Pela primeira vez desde o início da pandemia de covid-19, a Revolução dos Cravos está a ser assinalada na Assembleia da Republico sem número limitado de presentes e também sem uso obrigatório de máscara no parlamento – regra que deixou de vigorar na sexta-feira;
Na Sala das Sessões, foram muito poucos a usá-la, com destaque para o primeiro-ministro, António Costa;
Quarenta e cinco minutos antes de a sessão solene começar, às 09:15, já havia deputados, convidados e altas entidades dentro da Sala das Sessões e, em cada lugar (incluindo a bancada de imprensa), foram colocados um programa e um cravo, a flor símbolo da Revolução;
Como sempre, esta flor foi mais usada pelas bancadas à esquerda - com muitos deputados e deputados a estenderem o vermelho às gravatas e alguns pormenores de vestuário -, mas também vários deputados do PSD usaram cravo na lapela, casos de Joaquim Miranda Sarmento ou Afonso Oliveira, mas não o presidente do partido, Rui Rio;
Mais à direita, nas bancadas da IL e do Chega não se viram quaisquer cravos na lapela;
Nas galerias, cheias como não se via desde 2019, estiveram, como habitualmente, representantes da Associação 25 de Abril, entre os quais o seu presidente, Vasco Lourenço;
A secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, o presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, Vera Jardim, e muitos secretários de Estado foram alguns dos que ocuparam as galerias;
Entre os convidados com lugar entre a bancada dos deputados e a do Governo, estiveram a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, o chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e os chefes militares dos três ramos;
Se o almirante Gouveia e Melo, que coordenou a task force da vacinação contra a covid-19, foi um dos convidados mais requisitados, quer para cumprimentos, quer até para fotografias, Carlos Moedas foi um dos mais ativos nos cumprimentos;
De cravo na mão, como tem feito o Presidente da República nestas sessões solenes, Moedas fez questão de ir cumprimentar vários ministros da bancada do Governo, dirigindo-se depois aos deputados do seu partido, o PSD, e também aos da IL;
Pelas 09:40, o Governo em peso ocupou a sua bancada, todos de cravo na lapela, e alguns ministros, como António Costa Silva e Ana Mendes Godinho, fizeram questão de ir cumprimentar os líderes do PCP e do BE, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins;
Já Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro também aproveitaram os momentos antes do arranque da sessão para ir conversando com deputados do PS;
Na tribuna ‘vip’, apenas esteve um presente um antigo Presidente da República, Ramalho Eanes, com a mulher Manuela Eanes, - Cavaco Silva já não marca presença nestas sessões há alguns anos - bem como os antigos presidentes da Assembleia da República Eduardo Ferro Rodrigues e Mota Amaral, todos de cravo na lapela.
Da manifestação no exterior aos discursos na Assembleia
Lá fora, um grupo de cerca de 20 pessoas manifestou-se quando chegaram as três principais figuras do Estado, usando um megafone para gritar “vergonha” e reivindicarem “um verdadeiro 25 de Abril”;
Minutos antes da sessão solene começar, no hemiciclo, deputados, convidados e altas entidades receberam de pé o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de cravo na mão, e o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, na lapela, seguindo-se o hino nacional, com alguns deputados do Chega a ouvirem-no de mão no peito;
Seguem-se as intervenções dos partidos - com problemas de som no início da primeira intervenção, do deputado do Livre -, de Augusto Santos Silva e de Marcelo Rebelo de Sousa;
Rui Tavares, do Livre, é o primeiro a discursar na Assembleia da República e fala da "luta pela liberdade", comparando-a com a luta pela igualdade. O deputado único do Livre enalteceu o acesso ao ensino público para todos como uma das maiores conquistas do 25 de Abril de 1974, um dia que “valeu por séculos”. “A democracia que construímos com o 25 de Abril, representou finalmente uma possibilidade de acesso ao ensino para todos numa escala e de uma forma que nunca tinha existido na história de quase 900 anos deste país”, vincou;
Inês de Sousa Real, do PAN, é a segunda a discursar e lembra que a paz e a democracia "não são dados adquiridos", referindo a situação de guerra na Ucrânia. Refere também que "Abril ainda não tem rosto de mulher", evocando a existência de casos de violência doméstica, abusos sexuais, mutilação genital feminina e desigualdade salarial. "É preciso lutar pelo fim do sexismo e transformar a emancipação feminina em realidade. Só assim a manhã de Abril poderá acordar em plena igualdade e liberdade", defendeu a deputada única do partido;
José Soeiro, do Bloco de Esquerda, começa a sua intervenção por enumerar as funções das mulheres que se levantaram de madrugada "para que esta sessão aconteça". "Há centenas nos bastidores da democracia", disse. O deputado fez um discurso marcado pela defesa dos direitos dos portugueses, alegando que os bloquistas não olham para a “democracia como um protocolo sem conteúdo de igualdade”. “A Revolução não é um património a ser velado com zelo, mas um legado para iluminar as contradições do presente”, defendeu;
Paula Santos, do PCP, referiu que a Revolução de Abril "pôs fim à exploração e à miséria que afetava a esmagadora maioria da população" e possibilitou "profundas transformações na sociedade portuguesa". De seguida, o PCP insurgiu-se contra a “imposição do pensamento único” e a “hostilização de quem livremente emite uma opinião divergente”, rejeitando o que considera serem “tentativas de intimidação” do partido com a finalidade de silenciar a sua intervenção;
Bernardo Blanco, da Iniciativa Liberal, diz que "tivemos 50 anos de silêncio antes do 25 de Abril", com um "sistema político fantoche". “Falta a Portugal o inconformismo de Abril para romper a estagnação. Abril confiou-nos esta difícil missão: a de continuar a querer saber – da política, de Portugal, da Europa e do Mundo. A de continuar a querer saber do futuro”, disse ainda o deputado. “Como Abril nos demonstrou e a Guerra na Ucrânia nos confirma, a democracia é difícil de conquistar, mas fácil de perder”, vincou;
André Ventura, do Chega, começa a intervenção por dizer que "tanto falhou Abril" e pede para que não sejam condecorados "aqueles que mataram e expropriaram em Portugal". "Hoje devíamos olhar para os portugueses e dizer desculpem porque falhámos. Falhámos na justiça que construímos, falhámos no império que se dissolveu e que deixou outros países à sua mercê e famílias à sua sorte, nos jovens que querem emigrar como nunca no país que lhes tinha prometido ser o país da prosperidade, falhámos aos pensionistas e reformados que têm o pior poder de compra da União Europeia", afirmou. O líder do Chega foi aplaudido várias vezes pela sua bancada;
Rui Rio, do PSD, recorda que as celebrações do 25 de Abril devem ser "um momento de autocrítica sério". O presidente do PSD defendeu que a solução para travar o crescimento dos extremismos não é "absurdos cordões sanitários”. “A solução está em nós próprios. A solução está em enfrentar a realidade sem cobardia nem hipocrisia. Está em reformar, ou diria melhor, em romper com o que há muito está enquistado e ao serviço de interesses setoriais ou de grupo”, defendeu;
Pedro Delgado Alves, do PS, referiu que esta é a primeira celebração do 25 de Abril sem o ex-presidente da República Jorge Sampaio. "Junta-se aos eternos", apontou. “Comemorar o 25 de Abril é, em primeiro lugar, honrar a memória dos que resistiram, sofreram e tombaram para que a liberdade fosse possível. No ano em que os dias em democracia superam o número de dias em ditadura, deu-se a coincidência dessa data ocorrer a 24 de março, dia da revolta estudantil que mobilizou a juventude contra quem a privava do seu futuro”, declarou. A esta referência a Jorge Sampaio seguiu-se uma prolongada salva de palmas por parte dos deputados, com os socialistas a aplaudirem de pé;
Os discursos de Santos Silva e Marcelo (e uma interrupção devido a um desmaio na AR)
Santos Silva começou a sua intervenção na Assembleia da República com uma evocação à guerra na Ucrânia, que "constitui a mais grave ameaça em décadas". O presidente da AR sustentou hoje que a abertura de Portugal ao mundo é um bem precioso em tempos de ódio e está enraizada numa História de multissecular emigração que estruturou uma sociedade coesa; O discurso do presidente da Assembleia da República foi interrompido devido à má-disposição de um funcionário parlamentar, que
desmaiou junto à bancada do Governo. Vários ministros e deputados levantaram-se para prestar socorro;
Marcelo Rebelo de Sousa começou a sua intervenção com referência a Jorge Sampaio. O Presidente da República enalteceu ainda os capitães de Abril e defendeu que o seu "gesto refundador" deve ser agradecido "pense-se o que se pensar sobre o que foram antes e depois desse gesto"; A sessão terminou com o hino nacional e, de seguida, ouviu-se cantar "Grândola, Vila Morena" no Parlamento.