quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Hora de Fecho: Ricciardi: WhatsApp, Facebook e a sede das claques /premium
Encontrou-se com a lista no Colégio Alemão, fez lives no Facebook, passou pelas claques e vibrou na central com o golo de Jovane. Um dia com José Maria Ricciardi, candidato à presidência do Sporting.
A ameaça já tinha cinco meses e foi concretizada esta quarta-feira. O diretor clínico e vários médicos com funções de chefia no Hospital de Gaia apresentaram a demissão.
A SAD do Benfica é acusada de 30 crimes e o advogado Paulo Gonçalves de mais de 60. Clube já foi notificado do processo no âmbito do e-toupeira.
A Toyota vai chamar às oficinas mais de um milhão de veículos do modelo Prius com motorização híbrida a gasolina e eletricidade, dos quais 2.690 em Portugal, por potencial risco de incêndio.
Tentativa de assassinato teve luz verde de uma alta patente do Estado russo, acusa May. "Tínhamos razão em dizer que a Rússia era responsável", sublinha a primeira-ministra britânica.
O voo da Emirates, proveniente do Dubai, foi posto em quarentena após terem aparecido sintomas de doença em, pelo menos, dez passageiros. As pessoas já terão sido autorizadas a sair do avião.
147 pessoas foram retidas no aeroporto de Perpignan, no sul de França, esta quarta-feira. Suspeitam que há uma criança com cólera, num avião vindo de Orão, na Argélia.
Livro do jornalista ainda não foi publicado, mas já causa polémica com as suas revelações sobre os bastidores da Casa Branca. Trump reagiu no Twitter e diz que o livro já está "desacreditado".
A antiga estagiária da Casa Branca, que manteve uma relação com Bill Clinton, disse que foi enganada e que a pergunta sobre o antigo Presidente, feita num evento em Israel, ultrapassava os limites.
Além de uma edição em inglês, que será publicada em outubro, "A História do Rock (para pais fanáticos e filhos com punkada)" será editada em sueco pela Fandrake. Versão portuguesa saiu em 2017.
Em 2006 teve pouco mais de 20 pessoas. No ano passado contou 12 mil entradas. Antes do arranque de mais um Milhões de Festa, entre 6 e 9 de Setembro, Joaquim Durães explica como tudo aconteceu.
Opinião
Luís Aguiar-Conraria
A minha irritação decorre de se chamar o país inteiro a pagar uma política de que apenas beneficia a Área Metropolitana de Lisboa. Ser o Orçamento do Estado a pagar esta política viola o bom senso.
Telmo Faria
Nunca acreditei em políticos que falam e falam sobre áreas sociais sem demonstrar primeiro como se aumenta a riqueza ou que falam em descentralização sem construir antes um modelo de desenvolvimento.
Vicente Ferreira da Silva
Com esta "descentralização" o governo transfere responsabilidades constitucionais mantendo indemnes as prerrogativas decisórias, o que vai provocar um decréscimo da qualidade de vida dos portugueses.
Maria João Marques
Desta vez, a UE acertou. Os daylight savingsforam um estratagema magicado na altura do uso intensivo do carvão para poupar energia. O que não é exatamente uma descrição apurada do mundo atual.
João Muñoz de Oliveira
Com toda a instabilidade vivida nas escolas públicas, é de manuais escolares gratuitos que as famílias, em absoluto, precisam? Não seria melhor aplicar esse dinheiro na estabilização do corpo docente?
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em observador.ptFilme promocional do Centro de Portugal distinguido em festival de cinema na Sérvia
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Mês de Agosto foi o segundo mais quente dos últimos 15 anos
O mês de Agosto em Portugal continental foi o segundo mais quente dos últimos 15 anos e teve o valor médio da temperatura máxima do ar mais alto desde 1931, segundo o Boletim Climatológico do IPMA.
O mês de agosto foi classificado como extremamente quente em relação à temperatura do ar e extremamente seco em relação à precipitação, de acordo com o resumo do Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) disponível hoje.
"Este foi o segundo mês de agosto mais quente, depois de 2003. O valor médio da temperatura média foi de 24,50 graus Celsius, 2,35 graus acima do normal", segundo o IPMA.
Já o valor médio da temperatura máxima do ar (32,41 graus Celsius) foi o mais alto desde 1931.
"De referir que os cinco maiores valores da média da temperatura máxima em agosto ocorreram depois de 2000: em 2018, 2003, 2016, 2010 e 2005", segundo o relatório.
Também o valor da temperatura mínima (16,60 graus Celsius) foi 1,10 graus acima do normal.
Durante o mês de agosto, os valores da temperatura do ar estiveram quase sempre acima do normal exceto nos dias 08, 10, 28 e 29.
Os períodos mais quentes ocorreram entre 01 e 06 de agosto, 18 e 24 e 30 e 31.
O IPMA indica que o período entre 01 e 06 de agosto foi excecionalmente quente, destacando-se a persistência de valores muito altos da temperatura média do ar superiores a 30 graus e da temperatura máxima acima dos 40 (dias 02 a 04) e da mínima (acima dos 20 graus).
O dia 04 de agosto foi o dia mais quente do século XXI em Portugal continental e dos cinco dias mais quentes deste século.
No Boletim é também destacado que foram excedidos os extremos absolutos da temperatura máxima em mais de 40% das estações e em cerca de 30% destas foram ultrapassados os maiores valores da temperatura mínima.
Foi também nos primeiros dias de agosto que ocorreu uma onda de calor que abrangeu quase todo o território do continente, com exceção das regiões do litoral e parte do interior norte.
Os maiores valores da temperatura máxima foram registados em Alvega, no distrito de Santarém, (46,8 graus), Santarém (46,3), Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, (46,2) e Coruche (Santarém) e Alvalade (Beja), com 46,1 graus.
Quanto aos maiores valores da temperatura mínima, foram registados no distrito de Portalegre e Proença-a-Nova, em Castelo Branco, com 30,7 graus, Portalegre cidade, com 30,5 e Castelo Branco e Lisboa com 29,5 e 29,3, respetivamente.
No que diz respeito à precipitação, o IPMA salienta que o mês de Agosto foi o 3.º mais seco desde 2000.
Lusa
Vem aí a “I GALA DOS ENFERMEIROS”
A Secção Regional Centro da Ordem dos Enfermeiros irá realizar a I Gala dos Enfermeiros, no dia 20 de Outubro, a partir das 19h00, no Europarque, em Santa Maria da Feira.
Sob o mote “O Princípio de uma Tradição”, a SRCentro pretende que este evento se torne num marco para os seus membros, não só para os recém-licenciados em Enfermagem, mas também para os Enfermeiros já no activo.
Num primeiro momento, esta Gala dará destaque aos novos membros da SRCentro na tradicional Cerimónia de Vinculação à Profissão, com a entrega das Cédulas Profissionais e leitura do Juramento Profissional.
No decorrer deste jantar de gala, seguir-se-á a premiação de vários membros que o Conselho Directivo da SRCentro tenciona distinguir, com diversas categorias, pelo seu trabalho, empenho e dedicação à Enfermagem.
“Pretendemos que esta nova solenidade comece a fazer parte do legado da SRCentro e dos seus membros, prestigiando, quer os recém-inscritos na Ordem dos Enfermeiros, quer os que estão connosco desde o início das suas carreiras e que, todos os dias, engrandecem a nossa profissão!”, afirma Ricardo Correia de Matos, Presidente do Conselho Directivo da SRCentro, sobre a importância desta Gala.
Com a presença da Digníssima Bastonária da Ordem dos Enfermeiros, a Enfermeira Ana Rita Cavaco, acreditamos que os membros da SRCentro, em conjunto com os seus familiares, amigos e outras individualidades de referência, vão estimar este momento de compromisso, celebração e partilha que será a I Gala dos Enfermeiros.
Sobre a Secção Regional Centro – Ordem Enfermeiros:
A Secção Regional Centro (SRCentro) é uma das cinco secções regionais que integram a Ordem dos Enfermeiros.
Os seus órgãos directivos foram eleitos para o quadriénio de 2016 a 2019 e são presididos por Ricardo Jorge Correia de Matos.
Esta secção abrange os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu, tendo mais de 15 mil
membros activos.
BAIXAS MÉDICAS | Fraude em mais de metade das baixas na Educação
A fiscalização de seis mil juntas médicas realizadas para detetar baixas incorretas levou a que mais de três mil casos fossem obrigados a regressar ao trabalho.
Mais de metade dos trabalhadores do setor da educação que estavam de baixa por doença tiveram de regressar ao trabalho depois de passar por uma junta médica, uma vez que se concluiu que as baixas eram fraudulentas. Os dados constam do relatório da Comissão Europeia sobre a oitava avaliação a Portugal após a saída da troika do país publicado esta terça-feira.
A notícia avançada pelo Jornal de Negócios, indica que, de acordo com o relatório,"a verificação de cerca de seis mil juntas médicas, no setor da educação no final de 2017, para identificar baixas por doença incorretas, contribuiu para o regresso ao trabalho de mais de metade dos casos avaliados".
O objetivo da Comissão Europeia é reduzir o absentismo no setor, dando conta que estavam planeadas mais seis mil ações de fiscalização, a acontecer entre março e agosto, e que foi montado "um novo sistema de monitorização para avaliar o absentismo". O ministério das Finanças revelou, no Orçamento do Estado de 2018, que pretendia reduzir o absentismo com o objetivo de poupar 60 milhões de euros.
O mesmo jornal lembra os dados da ADSE, avançados pelo Jornal de Notícias em abril, mas referentes a março, que davam conta de seis mil professores de baixa médica há mais de dois meses, que estariam à espera de serem chamados para ir a junta médica.
Em declarações à TSF, João Dias da Silva, da Federação Nacional da Educação (FNE), defende que as fraudes devem ser investigadas, mas sublinha que, neste caso, a culpa não morre solteira: "Se houve fraude é uma culpa que é partilhada entre médico e doente. Há aqui uma situação em que estão envolvidos os profissionais médicos, pelos vistos, em que estarão a passar documentos de doença que não correspondem à verdade."
Fonte: TSF
CINZAS QUE CHORAM
♦ Paulo Roberto Campos
2 de setembro de 2018 — mais um dia trágico de nossa História! Um incêndio muito simbólico reduziu a cinzas o Palácio de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista. Também conhecido como Museu Nacional, foi residência do Rei Dom João VI e dos nossos Imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II no Rio de Janeiro, bem como o local onde a Imperatriz Dona Leopoldina assinou o decreto de nossa Independência, no dia 2 de setembro de 1822.
Incontáveis brasileiros viram no desleixo com que esse memorável edifício era tratado pelos últimos governos esquerdistas o desejo de incendiar a própria lembrança de nossa gloriosa história monárquica. Restam-nos as cinzas que choram. Pranteamos a perda inestimável, pranteamos o desprezo por nossas tradições, pranteamos a absurda preferência por exposições psicodélicas, extravagantes, pornográficas e até blasfemas em museus nacionais, para as quais governos desperdiçam rios de dinheiro. Como declarou o Príncipe Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil, o palácio arruinado representa “um símbolo acabado dessa imensa destruição que políticos, homens públicos, intelectuais e outros vêm empreendendo, há décadas, contra o edifício da brasilidade”.
Vista da Quinta da Boa Vista, com o Paço de São Cristóvão, em meados do séc. XIX |
Nesse mesmo sentido, o jornalista Juan Arias publica artigo intitulado Mais que um incêndio, um triste símbolo de um país que abandona a si mesmo (“El País”, 3-9-18), no qual adverte: “O incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio, e com ele 200 anos da história do Brasil, foi mais do que um incêndio. As chamas são o triste símbolo de um país que abandona a espinha dorsal da ciência, a da cultura e da arte para privilegiar uma política mesquinha de pequenos interesses pessoais dos que deveriam ser os guardiões da maior riqueza de um país, que é a memória da sua cultura”.
Entretanto, apesar do desaparecimento desse grandioso símbolo, devemos confiar na Providência Divina. Do alto do Corcovado, o Divino Redentor vai restaurar não só o Rio de Janeiro, mas todo o Brasil e, ressurgindo-o das cinzas, torná-lo-á ainda mais glorioso do que no passado. Voltaremos a ser a verdadeira Terra de Santa Cruz, livres de qualquer influência comuno-bolivariana e da presente “Revolução Cultural”, de certo modo ainda mais avassaladora do que a de Mao-Tsé-Tung.Em memória da época resplandecente do Palácio Imperial de São Cristóvão, transcrevemos a seguir alguns trechos do excelente livro Revivendo o Brasil-Império, de Leopoldo Bibiano Xavier (1991 – Artpress) [capa ao lado]. O contraste entre Monarquia X República; Palácio São Cristóvão X Palácio do Planalto salta aos olhos…
O Palácio do Imperador está aberto a todos
Todo o mundo, sem exceção, podia ser facilmente admitido à presença do Monarca, não se precisando para isso nem de vestuário apropriado, nem de bilhete especial, nem de qualquer declaração ou outra formalidade, e muito menos de empenhos de políticos ou de gente do Paço. Bastava apresentar-se em palácio, declinar o nome, que era lançado num grande livro, e penetrar naquelas salas abertas a todos. Benjamim Mossé afirma:
“Cada um pode apresentar-se como quiser, de casaca, de uniforme, de blusa, de roupa de trabalho; nem por isso deixa de ser recebido por Sua Majestade. O mais humilde negro, em chinelos ou pés descalços, pode falar ao Soberano”.
Escragnolle Dória, conhecido historiador e escritor, confirma:
Retrato de Dom Pedro II, c. 1885, por Marc Ferrez (RJ / Acervo IMS) |
“Era só chegar e esperar a sua vez, certo de ser atendido. Cada qual trazia o seu interesse, e dava o seu recado sem vexame, na sua gramática. O Imperador costumava referir-se a essas audiências públicas como receber a minha família brasileira.
“Certa vez, falava ao Imperador uma mulher de cor, já idosa, cabeça nua, mãos trêmulas, xale aos ombros, vestido de chita, sapatos e meias usados. Aproximou-se acanhada, dirigiu-se ao Soberano, e no perturbado da exposição deixou cair papéis, sem dúvida de apoio à modestíssima pretensão. Apanhou-os o Imperador, restituiu-os, continuou a ouvir por muito tempo, despedindo a suplicante com um sorriso de bondade e gesto de encorajamento, ficando a segurar os documentos que ela lhe confiara”.“Era só chegar e esperar a sua vez, certo de ser atendido. Cada qual trazia o seu interesse, e dava o seu recado sem vexame, na sua gramática. O Imperador costumava referir-se a essas audiências públicas como receber a minha família brasileira.
O romancista Gustavo Aimard, que visitou o Brasil três vezes, escreveu sobre nosso País o livro Brésil Nouveau. Estava no Rio havia oito dias, em 1881, quando seu amigo Sohier lhe sugeriu que fosse ao Palácio da Boa Vista visitar o Imperador. Perguntou então qual seria a etiqueta. O amigo riu-se, e lhe deu a explicação:
— Nos sábados, as audiências imperiais são públicas, e duram de duas às cinco da tarde. Os candidatos a um encontro com o Soberano entram no Palácio, sobem ao segundo andar, atravessam uma longa galeria e entram na sala das audiências, sem ninguém para lhes embargar os passos.
— Então não há soldados, funcionários e veadores?
— Soldados, haverá uns vinte. Mas nenhum se ocupa de quem entra nem de quem sai.
Monumento em homenagem ao Imperador D. Pedro II, em frente ao palácio |
Aimard narrou desta forma a entrevista:
“Entrei no Palácio, subi uma larga escadaria atapetada, no alto da qual encontrei uma pessoa que imaginei ser um porteiro, mas que era um camarista. Perguntei-lhe onde estava o Imperador: ‘Em frente, na segunda porta à esquerda’, respondeu-me sorrindo esse desconhecido. Atravessei um imenso salão, que parecia estreito por causa de seu extenso comprimento. Estava deserto, completamente sem móveis, não tendo nem mesmo um banco. Em compensação, as paredes se achavam cobertas de quadros, dos quais quase todos me pareceram ser de bons mestres e de várias escolas. Alguns deles chamaram minha atenção, parecendo-me de grande valor. Fiquei de tal modo absorvido por essas telas, que esqueci por muito tempo o que tinha ido fazer ali. Duas pessoas que saíam, conversando em voz alta, chamaram-me à realidade. Abri a porta que o desconhecido me tinha indicado, e achei-me noutro salão, este muito bem mobiliado, no qual se via uma meia dúzia de capuchinhos comodamente sentados, todos cochichando uns com os outros. Atravessei uma galeria bastante estreita, mas muito longa, cheia de gente. O Imperador se encontrava no fim da galeria. Reconheci-o logo pela sua elevada estatura, pela barba loura entremeada de fios de prata, e pela fisionomia sorridente”.
O Conde d’Ursel, secretário da legação belga no Brasil, aqui desembarcou em 9 de dezembro de 1873. Narra a visita a D. Pedro II:
Vista do Paço Real durante o reinado de Dom João VI (1817) “Estava o Palácio Imperial aberto a todo o mundo, e os veadores do Soberano acolhiam os visitantes com a maior cordialidade. Ao limiar daquele Paço, sentia-se que o dono da casa a todos recebia benévola e bondosamente.Era sábado, dia de audiência pública, por assim dizer, pois toda e qualquer pessoa era admitida a falar a D. Pedro II. Na extremidade da longa galeria avistei o Imperador vestido de preto, parando em frente a pessoa por pessoa, estendendo freqüentemente a mão e ouvindo o interlocutor, sempre com visível atenção.Nada mais impressionante do que o espetáculo ao mesmo tempo simples e comovedor, que eu tinha diante dos olhos. Havia pessoas de modesta posição, vestidas pobremente, esperando a vez para, sem intermediário algum, submeter ao Soberano a sua petição.O Imperador, com benevolência e dignidade, deixa chegarem-se a ele todos dentre os seus súditos que têm uma reclamação a fazer ou um favor a pedir. É voz corrente que esta prática excelente serve por vezes de freio salutar aos funcionários que se deixam levar a arbitrariedades”.
Litografia do Paço de São Cristóvão em meados do séc. XIX, por Jean-Baptiste Debret. Nesta época um outro torreão já havia sido acrescentado. |
Qualquer brasileiro pode falar com o Imperador e confiar na sua bondade
[…] Não era um rei entre burgueses, mas um chefe de Estado que procura equiparar-se aos outros dois. Na realidade, acentuava com isso a majestade que lhe é natural. Só os príncipes, educados para o trono, podem ser simples, familiares e agradáveis, sem que os demais ousem romper a zona de respeito de que insensivelmente se cercam.
Silveira da Mota, secretário de Tamandaré, afirmou:
Vista lateral do Palácio de São Cristóvão entre 1858 e 1861. “Confesso que nunca vira, na pessoa de D. Pedro II, tanta força de sedução. Tudo o que havia de simpático e nobre na sua fisionomia, apresentava-se naquela época com o aspecto mais favorável. Parecia ser o Monarca da coxilha, idealizado pela gauchada. Ele não teve sequer o seu batismo de fogo, mas a fleuma com que se aproximava ao alcance do fuzil das trincheiras paraguaias foi o bastante para que os circunstantes fizessem uma alta idéia da sua coragem”.
Se D. Pedro II tinha um grande, um irremediável defeito, pode dizer-se que esse defeito era a sua bondade. Joaquim Nabuco, o famoso abolicionista, afirmou que durante cinqüenta anos o povo encontrou o Imperador sempre de pé, na galeria de São Cristóvão ou no Paço da Cidade, ouvindo a todos sem enganar a ninguém:
“A sua porta esteve sempre mais franca do que qualquer outra no País. E quando se deixava de tratar com ele, para falar aos poderosos, todos sentiam que a vaidade da posição começava abaixo do trono”.
Na sua “Fé de Ofício”, o próprio Imperador afirmou: “O meu dia era todo ocupado no serviço público, e jamais deixei de ouvir e falar a quem quer que fosse”.
O conselheiro Nuno de Andrade descreveu uma audiência do Imperador:
Vista da quinta com o Paço de São Cristóvão por volta de 1820,
antes da reforma neoclássica. O edifício tinha um único torreão.
O portão em frente ao paço encontra-se atualmente na entrada
do Jardim Zoológico da Quinta da Boa Vista.“Às cinco horas em ponto desci do tílburi, junto à portinha baixa onde uma sentinela cochilava. Não se pedia licença para entrar. Tomei a escada da direita, e fui ter a um longo salão retangular quase sem móveis, com grandes quadros nas paredes. O Freire, criado da casa, meu conhecido, disse-me:— O Imperador não tarda.
Cerca de quinze pessoas esperavam D. Pedro II, e entre elas um preto vestido de brim pardo, sem gravata, com uns grandes sapatos muito bem engraxados. Depreendia-se do lustro do calçado que o preto cuidara de parecer asseado; e, como era idoso, a intenção traduzia certa altivez nativa. Tinha ido a pé e sentia-se cansado, por isso sentara-se no chão da galeria. O Pederneiras, com sua barba branca, chegou-se a mim, indicou o preto e disse filosoficamente:Instintivamente olhamos para as portas, constantemente abertas a todos os brasileiros.— Ainda querem mais liberdade nesta terra…
O Imperador apareceu no extremo da galeria, e o preto levantou-se. Seria o primeiro a falar ao Soberano, e ninguém se lembrou de lhe disputar a precedência. O Imperador lhe perguntou:— Então, como está? Que é que temos?— Estou bom, sim senhor. E vosmecê? Eu venho dizer a vosmecê que fui voluntário na guerra do Paraguai. Na batalha, fiquei com um braço ferido por bala. Curei-me, e continuei até o fim de tudo. Depois voltei e caí no meu ofício de empalhador. Há um ano adoeci do fígado, e o Dr. Miranda, na Santa Casa, me fez uma operação. Nunca mais tive saúde. Agora, não posso mais trabalhar no ofício, e não tenho vintém para comprar farinha. Na secretaria do Império há falta de servente, e eu fui falar com o ministro. Mas o ministro não fala com toda a gente. Estão lá uns mulatinhos pernósticos, que me dizem sempre: Você espere. Eu espero, sim senhor; e depois os mulatinhos me mandam embora, porque o ministro não recebe mais ninguém. Já três vezes isso me aconteceu. Então fiquei zangado e pensei assim: vou falar ao Imperador, que é nosso pai; ele não manda a gente embora. Ora, pois, eu queria que vosmecê me desse um bilhetinho para o ministro…O Imperador chamou o general Miranda Reis, que então o acompanhava, e disse-lhe algumas palavras. Voltando ao preto, exprimiu-se assim:— Vá com Deus. Fico sendo seu procurador, e tratarei do seu negócio.— Mas eu tinha vontade de mostrar àqueles mulatinhos pacholas…— Não tem nada a mostrar. Vá para sua casa e espere.Alguns dias depois, contou-me o general Miranda Reis que o Imperador mandara alojar o antigo voluntário numa casinha da Quinta, e ordenara ao comendador João Batista que lhe suprisse a mensalidade de 40 mil réis, pedindo desculpas de não poder dar mais. E o João Batista, honrado mineiro, prodigiosamente econômico, amofinava-se com as freqüentíssimas decisões desta espécie, sustentando, em voz fraca e lacrimosa, que das quatro operações o sábio Imperador só conhecia a de dividir”.
Em uma das suas audiências do sábado, em que atendia a toda a gente, recebeu D. Pedro II no Paço da Boa Vista um preto velho, que se queixava dos maus tratos de que era vítima:
— Ah, meu Senhor grande, como é duro ser escravo!
— Tenha paciência, meu filho. Eu também sou escravo das minhas obrigações, e elas são muito pesadas. As tuas desgraças vão diminuir.
E mandou alforriar o preto.
Fonte: ABIM
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