Violência doméstica versus verbal
Por Joaquim Carlos *
A
notícia do jornal era chocante. O marido tinha deitado gasolina em cima da
esposa e tinha-lhe pegado fogo! Segundo os familiares e vizinhos, isso foi o
culminar de uma vida inteira de agressões. E tudo tinha piorado quando os
filhos saíram de casa. Ele estava mais à vontade para a encher de pancada. A
notícia dizia ainda que, quando a viu entrar para a ambulância, o marido chorava
pedindo que lhe perdoasse porque estava arrependido.
Esta
é apenas uma, entre dezenas de notícias que, diariamente, chegam ao nosso
conhecimento através da comunicação social. A violência doméstica tem sido alvo
da nossa atenção, dada a proporção com que acontece no nosso país.
Procuram-se
causas, discutem-se consequências, arranjam-se soluções. Explica-se pela
mentalidade machista, pela miséria, pelo alcoolismo, incluindo vícios de outra
natureza que perturbam ou danificando as faculdades mentais. Fala-se nas marcas
físicas e psicológicas que deixa nas crianças, no sofrimento que provoca na família.
Promulga-se mais uma lei, como as que já existem não fossem suficientes ou
imperfeitas. Há gabinetes de Estado para os assuntos da família.
Tristemente,
temos que admitir que a violência no lar está longe de ser debelada. Porque há
muitas formas de violência. Formas que, normalmente, como costumamos dizer,
“não matam, mas moem”. Refiro-me, por exemplo, às palavras. As coisas que os
membros da família dizem uns aos outros em forma de agressão pessoal: “tu és um
estúpido…”, “és sempre a mesma coisa…”, “ és um malandro…”, “o menino é
mau!...”, “para que tiraste esse curso…”.
E as discussões acesas de gritos, histeria, de asneiras, de ameaças passam a
ser uma constante, culminando em agressões físicas, mesmo em homicídios
bárbaros.
Há
também a ausência de palavras. O silêncio agride, quando o que é preciso é
diálogo, pelo menos essa é a receita que se recomenda nas sessões de terapia
conjugal. Cônjuges que não falam um para o outro, às vezes, dias seguidos. E
que dizer das ironias, das piadas de mau gosto, das indirectas, dos comentários
negativos à sogra ou a outros elementos do núcleo familiar, e aos vizinhos?
Chocante?
Talvez não tanto, à primeira vista, como deitar gasolina sobre uma pessoa e
atear-lhe fogo. Mas, como é que a família pode subsistir saudável e feliz a um ambiente
de agressividade contínua? Família, em que cada membro luta pela sobrevivência
emocional, descarregando fora de casa as suas frustrações de variadas maneiras.
Muitas vezes evidenciando claramente o que recebem lá dentro, levando uma vida
de faz de conta, que está tudo bem, porque tem de ser assim. Nem sempre o andar
na rua de mão dada, se traduz numa relação de respeito integral mútuo.
Haverá
soluções capazes de recolher os cacos e restaurar as vidas de crianças, jovens,
adultos – membros de famílias desfeitas pela violência, pelas atitudes
negativas, demolidoras e humilhantes? Não parece um caminho fácil, com
transformações radicais ou crescimento instantâneo.
Fonte:sicnoticias.sapo.pt |
Muitas
famílias nestas situações recorrem com frequência às diversas igrejas
evangélicas, onde já é possível encontrar aconselhamento especializado. Em
jeito de conversa de café dizia-me um Pastor Evangélico: ”Mas a verdade é que
Deus, cujo plano para a humanidade foi desde o princípio a vida em família, tem
poder restaurador e transformador de vidas. A verdade é que a Sua Palavra
ensina, edifica, exorta, consola e liberta”. Pena é que poucas são as famílias que
nela acreditam.
No
seguimento do nosso diálogo continuou:”Famílias felizes? Uma realidade possível
depois da violência? Sim. Com Deus na vida de cada um dos seus membros e a Sua
Palavra no lar, tudo é possível, porque para Deus nada é impossível, assim está
escrito na sua Sagrada Palavra, também, desde que cada um faça a sua parte”.
Se
tivermos em conta a situação dramática que o país está a atravessar, a tendência
é que situações semelhantes se generalizem provocando estragos em todas as
áreas do núcleo familiar. Convém estarmos atentos aos sinais dos tempos de
crise que nos vêm esmagar os limites da paciência e do bom senso.
*Editor|Administrador
do Litoral Centro