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Joaquim Carlos * |
O
escravo da consciência! Este titulo lê-se como o de um romance de
detectives, pensarás.
Mas
enganas-te. Se se pode dizer de um jovem que é senhor da sua vontade
e escravo da sua consciência, é a maior honra que se lhe pode
fazer. Se fores capaz de permanecer invencível e continuamente fiel
a tudo o que a consciência te ordena, és um rapaz de carácter
nobre.
Em
todos os veículos há um pequeno prego que mal se vê, mas que tem a
maior importância: é o do eixo. Se cair, o carro pode continuar a
andar ainda durante algum tempo. Mas a roda não tardará a cair e o
veículo voltar-se-á.
No
caminho do carácter encontrarás também um pequeno princípio, na
aparência superficial, mas, de facto, muito importante: a adesão
sem reserva à voz da consciência. É indispensável que te
tornes servidor submisso, seu dócil cordeiro.
Tem
dois inimigos, esta voz da consciência. Primeiro: o mundo que te
rodeia e a contradiz quase sempre; segundo: dentro de ti, as tuas
desordenadas inclinações, os teus instintos que despertam e que
procuram levar-te a não lhe dares ouvidos.
Acontece-te,
algumas vezes teres momentos de entusiasmo em que pareces andar pelas
regiões etéreas, muito acima dos nevoeiros terrestres; tomas então
a resolução firme de seguir sempre a voz da consciência, de jamais
abandonar o caminho da honra, de nunca pensar, dizer ou fazer uma
coisa que seja considerado pecado, dentro de uma perspectiva
teológica. Nestes momentos sentes-te tão leve, tão feliz! Mas, uma
hora mais tarde, já te apercebes de que tal ou tal colega, e ainda
este e aquele, não observam os mandamentos de Deus que tal livro,
tal peça de teatro, tal filme, não fazem senão meter a ridículo
os teus nobres princípios, do primeiro ao último. É a provação,
talvez a maior das provações; porque, se toda a gente fosse má,
como poderias tu permanecer bom? Se todos os teus colegas fossem sem
carácter, como poderias tu sozinho permanecer fiel ao teu nobre
ideal?…
Eu
te digo, quando toda a gente viesse a mentir, seria então necessário
que nunca mentisses; quando todos os colegas fossem para o campo
passear ao domingo, durante a missa, seria então necessário que tu
os não imitasses; quando todos fossem grosseiros na linguagem, seria
necessário que tu ficasses calado.
E
encontrarás ainda outras provas, porque os inimigos da
consciência não são somente externos; há-os internos no teu
próprio coração.
É
costume chamar-se à consciência a voz de Deus. E não haverá
razão para isso? Quem nunca ouviu esta voz, no seu foro íntimo?
Sempre
que um rapazinho queria intrometer-se com um colega, uma voz, suave
como o som de uma pequena campainha de prata começava a retinir
dentro dele. «Não o faças, não o faças». Quando queria o
que lhe não pertencia, a mesma voz se ouvia ainda. E quando estava
tentado a cometer um pecado muito maior, deixava de ser a voz suave
da campainha, para se assemelhar ao som de um grande sino que dá
pancadas desesperadas: «Não o faças! Não o faças!» dizia a
consciência agitada.
Recomendo-te,
ainda uma vez mais e bem alto, que te habitues, desde hoje e sem
reserva, a escutar a voz da consciência. É a tua juventude que
decidirá se, mais tarde, serás ou não homem consciencioso. E tu
bem sabes que, para a sociedade, o homem consciencioso é como que
o pilar sobre o qual repousa o edifício inteiro, apesar dos valores
cívicos e educacionais estarem cada vez mais em decadência.
Quem
diz escravo da sua consciência , diz escravo de Deus; e quem diz
escravo de Deus, quer dizer completamente livre.
Não
conheço louvor comparável ao que se fez, um dia, de um deputado
inglês, falecido ainda novo: «Todo o seu ser parece estar
impregnado dos dez mandamentos de Deus».
Nada
receies do mundo, salvo a tua consciência! Aquele que, com receio de
ser ridicularizado, omite as coisas que a consciência lhe ordena, é
um carácter muito fraco.
Aquele
que, antes de cada uma de suas acções, se pergunta medrosamente o
que, a tal respeito, dirão os outros, não tem vontade, e o seu
carácter está longe de ser firme. Quem age segundo os seus
instintos, sem ouvir a voz do bom-senso, quem coloca os desejos
agradáveis antes dos estritos deveres, igualmente não é um
carácter firme.
Os
antigos reis da Pérsia mandavam pôr no seu travesseiro 50 mil
talentos de oiro, uma soma enorme, a fim de assegurar-se um bom
repouso. O imperador Calígula, além da sua guarda pessoal, tinha
animais selvagens às portas do palácio para não deixar chegar
ninguém junto dele, enquanto dormia. Artemon punha um escudo por
cima da cabeça, para impedir que o tecto o esmagasse, se, por acaso,
caísse durante a noite. Mas o que é tudo isto!…
O
melhor dos travesseiros é uma consciência tranquila. Sê senhor da
tua vontade, escravo da tua consciência!
Pedro
de Verona sofreu o martírio pela sua fé. Foi rasgado com estiletes.
Depois dos primeiros golpes, exclamou com firmeza: «Credo!», «Eu
creio!». E, quando caiu por terra, já sem poder falar, molhou o
dedo no próprio sangue e escreveu no solo esta mesma palavra:
«Credo». Era um carácter, um escravo da sua consciência.
É
doloroso assistir, actualmente, na civilização das massas, à
angústia que sofrem as pessoas com a destruição de seus autênticos
valores.
Toda
a pessoa possui, por uma tendência natural, a noção do valor. Essa
noção, porém, é, muitas vezes, deturpada por ser uma consequência
da vida que leva cada indivíduo.
*Director