domingo, 2 de agosto de 2020

Governo declara Situação de Alerta no país por causa de risco de incêndios

Portugal continental entrará em Situação de Alerta a partir das 20:00 de hoje, e até ao dia 4, face à previsão de "um significativo agravamento do risco de incêndio rural", anunciou hoje o Governo.

A Situação de Alerta inicia-se às 20:00 horas de hoje e prolonga-se atè às 23:59 horas do dia 04 de agosto em todo o território de Portugal continental, especifica o Governo, em nota divulgada pelo Ministério da Administração Interna.
A decisão é tomada "face às previsões meteorológicas para os próximos dias, que apontam para um significativo agravamento do risco de incêndio rural", pelo que há necessidade de "adotar medidas preventivas e especiais de reação".
Em Situação de Alerta é proibida a realização de queimadas e o uso de fogo-de-artifício ou de qualquer outra pirotecnia, e é proibido o acesso e a circulação em espaços florestais "previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios".
Não são permitidos trabalhos com equipamentos elétricos em espaços florestais ou rurais, como motorroçadoras, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal.
Nesta Situação de Alerta é permitido, por exemplo, alimentar animais, fazer podas, regas, extração de cortiça e mel, colheitas de culturas agrícolas, desde que "sejam de caráter essencial e inadiável", em zonas de regadio, sem materiais inflamáveis e fora de floresta e mata.
São permitidos ainda trabalhos de construção civil, "desde que inadiáveis e que sejam adotadas as adequadas medidas de mitigação de risco de incêndio rural".
A declaração da Situação de Alerta está prevista na Lei de Bases de Proteção Civil.

“Estamos aqui para ficar”. TikTok reage às notícias sobre a proibição nos EUA e boatos de venda

"Estamos aqui para ficar", assegurou neste sábado Vanessa Pappas, encarregada do TikTok nos Estados Unidos, depois de o presidente americano, Donald Trump, anunciar que proibiria as atividades no país da empresa de origem chinesa.

"Temos escutado o vosso apoio crescente e queremos agradecer. Não temos planos de ir embora", diz um vídeo postado pela empresa com o objetivo de a acalmar os utilizadores preocupados.
"Estamos aqui para ficar. Continuem  fazer ouvir a vossa voz e continuem a apoiar o TikTok!", expressou Pappas.
A reação ocorre também depois de o jornal The New York Times noticiar este sábado que a ByteDance, empresa matriz chinesa do TikTok, ofereceu a venda do braço americano da companhia indo ao encontro do que pretende o governo americano, alegadamente preocupado coma proteção dos dados dos utilizadores americanos.
Outros meios reportaram que a Microsoft estaria a negociar a aquisição do TikTok, que atualmente tem cerca de mil milhões de utilizadores no mundo.
"Embora não comentemos as especulações, confiamos no sucesso a longo prazo do TikTok" nos Estados Unidos, respondeu o grupo.
Depois de semanas de boatos e pressões, o presidente Trump anunciou na sexta-feira que proibiria a atividade da rede social nos Estados Unidos.
A Casa Branca tinha informado horas antes que Trump se preparava para assinar uma ordem oficial para obrigar a ByteDance a se separar do TikTok, em nome da proteção da segurança nacional.
Washington suspeita que a empresa americana pode ser usada pelos serviços de inteligência chineses para fazer espionagem e roubar dados secretos, o que a companhia sempre negou veementemente.
Funcionários públicos e legisladores também têm expressado preocupação de que o TikTok seja usado como estes fins.
A popularidade da rede tem vindo a aumentar, um movimento especialmente notório durante  os meses de confinamento e distanciamento social.
"Devemos estar atentos ao risco de que se transfiram dados privados e confidenciais a governos abusivos, inclusive o nosso", alertou neste sábado Jennifer Granick, da organização de defesa dos direitos civis ACLU, referindo-se ao tema.
No entanto, destacou que "proibir uma plataforma, inclusive se fosse legalmente possível, prejudica a liberdade de expressão online e não faz nada para abordar o problema mais amplo da vigilância governamental injustificada".
Madremedia / AFP

Lewis Hamilton vence pela sétima vez em Silverstone e alarga vantagem no Mundial de Fórmula 1

O piloto britânico Lewis Hamilton (Mercedes) venceu hoje o Grande Prémio da Grã-Bretanha de Fórmula 1 pela sétima vez e alargou a vantagem no Mundial de pilotos.

O britânico, que fez a última volta com o pneu dianteiro direito furado, deixou o holandês Max Verstappen (Red Bull) a 5,856 segundos e o monegasco Charles Leclerc (Ferrari) a 18,474 segundos, conquistando a 87.ª vitória da carreira, estando a quatro do recorde do alemão Michael Schumacher.
Com estes resultados, Hamilton soma 88 pontos, tendo, agora, 20 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, o finlandês Valtteri Bottas (Mercedes), que não foi além do 11.º lugar depois de sofrer um furo nas voltas finais. Max Verstappen, que somou um ponto extra por ter feito a volta mais rápida, é terceiro, com 42 pontos.
Lusa

Suspensas por mais 15 dias visitas a lares de Moura

A Proteção Civil de Moura (Beja) decidiu prolongar por mais 15 dias a suspensão de visitas aos utentes dos lares do concelho, onde há 46 casos ativos de covid-19 e um morto, informou hoje o município.

A medida preventiva foi decidida após análise, com as instituições particulares de solidariedade social (IPSS), da evolução do número de casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2 na região do Alentejo e em especial no concelho de Moura, refere um comunicado divulgado hoje pela câmara.
A decisão, segundo a autarquia, pretende "salvaguardar a segurança e saúde da população mais vulnerável" à covid-19.
"Após o término deste novo período de suspensão, a situação epidemiológica será reavaliada por forma a serem adotadas as medidas que se entendam mais adequadas no tocante à retoma das habituais visitas aos utentes das IPSS", lê-se no comunicado.
As visitas aos utentes dos lares de Moura estão suspensas desde o dia 06 de julho.
Neste concelho alentejano, há um surto de covid-19 na aldeia de Póvoa de S. Miguel, onde na passada sexta-feira foi registada a primeira vítima mortal, um homem de 85 anos.
O idoso morreu na sua residência, sendo o primeiro óbito por covid-19 registado no concelho de Moura.
O coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil, Diogo Saraiva, disse hoje à agência Lusa que neste concelho do Baixo Alentejo permaneciam ativos, no sábado, 46 casos de covid-19, 30 dos quais na Póvoa de São Miguel, 10 em Amareleja e seis em Moura.
No hospital de Beja continuam internadas três pessoas, duas delas de Amareleja e uma relacionada com o surto na Póvoa de São Miguel.
Os primeiros quatro casos positivos na Póvoa de São Miguel foram detetados há mais de duas semanas, mas os testes depois realizados elevaram para 31 o total de infetados na aldeia, número que desceu para 30, após o primeiro óbito.
Portugal contabiliza pelo menos 1.738 mortos associados à covid-19 em 51.463 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Lusa

Detido ex-ministro britânico e deputado ‘tory’ por suspeita de violação

Um ex-ministro conservador e membro atual da Câmara dos Comuns no Reino Unido foi detido por suspeitas de violar, agredir sexualmente e intimidar uma antiga assistente parlamentar, noticiou hoje The Sunday Times e Mail on Sunday.

A cadeia pública BBC acrescentou tratar-se de um político "tory", o qual não foi identificado por questões legais, que foi interrogado pela polícia e que se encontra em liberdade sob fiança.
A polícia metropolitana explicou, em comunicado, que iniciou uma investigação sobre "quatro incidentes separados" que "alegadamente ocorreram" entre julho de 2019 e janeiro de 2020, depois de receber uma denúncia na passada sexta-feira (31 de julho).
"Um homem de cerca de 50 anos foi detido no sábado, 01 de agosto, suspeito de violação. Foi colocado em liberdade sob fiança até regressar em meados de agosto", refere o comunicado, que acrescentou que os alegados crimes ocorreram nas "direções" londrinas de "Lambeth, Hackney e Westminster " (onde está o Parlamento britânico).
O Partido Conservador do primeiro-ministro, Boris Johnson, emitiu também um comunicado no qual refere que as acusações são "extremamente graves".
O jornal The Sunday Times refere que a denunciante afirma que o ex-ministro a agrediu, a obrigou a ter relações sexuais e a deixou tão tramatizada que teve que receber tratamento hospitalar.
Os crimes terão ocorrido quando ambos mantinham uma relação sentimental, de acordo com os meios de comunicação social.
Levamos estas acusações muito a sério. Dado que o assunto está agora nas mãos da polícia, não seria apropriado que comentássemos mais a esse respeito", referiu o Partido Conservador.
A agência de notícias britânica Press Association (PA) noticiou hoje que o chefe de disciplina da formação dos Comuns, Mark Spencer, conhecia a "magnitude" das acusações e que chegou a falar sobre o assunto com a alegada vítima, mas não fez nada a esse respeito.
Um porta-voz de Spencer explicou à PA que o responsável pela disciplina conservadora "leva extremamente a sério estas acusações" e istou "fortemente" em que "qualquer pessoa que tenha falado com ele" que se diriga "às autoridades competentes".
Lusa

Impar: Muito prazer em conhecê-los

Muito prazer em conhecê-los
Entramos naquele mês que é, predominantemente, o das férias. Agosto. Tempo de descanso, de adoptar um ritmo mais lento, de acordar e deitar tarde, mudar de ares, conhecer pessoas novas, pôr a leitura em dia e ler outras coisas nos jornais. Por exemplo, o Questionário de Proust leva-nos até uma esplanada onde conhecemos alguém para lá da sua profissão. Não é o diplomata, a bastonária, o músico, o político ou o escritor, mas é alguém que confessa, mais a sério ou mais a brincar, o que pensa sobre o amor, a verdade ou a morte. Até agora, em comum, para os nossos inquiridos, as suas famílias são quem mais amam no mundo (outra coisa não seria de esperar); declaram que não mentem ou quando o fazem é por piedade (um mal menor); e todos desejam ter uma morte santa (quem não?).
No fundo, afirmam que são mortais e iguais a todos nós, com os mesmos sonhos, desejos, medos e frustrações. Cada um tem o seu lema de vida, o do músico Kiko Pereira tocou-me particularmente : “Viver com se morresse amanhã, aprender como se fosse eterno.”
Morrer. Muitos temem a morte, outros deixam-se morrer quando já nada mais vale a pena. Depois de, no domingo passado, se ter celebrado o Dia dos Avós, nesta terça-feira, a enfermeira Carmen Garcia escrevia um testemunho duro e sentido sobre o que acontece em tantos hospitais deste país. O que não é uma novidade, nem culpa da pandemia. “O meu apelo é que cuidemos dos nossos, que não lhes larguemos a mão, que estejamos para eles como eles sempre estiveram para nós. Eles connosco desde o início. Nós com eles até ao fim”, escreve Carmen Garcia.
“Desisti. Na minha 12.ª missão encontrei o meu limite e desisti. Foi das decisões mais dolorosas da minha vida.” É assim que Gustavo Carona começa a sua última crónica sobre a sua experiência médica em cenários de guerra. Fomos introduzidos na sua escrita durante a pandemia, quando descrevia o que se passava num dos hospitais do Norte do país onde os doentes com covid-19 eram recebidos. O Diário de um Intensivista fidelizou muitos leitores às suas palavras e, nos comentários, estes agradecem-lhe porque Carona transmite sempre uma enorme esperança num mundo melhor. Sobre a sua experiência em África (e sobre a morte) escreve: “Aqui todas as famílias têm uma história de uma criança que morreu. Eu gostava que elas percebessem que não é normal, mas também gostava de aprender a aceitar melhor a morte. Parece uma contradição, mas não tem de o ser: valorizar a vida até ao último esforço, mas aceitar a morte com paz e tranquilidade.”
Esta semana conhecemos mais algumas propostas do Ministério da Educação para o novo ano lectivo que, inevitavelmente, foram alvo de críticas. Há uma classe que está preocupada com as crianças, o seu crescimento, a suas relações e interacções, em suma, com a sua saúde mental e bem-estar — a dos psicólogos. Numa carta aberta, já com milhares de partilhas, estes profissionais lembram como é importante a relação da escola, presencial, com as crianças e as suas famílias. “Não podemos deixar que as medidas sanitárias se sobreponham à necessidade de preservar a saúde mental das nossas crianças e jovens. Porque, se o fizermos, teremos com certeza em mãos uma outra pandemia no campo da saúde mental, com resultados bem mais dramáticos, provavelmente.”
E para quem está de férias, além de espreitar o novo site Leituras, pode também ver as sugestões do Plano Nacional de Leitura que, semestralmente, lança uma lista de livros com as recomendações mais relevantes — dos bebés aos adultos. Aqui ficam algumas sugestões. E uma do Ímpar: o último romance histórico da jornalista Isabel Stilwell que, pela primeira vez, se debruça sobre um personagem masculino. D. Manuel I, duas irmãs para um rei é o seu nono romance e a crítica do Ípsilon deu-lhe quatro estrelas.
Boa semana!
Fonte: Público

A COZINHA DOS ANJOS

A Cozinha dos Anjos – Bartolomé Esteban Murillo (1646). Museu do Louvre, Paris.

  • Nelson R. Fragelli
Oquadro acima é uma obra-prima de Murillo (1617-1682), na qual o grande pintor espanhol retrata o milagre ocorrido na cozinha de um dos mosteiros da Ordem de São Bruno.
Acabavam os caridosos monges de saciar a fome dos pobres, à custa de suas últimas provisões. Despensa vazia, faltava tudo no mosteiro, até mesmo o pão. Privação, pois, para todos. O Superior tinha ordenado dar de comer a quem pedisse, faltasse o que faltasse aos religiosos. Esta era a regra. Com paz de alma, inclinando-se à santa obediência, todos deram tudo, dispostos à míngua. O afluxo de indigentes vinha sendo grande, e não era a primeira vez que, após se retirarem os pobres com pão e toucinho no alforje ao ombro, restava aos religiosos apenas a penúria.
Consideremos as aves do céu…
À hora do almoço, tocou o sino no claustro na velha abadia. Nos bons dias, aquele timbre rotineiro prenunciava pão fresco e uma consistente sopa fumegando já à mesa. Naquele instante ele soava, mas privado da expectativa de deleites do paladar. A regra, entretanto, era positiva: tocado o sino, todos devem comparecer ao refeitório. No quotidiano de um monge, cada ação era marcada por regradas horas, e seguir a voz do bronze fazia parte da estrita observância. Formado o cortejo, todos se dirigiram às mesas, dispostas sob as altas abóbadas do austero salão onde os corpos se restauram das atividades religiosas. Na galeria de acesso ao refeitório, nenhum odor prenunciava o caldo quente: mesas nuas, fogões apagados, cestos vazios de pão. Conformados, os religiosos recordavam-se da palavra do Mestre: “Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais que as vestes? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam, nem recolhem nos celeiros, e vosso Pai celeste as alimenta. Não valeis vós muito mais que elas?” (Mt 6, 25-26).
Um dos monges, de nome Tiago, mais tarde canonizado, seguiu o cortejo abismado em orações. Não pedia pão, pedia fidelidade em circunstância tão propícia ao exercício desinteressado do amor de Deus. Fervorosos pensamentos o transportaram em êxtase, e ele gravitava elevado do solo. Subtraiu-se assim, milagrosamente, às leis naturais que regem a humana condição neste mundo. Deus, que recompensa quem se esquece de si mesmo para se abismar em Seu amor, acorreu para dar-lhe o prêmio. À vista de todos, anjos desceram do Céu e começaram a cozinhar às pressas, enquanto Tiago rezava de mãos postas.
Dois anjos discutiam o cardápio e alguns dispunham os utensílios de cozinha: caldeirões, gamelas de cobre, jarros de faiança. Um deles empunhava uma tigela de argila para buscar água na fonte. Outro colocava os pratos. Um terceiro, pondo sal num caldeirão, fazia ferver a sopa, enquanto seu angélico auxiliar socava temperos num pequeno pilão. Coube a querubins escolher legumes num cesto, e Aquele que multiplicara pães e peixes no deserto Se mantinha o Mesmo. Sua bondade é eterna, e se rejubilaram os frades: vai sair o almoço. Segundo o historiador francês Alfred Nettement, de quem tomamos esta descrição, o Superior entrou com dois convidados, cavaleiros da Ordem de Calatrava. Sem o trabalho dos anjos, como poderia receber condignamente tão importantes convivas?
Retratando o milagre, Murillo externou a fé de seu tempo e pôs à consideração de todos esta realidade esquecida, se não denegada: os anjos estão sempre junto aos homens, iluminando e governando aqueles que reclamam seu socorro. Quase nunca visíveis, entretanto, com sua presença sobrenatural eles nos circundam. Com profusão de detalhes claro-obscuros, o quadro sugere a misteriosa — mas quão real — ajuda dos anjos àqueles a quem guardam.
A França sem restaurantes não é a França
Embora pintado por um espanhol, esse quadro está em Paris, no Museu do Louvre. Não por acaso. Ninguém entende tão bem como os franceses que a cozinha tem parte com os anjos. Uma reportagem do Paris Match, de 13 de maio passado, evoca a tela de Murillo. Seu título — “A França sem restaurantes não é a França” — exprime o melhor do artigo. É importante, sem dúvida, a análise da catástrofe financeira ocasionada pela quarentena, a pretexto da atual epidemia, e a cozinha é forçosamente ligada a aspectos financeiros. Brutalmente fechados por ordem do governo, sem prévia advertência, os chefs serão dentro em pouco obrigados a mendigar seu pão. Isto nunca se deu, nem mesmo nos períodos de guerra. Entretanto, a perda vai além.
         A cozinha francesa nasceu nos mosteiros medievais, sobretudo entre os beneditinos de Cluny, cujos conventos civilizaram a Europa. Os cozinheiros de Cluny — em geral monges de famílias distintas — tinham como dever não copiar o mesmo cardápio duas vezes ao ano: a cada dia, nova receita. Não havia livros de receitas, e obviamente era preciso esforço de imaginação, variedade de ingredientes, qualidade dos produtos. Desse empenho dos conventos surgiram os altos predicados da culinária francesa, que perduram até hoje.
O discernimento religioso dos monges penetrava a natureza das substâncias alimentícias, o espírito dos condimentos, a percepção dos paladares, a harmonização de sabores: O arroz é um amável conciliador, aproximando truculências melindrosas; em sua essência, o espinafre vale pouco, mas é suscetível de bem acolher impressões várias”. Embebidos de cogitações como estas, penetradas de profundo espírito religioso, tinham em vista a formação das almas. Desenvolveram assim uma arte próxima de uma ciência. Assim a arte culinária francesa sacralizou a mesa, e esta sacralização subsiste gloriosamente até os correntes dias, quando quase toda a nossa cultura apresenta catastróficos aspectos de fim de civilização.
A aristocracia aprimorando e elevando a culinária
Pintores e poetas têm por vezes intuições notáveis. Murillo, com sua obra, ligou a cozinha aos anjos. Ele estava certo. Até parece que, ao pintar, pensava na França. Nascida nos mosteiros, desenvolvida nos castelos, a autêntica cozinha francesa sempre comunica um nítido sentido espiritual ao que elabora. Por meio dos sabores simples ou requintados, caseiros ou palacianos, sempre põe no espírito imagens de perfeição. Seus sabores pedem reflexão para serem bem entendidos. Não é exagero dizer que seus pratos frequentemente pedem recolhimento, talvez mais do que reflexão.
         Os santos abades de Cluny lutaram para conferir elevação espiritual ao ato de comer. Sua época, por volta do ano mil, era ainda tomada por hábitos bárbaros, ainda pagãos em tantos aspectos, semelhantes a maneiras animais. Um dos modos de essa procurada elevação se operar foi pelo aprimoramento do paladar, daí a proibição de apresentar à mesa pratos já servidos no mesmo ano. Quanto pensamento foi necessário para cumprir este ponto do famoso Ordo de vida monástica!
         As elites sociais dos primeiros séculos da Idade Média se formaram progressivamente, segundo o modelo de conduta dos monges. Estes lhes modelaram o caráter e os rústicos costumes, segundo a dignidade eclesiástica, e ao longo dos séculos foram destilando uma nobreza. Não descuidaram dos modos e da mesa. Em recíproco entendimento entre o ideal da nobreza e a habilidade dos cozinheiros, surgiram paulatinamente ao longo dos séculos os chefs famosos.
Pratos célebres tomaram o nome de nobres a quem sua cozinha dedicou tais elaborações: vitelos levam muitas vezes o nome dos duques de Lavallière; o Príncipe de Condé deu nome a sopas, que nos gélidos invernos confortam os que as tomam; até hoje se aprecia o filé à Chateaubriand ou o frango a la Reine (à moda da rainha). A nobreza, zelosa de toda estética, deu aos pratos não só sabor, mas um décor maravilhoso, segundo o princípio “se a vista não tem uma surpresa, o apetite não é suficientemente despertado”.
Se a aristocracia elevou a culinária francesa ao parnaso das artes, evidentemente essa elevação contou com a participação do homem do campo — simples hortelãos ou fazendeiros, cultivadores, modestos vinicultores, e tantos outros despretensiosos camponeses. Sem a aristocracia eles não aprimorariam seus produtos, mas sem o homem do campo o húmus agrícola civilizador não chegaria à elite. Portanto, a mesa uniu jubilosamente as classes sociais.
Inspiração angélica no aprimoramento dos sabores
         Antes de ser luxo, essa arte era caridade. Por caridade se entende os ritos da cortesia a fim de tratar bem o próximo. Esses ritos eram inúmeros, e em alguma medida ainda permanecem. A boa mesa tem o dom de serenar os ânimos e distender os espíritos, dispondo-os à concórdia. Os bons pratos fazem os bons amigos, e a qualidade suscita a caridade. O filme dinamarquês “A festa de Babette” ilustra de modo prazenteiro esta verdade — a cozinha de Babette movia os corações.
          A cultura cristã tem como regentes e protetores os três arcanjos de conhecidos nomes — São Miguel, São Gabriel e São Rafael. Segundo o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, o Príncipe da milícia celeste, São Miguel, tem funções guerreiras, foi seu brado Quis ut Deus que esmagou a revolta dos anjos e precipitou no Inferno os anjos maus. São Gabriel, com iluminada missão diplomática, foi o embaixador do Altíssimo junto a Nossa Senhora, e com seu tato apuradíssimo perguntou delicadamente à Virgem Maria se Ela consentiria em ser a Mãe do Messias. São Rafael, cuja viagem guiando Tobias é longamente narrada na Sagrada Escritura, ajuda os homens nas dificuldades da vida e inspira-os a seguir os bons caminhos.
          Os anjos iluminam, guardam, inspiram e governam todas as ações humanas. O milagre no convento de São Bruno comprovou a sacralidade angélica do lugar e das funções ali realizadas. Ao retratá-lo, Murillo parece ter traçado os rumos da cozinha francesa, assistida pelos três Arcanjos. Inicialmente uma fase atribuível à ação de São Miguel, lutando para vencer a rusticidade pagã entranhada nas almas. Na fase seguinte, São Gabriel fez com que a elevação da mesa cumprisse o mandato do amor ao próximo, proporcionando fraternas reuniões. E finalmente o arcanjo São Rafael seria o orientador do senso espiritual francês, nas vias ascensionais dos requintados sabores.
         “A cozinha dos anjos”, de Murillo, poderia chamar-se “Os anjos cozinheiros”. O milagre sacralizou o local, o que ali se fez e quem o fez. Esse milagre ocorrido na Espanha, e perenizado por um de seus maiores pintores, foi tomado a sério pela França, como um fator de superior unidade da Cristandade; pois a culinária une não somente as classes; une também as nações entre si. E une os homens aos anjos.
Uma França sem restaurantes como outrora, sem grandes cozinhas e grandes cozinheiros assemelha-se a uma França sem anjos.
ABIM

Reabertura da circulação na linha do Norte prevista para hoje

Reabertura da linha do Norte nas duas vias prevista para hoje ...
A circulação de comboios na linha do Norte, interrompida desde sexta-feira por causa de um acidente ferroviário, deverá ser restabelecida durante o dia de hoje, avançou a Infraestruturas de Portugal.
A empresa tinha informado inicialmente que o restabelecimento da circulação nas duas vias estava previsto para segunda-feira, mas esclareceu que é "no decorrer de hoje".
"A Infraestruturas de Portugal informa que está previsto que seja possível restabelecer a circulação em ambas as vias no decorrer do dia de hoje, domingo", refere a empresa numa nota enviada à agência Lusa.
A empresa adianta que foi possível restabelecer "ao início do dia, à 01:45, a circulação através da via descendente no troço da Linha do Norte entre Pombal e Alfarelos", depois de realizados os trabalhos de reparação da via e catenária à saída da Estação de Soure.
"A circulação ferroviária processa-se através desta via de forma alternada em ambos os sentidos e foi implementa a redução de velocidade a 30 Km/h entre o Km 185,7 e o Km 186,250", refere a Infraestruturas de Portugal.
Um comboio Alfa Pendular que transportava 212 passageiros descarrilou na sexta-feira, no concelho de Soure, distrito de Coimbra. O acidente causou dois mortos e 44 feridos, oito dos quais graves.
Segundo nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), a que a agência Lusa teve acesso, um Veículo de Conservação de Catenária, no qual seguiam duas pessoas -- as duas vítimas mortais --, passou um sinal vermelho e entrou na Linha do Norte, tendo sido abalroado pelo comboio Alfa Pendular.
O comboio seguia no sentido sul-norte com destino a Braga e o descarrilamento ocorreu após o embate entre o Alfa Pendular e uma máquina de trabalho, perto da vila de Soure, junto à localidade de Matas.
Lusa

Última temporada da série “A casa de papel” terá filmagens em Portugal

A rodagem da quinta temporada da série televisiva espanhola "A casa de papel", de Álex Pina, começa na segunda-feira e terá filmagens em Portugal, revelou a plataforma Netflix.
Em comunicado datado de sexta-feira, a Netflix explica que a nova temporada terá dez episódios, com uma hora de duração cada, e que a rodagem acontecerá em Espanha, Dinamarca e Portugal.
Contactado pela agência Lusa, o responsável pela Portugal Film Commission, Manuel Claro, apenas disse que "por princípios de confidencialidade" não podia "dizer o que quer que seja relativamente a esse assunto".
A Portugal Film Commission, que está na dependência conjunta da Cultura e do Turismo, tem como missão promover "Portugal enquanto destino de filmagens" e facilitar os pedidos de rodagens de produtores portugueses e estrangeiros.
Esta será a última temporada da mais popular série de ficção em língua não inglesa exibida por aquela plataforma de 'streaming', com produção de Cristina Lopez Ferraz e Jesus Colmenar, que é também um dos realizadores.
Do elenco, que conta com nomes como Úrsula Corberó, Belén Cuesta, Álvaro Morte, Itziar Ituño, Pedro Alonso, Miguel Herrán e Jaime Lorente, farão ainda parte Miguel Ángel Silvestre e Patrick Criado.
A intriga de "A Casa de Papel" começou por se centrar num elaborado plano de assalto à Casa da Moeda de Espanha, em que os assaltantes se identificavam a identificarem-se com o nome de cidades -- Tóquio, Berlim, Nairobi, Denver, liderados pelo mentor da operação, o Professor (o ator Álvaro Morte).
A série estreou-se em 2017 na rede espanhola Antena 3 e foi incluída, meses depois, no catálogo internacional da plataforma e produtora Netflix.
Lusa

Dominado fogo que lavrava desde sexta-feira em Mondim de Basto

O incêndio que lavrava desde sexta-feira na Senhora da Graça, concelho de Mondim de Basto, foi dado como dominado às 06:18, disse à agência Lusa fonte da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
No local mantêm-se 196 operacionais apoiados por 61 viaturas, segundo o 'site' da ANEPC.
O incêndio deflagrou às 16:11 de sexta-feira na localidade de Vila de Ferreiros, na freguesia da Senhora da Graça, e continuava com uma frente ativa pelas 23:50 de sábado.
Lusa

Comité de Emergência da OMS antecipa que pandemia durará muito tempo

O Comité de Emergência da Organização Mundial de Saúde (OMS) antecipou hoje que a pandemia de covid-19 irá durar muito tempo e, por isso, é necessário continuar os esforços para a sua contenção em todo o mundo.
Segundo dados oficiais da OMS, a pandemia já provocou 675.060 mortos e infetou quase 17,4 milhões de pessoas em todo o mundo.
O grupo de cientistas, que se reuniu por videoconferência na sexta-feira, avaliou a evolução da pandemia de covid-19, tendo em conta toda a informação científica que surgiu sobre o novo coronavírus nos últimos três meses, data da última reunião.
O Comité de Emergência da OMS é composto por 18 cientistas de vários países.
A pandemia é uma crise sanitária que ocorre uma vez em cada século e os seus efeitos serão sentidos nas décadas seguintes”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao Comité, segundo um comunicado da organização.
O responsável fez também um balanço do que tem acontecido, salientando que “muitos países que pensavam que o pior já tinha passado estão agora a enfrentar novos surtos, outros que tinham sido menos afetados estão a ver os casos e os mortos a aumentar, enquanto países que tiveram grandes surtos conseguiram controlá-los”.
Entre as principais recomendações que o Comité de Emergência dirigiu à OMS está a necessidade de continuar a apoiar os países serviços médicos mais fragéis, bem como a necessidade de continuar a impulsionar as investigações em curso para se encontrar um ou mais tratamentos e vacinas para a covid-19.
O objetivo é que, quando existir uma vacina, os países com menos recursos não fiquem de fora por incapacidade de as comprar.
Ou seja, defendeu o Comité, a distribuição de vacinas deve ser o mais equitativa possível.
Atualmente três potenciais vacinas (dos Estados Unidos da América, Inglaterra e China) estão na fase três dos ensaios clínicos, para testar a sua segurança e eficácia.
A OMS referiu a este propósito que poderá ser possível que uma vacina esteja pronta para comercialização “na primeira metade de 2021”.
Relativamente às viagens, o Comité indicou que os países devem tomar medidas proporcionais e aconselhar os cidadãos em função dos riscos, avaliando as suas informações de forma regular.
Por outro lado, recomendou que os serviços de saúde sejam reforçados para permitir a identificação de novos casos e o rastreio de contactos.
Lusa

Emigrantes recebidos com conselhos na fronteira de Vilar Formoso

Os emigrantes que hoje entram em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso, no concelho de Almeida, Guarda, estão a ser recebidos com conselhos sobre cuidados a ter para evitar incêndios, acidentes rodoviários e contágio por covid-19.
Em Vilar Formoso decorre hoje a 18.ª edição da campanha de sensibilização rodoviária “Sécur’été 2020 – Verão em Portugal”, promovida pela associação de jovens lusodescendentes Cap Magellan, que é destinada aos emigrantes que se deslocam de carro a Portugal durante as férias de verão.
A campanha que tem como principal objetivo a redução do número de acidentes durante os trajetos longos e depois das saídas noturnas, dá este ano uma atenção especial à prevenção da covid-19.
A iniciativa realizada na principal fronteira terrestre de Portugal contou, hoje de manhã, com a participação da secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, da secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, e do secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, entre outros responsáveis.
Os governantes deram as boas vindas aos emigrantes e apelaram aos cuidados que devem ter durante a sua estadia no país.
“Estamos aqui, numa campanha muito rápida, só para vos pedir três coisas”, disse a secretária de Estado da Proteção Civil na abordagem a uma família de emigrantes.
E acrescentou: “Terem muito cuidado com tudo o que diz respeito aos incêndios rurais, manterem sempre um comportamento adequado quando estão nas zonas de floresta; muita atenção na estrada, respeitar tudo aquilo que são as regras da circulação, os períodos de descanso, o normal; e, como sabem, estamos ainda na pandemia do covid-19 e é fundamental manter também a observação desses cuidados”.
Patrícia Gaspar exortou ainda os emigrantes a passarem a mensagem aos familiares e amigos.
Fizeram boa viagem?” – perguntou, por sua vez, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, a uma família de Manteigas que está emigrada em França.
A governante questionou se a família sempre pensou em deslocar-se a Portugal de férias ou se teve dúvidas, devido à pandemia, mas obteve como resposta que a decisão pela viagem foi tomada porque “é o país que chama”.
Por sua vez, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, apelou aos emigrantes que hoje chegaram a Portugal pela fronteira de Vilar Formoso para que, em tempos de pandemia, tenham um comportamento “sanitariamente aconselhado” durante a permanência no país.
O movimento de entrada de viaturas de matrícula estrangeira em Portugal pela fronteira de Vilar Formoso foi intenso durante a manhã de hoje, estando a ser superior ao verificado no mês de julho.
Segundo o coronel Cunha Rasteiro, comandante do Comando Territorial da GNR da Guarda, em anos anteriores, costumavam entrar em Portugal entre 25 a 30 mil veículos e, este ano, pelos indicadores disponíveis, esse cenário “não vai fugir muito à normalidade”.
Durante a manhã entraram por Vilar Formoso “cerca de 500 veículos por hora”, referiu.
Luciana Gouveia, coordenadora da associação Cap Magellan, adiantou à Lusa que o movimento de veículos observado hoje naquela fronteira ocorre por muitos emigrantes em França terem optado por viajar de automóvel.
“Pessoas que habitualmente vinham de avião, preferem, este ano, vir de carro, sentem-se mais seguras dentro do veículo, há uma espécie de sensação de bolha de segurança”, justificou.
Lusa