempre foi minimalista. Um dos maiores estrangulamentos estruturais da economia nacional e da competitividade das suas empresas, nomeadamente industriais e exportadoras, onde os custos operacionais da energia superam muitas vezes os custos laborais, sempre foi tratada com pinças. Nunca se viu, por exemplo, grande activismo da CIP contra alterações legislativas da cogeração que afectavam, e muito, alguns sectores industriais.
Reduziu-se quase sempre a uma abordagem pelo lado da carga fiscal que onera a energia, e que é um problema real. Compreende-se. Assim, apenas se reclama a redução da receita pública via redução dos impostos sobre a energia. E não se tocam nos (super)lucros (nas ditas «rendas excessivas») da EDP, Galp e companhia. Isto terá alguma coisa a ver com as contribuições generosas dessas empresas para com a CIP?

Repare-se na «delicadeza» com que a CIP aborda o problema nas propostas apresentadas para o OE2019. Na proposta «reduzir os custos de contexto», escreve-se: «Reforçar a competitividade das empresas, garantindo-lhes condições análogas às suas congéneres europeias, no campo energético». Como? Não explicam. Para o OE de 2018, foram mais prolixos, mas nem por isso mais concretos. Sendo que, em quatro enunciados vagos, se descobre o segredo da abelha: «A CIP considera importante que se tomem medidas tendentes a uma maior equidade na redução das rendas energéticas, mas sem ignorar os direitos contratuais das partes.» Ou seja, sem pôr em causa os contratos que garantem à EDP e outras, as tais «rendas excessivas». Então como? Não explicam.
Não é novidade. Já sabíamos que o único contrato para a CIP que se pode romper, é o contrato laboral. Talvez para AS a ruptura dos contratos da EDP seja ideológica e a ruptura dos contratos laborais não ideológica. Mas não se esqueçam outros contratos, sempre susceptíveis de alteração, para os representados da CIP: os contratos das pequenas empresas com os monopólios a quem fornecem ou a quem compram bens e serviços (por exemplo, na energia, na banca, na grande distribuição).
De facto, a entrevista de AS não é uma entrevista. É um manifesto do grande capital português. E é também, no campo das possibilidades (ou melhor, das impossibilidades do PSD e CDS), pragmaticamente, um apelo eleitoral para uma maioria absoluta do PS. Percebemos.
Fonte: abrilabril

Eu, Psicóloga | Você sabe o que é Flexibilidade cognitiva e porque ela é tão necessária para alcançar o sucesso?



A flexibilidade cognitiva é a capacidade do cérebro para adaptar sua conduta e opiniões a acontecimentos novos, variáveis e inesperados. Em outras palavras, a flexibilidade cognitiva é a habilidade para perceber que o que você está fazendo não funciona, e executar as alterações adequadas para adaptar-se às novas situações.


A flexibilidade cognitiva exerce uma ampla função na aprendizagem e na resolução de problemas. Ela permite você escolher uma estratégia e executá-la para adaptar-se à nova situação na que você se encontra. Ajuda a reunir a informação do ambiente e responder de forma flexível e eficiente, ajustando a sua conduta às alterações que a situação exige.


Uma pessoa que tem uma forte flexiblidade cognitiva pode possuir as cracterísticas a seguir:

  • Uma boa flexibilidade mental permite você se adaptar rapidamente às alterações ou novas situações.
  • A flexibilidade cognitiva ajuda atolerar alterações que podem ser causadas ao resolver um problema ou realizar uma tarefa. Permite você criar soluções alternativas.
  • As pessoas com uma boa flexibilidade cognitiva são capazes de passar de uma ativivade para outra com facilidade e saber como atuar perante todas as situações.
  • Elas podem capturar várias dimensões da realidade, observar desde diferentes pontos de vista e reconhecer relações ocultas, o que lhes permitem encontrar diferentes soluções para o mesmo problema.
  • As pessoas que possuem flexibilidade mental toleram melhor os erros e as alterações, são capazes de se pôr na situação de outras pessoas e encontram compromissos facilmente.

A flexibilidade cognitiva é uma das funções cognitivas básicas e superiores na metacognição, e faz parte de nossas funções executivas. As funções executivas são uma parte importante de um desenvolvimento correto e adequado na escola e na vida. Elas permitem você marcar objetivos, planejar e realizar o plano, supervisar as suas próprias ações e corrigir sua conduta dependendo dos resultados.

A flexibilidade cognitiva está relacionada com a inteligência fluida, o raciocínio fluido e a capacidade para resolver um problema de forma fácil e eficiente.

Uma flexibilidade cognitiva adequada permite você considerar outras ideias, valores e formas de pensamento, que ajudarão a entender o ponto de vista de outras pessoas e valorizar as opiniões dos outros. Por isso a flexibilidade mental está muito associada com a empatia e a interação social.


Desenvolvimento da alteração cognitiva e flexibilidade mental


A flexibilidade cognitiva, como a linguagem ou as habilidades motoras, é uma capacidade cognitiva que requer o uso de processos de desenvolvimento e a maturarão do cérebro.Geralmente, a flexibilidade cognitiva está completamente desenvolvida quando temos 20 anos, após ser treinada e usada desde o nascimento.

A flexibilidade cognitiva depende do lobo pré-frontal do cérebro, a estrutura que leva mais tempo para madurar. Você já deve ter percebido que as crianças são impacientes, não gostam das variações da rotina normal e tendem a fazer birras. Todos esses comportamentos podem ser explicados devido a uma flexibilidade mental fraca, pois é ainda o desenvolvimento da etapa inicial e não está totalmente mudura.

Exemplos de flexibilidade cognitiva


De vez em quando você acorda na hora de dormir, você usa sua flexibilidade cognitiva várias vezes. Como você percebe sua flexibilidade cognitiva na vida cotidiana.
  • Um exemplo é quando você está se preparando para o café da manhã e não há leite. O que você faz? Fica chateado e vai para a escola ou trabalho sem comer nada? Vai à padaria e come lá? Você come alguma outra coisa para o café da manhã? A flexibilidade cognitiva permite você pensar em outras opções quando seu plano inicial é alterado de forma inesperada.

  • Se seu melhor amigo ou amiga deixa de falar com você, a flexibilidade cognitiva ajuda você a pensar os motivos. Permite você pensar em coisas que aconteceram e encontrar uma possível razão de porque ele ou ela não fala com você. Se você é capaz de pensar no ponto de vista de outras pessoas, isso ajudará a se pôr na situação delas e pensar o que pode ter acontecido.

  • Você sempre faz o mesmo itinerário para trabalhar. Um dia, está chovendo e você sabe que vai ficar preso no engarrafamento. O que você faz? Você pode optar por pegar a chuva, sair antes de casa e tentar evitar o tráfico ou usar outro meio de transporte público que talvez consiga chegar antes ao seu trabalho. Seus planos ou rotina inicial foram alterados por uma situação inesperada, mas a sua flexibilidade cognitiva permite você pensar em outras soluções alternativas para chegar a tempo ao trabalho. Você deverá usar as mesmas habilidades usadas para tomar uma decisão: experiência, previsão, motivação, conhecimento e emoções.

  • Quando você toca a campainha e ninguém abre a porta, você não continua tocando esperando que alguém responda, você deduz que não tem ninguém em casa. Ser capaz de entender isso e procurar uma solução alternativa é outro exemplo de flexibilidade mental. Você começa a procurar outras formas de se comunicar: telefona para a pessoa para ver onde está e se vai retornar logo.


Recursos ou testes para avaliar a flexibilidade cognitiva ou rigidez mental

A avaliação de flexibilidade cognitiva pode ser útill em várias áreas e condutas, como no âmbito acadêmico, profissional ou a aprendizagem. O processo de flexibilidade mental ou flexibilidade cognitiva é avaliado com uma avaliação neuropsicológica completa. 

Abaixo segue alguns sites com exercícios de flexibilidade mental que podem te ajudar a ter treinar esta habilidade cognitiva. Caso encontre muita dificuldade agende uma avaliação neuropsicólogica (entre em contato conosco pelo e-mail: oliveiradebora001@gmail.com).

  • O teste de sincronização UPDA-SHIF: uma bola em movimento será exibida na tela. O usuário deve seguir a bola com o cursor com o maior cuidado e precisão possíveis.
  • Teste de simultaneidade DIAT-SHIF: o usuário deve seguir os movimentos aleatórios da bola com o maior cuidado possível, e prestar atenção às palavras que serão exibidas no meio da tela. Quando a palavra exibida no meio da tela corresponda à cor que está escrita, o usuário deve dar uma resposta. Este atividade exige a adaptação do usuário às alterações, a criação de respostas adequadas e ser capaz de usar as habilidades de alteração mental e visual ao mesmo tempo.
  • Teste de inatenção FOCU-SHIF: uma luz será exibida em cada canto da tela. O usuário deverá clicar nas luzes amarelas o mais rápido possível e evitar clicar nas luzes vermelhas.
Além da flexibilidade mental, estas tarefas também vão ajudar você a avaliar o tempo de resposta, a coordenação óculo-manual, a alteração e a inibição.

Fonte: Cognifit