O vereador da Mobilidade na Câmara Municipal de Lisboa quer que o sistema de bicicletas partilhadas Gira esteja em todas as freguesias em 2020, ambicionando igualmente que, no futuro, cada quarteirão tenha estacionamento de bicicletas, trotinetas e motas. Em sentido inverso, Miguel Gaspar está também a equacionar aumentar a proteção do centro da capital face aos carros mais poluentes, recorrendo à fiscalização eletrónica.
Em entrevista à agência Lusa, Miguel Gaspar (PS) disse que espera que o sistema de bicicletas da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento (EMEL), responsável por mais de 6.500 viagens por dias, esteja totalmente criado em 2020, ano em que Lisboa será Capital Verde Europeia.
Nessa altura, acrescentou o autarca, “as viagens serão pagas e, provavelmente”, quem tem o passe poderá “continuar a pagar o que paga hoje, ou seja, paga a anuidade e depois não paga a viagem” até aos 45 minutos.
Devido ao atraso na implementação da primeira fase do sistema, que previa 140 estações e 1.400 bicicletas, a empresa vai partir “diretamente para a concretização de todo o sistema”, que deverá contar com 300 estações e três mil bicicletas.
“Hoje temos cerca de 500, 600, 700, já devíamos ter 1.400. Não temos, porque de facto tivemos um problema com o fornecedor. Neste momento a nossa ambição é lançar um procedimento já para as três mil, o que vai garantir que em todas as freguesias da cidade de Lisboa exista o sistema Gira”, contou Miguel Gaspar.
“A EMEL tomará as opções que tiver de tomar relativamente ao contrato com [a empresa fornecedora] Órbita, mas, neste momento, o que é importante para as pessoas é saber que estamos a lançar um concurso para a exploração das três mil bicicletas dentro das próximas semanas”, reforçou o vereador.
Às viagens das Gira juntam-se outros modos de mobilidade suave, operados por privados, como as trotinetas, que fazem cerca de 10 mil viagens todos os dias.
A Câmara entende que é necessário continuar a fiscalizar, “criar regras de convivência para todos” e “aumentar infraestrutura para estacionamento” para estes veículos, estando já a trabalhar para que “todas as frentes de quarteirão da cidade de Lisboa tenham um sítio para estacionar trotinetas, bicicletas e motas”.
“A minha ambição é que entre espaços para bicicletas, para motas e trotinetas, tenhamos mais de dois mil na cidade de Lisboa. Cada um destes dará facilmente para 10 veículos, portanto vamos evoluir pelo menos para 20 mil lugares de capacidade”, acrescentou Miguel Gaspar, sem adiantar datas.
Veículos é para ficarem às portas da capital
O Miguel Gaspar revelou também que neste ano está prevista a criação de parques dissuasores com mais de 2.500 lugares, bem como de pontos de carregamento rápido de veículos elétricos em Entrecampos, Belém e Parque das Nações, estando ainda a ser estudada a instalação de locais de carregamento para frotas profissionais em espaços vagos nos bairros municipais.
"A nossa opção já é, por via do desenho da hierarquia viária, tirar carros do centro, e, em cima disso, estamos a equacionar ir mais longe, com medidas de maior proteção do centro", afirmou Miguel Gaspar, referindo-se ao aumento do nível das restrições já existentes desde 2015 a veículos poluentes.
O responsável pelas pastas da Mobilidade e Segurança no município lisboeta está a estudar aumentar as restrições existentes, com recurso a "instrumentos de fiscalização eletrónica" que possam substituir as tradicionais operações ‘stop' da Polícia Municipal.
Só este ano, estas operações multaram 55 condutores nas chamadas ‘zonas zero’.
O autarca não exclui "aumentar uma maior restrição de circulação no centro", mandatado por um plano para as energias sustentáveis e o clima, que prevê a interdição de carros a ‘diesel’ no centro de Lisboa até 2030, aprovado por unanimidade na Câmara e na Assembleia Municipal no ano passado.
Ainda assim, sublinhou, as decisões não estão tomadas e o vereador afasta a ideia de portagens urbanas.
"Entre o estacionamento e as medidas de microgestão de tráfego, acredito que há uma alternativa melhor do que uma portagem urbana", defendeu, referindo que uma das razões que as pessoas apontam para andarem de transporte público é o preço do estacionamento.
"O preço do estacionamento já é uma forma de portagem", sustentou, atribuindo à política de estacionamento um "papel muito importante" na mudança de comportamentos.
Apesar do aumento projetado de parques dissuasores para este ano, Miguel Gaspar alertou que os parques mais estruturantes existentes não estão cheios.
"O parque da Ameixoeira tem sistematicamente 200 lugares livres. Este parque custa 10 euros por mês para quem compra o passe, são 50 cêntimos por dia", afirmou.
Além dos 440 lugares que serão disponibilizados nas próximas semanas no Areeiro, estão a ser ultimados aspetos formais para a criação de "dois parques dissuasores da Pontinha, que, em conjunto, vão ser 2.200 lugares", além de um outro "parque de grande dimensão" na zona do Parque das Nações.
"Para quem vem do corredor de Santa Iria, da A1, é uma boa alternativa na zona da Expo. É no último terreno de Lisboa, junto ao Trancão, onde há um apeadeiro da CP, para as pessoas conseguirem a partir da CP e da Carris chegar ao Parque das Nações ou, pela CP, ao centro de Lisboa", explicou.
Relativamente à mobilidade elétrica, o vereador identificou "uma falha de mercado": "Não há redes de carregamento rápido na cidade de Lisboa".
Para ajudar a colmatar essa falha, serão criadas três zonas com sete a oito postos cada uma, em Entrecampos, Belém e Parque das Nações, locais que foram identificados ouvindo a necessidade dos utilizadores e tendo em conta a disponibilidade da infraestrutura da rede elétrica da cidade.
"Além disso, estamos a falar com interessados, empresas comercializadoras de energia e operadoras de pontos de carregamento, para que possam ser criados pontos de carregamento de elevada disponibilidade para frotas profissionais", revelou.
O objetivo é que "empresas que não tenham parqueamento e estruturas próprias para carregar os seus carros nas suas instalações possam ir a um sítio da Câmara de Lisboa com 30, 40, 50, 60 pontos".
Esta medida está a ser pensada com um enquadramento social dos bairros municipais, geridos pela empresa municipal Gebalis.
"Estamos a tentar localizar estes pontos em espaços que hoje estão fechados, estão emparedados, de bairros municipais. São garagens que são da Câmara de Lisboa e a oportunidade de as requalificar é também de ter um projeto social nos bairros municipais, em que não só damos ainda mais vida àqueles bairros como criaremos oportunidades de emprego", explicou.
O município está ainda "em conversação com operadores para aumentar a rede de carregamentos, em particular, semi-rápidos", tendo disponibilidade para, por exemplo, "trocar espaço de estacionamento por espaço de carregamento, para alagar a rede de carregamento.".
Lusa